Na casa Kuchiki tudo estava tranqüilo, Byakuya encontrava-se em um cômodo secreto e nesse, cultivava todas as boas lembranças que possuía da falecida esposa, assim como de seus familiares falecidos. Ele acendeu duas velas e incensos, deixando um diante da imagem de Hisana. Ajoelhado, o arrependimento mais uma vez pesava em suas costas, tanto que teve de colocar as duas mãos sobre o chão para sustentar-se.

– Me perdoe... Eu fraquejei novamente, Hisana. Sempre pensei estar livre de desejos, achei que nunca mais iria inclinar-me a paixões. Minha promessa continuará... Irei fortalecer a máscara que encobre o meu rosto e a barreira que foi feita em meu coração. Peço que me dê forças para conseguir seguir em frente sem hesitar.

Uma brisa suave invadiu o recinto, parecia acariciar a face de Byakuya, as chamas das velas tremeluziam. Ele sentiu um arrepio no pescoço, assim como, teve a sensação de ter duas mãos tocando seus ombros. Byakuya elevou o corpo e virou-se para trás. A brisa tornou-se mais forte, as chamas apagaram-se de repente e neste instante, uma voz ressoou em sua mente. Ele cerrou os olhos, conseguia ouvir então com mais clareza.

– Byakuya-sama – chamou uma voz aveludada o nome dele. – Não posso fazer o que me pede.

Ele assustou-se, era a voz de Hisana, não podia estar louco. Quando abriu os olhos, pôde ver a imagem dela se formando, estava trajando um vestido branco que lhe cobria o corpo por inteiro, usava uma tiara dourada enfeitando os cabelos e seus olhos grandes refletiam a pureza que sempre tivera.

– Hisana... Eu... Eu sinto muito por ter lhe traído. Traí o seu amor, a sua confiança.

Depois de tanto tempo, ele permitia-se chorar e com as mãos, tentava tocá-la.

– Me ouça, por favor... Não posso descansar em paz quando sei que estou envolvida em uma promessa tão cruel para você mesmo. Seu amor é o que me prendeu aqui até hoje... No início, eu me sentia bem em poder zelar por você, por minha irmã, mas hoje, me sinto triste... Vazia! Sempre me alimentei dos seus sentimentos que eram tão puros, no entanto, eles mudaram e se tornaram obscuros. Não quero mais ser culpada pela sua amargura, Byakuya-sama. Isto é um fardo pesado demais, então, eu lhe peço... Liberte-me! Esqueça essa promessa. Permita-se amar e ser amado novamente. Deixe-se levar por bons sentimentos...

– Eu não posso fazer isso – disse ele tristemente.

– A única promessa que eu quis que fizesse já foi cumprida... Achei que eu poderia ter me libertado depois disso, só que não aconteceu. Eu fui egoísta, Byakuya-sama... Jamais pude corresponder aos seus sentimentos.

– Não é verdade... Eu fui um homem feliz enquanto a tive ao meu lado e...

– Não posso ficar mais, Byakuya-sama! Por favor, diga que vai esquecer essa promessa sem sentido. Tudo o que eu mais quero é que você seja feliz! Eu reuni todas as minhas forças para pedir isso. Então, não deixe que o meu esforço seja em vão. Estou me afundando em trevas... Sinto que não posso permanecer mais aqui.

– Hisana, eu...

– Por favor – disse ela em tom de súplica. – Uma última promessa... Prometa que irá esquecer este juramento sem sentido que fez a si mesmo. Quero que se liberte e me deixe ser livre também.

A imagem de Hisana começava a se desfazer, Byakuya não sabia o que dizer, depois de ficar calado e ponderar, ele finalmente sorriu.

– Você me amou até depois da morte... Meu juramento não foi em vão sabendo disso.

– E eu vou sempre amá-lo, Byakuya-sama e sei que é recíproco. Cada amor é único, e o nosso foi, porém, você deve aprender que existem outras formas de amar, tão intensas quanto. Só me diga que vai fazer o que estou pedindo...

– Eu farei, Hisana! Vou deixá-la ser livre, contudo, continuarei com a sua lembrança, até o fim da minha existência.

– Isto me deixa feliz... Agora que já fez a minha vontade, antes de ir, quero dar um conselho. Por favor, Byakuya-sama, não deixe ninguém mais consumir-se na mesma amargura que você. Tente consertar as coisas enquanto ainda há tempo...