E então Matthew apareceu.

Ele estava voando em cima de um... Dragão.

Não, não me pergunte o que diabos era aquela criatura. Parecia com um dragão. Eu sempre achei que conhecia todas as criaturas sobrenaturais, mas aquela era a prova mais nítida de que eu conhecia apenas a ponta do iceberg. Eu tive que piscar meus olhos umas dez vezes para conseguir acreditar naquilo. Eu já estava cansada de ser surpreendida. Qual seria a próxima surpresa? Humanos metade pinguins que moram no meio ártico e transam com ursos polares?

— Isso é um... — dei uma pausa. — Dragão?

Helena assentiu.

— Como diabos...

— Nós não sabemos. — Helena me interrompeu. — As coisas ultimamente estão estranhas demais.

Eu só estava esperando a Lady Gaga aparecer aqui e dizer que é de uma espécie rara de ET que fumam maconha e fazem músicas para humanos. Sinceramente, era a coisa mais óbvia a acontecer depois de tudo isso.

Eu não sei porque, mas o fato de que eu não sabia de tudo me incomodava muito.

— Nem me diga. — completou Travis. — Eu acho que desde que descobri essa parada de ser dominador, tudo perdeu sentido.

— Eu pensei que os Dragões tivessem sido extintos. — falei.

— Então eles realmente existiam? — Helena me perguntou.

— Sim, mas apenas no oriente. — disse. — Eu ouvi dizer que eles começaram a sumir há uns três mil anos.

— Estamos no oriente agora. — disse Travis. — Talvez eles tivessem perdido contato com humanos.

O Dragão tinha uma pele meio escura, em um tom de roxo quase negro. Parecia uma mistura mais clara de obsidiana com ônix. Seus olhos eram totalmente vermelhos, como se fossem chamas pegando fogo ao vivo. Suas asas eram enormes, e voavam de uma maneira veloz e leve.

Enquanto o Dragão voava de maneira majestosa, me fazendo sentir totalmente humilhada por não ter nenhuma criatura especial, Matt parecia o comandar. Ele parecia se dar muito bem com o dragão. Atrás de Matthew, estava Aaron, em sua forma humana e nu. Para se transformar totalmente em lobo, você precisa tirar as suas roupas e ter que atingir um ponto muito baixo na sua vida, causando a grande mudança. Garrett me disse isso. Era por causa disso que grande parte dos lobos até hoje não se transformou totalmente. Eles nunca chegaram em um ponto tão baixo da sua vida. Você precisa primeiro passar por uma metamorfose interna para sofrer uma metamorfose externa. Isso é um grande sinal de força.

Isso me fez pensar o que Aaron teria passado para conseguir se transformar totalmente.

O Dragão estava bem próximo de nós, então Matthew decidiu pousar. O Dragão parecia bem calmo, virou seu olhar para Helena, Travis sem mostrar nenhum tipo de sentimento. Exceto quando ele virou para mim. Ele deu um passo para frente e começou a fazer uma espécie de rosno. Matthew o acalmou.

É, eu sou péssima com animais.

Aaron Knight desceu do dragão, ainda, hã, nu. Não, eu não fiquei encarando seu corpo nu que nem uma retardada. Já vi homens nus antes, era que, ok, não é algo normal essa história dos lobos ficarem nus todas as vezes que tem que se transformar completamente. Eu não queria mais me transformar completamente. Se eu tinha que ficar igual a Aaron, prefiro continuar nessa merda de meia-transformação sem controle.

Não, eu não vou falar mais nada sobre o Aaron estar pelado, e encarar aquilo como se fosse tão normal quanto não ter um perfil no Facebook. Bem, eu não tenho um. Me matem agora.

Ninguém encarava Aaron estranhamente. Helena, Travis e Matthew pareciam achar aquilo normal. Bem, eu tinha dito que não ia comentar mais isso, mas era impossível. Mas graças a todos os deuses existentes/criados, Aaron se transformou em um lobo negro e com olhos dourados.

Eu também prefiro não comentar sobre a transformação. É incrível demais para ficar descrevendo. Se eu fosse descrever, não iria ter metade da coisa incrível que realmente é.

— Um dragão? — perguntei para Matthew. — Sério?

— É. — ele disse como se fosse normal.

— Onde você achou um dragão desse tamanho? — perguntei. — Não é algo que você ache escondido, sabe? Não é normal.

— Normal? Sério mesmo que você está falando de normalidade comigo, Watters? — perguntou.

Eu revirei os olhos.

— Esse dragão não faz sentido. Não é algo normal que aconteça. — disse.

— Vamos falar de normalidade, princesa anormal. — ele disse sorrindo. Outro apelido ridículo. O pior é que quando ele fala isso sorrindo eu não sinto vontade de revidar. Maldito sorriso. Maldito Matthew. — Você é uma híbrida da última dominadora de água dos últimos duzentos anos com uma loba. É, realmente, princesa anormal, você é uma pessoa bem normal mesmo.

Por que eu não conseguia dar um passo para frente e dar um soco na cara daquele idiota?

— Cale a sua boca. — disse. — Isso... — dei uma pausa, raciocinando direito. — Isso é uma armadilha.

— Maravilhoso. — eu ouvi a voz assustadora. — Eu não pensei que você fosse descobrir isso tão cedo. É provável que a dominadora de terra notasse isso, mas se você está começando a pensar, isso é um grande progresso, não?

Eu rapidamente me virei, dando um passo para trás e ficando ao lado de Matthew. Travis e Helena fizeram praticamente o mesmo, sendo que sem toda a minha velocidade. Foi praticamente um reflexo meu.

Hector Kitter apareceu das sombras, com uma expressão totalmente doentia. Seus olhos não tinham nenhum brilho, por mais que a luz do pôr do sol estivesse iluminando a todos. Sua pele azulada combinava perfeitamente com aquela aparência de vilão de filme de terror dos anos 80.

Eu tinha muito ódio dele.

— Hector Kitter. — disse Helena.

— Oh, querida inglesinha, você me conhece. — dizia Hector com sarcasmo na voz. — Ser conhecido pela a filha de Benjamin Jones realmente é o meu plano de vida. — um sorrisinho se formou em seus lábios.

— O que quer? — Matthew perguntou entre os dentes.

— Vocês não estão notando nenhuma... Diferença? — perguntou Hector, dando um passo em nossa direção.

Eu não sabia responder essa pergunta. Eu nem sabia como diabos Hector estava aqui. Aquele era o fim de uma rua, tendo apenas uma casa pequena — e vazia. Hector apareceu do nada. Aquilo já era uma diferença. Eu imaginava se ele estava ali o tempo todo, e se viu a morte de Jeff.

O sol estava quase indo embora, com a sua luz fraca nos iluminando. A pele de Hector conseguia ficar mais assustadora com a fraca luz do sol. Quando eu percebi isso, foi onde a diferença estava clara. Hector era um vampiro. Poderia ter inúmeras crias no mundo, mas ainda assim, continuava sendo um vampiro. Ele não poderia ficar na luz do sol como se fosse um humano comum. Ele é uma criatura da noite. O sol é a sua fraqueza.

— Você está andando no sol. — disse. — Isso é...

— Impossível? — interrompeu. — Não para mim, querida. — deu uma pausa, se aproximando mais de mim. Seu coração não batia. — Nada é impossível para mim. Você já sabe bem disso.

Eu tentava pensar alguma teoria para isso.

— O que você quer conosco? — Matthew deu um passo para frente, inflando seu peitoral e ficando em uma postura mais ereta. — Pelo o que eu saiba a única coisa que você sabe fazer é criar vampiros ou roubar as memórias dos outros. Ah, espere, você falhou até me roubar as memórias. Também deve ter falhado com seus vampiros.

— Eu te conheço, garoto. — disse Hector. — Você falhou, não eu. É uma pena que não pode salvar a sua mãe. Creio que o mesmo irá acontecer com a nossa amada dominadora de água. — Hector parecia tentar provocar Matthew. Tinha dado mais do que certo. O olhar de Hector foi até o braço esquerdo de Matthew, aquele em que a sua mão tivera sido arrancada. Um sorriso provocativo brotou em seus lábios. — Você não pode salvar nem a si mesmo.

Foi mais ou menos naquela parte que Matthew ficou enfurecido.

— Você é jovem e imaturo também. — dizia Hector, se aproximando do Dragão. A criatura não rosnava para ele. Parecia sentir um temor. — Quem iria achar um Dragão do nada tão facilmente? Por Lilith, nem eu acreditava que você iria cair nessa tão fácil, garoto. — Hector passou a mão na cabeça do Dragão, como se estivesse fazendo um carinho nele. Não demorou muito para que desse um tapa forte, coisa que o Dragão não revidou.

— Pare com isso! — disse Matthew.

— O Dragão é meu, garoto. — disse Hector. — Isso foi uma armadilha para você. É incrível como todos os dominadores de fogo não conseguem resistir a uma criatura dessas. — deu outro tapa no animal. — Esse Dragão é meu.

O Dragão era uma armadilha.

— O que você quer conosco? — Travis perguntou. — Eu acho que roubar a memória da Sam não deve ter sido o suficiente.

Hector forçou uma risada má.

— E não é, dominador de ar. — ele disse. — Eu preciso admitir que foi extremamente prazeroso roubar a memória da garota, mas ao mesmo tempo foi tão... Clichê. Eu só quero tirar o meu tédio e matar todos vocês.

A única mão de Matthew entrou em chamas, juntamente com os seus dois braços. Ele pegou Hector de surpresa, lançando um soco com um bônus de fogo em seu rosto, fazendo Hector cair no chão. Ele lentamente levantou o seu rosto, mostrando a terrível queimadura se curando rapidamente. Um sorriso totalmente mal apareceu em seus lábios. Eu nunca fui do tipo de pessoa que acreditava em maldade ou bondade, até porque eu faço parte da equipe dos “maus”. Mas, a única coisa que eu conseguia enxergar nele era uma pura maldade. Era como se ele adorasse ver o sofrimento dos outros, como se o seu passatempo fosse ganhar poder e ver os outros fracos.

— Eu sou invencível a luz, dominador de fogo. — Hector dizia com um sorriso mal em seu rosto. — Você deveria saber disso.

Hector deu um golpe em Matthew, o jogando para longe mesmo. Aaron começou a rosnar e foi para cima de Hector, mordendo o seu rosto e pescoço. Eu pude ver os dentes de Aaron estragando totalmente a face de Hector, chegando ao ponto de que estava tudo fora do seu lugar. Era meio sanguinário, mas um perfeito fim para o vampiro. O seu olho direito tinha saído da órbita, e estava no chão como se fosse nada demais. Seus lábios não existiam mais. No lugar do seu nariz, tinha apenas um local para “respirar”. Ganhamos.

Eu saí correndo atrás de Matthew, que naquele mesmo instante estava um pouco longe nós, no chão.

Quando eu me aproximei dele, o seu olho estava roxo. Ele estava de joelhos no chão.

— Matt. — disse, me abaixando e ficando ao seu lado. — Aaron está estragando o rosto de Hector, ok? Ganhamos essa fácil.

Matthew virou seu olhar para frente. Uma espécie de terror misturado com pânico foi estampado em seu rosto.

— Não. — disse Matthew. — Olhe para frente.

Eu virei o meu olhar para frente, parando de prestar atenção em Matthew. Hector estava em pé, com uma das duas mãos segurando a forma loba de Aaron, com a maior facilidade do mundo. A sua mão ia na garganta do lobo, apertando com muita força. Aaron estava com a sua boca aberta, rosnando bem alto e se contorcendo muito para se soltar. Seu rosto transfigurado parecia voltar ao normal, exatamente igual a uma cena de terror. Eu não pude evitar de sentir medo total. Como assim Hector havia derrotado Aaron em menos de um minuto? Não... Aaron estava ganhado dele! Eu vi o seu rosto todo transfigurado! Eu vi o seu olho saindo do seu rosto! Sua garganta sangrava... Não, não pode ser.

Um olho crescia no local que o outro havia sido arrancado. Seu nariz crescia de novo, e o formato dos seus lábios se recuperava de uma maneira terrível. Assim que os seus lábios cresceram, um sorriso totalmente perverso apareceu em seu rosto.

Aquilo era... Assustador.

— Eu acho que vocês não entenderam que eu sou invencível.

Matthew se levantou rapidamente, totalmente irado, mas ainda com medo e pânico. Uma bola de fogo apareceu em sua mão e rapidamente foi jogada na direção de Kitter, exatamente no mesmo momento em que Helena criava uma rachadura no chão, que em instantes se transformava em um longo buraco.

Hector desviou de Matthew, porém caiu na cova. Aaron foi jogado para bem longe. Eu tentava me dar a esperança de que aquele era o fim dele, mas eu sabia que não era. Hector subiu daquela enorme cova em questão de segundos, com o mesmo sorriso malvado em seu rosto.

— Vocês são fracos. — dizia, ainda sorrindo. — Eu odeio os fracos.

Ele correu na direção de Helena, em uma velocidade mais rápida que a luz, e a jogou para longe. Travis saiu correndo, a procura dela. Naquela hora eu percebi que a única coisa que Hector sabia fazer era jogar seus inimigos para longe. Poderia soar foda, mas não era tão útil assim.

Depois disso, correu na minha direção mas eu desviei. Os braços de Matthew entraram em chamas de novo, e ele jogava inúmeras esferas de fogo na direção de Kitter. Eu não tive muito tempo para confiar em Matthew e seus golpes de luta, já que ele era extremamente primário. Poderia ter um poder muito forte, mas não sabia como usar em seu favor.

Eu não tive escolha que não fosse me armar com a minha espada e me preparar para o pior. Eu sabia muito bem que o foco de tudo isso não era Matthew, e sim, eu. Hector me queria e deixava isso bem óbvio. A única coisa que eu devo fazer é evitar que Matthew seja morto por ele. Hector mataria qualquer um na tentava de me atingir.

Hector não era muito bom em desviar, isso já era óbvio. Matt estava irado, e jogava inúmeras esferas de fogo, cada uma seguida da outra. Seus olhos estavam totalmente vermelhos, como se o próprio inferno estivesse dentro dele. Hector não conseguia desviar de todos, mas ele se curava tão rápido que chegava a ser assustador. Como poderíamos derrotar uma pessoa que não se machuca definitivamente?

Matthew gritava algumas coisas, cheio de ódio. Eu o seguia, pensando em alguma situação que eu poderia aproveitar de decapitar a cabeça de Hector. Então um dilema veio a minha cabeça: E se nascer outra cabeça no lugar da antiga? Não, isso era impossível. Eu não estou dentro de um livro sobrenatural inspirado em alguma mitologia europeia. Mas, se o seu rosto praticamente nasceu de novo, por que uma cabeça não nasceria?

Helena e Travis apareceram. Travis jogava rajadas de ar em Hector, o que fazia o vampiro ir para longe, mas por um curtíssimo tempo. Hector era veloz e resistente. Poderia ser jogado para longe, mas voltava correndo e mais forte do que nunca. Era exatamente aquilo o que estava acontecendo.

Então foi aí que Helena começou a entrar em ação. Ela usava a sua incrível dominação com a terra, levantando rochas extremamente enormes do chão. Ela jogava todas em Hector, o que não funcionava muito. As rochas eram grandes demais e chamavam muito a atenção, então, por mais que Hector fosse uma merda em desviar das coisas, ele conseguia das rochas enormes.

Mas essa era uma boa coisa.

Enquanto Hector estava preocupado em desviar de Helena, ele esqueceu uma coisa: Matthew e Travis. Matt ainda estava atacando Kitter, que desta vez, não conseguia desviar de nenhum ataque dele. Travis o jogava para longe constantemente. Quando percebi, o sol já havia ido embora, dando local a uma lua no céu. Aaron ainda não voltou. Scarlett, Roux, Wright, Bennett, Stephen e Blair ainda não deram nenhum sinal. Eu precisava agir.

Enquanto Hector estava começando a se sentir cansado, eu corri em sua direção sem pensar duas vezes. Eu só tinha uma coisa em jogo: a minha vida. Ultimamente, esta não está sendo mais algo que eu costume a gostar ou prezar muito, então se eu perdesse, não faria nenhuma falta. Eu poderia soar como uma suicida dramática pensando nisso — até porque eu sou uma —, mas era a mais pura realidade. Não me faria muita falta perder a minha vida. Eu só iria pro inferno mesmo. Se bem que a minha vida é um inferno, então não teria nenhuma diferença.

Meu ombro doía, juntamente no local onde eu fui esfaqueada. A pele já tinha crescido totalmente por cima, mas a dor era algo inevitável. Enquanto eu corria, o pensamento de sentir dor nem existia mais.

Eu era veloz, então eu fiz um golpe em direção ao braço de Hector. Ele praticamente paralisou, e então eu parei de correr, vendo o estrago. Isso nem tinha passado pela a minha cabeça, mas eu adorei ter feito aquilo, eu juro por tudo que é mais sagrado, aquilo foi perfeito. De algum jeito, o meu golpe conseguiu ter feito no momento certo. A minha força e velocidade estavam perfeitamente combinadas, gerando a queda de um de seus braços. Sim, eu arranquei o braço de Hector Kitter.

O seu membro estava no chão, e em questão de minutos, se decompôs em uma maneira bem nojenta, se transformando em sangue. Todo o vampiro ou qualquer parte de algum vampiro, quando é tirada, se decompõe em pouquíssimo tempo se transformando em sangue. E assim aconteceu com um braço inteiro dele. Eu não conseguia evitar um sorriso vitorioso.

Eu pensei que Hector fosse entrar em uma raiva sem fim. Helena, Travis e Matthew pararam de atacar. O rosto do vampiro estava focado no chão, olhando o seu braço — que agora já era sangue. Pensei que ele iria ficar irado, pensei que ele iria perder a sua consciência ou até entrar em pânico.

Mas aquilo não aconteceu.

Ele virou o seu olhar lentamente para mim, como se tivesse todo o tempo do mundo em suas mãos. Eu esperava uma expressão irada, mas não tive uma. Um sorriso totalmente maligno se transformava em seus lábios, com as suas presas de vampiro para fora.

— Você me surpreende, covarde. — dizia para mim, ainda com um sorriso estampado. — Mas desta vez, eu surpreendo você.

Eu fiquei sem palavras. O meu foco de visão foi até o local onde eu tinha arrancado o braço de Hector. Aquilo não sangrava. Não mesmo.

Eu pude ver uma camada extra de pele se formando por cima, de uma maneira rápida e estilo filme de terror. Não, eu me recuso a acreditar que estava vendo alguma coisa dessa. Os seus olhos tinham um brilho vermelho, mas não igual aos de Matthew que era de chamas, mas um brilho vermelho de sangue. Ele sorria para mim, como se adorasse ver aquilo. Uma estrutura se formava no local em que o seu membro fora arrancado. O que diabos era aquilo? Eu não faço a mínima ideia. A estrutura de pele e ossos se desenvolvia perfeitamente. Estava gerando um braço. Quando um braço foi gerado, outra estrutura abaixo também se desenvolvia. Eu estava vendo a sua mão se formando também.

Seu braço tinha crescido. Acho que agora eu devo entrar em pânico.

Um medo crescia no meu peito. Eu não queria sentir medo, eu queria me sentir forte, não importa o que ele faça, mas era algo impossível. Minhas pernas começaram a tremer, juntamente com todo o resto do meu corpo. Era impossível.

— Eu sou invencível. — dizia, olhando fixamente para mim. — Como você lida com isso, Sam Watters? Como você lida com o fato de que eu sou superior a você? — deu uma pausa curta. Eu não conseguia responder. — Que foi? Perdeu a voz? Ou será que o seu medo te consumiu por inteira? Oh, espere, eu acho que eles não sabem que você é uma covarde. Desculpe por falar o seu segredo, covarde. — deu outra pausa, desta vez, olhando bem fundo nos meus olhos. — Seria uma grande pena quando descobrirem que você é uma farsa cheia de mentiras.

Covarde... Eu odeio essa palavra.

Se eu sou uma farsa? Bem, sendo honesta agora, sim, eu sou uma grande farsa. Se as pessoas precisavam saber disso? Não, elas não precisam. Se eu sou uma covarde? Sim. Se eu só tenho mentiras? Sim. Eu não posso negar, Hector está certo. Mas eu preciso urgentemente acabar com esse idiota, prefiro que os outros acreditem que ele está blefando sobre mim.

As pessoas não devem saber que eu sou fraca.

— Cale-se! — gritei.

— Você odeia ouvir a verdade, não? — ele dizia, me provocando ainda mais.

— Cale-se! — repeti, gritando. — Você está blefando!

— Não foi isso o que as suas memórias me mostraram... — comentava. — Sua covarde.

Antes que eu pudesse chamá-lo de todos os nomes possíveis, algo me atrapalhou.

Prefiro ignorar o fato de que ultimamente as coisas sempre costumam a atrapalhar os meus momentos. Se isso acontecer mais alguma vez — principalmente quando estou sozinha com Matthew —, eu juro que vou ter algum ataque.

Mas essa interrupção foi boa.

Roux e Scarlett apareceram, juntas, ambas com revólveres em suas mãos. Elas eram velozes demais. Scarlett estava focada em Hector, com seus cabelos laranjas voando com vento, e a luz da lua caindo sobre si. Seus tiros eram impossíveis de se acompanhar. Alguns acertavam Hector, enquanto outros não. Roux foi diretamente na minha direção, com uma expressão preocupada.

— O que aconteceu? — seu olhar virou para a minha camisa, que tinha a mancha de sangue causada pelo o fato de que eu fui esfaqueada. Ela olhou para o meu ombro, vendo a pele fraca por cima da bala. — O que aconteceu com você?

— Eu estou bem. — menti. — Hector é imortal.

— Eu sei. Ele é um vampiro.

— Não, não é isso! — disse. — Ele... Eu arranquei o seu braço, olhe! — apontei para a mancha de sangue no chão da rua. — E... O braço cresceu de novo. Ele não pode morrer. Seu corpo sempre se regenera.

Travis e Helena entraram na luta com Scarlett contra Hector. Matthew se aproximou de mim e Roux, sem lutar. Sua camisa estava chamuscada, mostrando o seu tórax.

— Ele... — a respiração de Matthew estava descontrolada. — Ele não pode ter feito isso! Ele... Ele se curou!

A expressão de Roux era estranha.

— Vocês estão tendo delírios. — disse Roux. — Talvez estejam em um estado muito grande de medo e...

— Roux, eu realmente vi aquilo. — disse, mostrando a minha espada com o sangue já seco de Hector. — O braço dele cresceu. Aaron antes tinha estragado todo o seu rosto e ele se regenerou de novo. Não podemos mata-lo.

— Onde está Aaron? — ela perguntou.

— Hector o jogou para longe a uma hora atrás. — disse Matthew. — Até agora ele não voltou.

— Vocês precisam ficar aqui lutando contra Hector. — disse Roux. — Não importa se ele se cure, apenas encontrem uma maneira de deixa-lo cansado. Eu irei atrás de Aaron.

Matthew assentiu, e então Roux saiu correndo. Ela parecia desesperada e preocupada com tudo isso.

— O que faremos? — Matthew perguntou para mim.

— Eu não sei. — disse. — Mas, não importe o que acontecer, tome cuidado de Helena. Nada de se importar comigo.

— Como? — Matthew disse. — Sam, eu não poso...

— Eu não me importo! Você deve, não pode! — disse. — O nome de Helena está naquele livro. Ela está destinada a morrer hoje, entendeu? Ela tem um futuro incrível como dominadora. Eu não.

— Eu não vou deixar você. — disse Matthew. — Por que você não aceita isso?

— Quando você vai perceber que eu não mereço isso, Summers? — disse. — Você quer salvar uma assassina?

— Eu não quero salvar uma assassina. — disse Matthew. — Eu quero salvar uma garota chamada Sam Watters. Ela está na minha frente, e eu juro por Deus que ela não é assim.

Eu queria chorar naquela hora. Eu não merecia ter isso.

— Jurar é errado, Summers. — disse. — Apenas... Por favor, me escute.

Ele suspirou.

— Eu não te garanto nada. — disse, se distanciando de mim e correndo na direção de Hector.

Eu tentei não me importar com isso, apenas segui Matthew e fui correndo na direção de Hector. Agora era a hora de apelar. Eu iria usar a minha dominação. Ultimamente, eu não estava mais usando ela, mas agora, era totalmente necessário. Helena poderia morrer. Aaron e Roux também poderiam. Eu não poderia deixar isso acontecer. Se alguém vai morrer aqui hoje, este alguém será eu.

O meu braço esquerdo doía, graças ao meu ombro que ainda estava se curando. Já tinha uma camada de pele por cima, então por que diabos crescia mais outra camada por cima? Parecia que a cada segundo aquilo doía mais.

Mas eu nem me importei se o meu ombro doía muito. Eu corria velozmente, e tirando a umidade, eu fiz a água aparecer. Eu estava sendo rápida demais, e provavelmente nem o próprio Hector deveria ter percebido o que eu estava fazendo. Controlei a água, transformando-a praticamente em uma segunda camada no meu braço. A dor começou a parar, e por um instante, eu tive a sensação de que estava sendo curada. Quando o meu “braço de água” estava preparado, eu lancei para Hector, prendendo em seu pulso.

Eu congelei o seu pulso e o trouxe em minha direção. Hector estava tão próximo de mim, que se pudesse, poderia me matar agora. Com ele preso, eu peguei a minha espada e enfiei no seu abdômen.

Scarlett o atirou duas vezes, e Hector usou sua força, e se separou de mim. Ele tinha levado uns três tiros, mas ainda continuava forte, então me jogou com força. Eu não pensei duas vezes em usar o meu braço de água na tentativa de pegá-lo de novo e dar um fim nisso.

Eu acertei em Helena, e quando tomei conta disso, já tinha feito um grande estrago. Todos pararam, e Hector pareceu ter usado isso como uma grande vantagem sobre mim. Ele sorriu pela a milésima vez, e enquanto todos estavam em estado de choque, ele correu em direção de Helena, pegando no seu pescoço e a enforcando-a.

O chão tremia, e eu tinha a sensação de que estava no meio de um terremoto. Era Helena tentando atacar Hector, mas ela não conseguia. Scarlett atirava em Hector, mas era totalmente em vão. Ele era rápido demais. Fazia em dois segundos o que pessoas normais fariam em cinco minutos. Eu não podia fazer nada. Ninguém podia fazer nada.

Helena parecia ficar sem ar, e o chão tremia ainda mais. Eu posso estar narrando isso como se demorasse mais, mas eu garanto a vocês que tudo isso durou apenas cinco segundos. O rosto dela já estava ficando vermelho sem ar. Hector gargalhava.

Helena tirou uma faca escondida e enfiou no abdômen de Hector. De nada adiantou. Eu corri na direção deles em segundos, e tentei dar um golpe com a minha espada, na tentativa de decapitar Hector.

E então o chão parou de tremer.

A minha espada foi para a garganta de Helena, penetrando nela e causando uma morte instantânea. Hector tinha desviado perfeitamente de mim. Ele soltou Helena antes que eu pudesse decapitar a sua cabeça. Ele sorria para mim.

— Muito obrigado, Sam Watters. — disse.

Helena caiu no chão. Hector fugiu. Travis correu em direção do corpo dela, e fazia de tudo para salvá-la. Eu forcei a minha audição, e já não ouvia mais nada vindo de Helena. Era tarde demais.

Eu matei Helena Jones.