O único barulho que se ouvia dentro do bar era o da máquina do café a aquecer. Lá fora o eco dos tiros e gritos propagava-se a tentar alcançar o interior dos edifícios como um aviso.

Duas chávenas de chá são colocadas na mesa onde as duas mulheres se haviam sentado. A placa repousava no meio brilhando com a fraca luz.

A primeira a quebrar o silêncio é Raven. Estava impaciente e não tinha problemas em mostrar isso:

– O que é que se está a passar?

Sam bebe um gole do chá e encara-a com um ar cansado.

– Sê direta.

– Quem és tu? Porque é que aquele tipo morreu? O que é que está a acontecer?

– Isso são muitas perguntas.

– Responde! - A serial killer tira uma arma de dentro do casaco e aponta-a à cabeça da Informadora.

Kenji mexe-se desconfortável atrás do balcão mas não mostra nenhuma intenção de querer envolver-se.

Com um suspiro Sam pousa a chávena, já vazia, na mesa e pega na placa quase esquecida observando-a com nostalgia no olhar.

– O Kadam morreu porque descobriu os culpados das mortes que aconteceram na muralha. Ele foi investigar e apanharam-nos. É possível que Zona Obscura esteja à beira de uma guerra.

Os olhos de Raven abrem-se de espanto fazendo a arma na sua mão perder o foco por segundos. Foram precisos alguns instantes para que ela voltasse a si e a arma ao sitio inicial.

– E isso? - A serial killer faz sinal para a placa.

– É meu.

– Só?

– Como? - A Informadora lança um olhar confuso.

– Pensei que fosses negar ou inventar uma desculpa.

– Porque faria isso? Há algum problema em ter andado no exército? Tu também não foste sempre serial killer pois não?

A mulher engole em seco e acaba por guardar a arma e dedicar-se ao chá que, por acaso, ainda não havia sido sequer tocado.

O sinal que informa o fim do horário noturno soa. Kenji adormecera sentado ao balcão. Sam dá mais um suspiro. Já perdera a conta dos suspiros que lançara naquele maldito domingo.

Por outro lado Raven encontrava-se mergulhada nos seus pensamentos. Não estava satisfeita. Sabia que algo mais se passava mesmo que a Informadora não dissesse nada. E a revelação de uma eventual guerra também fora uma surpresa. Que destino estava reservado para aquela cidade?

***

Ainda mal havia amanhecido quando Hinaichigo e Hatanne são chamados à sala de reuniões da escola Okane. A situação parecia grave apesar deles não fazerem ideia do que os esperava.

Ao abrirem a porta dão de caras com uma sala já ocupada. Os seus pais encontravam-se lá e com eles alguns homens de aparência duvidosa.

Nem bem entraram começaram logo a ser bombardeados com informação. Ouviram a história sobre a cidade da máfia e tudo o que a envolvia. Não percebiam o que se estava a passar e o que é que aquilo tinha a ver com eles até a verdade que mais temiam lhes chegar aos ouvidos. Eles eram adotados.

Hatanne chorava inconformado enquanto Hinaichigo, que já desconfiava disso, tentava assimilar tudo:

– Então se somos adotados quem são as nossas famílias?

– A Miss Hinaichigo pertence à família de Grey. Foi o antigo chefe da vila que a encontrou abandonada ainda em bebé. O Mr Wyuuko pertence à família de Brown. O seu pai foi o braço direito do antigo chefe.

– Isso quer dizer que somos inimigos? - Pergunta Hatanne soluçando alto.

– Não exatamente. Os antigos chefes eram aliados.

– E porque é que nos estão a contar isso agora? Já vivemos uma vida inteira de mentiras! O que querem de nós agora? - Hinaichigo estava revoltada.

– Eu não quero ser um criminoso! - Chorava o rapaz.

Os homens encaravam-se entre si. Já esperavam reações deste género. Podiam levá-los até às vilas para que lhe explicassem tudo mas duvidavam que Wallace cooperasse. Sendo assim a única escolha seria apresentá-los à Informadora. Com certeza ela conseguiria explicar tudo e esclarecer as dúvidas dos adolescentes.

Com muita apelação conseguem convencer os dois amigos a irem com eles. Acharam melhor não referir a evidente guerra que se aproximava para não assustar ainda mais os miúdos. Agora ficava tudo nas mãos da Informadora.