A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos
Notas iniciais do capítulo
Vou postar mais um capítulo, pq semana passada eu não postei.
Quem quiser, escuta essa música aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=8cG55ITgEmI
Diário do Rafa
Era ainda madrugada quando o ônibus chegou a Fortaleza. Eu teria de esperar até amanhecer para falar com a Andreza. Fui direto para casa. Lá minha mãe e meu pai começaram a fazer perguntas, se eu estava bem, deram sermões dizendo que eu havia feito uma besteira... Aquelas broncas de sempre.
Fui dormir, pois estava muito cansado e com bastante sono. Acordei e já era uma da tarde! Seria tarde demais?
Corri até a casa dos Araújo e a mãe da Andreza e do Berg (depois de me dar uma bronca daquelas e fazer inúmeras perguntas sobre a nossa fuga) me disse que Andreza havia saído com uma amiga.
Fui até a casa da tal amiga, e a irmã dela me contou onde as duas foram. Ela sabia de tudo, mas era contra. Porém, ficaria calada. Minha aparição a fez abrir a boca.
— Oi, a Nanda está? Minha namorada está com ela, eu cheguei de viagem agora e...
— Você é o namorado da Andreza? — perguntou a irmã de Nanda. — Garoto, por tudo o que há de mais sagrado, corre. Corre, salva a vida dela, e a do seu filho!
— Hã?
— Ela foi fazer um aborto, homem!
💜
Diário da Andreza
Eu era a próxima da fila. O ambiente era limpo e pelo menos tinha minha amiga Nanda, que me recomendara a "clínica”, para ficar lá comigo. Ela já havia feito um aborto lá.
Estava muito nervosa. Por que a carniceira não me chamava logo?
— Pode vir, garota.
— Até que enfim!
— Vai lá amiga. Não vou sair daqui. — Nanda tentava me acalmar.
Levantei-me daquele sofá bem na hora que escutei um barulho lá do lado de fora da casa. Parecia uma freada. Bom, e pelo barulho, o acidente foi feio. A dona do lugar foi dar uma olhada no lado de fora.
— Ih! Um rapaz caiu feio da moto.
Quis olhar também, mas ela não deixou.
— Ele tá bem, já está até se levantando. —disse, sorrindo. —Bom, vamos lá fazer o que tem de ser feito.
Seja o que Deus quiser... Quer dizer, o que eu quiser, pois Deus não tem culpa de nada. E Ele jamais permitiria o que eu estava fazendo. Mas quem sou eu para falar de Deus? Estava prestes a cometer um assassinato.
— Você pode tirar sua roupa e vestir essa batinha aí. Não vai demorar nada, criança.
—Ok. — olhei para o rosto daquela mulher enquanto me vestia. Que fria era ela. E eu também!
Enquanto deitava, escutava discussões na sala.
—Você não pode entrar aí! (era a voz da secretária)
—Minha namorada tá ali dentro! (era a voz do... do ... Rafa!)
Desesperei-me, comecei a chorar e me levantei. Corri até a sala e quando o vi, chorei mais ainda. Rafa estava coberto de sangue, mas nem liguei.
— Por que você tá fazendo isso, sua idiota!?
— Eu não sou idiota!
— Tá fazendo uma idiotice.
— Idiotice seria continuar grávida e praticamente morrer nas garras dos meus pais.
— Você não precisa dos seus pais.
— Ah, não? Por quê? Eu ainda estudo, não sei fazer porra nenhuma e ...
— Você tem a mim! Andreza, vamos sair daqui, vem comigo. Casa comigo, Andreza!
Olhei pra ele, e respondi com um beijo. Depois de nos beijarmos, ri e disse:
— Eu vou! Mas tem duas condições.
— Quais?
— Primeira: Se você me chamar de idiota, meto a mão na tua cara.
— Ok! — ele riu da condição, mesmo morrendo de dor.
— Espera. Falta mais uma.
— E qual é?
— Eu volto com você, mas não de moto.
Caímos na risada, mesmo com o cenário aterrorizante que era aquela clínica clandestina. Agora precisávamos voltar pra casa, onde todo o encanto acabaria.
💜
Diário do Berg
Será que a tal Suellen tinha me enganado? Fiquei até com medo de o taxista cobrar mais, pois ele não achava a casa dela.
Já estava quase amanhecendo quando a encontramos. Como imaginei, não tinha dinheiro suficiente para pagá-lo. O motorista levou o meu dinheiro todo e eu fiquei sem nada. Não tinha nem como voltar mais.
Bati na velha porta daquele casebre e quem a abriu foi uma garota baixinha, com traços orientais.
— Berg! Não acredito que leu meu e-mail!
— Pois é.
— Entra.
A casa era humilde, porém arrumada. Eu estava tão ansioso, que fui perguntando logo:
— E a Valentina?
— Tem certeza de que quer ir agora?
— Nunca tive tanta.
— Vem, vou te levar lá.
💜
E enquanto ela batia palmas, eu fiquei um pouco escondido, para a Dona Rosário não me ver. Quando a senhora abriu a porta, não me segurei. Corri e invadi a casa.
— Menino, o que...
— Calma dona Rosário. É o namorado da sua neta! — Suellen tentava explicar a ela, mas ela parecia não entender. Eu gritava, chamava pela Valentina dentro daquela casa, quando finalmente a vi. Como Suellen dissera no e-mail, ela estava acorrentada ao pé da cama.
— Berg? Seu maluco, o que você tá fazendo aqui? — Valentina perguntou. Seus olhos estavam marejados e naquele momento eu pude notar um brilho diferente. Era um brilho de esperança.
— Eu tinha que vir te salvar! — respondi, procurando as chaves que poderiam libertá-la daquelas correntes.
— Não, Berg!
Dei um beijo nela e saí em disparado a procura da chave que a livraria daquelas sujas correntes.
— Calma, Valentina, eu vou te salvar.
Acho que eu estava tão nervoso, que nem media as consequências dos meus atos. O amor nos faz cometer cada loucura, não?
— Berg, meu tio vem aí!
— Hã?
— Vai embora, pelo quintal. Assim ele não te vê. — recomendou.
— Mas, Valentina! Eu não posso te deixar sozinha!
— Vai, Berg!
Saí pelo quintal. Tive que pular um muro. Era baixo, mas consegui. Nada mal para um amador, não?
Voltei para a casa de Suellen.
— Você tá maluco, garoto? — Suellen estava perplexa com a atitude com que eu acabara de tomar. Até eu estava surpreso com o que eu fiz!
— Desculpa, mas não me controlei. — respondi.
— Você gosta mesmo dela, não?
— Eu amo a Valentina.
— Que linda a história de vocês dois!
— Obrigado. Mas... eu preciso de um jeito pra tirar ela de lá. Você me ajuda?
— Claro! Olha Berg, você já tomou café? Vem aqui, conhecer minha mãe e meu pai!
— Vou aceitar.
Os pais dela eram muito legais, disseram que me ajudariam no que fosse possível, mas nem imaginavam que eu pretendia "sequestrar" a Valentina. Suellen me contou que ela e os pais se mudariam para Fortaleza no final do ano, e que, por coincidência, estudaria na mesma escola que eu iria estudar no ensino médio, quando terminasse o fundamental.
— Que bom, assim já conheço uma pessoa de lá.
— Verdade.
Anoiteceu. Eram umas dez da noite quando eu e Suellen saímos. Passamos a tarde toda bolando um plano. Naquela hora já estavam todos dormindo. Rezei para que fosse fácil. Decidimos que pularíamos o mesmo muro que pulei naquele dia mais cedo, que dava para o quintal da casa da avó da Valentina. Ficamos pendurados no muro, quando eu tomei um susto daqueles.
— Suellen, tem cachorro aqui!
— Calma Berg. — ela disse, tirando várias salsichas da mochila. — Isso vai fazer com que eles fiquem quietinhos por um bom tempo.
Eu era meio medroso. Quem tivesse lá na mesma situação diria que a Suellen era mais corajosa do que eu. E eu não tiraria a razão. Ela jogou as salsichas bem para o fundo do quintal, de modo que os cães não nos vissem quando tentarmos abrir o portão que dava acesso a casa. Caí de joelhos no chão, me ralei legal.
— Tomara que o portão esteja aberto.
— Sorte, Suellen. Essa é a nossa única chance.
Não tinha cadeado nenhum. Estávamos com livre acesso a casa.
— O quarto onde ela está é bem aqui perto da porta dos fundos. A gente precisa só achar a chave.
Entramos no quarto. Valentina dormia feito um anjo, mas com os braços acorrentados à grade da cama.
— Acorda, Valentina...
Ela abriu os olhos e olhou pra mim.
— Isso é um sonho?
— Parece, não? Mas não é.
— Berg, a gente tem pouco tempo. Os cachorros já devem ter terminado de comer. — Suellen me alertava. — Pergunta a ela logo!
—Valentina, onde é que o seu tio guarda a chave?
— Sempre fica pendurada no cós da calça dele. É um chaveiro... Por favor, Berg não se arrisca.
— Eu já volto.
Pedi pra Suellen vigiar. O tio dela dormia profundamente, e roncava alto. Parecia que ele havia tomado um porre, pois o cheiro de cachaça exalava de longe.
— Essa vai ser fácil — pensei.
Tirei o tal chaveiro preso na cintura de sua calça e corri de volta até o quarto de Valentina.
— Não acredito que você pegou a chave!
Nem liguei para o que elas falavam, fui logo tratando de soltar.
— Pronto Valentina. Você tá livre agora.
💜
Agora tínhamos que pular o muro de novo. Esperei as duas meninas subirem, e depois tratei de subir também. Eu não tinha muito condicionamento físico, e eu acho que por causa da dor nos meus joelhos eu senti uma dificuldade daquelas para escalar.
— Vem, Berg.
— Não tô conseguindo!
— Os cachorros!
Os cães eram enormes, eram dois. Furiosos. Valentina agarrou minha mão, Suellen agarrou a outra, quando o cachorro marrom abocanhou minha perna esquerda.
— ME SOLTA SEU FILHO DA MÃE! — gritei.
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