A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 23
Fiz um mapa com as estrelas dos seus olhos


Notas iniciais do capítulo

Vou postar mais um capítulo, pq semana passada eu não postei.

Quem quiser, escuta essa música aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=8cG55ITgEmI



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Diário do Rafa

Era ainda madrugada quando o ônibus chegou a Fortaleza. Eu teria de esperar até amanhecer para falar com a Andreza. Fui direto para casa. Lá minha mãe e meu pai começaram a fazer perguntas, se eu estava bem, deram sermões dizendo que eu havia feito uma besteira... Aquelas broncas de sempre.

Fui dormir, pois estava muito cansado e com bastante sono. Acordei e já era uma da tarde! Seria tarde demais?

Corri até a casa dos Araújo e a mãe da Andreza e do Berg (depois de me dar uma bronca daquelas e fazer inúmeras perguntas sobre a nossa fuga) me disse que Andreza havia saído com uma amiga.

Fui até a casa da tal amiga, e a irmã dela me contou onde as duas foram. Ela sabia de tudo, mas era contra. Porém, ficaria calada. Minha aparição a fez abrir a boca.

— Oi, a Nanda está? Minha namorada está com ela, eu cheguei de viagem agora e...

— Você é o namorado da Andreza? — perguntou a irmã de Nanda. — Garoto, por tudo o que há de mais sagrado, corre. Corre, salva a vida dela, e a do seu filho!

— Hã?

— Ela foi fazer um aborto, homem!

💜

Diário da Andreza

Eu era a próxima da fila. O ambiente era limpo e pelo menos tinha minha amiga Nanda, que me recomendara a "clínica”, para ficar lá comigo. Ela já havia feito um aborto lá.

Estava muito nervosa. Por que a carniceira não me chamava logo?

— Pode vir, garota.

— Até que enfim!

— Vai lá amiga. Não vou sair daqui. — Nanda tentava me acalmar.

Levantei-me daquele sofá bem na hora que escutei um barulho lá do lado de fora da casa. Parecia uma freada. Bom, e pelo barulho, o acidente foi feio. A dona do lugar foi dar uma olhada no lado de fora.

— Ih! Um rapaz caiu feio da moto.

Quis olhar também, mas ela não deixou.

— Ele tá bem, já está até se levantando. —disse, sorrindo. —Bom, vamos lá fazer o que tem de ser feito.

Seja o que Deus quiser... Quer dizer, o que eu quiser, pois Deus não tem culpa de nada. E Ele jamais permitiria o que eu estava fazendo. Mas quem sou eu para falar de Deus? Estava prestes a cometer um assassinato.

— Você pode tirar sua roupa e vestir essa batinha aí. Não vai demorar nada, criança.

—Ok. — olhei para o rosto daquela mulher enquanto me vestia. Que fria era ela. E eu também!

Enquanto deitava, escutava discussões na sala.

—Você não pode entrar aí! (era a voz da secretária)

—Minha namorada tá ali dentro! (era a voz do... do ... Rafa!)

Desesperei-me, comecei a chorar e me levantei. Corri até a sala e quando o vi, chorei mais ainda. Rafa estava coberto de sangue, mas nem liguei.

— Por que você tá fazendo isso, sua idiota!?

— Eu não sou idiota!

— Tá fazendo uma idiotice.

— Idiotice seria continuar grávida e praticamente morrer nas garras dos meus pais.

— Você não precisa dos seus pais.

— Ah, não? Por quê? Eu ainda estudo, não sei fazer porra nenhuma e ...

— Você tem a mim! Andreza, vamos sair daqui, vem comigo. Casa comigo, Andreza!

Olhei pra ele, e respondi com um beijo. Depois de nos beijarmos, ri e disse:

— Eu vou! Mas tem duas condições.

— Quais?

— Primeira: Se você me chamar de idiota, meto a mão na tua cara.

— Ok! — ele riu da condição, mesmo morrendo de dor.

— Espera. Falta mais uma.

— E qual é?

— Eu volto com você, mas não de moto.

Caímos na risada, mesmo com o cenário aterrorizante que era aquela clínica clandestina. Agora precisávamos voltar pra casa, onde todo o encanto acabaria.

💜

Diário do Berg

Será que a tal Suellen tinha me enganado? Fiquei até com medo de o taxista cobrar mais, pois ele não achava a casa dela.

Já estava quase amanhecendo quando a encontramos. Como imaginei, não tinha dinheiro suficiente para pagá-lo. O motorista levou o meu dinheiro todo e eu fiquei sem nada. Não tinha nem como voltar mais.

Bati na velha porta daquele casebre e quem a abriu foi uma garota baixinha, com traços orientais.

— Berg! Não acredito que leu meu e-mail!

— Pois é.

— Entra.

A casa era humilde, porém arrumada. Eu estava tão ansioso, que fui perguntando logo:

— E a Valentina?

— Tem certeza de que quer ir agora?

— Nunca tive tanta.

— Vem, vou te levar lá.

💜

E enquanto ela batia palmas, eu fiquei um pouco escondido, para a Dona Rosário não me ver. Quando a senhora abriu a porta, não me segurei. Corri e invadi a casa.

— Menino, o que...

— Calma dona Rosário. É o namorado da sua neta! — Suellen tentava explicar a ela, mas ela parecia não entender. Eu gritava, chamava pela Valentina dentro daquela casa, quando finalmente a vi. Como Suellen dissera no e-mail, ela estava acorrentada ao pé da cama.

— Berg? Seu maluco, o que você tá fazendo aqui? — Valentina perguntou. Seus olhos estavam marejados e naquele momento eu pude notar um brilho diferente. Era um brilho de esperança.

— Eu tinha que vir te salvar! — respondi, procurando as chaves que poderiam libertá-la daquelas correntes.

— Não, Berg!

Dei um beijo nela e saí em disparado a procura da chave que a livraria daquelas sujas correntes.

— Calma, Valentina, eu vou te salvar.

Acho que eu estava tão nervoso, que nem media as consequências dos meus atos. O amor nos faz cometer cada loucura, não?

— Berg, meu tio vem aí!

— Hã?

— Vai embora, pelo quintal. Assim ele não te vê. — recomendou.

— Mas, Valentina! Eu não posso te deixar sozinha!

— Vai, Berg!

Saí pelo quintal. Tive que pular um muro. Era baixo, mas consegui. Nada mal para um amador, não?

Voltei para a casa de Suellen.

— Você tá maluco, garoto? — Suellen estava perplexa com a atitude com que eu acabara de tomar. Até eu estava surpreso com o que eu fiz!

— Desculpa, mas não me controlei. — respondi.

— Você gosta mesmo dela, não?

— Eu amo a Valentina.

— Que linda a história de vocês dois!

— Obrigado. Mas... eu preciso de um jeito pra tirar ela de lá. Você me ajuda?

— Claro! Olha Berg, você já tomou café? Vem aqui, conhecer minha mãe e meu pai!

— Vou aceitar.

Os pais dela eram muito legais, disseram que me ajudariam no que fosse possível, mas nem imaginavam que eu pretendia "sequestrar" a Valentina. Suellen me contou que ela e os pais se mudariam para Fortaleza no final do ano, e que, por coincidência, estudaria na mesma escola que eu iria estudar no ensino médio, quando terminasse o fundamental.

— Que bom, assim já conheço uma pessoa de lá.

— Verdade.

Anoiteceu. Eram umas dez da noite quando eu e Suellen saímos. Passamos a tarde toda bolando um plano. Naquela hora já estavam todos dormindo. Rezei para que fosse fácil. Decidimos que pularíamos o mesmo muro que pulei naquele dia mais cedo, que dava para o quintal da casa da avó da Valentina. Ficamos pendurados no muro, quando eu tomei um susto daqueles.

— Suellen, tem cachorro aqui!

— Calma Berg. — ela disse, tirando várias salsichas da mochila. — Isso vai fazer com que eles fiquem quietinhos por um bom tempo.

Eu era meio medroso. Quem tivesse lá na mesma situação diria que a Suellen era mais corajosa do que eu. E eu não tiraria a razão. Ela jogou as salsichas bem para o fundo do quintal, de modo que os cães não nos vissem quando tentarmos abrir o portão que dava acesso a casa. Caí de joelhos no chão, me ralei legal.

— Tomara que o portão esteja aberto.

— Sorte, Suellen. Essa é a nossa única chance.

Não tinha cadeado nenhum. Estávamos com livre acesso a casa.

— O quarto onde ela está é bem aqui perto da porta dos fundos. A gente precisa só achar a chave.

Entramos no quarto. Valentina dormia feito um anjo, mas com os braços acorrentados à grade da cama.

— Acorda, Valentina...

Ela abriu os olhos e olhou pra mim.

— Isso é um sonho?

— Parece, não? Mas não é.

— Berg, a gente tem pouco tempo. Os cachorros já devem ter terminado de comer. — Suellen me alertava. — Pergunta a ela logo!

—Valentina, onde é que o seu tio guarda a chave?

— Sempre fica pendurada no cós da calça dele. É um chaveiro... Por favor, Berg não se arrisca.

— Eu já volto.

Pedi pra Suellen vigiar. O tio dela dormia profundamente, e roncava alto. Parecia que ele havia tomado um porre, pois o cheiro de cachaça exalava de longe.

— Essa vai ser fácil — pensei.

Tirei o tal chaveiro preso na cintura de sua calça e corri de volta até o quarto de Valentina.

— Não acredito que você pegou a chave!

Nem liguei para o que elas falavam, fui logo tratando de soltar.

— Pronto Valentina. Você tá livre agora.

💜

Agora tínhamos que pular o muro de novo. Esperei as duas meninas subirem, e depois tratei de subir também. Eu não tinha muito condicionamento físico, e eu acho que por causa da dor nos meus joelhos eu senti uma dificuldade daquelas para escalar.

— Vem, Berg.

— Não tô conseguindo!

— Os cachorros!

Os cães eram enormes, eram dois. Furiosos. Valentina agarrou minha mão, Suellen agarrou a outra, quando o cachorro marrom abocanhou minha perna esquerda.

— ME SOLTA SEU FILHO DA MÃE! — gritei.


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