A noite terminara e depois da cidade novamente habitável as pessoas começavam a sair à rua. As crianças iam para a escola e assim que saiam os guardas da cidade iam às casas entregar as cinzas dos que haviam morrido. Era um momento triste mas que se repetia todos os dias.

Uma rapariga vagueava pelas ruas antes desertas que levavam à zona neutra. A noite chegara ao fim e agora só sobrava o tédio.

– O dia é tão chato.

Senta-se num banco de rua a espreguiçar-se enquanto tira uma caixa de gomas do bolso.

– Realmente Black é a vila mais calma.

Várias crianças passavam na rua e acenavam-lhe com sorrisos cúmplices. As que se aproximavam tinham direito a uma goma.

Um homem de fato e óculos escuros vê-a e vai até ela.

– Karin, sabes que não podes estar aqui.

Ela vira-se para ele:

– Não me chateies quando estou a relaxar.

– Sabes que o King* não aprova as tuas paragens aqui.

– Isso pouco me interessa.

– Karin... - O homem agarra-a por um braço.

Uma arma é encostada à barriga dele por dentro do casaco da rapariga.

– Estão aqui crianças. Não me faças estourar-te o intestino à frente delas.

Ele larga-a contrafeito.

– Além disso eu tenho isto. - Com um radioso sorriso falso Karin entrega-lhe um cartão.

– Onde foste buscar isto?

– A Informadora deu-mo.

– Que seja. Mas vou estar de olho em ti.

Ainda sorrindo ela despede-se do homem. Assim que ele se afasta o sorriso desvanece-se.

– Cretino.

Karin Suzuki conhecida por "Rosa Sanguinária" era mais uma das temidas serial killers da Zona Obscura. O cheiro do sangue fazia-a perder totalmente a noção do bem e do mal e tornava-a num monstro assassino.

O cartão que recebera era um passe que permitia estar na vila desde que não se causasse transtornos. Um voto de confiança na personalidade calma dela.

***

Uma moto pára em frente à mansão de Green. A condutora retira o capacete e toca à campainha.

Ao contrário do mundo exterior, na Zona Obscura, os mais perigosos eram as mulheres. Daí haver tantas serial killers.

Os portões abrem-se e a mulher entra. As portas da casa são abertas e ela é acompanhada até uma sala. Bernard estava a terminar de tomar o pequeno-almoço.

Momentos depois aparece um homem que a acompanha até um escritório luxuoso.

– Bem-vinda. Foi difícil encontrar-te. - Cumprimenta o líder de Green.

– Faço por isso.

– Ouvi falar muito de ti nos últimos tempos.

– Se não tivesse não me tinha chamado.

– É verdade. Vejo que és direta como sempre.

– Que serviço quer que eu faça?

Bernard sorri.

– Quero que te livres de uma pessoa por mim.

– Esse é o maior problema dos líderes da Máfia. Não são capazes de fazer nada por eles próprios.

– Se não queres não aceites. - Bernard olhava-a furioso.

– Quem é?

– Tens as informações e o dinheiro neste envelope.

– Muito bem. Mas se for alguém protegido de Black não farei nada.

– Descansa que ela não tem nada a ver com Black. Só uma coisa, quero que a mates com isto. - O líder estende a faca que Raven lhe atirara no seu primeiro encontro com ela.

– Está bem. Vá-se lá entender os fetiches dos mafiosos.

A mulher dirige-se à porta para sair mas é impedida.

– Alicia, espero não ser preciso dizer que isto terá de ser o mais sigiloso possível.

– Até parece que é o primeiro trabalho que faço para ti, Bernard.

Os dois sorriem e ela retira-se.

Alicia era uma sombra. Uma assassina contratada que estivera no exército e fora mandada embora por trauma pós-guerra. Na verdade ela fizera-se passar por louca e alterara os dados clínicos para poder ir-se embora depois de uma pessoa misteriosa a ter encontrado e pedido que trabalhasse para ela. A partir daí mudara-se para a Zona Obscura onde fazia todo o tipo de assassinatos enquanto esperava ordens da tal pessoa mistério.

Bernard senta-se na poltrona e acende um cigarro.

– Finalmente vou vingar-me Raven.

*Rei. Outro nome usado para o chefe supremo.