The Four Kingdoms escrita por starqueen


Capítulo 31
Capítulo 30 - O meu inevitável erro.


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEY PESSOAS :D

Acabei de comprar o Living Things do Linkin Park e o Fallen do Evanescense e ISSO ME DEIXOU FELIZ PRA CARALHO AHUAHSUAS Provavelmente essa felicidade é o que está me fazendo postar esse tão rápido assim u.u

Podem ir se preparando para a Sam e.e Temos uma morte aqui que não foi prevista pelo o livro dos mortos... Ok, vou parar de falar o que vai acontecer aqui, então vamos logo ao capítulo o/



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Eu só me lembrava de duas coisas: Matt e raios.

Acordei em um ambiente diferente. Não que eu tenha acordado na Área 52 sendo tratada e percebendo que tudo aquilo acabou e que agora o meu foco poderia mudar. Era estranho e doentio demais.

Eu estava acorrentada. Meus braços estavam acorrentados na parede, parecido com uma crucificação. Minhas pernas também estavam presas, juntas, quase que no chão. Minha cabeça doía e eu só conseguia me perguntar em como diabos ainda estava viva. Talvez tenha tido alguma alucinação sobre Matthew — já que ele me odeia agora —, porque a última coisa que eu consigo me lembrar era o seu rosto.

Eu abaixei mais a minha cabeça, olhando a situação do meu corpo. Eu estava sem camisa, apenas com sutiã. Perfeito, eu provavelmente iria ser estuprada agora pela a primeira vez na minha vida. Dava para ver bem claramente a terrível cicatriz que ia do meu pescoço até quase o umbigo. A minha calça estava toda rasgada e mais esfarrapada que o normal, agora parecendo mais uma bermuda, já que era rasgada até a altura do meu joelho. Eu não estava ferida. No local onde eu fui esfaqueada por Kristen, estava um curativo, como se alguém tivesse cuidado de mim.

O meu olhar saiu do meu corpo e foi para o cômodo. Era um quarto minúsculo, bem escuro e sem nenhuma abertura. A porta era de madeira, com alguns cupins e teias de aranha. O quarto tinha um cheiro de mofo. É, estava bem claro que ali não era um local agradável.

O meu primeiro instinto foi: me soltar. Eu puxei o meu braço direito com força, na tentativa de me libertar, mas eu não conseguia. Eu sentia o meu corpo muito mais fraco. Então eu virei o meu olhar para o meu braço esquerdo, onde na região do meu pulso tinha um minúsculo furo, como o de uma agulha. Estava em um tom de vermelho misturado com roxo. Eu devo ter sido drenada.

Como diabos eu cheguei aqui? Eu estava morta. Era para eu estar.

A porta de madeira se abriu, revelando um som bem insuportável. A mulher fechou a porta e tinha um sorriso largo em seu rosto. Não era um sorriso mal ou sarcástico, era igual ao de quase todos da minha família, sendo que doentio.

Seus olhos verdes eram a única coisa que brilhavam na sala. Ela tinha cabelos ruivos naturais, e a sua pele era oliva. Seus dentes eram bem tortos e amarelos. Eu sabia exatamente quem era. Já tinha sonhado com ela antes, graças as memórias do dominador de água anterior.

Mary Watters estava na minha frente.

— Sam. — ela disse meu nome, ainda com aquele sorriso doentio estampado em seu rosto. Seu sotaque inglês era muito forte. — Eu esperei muito por esse dia.

Então outra pergunta veio a minha mente: Como diabos essa mulher estava viva? Duzentos anos já se passaram. Na memória do dominador de água anterior, ela foi morta pelos vampiros de Hector. Eu vi o seu rosto totalmente despedaçado no sonho. Eu a vi morta.

Hector já disse na praia sobre ela. Ele disse que ainda sentia a presença dela.

— V-Você é... — dei uma pausa. Minha voz estava fraca. — Mary Watters?

— Então você já sonhou sobre mim. — ela disse. — Graças a Lilith, ao menos eu não devo fazer uma apresentação.

Eu tentei forçar a minha audição, vendo se o coração dela batia. Foi inútil. Eu estava fraca demais até para fazer uma coisa simples dessas.

— O que você quer de mim? Por que me prendeu aqui? — perguntei.

O sorriso doentio saiu do seu rosto.

— Eu vou te punir antes da sua morte, Sam Watters. — ela disse.

— Por que? — perguntei. — Você nem me conhece!

E então o maldito sorriso satânico voltou ao seu rosto.

— Eu estive durante toda a sua vida. — ela disse. — Quando eu ouvi dizer que um dos Watters foi mordido por um lobo nos Estados Unidos, eu mal pude acreditar. Então foi aí que eu conheci Blair, a sua mãe. Ela era tão jovem quando tinha se transformado em loba. É claro que eu não falei com ela, apenas a observei de longe. Mas foi incrível ver como uma sangue puro se renegou e acabou se transformando como um daqueles lobos fracos. — deu uma curta pausa, virando o seu olhar para mim, me olhando fixamente. — Alguns anos depois, seu pai teve que viajar para lá por causa do trabalho dele com a gravadora. O resto, creio eu que você já sabe.

É, eu já sei dessa trágica história.

— Então você sabia disso o tempo todo? — perguntei. — Você sabia sobre essa tragédia o tempo todo?

— Eu não sabia que você ia ser uma dominadora. — disse Mary. — Você era comum. E agora, é a dominadora mais forte dos últimos mil anos.

— O que você quer comigo? — perguntei.

Ela ainda continuava com aquele sorrisinho no rosto, o que me causava mais raiva do que qualquer um poderia imaginar. Eu queria dar um soco naquela cara dela, mas eu não conseguia. Mary deu alguns passos em minha direção, ficando bem próxima de mim e ainda com aquele sorrisinho estampado. Eu iria ter um ataque de raiva ali se ela continuasse. Era tão ruim você querer se defender e finalmente fazer algo quando o seu corpo não conseguia.

Ela passou a sua mão no meu queixo, apertando um pouco. Eu balancei a minha cabeça no começo, mas ela era forte demais e não dessistia. A única coisa que ela fazia era olhar fixamente nos meus olhos, como se fosse alguma maluca.

— É incrível como a cada geração os malditos olhos verdes ficam mais claros. — ela disse olhando nos meus olhos. — Sempre vai ter a criança dos olhos verdes em cada geração dos Watters. Quanto mais claros os olhos, mais maldade a criança terá. A única exceção foi o seu pai.

E ela finalmente soltou o meu rosto.

— O que você quer comigo? — repeti a pergunta.

— Tortura. — disse Mary. — Eu vou te torturar com os sete pecados que você cometeu.

Ela pegou uma pequena faca e lentamente desceu pelo o meu braço direito, indo do meu ombro até quase o meu pulso. Então ela parou e ainda continuou sorrindo, como se isso fosse uma das coisas mais adoráveis e lindas de todo o mundo.

— Tragam o gordo. — Mary disse como uma ordem para uma terceira pessoa ali.

A porta de madeira se abriu, com dois vampiros segurando uma figura bem familiar para mim.

Big J. Eles pegaram o Big J.

Aquilo só poderia ser um pesadelo. Não, Big J não. Ele era incrivelmente inteligente e superior a grande parte das pessoas, e provavelmente, sem ele, eu já estaria morta há muito tempo. Eu não queria acreditar naquilo.

— Big J! — quase gritei. — Soltem-no! Agora!

Mary deu uma risadinha doentia.

— Não, garota. — ela disse. — Esse homem foi quem despertou o orgulho de ser quem você é. Ele que te ensinou o que significava ser a última dominadora de água dos últimos duzentos anos. Foi ele quem te ensinou grande parte das coisas que você sabe hoje. — ela deu uma pausa. — Orgulho é um pecado muito grave. Ele te ensinou a desenvolver o orgulho.

Ela ia mata-lo.

Big J estava amarrado e também com um pano na sua boca, o impedindo de falar. Aquilo não era agradável de se ver, principalmente quando você já jurou lealdade eterna a ele quando tinha doze anos. Big J era praticamente como um segundo pai para mim, o que tornava aquilo mais perturbador.

— Não mate-o, por favor...

— Estamos vendo um momento raro aqui. — disse Mary. — Quem diria que Sam Watters iria implorar para uma vida humana?

— Por que você não me mata logo, sua vadia? — disse, praticamente gritando com as últimas forças que eu tinha a palavra “vadia”. Eu precisava irritar Mary para que ela esquecesse do Big J.

— Sua manipulação não funciona comigo. — disse Mary. — Matem-no!

Eu tentei dominar água para impedir aquilo. Foi mais inútil ainda. Eu também não conseguia dominar. A única coisa que eu poderia fazer era assistir aquilo como se fosse um reality show.

Eu gritei o máximo que eu pude. Era inútil, mas era o meu único modo de fazer alguma coisa. Era terrível se sentir tão impotente como eu me sentia agora. Durante toda a minha vida eu sempre fui o foco de algo, sempre fui aquela pessoa pela a qual todos acham importante por mais que me odeiem. Eu sempre fui mais poderosa que todos. Agora eu estava em uma situação totalmente deplorável sem fazer nada.

O vampiro da esquerda arrancou a cabeça de Big J com as suas próprias mãos. Eu quase chorei. Era assustador e nojento, mas sim, um vampiro conseguiu decapitar um ser humano com a mesma facilidade que humanos matam formigas. O sangue corria pelo o seu corpo e eu tive a impressão de que Big J piscou seus olhos depois que a sua cabeça fora arrancada.

Eu não ia chorar. O vampiro pegou a cabeça e jogou no chão, e os olhos de Big J ainda estavam abertos após a morte. E não ia chorar. O corpo dele foi jogado no chão, sangrando e com aquela terrível e nojenta abertura do pescoço que a falta da sua cabeça fazia. Eu não ia chorar. Os vampiros saíram da sala. Mary ainda continuava sorrindo. Eu não ia chorar. Os olhos de Big J, mesmo após a morte, pareciam estar me encarando. Eu estava chorando.

— Até o próximo, Sam Watters. — disse Mary.

E ela saiu do quarto em passos lentos, como se quisesse me torturar com a sua presença.

Não importa o que aconteça aqui, e não importa o que esteja acontecendo lá fora, eu preciso me manter. Mary não iria me vencer. Ninguém pode me vencer.

Não. Eu estava mentindo de novo. Não há nada mais que eu possa fazer. Eu estou fraca, em um lugar desconhecido, com uma mulher louca, e sem ao menos poder dominar o meu próprio elemento. Eu estava tão fraca e indefesa quanto uma criancinha de um ano de idade. Aquele era o fim. O fim de tudo.

As vozes na minha cabeça berravam para mim, dizendo que aquele não era o fim. Mas elas eram totalmente irracionais, eram as mesmas vozes que berravam para mim, me mandando matar pessoas. O meu lado racional dizia que era o fim. Eu sabia que ele estava certo. Eu nunca fui nenhuma princesa precisando ser salva, eu sempre tive que me salvar por mim mesma. Ninguém iria me salvar, eu teria que morrer por minha conta.

Eu pensei na morte de Jeff e Helena. Por mais que a minha situação me fizesse pensar mais em mim, pensar nos últimos momentos deles era algo inevitável. Eu estava tão desesperada para acabar com Hector Kitter que no final eu acabei matando Helena. Eu queria me defender do General Rodriguez que nem pensei em como isso poderia afetar Jeff, e causar a sua morte. No final, eu só tinha “boas” intenções. As pessoas diziam que o inferno também era cheio e boas intenções.

[...]

Quarto dia.

Eu só conseguia imaginar em como eu ainda estava viva. Eu deveria estar mais desidratada do que um deserto, e também fazia dias que eu não comia nada que preste. Provavelmente eu já tinha perdido todo o resto da minha sanidade aqui. Eu não dormi nesses quatro dias. Talvez porque a cabeça de Big J em decomposição estava na minha frente, e eu tinha a impressão de que ele ainda me encarava. Era nojento você ver um corpo humano em decomposição, principalmente de quando é de uma pessoa que você chegou a se importar. A culpa é tão grande que às vezes eu penso que eu mesma matei ele.

Nesses quatro dias, eu só fui torturada seriamente. O único pecado que Mary me mostrou até agora foi o orgulho. Ela também fez o terrível favor de deixa-lo aqui. Por sorte — ou azar — eu não a vi de novo. Todo o dia, no mesmo horário, alguns vampiros aliados a ela apareciam aqui e costumavam a fazer cortes no meu corpo, e jogar um pouco de água na minha cara.

Eu jamais imaginei que algum dia eu pudesse terminar desse jeito, de uma maneira patética e ainda por vampiros. Eu preferia ser morta por humanos do que por vampiros. É incrível como essa raça consegue ser tão nojenta e ridícula, exceto por Bennett, claro, mas o resto é tão idiota que chega a irritar.

Até agora, ninguém do governo americano veio me tirar daqui. Perfeito, então até eles devem ter me esquecido completamente. Ou será que eles me venderam para os vampiros? Seria uma boa vingança por matar Helena e o General Rodriguez. Eu também tinha estragado todos eles com essa guerra que criei. Não seria nada mais justo que eles me vendessem aos vampiros parar dar um fim definitivo em mim. Agora nem o meu título de última dominadora dos últimos duzentos anos importava.

Eu virei o meu olhar para a cabeça de Big J no chão. A minha cabeça doía muito, mas eu jurava que eu vi ele murmurar alguma coisa como “covarde”. Agora eu tenho certeza que perdi a sanidade. As formigas e outros insetos estavam comendo seu corpo em decomposição, além de eu ter a impressão de que as suas unhas estavam maiores.

Isso era perturbador.

— Luxúria. — Mary abria a porta, juntamente com alguns vampiros. — O segundo pecado.

Eu levantei o meu olhar para ela, sem falar nada. Minha garganta doía. Eu sabia que falar era algo inútil.

— Você está tão fraca, Sam Watters. A sua pele parece tão pálida... — comentava. — Você parece mais magra do que já é. Provavelmente não vai sobreviver até o terceiro pecado.

Eu mentalmente mandei ela se foder.

— Eu não estou aqui para comentar a sua decadência. — ela disse. — Você já ouviu falar de controle mental?

Eu não pude responder.

— Ah, desculpe, eu esqueci que você provavelmente não consegue mais falar. — disse Mary. — Mas se você ligar o controle mental com a luxúria, eu tenho certeza que vai entender isso.

Os dois vampiros atrás de Mary, que eu nem tinha prestado atenção, seguravam um outro garoto. Provavelmente eu deveria estar louca o suficiente para estar tendo alucinações e vendo isso, mas Matthew Summers estava bem na minha frente.

Pela a primeira vez, o seu olhar parecia estar totalmente vazio, como se ele estivesse morto por dentro. A sua cabeça estava cabisbaixa, porém ele não parecia cansado. Ele só estava diferente. Como se outra personalidade tomasse conta da sua própria.

Foi aí que eu entendi. Mary fez alguma forma de controle mental com Matthew, fazendo-o talvez assumir outra personalidade diferente.

Big J me falou de controle mental quando eu tinha os meus treze anos. Ele me disse que o governo americano tinha inúmeros projetos de controle mental para transformar pessoas comuns em assassinos. Eu nunca acreditei nisso, mas era algo real.

— Eu acho que você entendeu, não? — ela dizia sorrindo. — Em algum lugar nessa sua escuridão você gosta dele, eu só estou certificando que você sofra com isso antes da sua morte.

Matthew parecia como um zumbi.

— Eu vou mata-lo. — disse Mary. — Veja com os seus próprios olhos.

Não. Eu não posso deixar isso acontecer. Não, não e não. Matthew teria o mesmo caminho que Big J. Eles iam decapitar Matthew e deixar o seu corpo em decomposição para me torturar indiretamente nas próximas horas. Matthew não pode morrer. Ele não merece morrer.

— N-Não. — eu forçava a minha voz, por mais que soasse fraca. — V-Você n-não vai...

— Eu irei. — disse Mary. — Você acredita se eu te contasse que eles vieram até aqui na tentativa de te libertar de novo? Esse garoto realmente conseguiu acabar com Hector em um só golpe, mas é realmente uma pena que todos vocês vão morrer. — seu olhar virou para os vampiros. — Matem-no lentamente. Ela verá tudo isso.

Mary deu um olhar para mim e depois saiu da sala.

Os dois vampiros aparentavam estarem totalmente felizes com aquilo. Um deles pediu para Matthew erguer a sua cabeça, e ele obedeceu, sem responder nada. O seu olhar acabou se fixando em mim. Seus olhos não pareciam mais chamas, era apenas um castanho comum.

Eu queria muito poder fazer algo. Nem que fosse gritar que nem uma louca, mas nem isso eu conseguia fazer. Eu estava sem poder nenhum. Totalmente fraca e a beira da morte. Eu também não conseguia dominar a água.

Um vampiro mostrou as suas presas, logo seguido pelo o outro. Eles iam beber o sangue de Matthew.

Eu precisava fazer algo.

Eu agi da maneira mais idiota e ridícula que alguém poderia agir. Eu tinha perdido totalmente a minha sanidade, mas isso nunca foi algo muito importante para mim ou para qualquer um aqui. Ninguém aqui é sano de verdade. Ark Zero não foi. Lewis não é. Hector Kitter não foi. Mary também não é. Eu preciso entrar no joguinho deles e agir do mesmo jeito que eles sempre agiram.

Fazer o que eu tinha em mente seria a mesma coisa que tentar balear alguém no escuro. Era algo duvidoso e que poderia falhar muito, tendo uma consequência que iria custar tanto a vida de Matthew quanto a minha. Eu iria usar a força que eu passei a minha vida todinha odiando. Era meio hipócrita, mas isso nem me importava mais.

Eu nunca forcei uma transformação, mas agora era necessário. Eu fiz toda a força mental que pude e tentei focar na minha raiva e todas as emoções negativas que eu sentia — o que não foi difícil, porque nos últimos dias eu não tenho sentido nenhuma emoção positiva —, e em questão de segundos eu sentia as minhas unhas se tornando garras. Então aquilo estava funcionando. Eu estava começando a ter controle.

Um dos vampiros começou a prestar atenção em mim, com apenas medo estampado em sua expressão. Eu sentia que os meus dentes humanos estavam começando a ficarem iguais aos de um lobo, eu acho. Diferente das últimas duas vezes que isso aconteceu comigo, eu tinha uma sensação estranha de que algo estava rasgando a minha pele por dentro, como se quisesse ir para fora. Essa sensação não era muito agradável.

Aquilo estava dando certo. A atenção dos vampiros não era mais Matthew, e sim eu. Mas não demorou nem um minuto para que a atenção fosse totalmente diferente.

O foco não era eu ou Matthew, e sim o som de uma explosão próxima daqui. Os dois vampiros pareciam desesperados, e inúmeras sirenes começaram a serem tocadas bem alto. O som era irritante, mas eu não fazia a mínima ideia do que diabos estava acontecendo.

— The Owners... — murmurou um vampiro.

— Eles realmente nos traíram? — perguntou o segundo.

— Creio eu que sim. — respondeu o primeiro.

A porta foi arrombada em questão de segundos após esse diálogo dos vampiros. Quatro soldados dos The Owners estavam lá, ao lado do seu líder.

Lewis estava aqui.

Os dois vampiros foram para cima dos soldados, tentando os matar, mas foi em vão. Eles pareciam insetos indefesos perto daqueles soldados dos The Owners. Eu fiquei sem reação com aquilo, o que me fez tirar o foco da minha raiva. Eu parei de me transformar e tudo começou a regredir, voltando ao que eu sou. Lewis deu um curto sorriso ao ver os vampiros morrerem, mas depois voltou a sua expressão normal, dando um passo à frente e entrando no pequeno cômodo. Os soldados ficaram no lado de fora, observando tudo.

Lewis entrava na sala, olhando fixamente para mim. Seus passos eram lentos e representavam uma tortura para os meus ouvidos. Matthew continuava imóvel, e o seu olhar estava fixo no chão. Eu suspeitava de que ele não tivesse realmente sofrido um controle mental e que tivesse algum plano fingindo aquilo, então eu me lembrei que ele me odiava agora e jamais pensaria em algo assim.

— Eu nunca pensei que te veria em um estado tão desprezível. — disse Lewis, olhando fixamente para mim, como se estivesse vendo cada centímetro do meu corpo. Ele encarava todos os cortes feitos nos últimos dias, as minhas cicatrizes mais antigas e até os meus defeitos naturais. — Eu sentiria pena de você se isso fosse há alguns anos atrás, claro. Olhe, eu acho que a sua parte suja está curando o seu corpo.

Eu foquei a minha atenção em todos os cortes no meu corpo. Eles estavam... Se curando. Não como da última vez, que apenas a pele crescia por cima — ainda tem a bala sob a pele do meu ombro —, agora estava de fato se curando. Minha garganta não doía tanto, e eu tive a impressão que a minha cabeça estava doendo menos.

Então isso significa que toda a vez que eu queira me curar eu preciso antes me transformar? Realmente, isso é muito útil.

Eu olhei para Lewis para não olhar Matthew ou para o resto de Big J. Isso é perturbador demais.

— Você vai me matar? — perguntei.

— Não. Eu acho que agora você se tornaria um mártir, já que todos te amam. — ele disse.

A minha expressão mudou.

— Como? — perguntei.

— O primeiro ataque aqui na Austrália está sendo noticiado no mundo todo. — disse Lewis. — Alguns países da América do Sul e Europa estão em uma grande onda de protestos por sua causa. Os Estados Unidos estão em um conflito interno. Agora você é amada e odiada no mundo todo, Sam Watters.

Eu me lembrei de quando Lewis tinha seus doze ou treze anos. Ele era... Diferente. Muito diferente. Eu jamais pensaria que um garoto tão bobo e estranho como ele poderia se tornar um homem como esse. Fisicamente, ele poderia finalmente estar bonito — sim, eu preciso admitir isso —, mas por dentro ele é tão ruim quanto eu.

Então uma memória bem antiga veio à minha mente: Edward e outro menino da sua idade. O outro menino também era amigo do Chris. Os três estavam no quarto do Chris, e então Edward e o outro garoto desceram as escadas, achando que estavam sozinhos. Eu estava lá. Eles não perceberam. Ed beijou o garoto.

Edward era gay.

— Ed. — o chamei pelo o seu apelido de infância. — O que diabos aconteceu com você?

— Eu que te pergunto isso, Sam. — disse Lewis. — O que aconteceu com você?

“O que aconteceu com você?”

E então essa pergunta começou a ecoar na minha cabeça.

Sinceramente, eu não faço a mínima ideia do que diabos está acontecendo comigo e com as coisas ao meu redor. As pessoas diziam que essa era a adolescência, que a partir dos treze anos de todos começa todas essas dúvidas. Por que isso não aconteceu comigo? Isso só está vindo agora, e eu acho que isso não é apenas uma adolescência. Se bem que desde que eu saí de casa não posso me enquadrar nem como criança ou adolescente. Eu nunca tive uma escolha de verdade.

Primeiramente, eu nunca pedi pra ser uma dominadora e ter um contato com qualquer coisa sobrenatural. Eu sei que se fosse uma mortal comum provavelmente iria ler livros, ver filmes, séries, e ficar sonhando em ser algum tipo de criatura sobrenatural para ter uma vida cheia de ação. Mas a verdade não é como os filmes. Ser um dominador é a pior coisa que a vida poderia acontecer. Era uma maldição. Eu nunca pedi por uma maldição.

Eu não sei mais o que fazer. Sempre tem alguma coisa querendo ter poder sobre mim ou querendo me destruir, não importa o que eu faça. Eu acho que a última vez que eu senti alguma emoção positiva foi há muito tempo, na época de que eu ainda era criança e vivia com meus pais. É irritante ficar repetindo o que aconteceu toda a hora, mas é algo inevitável. Pensando direito, fazer aquilo foi inevitável. Pelo o fato de eu ser uma dominadora, a qualquer hora eu poderia errar. A diferença é que eu errei antes da hora.

Eu não quero me apegar com as pessoas. Pessoas machucam muito. Em todos esses anos, eu nunca me apeguei realmente com ninguém. Por que eu estava começando a me apegar agora? Justamente no meio de uma guerra onde todos — inclusive eu — iriam morrer? Eu não deveria me importar com Matthew. Eu não deveria ficar triste e me sentir culpada pela a morte do Jeff e do Big J, ou até me sentir culpada por matar Helena. Eles só são pessoas. Pessoas são inúteis.

Talvez o meu problema é o fato de que eu não devo ser como as outras pessoas. Eu não posso me apegar a ninguém e nem ao menos tentar ter uma típica vida mortal como as outras pessoas. Eu nunca pertenci a nenhum lugar. Eu não pertenço a ninguém.

— Eu errei. — respondi a Lewis. — Foi isso o que aconteceu comigo.

Lewis deu um passo para frente, passando levemente a sua mão pelo o meu rosto.

O cômodo ficou mais quente. Uma luz apareceu, e eu tive a impressão de estar literalmente em chamas. Um grito de Matthew ecoava, os soldados lutavam e Lewis caiu no chão.


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Notas finais do capítulo

MARY WATTERS E LEWIS ESTÃO BACK IN THIS BAGAÇA u.u Lewis é uma bixa mais divosa que a Mary, claro, mas eu vou bancar a Neyde sobre isso...

Big J is dead. Primeira morte que o livro dos mortos não previu. Será que teremos mais? ~le sorriso maléfico~ Okay, ignorem isso, não teremos mais mortes -q MENTIRA, TODO MUNDO VAI MORRER NESSA BAGAÇA, MENOS A SAM -q

A Sam está fodida psicologicamente, Big J is dead, Lewis bixa má, Mary rapariga má, Matthew sob "controle mental" (ou não...), enfim, espero que tenham gostado desse cap, COMENTEM aí o que acharam, se tem algum erro e blá, blá, blá...

Até o próximo o/