A Rua dos Sonhos escrita por Aislyn


Capítulo 2
Salve-me




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Seireitei – Soul Society - Tempo presente

– Oe, Kira... Por que você não vem beber um pouco?

O fukutaichou do Sanbantai estava sentado à sua mesa distraído, brincava com uma pulseira prateada em que pendiam quatro letras do alfabeto ocidental. Ele demorou a dar-se de conta que Hisagi Shuuhei estava lá, só notou quando o amigo deu um soco em seu ombro. Hisagi meneou a cabeça, não acreditava que Kira estava mais uma vez com aquele objeto nas mãos. Era a primeira folga de ambos no mês, com toda a certeza um grande motivo para comemorações.

– Perdão... Hisagi-kun, não o vi entrar – Kira passava a mão sobre o ombro dolorido, não fazia questão de revidar. – Por que está aqui tão cedo?

– Não acredito que você não sabe, baka! Hoje é nosso dia de folga e você aqui neste escritório, francamente... Agora, largue esta porcaria.

Hisagi arrancou a pulseira das mãos do amigo e começou a balançá-la diante dos próprios olhos. Desde a época em que o incidente com hollows aconteceu, Kira Izuru tinha aquela pulseira. Para ele com certeza não era uma boa lembrança ver algo que o levasse novamente para aquela noite, havia perdido dois companheiros e tivera o seu rosto maculado para sempre. Era engraçado como Kira ficava diante daquela jóia, parecia um bobo, sequer tinha noção do tempo.

– Claro – falou Kira após um longo suspiro. – Eu estava aqui recordando algumas coisas...

– Já sei... Deixa eu ver se lembro – Hisagi jogou a pulseira sobre a mesa e começou a gesticular de forma engraçada. – Ela era tão bonita, minna-san! Tinha os olhos violetas, os cabelos mais compridos que já vi, tão negros quanto a noite. A voz dela era musical, meiga. Nunca vi uma criatura tão decidida, ela enfrentou-me como se eu fosse uma espécie de demônio e não se importou com o que aconteceria. Não era um fantasma... Eu acho que era uma garota, real – Hisagi afinou a voz para dizer a última frase. Ele nem viu de onde veio, foi acertado em cheio na cabeça por um pequeno copo. – Ahh, Kira-kun! Eu só estava brincando...

– Eu não falava assim naquela época, com esta voz tão fina e fazendo estes gestos afeminados! Você é ridículo – Kira pegou a pulseira e guardou em seu bolso. – Afinal, sua memória é boa para lembrar-se de cada palavra do que eu disse, mas não se lembra do quanto me deve? – Ao ver que o amigo coçou a cabeça e foi para a porta, o fukutaichou deu de ombros. – Vamos beber, preciso esquecer algumas coisas...

– Esquecer a tal humana? – Perguntou Hisagi com ar de deboche.

– Você sabe o quê, droga!

– Todos nós precisamos esquecer, Kira-hun... Só acho que você não está se ajudando, ainda mais desta forma. Você simplesmente se afunda em papéis, e para quê? Não suporto mais vê-lo desta forma...

– Você tem razão, mas, eu não fico me lamentando... Do jeito que você fala, parece até que sou digno de pena.

– Yare... Yare. Hoje é por minha conta, está certo?

Kira não teve tempo de falar mais nada, assim que eles saíram pela porta, uma Borboleta Infernal trouxera um recado nada agradável. Eles teriam alguns minutos para deixar as instalações e rumarem até o portal Senkaimon, haviam sido escalados para uma missão no Mundo Real. Hisagi respirou profundamente, conseguia ver o seu dia de folga e bebedeira indo pelo ralo.

– Ao menos, será fácil! Poderemos depois passear um pouco – falou Kira com desânimo.

– Hai!

A missão era mais difícil do que eles haviam pensado, havia sinal de diversos hollows em pontos diferentes, teriam que agir rapidamente. Para isto, os fukutaichous resolveram dividir as áreas e se separaram. Kira perdeu as contas de quantos hollows encontrou em seu caminho, felizmente, pequenos. Quando virou para uma rua sem saída, viu que um hollow corria atrás de um plus, um garotinho de aparentes cinco anos. Ele estava desesperado diante da criatura, chorava demais. Kira saltou e colocou-se entre o hollow e o garoto, seu corte foi certeiro. Ele virou-se para o plus, notou que a sua corrente ainda estava comprida, teria que ir até o fim com a sua obrigação. Envolto em seriedade, o shinigami apontou a espada para o garoto, mas não teve a chance de voltar o punho para ele, este correra em desespero chorando. Kira sacudiu a cabeça, odiava missões como aquela, ainda mais quando não estava tendo bons dias em seu bantai.

– Então vamos brincar de pega-pega...

Templo de Amaterasu Omikami - Karakura

O dia estava perfeito, no firmamento, o sol brilhava e seus raios benfazejos purificavam aquele local sacro. Uma bela jovem trajando um gi e hakama vermelha, com camadas sobrepostas de um branco tão imaculado quanto ela, e um obi vermelho na cintura guiava mais de vinte visitantes do templo. Alguns visitantes ficavam encantados com a maneira como ela os tratava, com sua bela voz explicava o significado de cada um dos cômodos em que entravam, assim como os rituais e lendas xintoístas. Tinha longos cabelos negros, o corpo de um talhe perfeito, mais ou menos 1,70 cm de altura. Seus olhos de cor violeta brilhavam quando falava sobre a criação, principalmente quando chegara a sua parte favorita, o momento em que a Kami Amaterasu surgiu.

– Miko-san – um visitante dirigiu-se à sacerdotisa, já estavam diante da lojinha do templo. – Preciso de um amuleto para atrair o amor.

Ela sorriu, seus dentes eram brancos e perfeitos. O templo era único naquela cidade, conhecido por seus amuletos e orações, sempre indefectíveis. Ela procurou em meio aos vários amuletos e encontrou aquele que atenderia perfeitamente ao desejo do jovem homem que estava diante dela. O pagamento era feito de acordo com o que o visitante achasse melhor, afinal, eles não gostavam de vender fé, apenas precisavam do necessário para manter o templo. Havia outra Miko de cabelos ruivos, tão bela quanto a primeira, esta cuidava da banca de doces. As duas entreolharam-se, havia algo de estranho nisto, não pareciam ter uma boa relação. Assim que os visitantes passaram pelo grande portal chamado Torii e contemplaram a coluna com o nome do templo, a Miko de cabelos negros fez uma reverência e despediu-se.

– Domo arigatou gozaimasu! Espero que todos os seus pedidos sejam atendidos! O templo aguarda pelo seu retorno.

Ela estava exausta, precisava de um banho longo, a pior noite de sua vida logo começaria. Quando entrou na banheira, logo relaxou ao sentir o aroma da essência que havia derramado na água e o toque suave de pétalas de flores em sua pele. Dali podia enxergar através da janela que o sol já estava indo embora, se pudesse, ficaria submersa até o dia seguinte. Cerca de trinta minutos depois, ela saiu da água e secou-se com uma toalha macia. Como era seu ritual diário, penteou o cabelo com um bom creme e passou um hidratante no corpo perfeito. Uma voz séria anunciou o que mais temia.

– Sora-chan... O jantar está pronto.

Para contrariar, ela vestiu um traje limpo idêntico ao anterior, não usaria o que a ocasião pedia. O aroma da boa comida de seu irmão chegava até o seu quarto, era uma pena não poder fingir estar doente e só lhe restava ter que enfrentar os seus próprios demônios.
Akira já era um homem feito, com trinta anos, superou de certa forma a fatalidade que o privou de seus movimentos aos dezoito. Continuava bonito, porém, imerso em amargura. Daisuke estava sentado ao lado dele na mesa, com um sorriso de ponta a ponta, o belo homem olhou para Miaka e Sora, as duas entraram no cômodo ao mesmo tempo, estavam livres da atividade no templo aquela noite. Cada momento havia sido planejado, um bom jantar, música clássica tocando no velho rádio, tudo organizado por Akira.

– Parece que hoje as vendas foram fracas – comentou Miaka após sentar-se à mesa. – As pessoas querem que o amor surja em suas vidas, mas não querem pagar por isto.

– Não há dinheiro que pague isto, Miaka-san – protestou Sora, teve que se sentar ao lado da companheira. – As pessoas dão o que têm de coração. Doze anos e você ainda não aprendeu ensinamento algum.

– Você é boa demais, Sora – disse Miaka secamente.

– Oe, garotas – Daisuke não escondia o bom humor. – Não briguem, hoje é um grande dia!

Sora olhou para baixo com pesar, naquele momento a fome havia passado. Todos comeram quase que em silêncio, aquela hora era sagrada para Akira e ele odiava qualquer tipo de conversa desnecessária. Assim que terminaram e ele serviu a sobremesa, finalmente o silêncio foi quebrado.

– Está uma delícia, Akira-kun – elogiou o amigo. – Este doce me traz ainda mais alegrias.

– Fico feliz – falou Akira tentando sorrir. – Acho que você já pode começar, Daisuke-kun.

– Claro!

Miaka cruzou os braços, nitidamente não aprovava o que o primo faria. Daisuke terminou a sobremesa e foi até Sora, ajoelhando-se diante dela. Ela gelou, suas mãos começaram a tremer, principalmente quando ele pegou a sua mão direita. Em sua mente rezava para alguma entidade salvá-la daquele momento, nem que tivesse que cair um meteoro lá fora.

– Sora-chan... Como prova do respeito que tenho por você e em comum acordo com seu irmão, decidimos que hoje seria a noite perfeita para que eu possa formalizar o meu pedido e também deixar claro os sentimentos que possuo. Você aceita casar-se comigo?

Não houve resposta, ainda mais quando ele retirou do bolso uma caixinha de veludo e a colocou sobre a mesa. Akira olhou de canto para a irmã, estava mais do que nítido que aquele era o seu maior desejo e não deixaria ela se esquivar. Mas, Sora não se intimidou, nem pelo olhar do irmão amado e nem mesmo pelas palavras do homem prometido para ela desde os seus quinze anos. Ela levantou-se, fez uma reverência para todos e saiu correndo, ao chegar em seu quarto, trancou a porta. Pensava em jogar-se no travesseiro para chorar, mas aquela não era a atitude de uma mulher feita. Talvez nem correr daquela forma, contudo, sempre agiu precipitadamente. Mais uma vez em doze anos olhou para o desenho do jovem loiro, estava em uma moldura dourada, sobre a sua mesa. Ela passou os dedos sobre o vidro, tentava controlar a respiração para não ficar ainda mais nervosa.

– Por que você não aparece e me leva para onde quer que tenha ido aquele dia?


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