A luz voltou tão rápido quanto se fora. Pisquei algumas vezes, ainda me acontumando com a claridade repentina. As pessoas já se levantavam para ir embora e alguns dançarinos conversavam no fundo do palco. Então meu olhar chegou até um par de olhos negros, que me encaravam curiosos.
Coloquei Elena de pé novamente, me mantendo a uma distância segura. Eu não podia acreditar que quase a tinha beijado momentos atrás. Uma vozinha na minha consciência gritava : Você não pode simplesmente ir beijando a garota no mesmo instante que a conhece. E nesse caso, não pode beijá-la em hipótese alguma! A regra é clara, Damon: nada de envolvimentos amorosos. Essa garota já sofreu demais!
Mas havia uma outra parte de mim que daria tudo para apenas comprovar se aqueles lábios rosados eram tão macios quanto aparentavam.
– Está tudo bem com você? - Elena perguntou de um modo gentil, aproximando-se de mim novamente, fazendo com que meu corpo inteiro implorasse pelo seu toque. Passei a mão pelos cabelos, tentando afastar aqueles pensamentos. Foco, Damon. Foco.
– Estou ótimo. E quanto a você? Se machucou?
– Eu estou bem. Obrigada por impedir que eu caísse. - ela sorriu - A propósito, eu sou Elena.
– Damon. É um prazer conhecê-la, Elena. - peguei sua mão e depositei um leve beijo nela.
– O prazer é todo meu, Damon. - ela sorriu e mordeu o lábio - Eu não estava dando em cima de você lá em cima. Só para você saber. Fazia parte da minha música agir daquela forma. - encolheu os ombros.
Dei um sorriso torto em resposta, o que a fez corar.
– Ufa, agora estou bem mais aliviado, senhorita Elena. Pois por um momento eu realmente pensei que havia se atirado de uma altura significativamente grande para os meus braços de propósito! Fiquei um pouco assustado com seus métodos suicidas para atrair um homem.
– Não se preocupe. Eu realmente não sou tão atirada assim.
Elena soltou uma gargalhada e quando percebi, estava rindo com ela. Simplesmente não pude evitar. De repente, eu não me sentia mais tão desconfortável a seu lado. Pelo contrário, eu queria passar mais tempo com ela, para poder vê-la corando ou rindo novamente.
– Sabe, eu realmente não acredito em você. O que acha de uma chance de me provar que estou errado ao seu respeito?
Ela cruzou os braços, me olhando divertida.
– O que tem em mente?
Eu sabia que precisava ser cauteloso com meus sentimentos e desejos. Mas eu também sabia que tinha que construir uma relação firme com Elena. Não da maneira que eu gostaria, mas precisava que ela confiasse em mim e me visse como um amigo que queria ajudá-la. Eu só não sabia ao certo como faria aquilo sem me apaixonar por ela. E também não sabia como eu aguentaria não beijá-la até o final daquela noite.
Eu estava prestes a responder quando dois homens se juntaram a nós. O primeiro era um homem de meia idade, com os cabelos acizentados, uma barba mal feita, magro e com um par de óculos bem grandes perdurados no pescoço. O outro era mais jovem, deveria ter os seus vinte e cinco anos, possuía os cabelos loiros e olhos verdes. Ele abraçou Elena e girou-a no ar, enquanto ela ria e gritava.
– Meu Deus! Minha garotinha levando todos esses moleques a loucura! Quando foi que você cresceu e se tornou a gostosa da YT mesmo? - disse, depois de colocá-la no chão.
– Klaus! Cala boca! - o rosto de Elena havia assumido um tom de vermelho vívido. Ela deu pequenos tapas no braço do rapaz, rindo mais ainda.
– Olá, você deve ser Damon Salvatore. Sou o Charles Buford, diretor da YT - o homem de cabelo cinza me cumprimentou, enquanto Elena conversava animadamente com Klaus.
– Sou eu mesmo. Muito prazer, Sr. Buford.
– Eu queria falar com você e com Elena em minha sala. Queria tratar sobre sua papelada e outro assunto que envolve os dois. Podem nos acompanhar?
Elena congelou no lugar, me olhando assustada. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas só tinha uma maneira de descobrir. Klaus deu leves batidas no ombro da garota e caminhou até a saída do teatro, ao lado do diretor Buford. Eu os acompanhei, me mantendo a uma certa distância dos dois, mas bem ao lado de Elena.
– O que está acontecendo?
– Tratar da papelada? Quer dizer que vai tentar entrar para o internato?
Sua voz era tensa e pela primeira vez, ela estava se mantendo a uma certa distância. Segurei-a pelo braço, fazendo-a parar e olhar para mim.
– Qual é o problema nisso?
– Por que não me falou isso antes, droga?! Você era muito perfeito para ser verdade, eu devia saber...
– Elena, olha para mim. O que está acontecendo?
Ela me olhou com raiva e deu uma risada sarcástica.
– Tudo bem. Diga que não está interessado apenas em me fazer ficar caidinha por você, para me convencer a formarmos uma parceria no teste, você passar as minhas custas e depois me dar um chute!
Fiquei encarando-a boqueaberto. Ela não podia estar falando sério.
– O que te faz pensar que eu seria capaz de fazer uma coisa dessas, Elena?
– Tudo bem. - ela levantou as mãos em sinal de rendição - Como explica o fato de estar sentado na primeira fileira, onde apenas pessoas autorizadas podem se sentar e ficar flertando comigo enquanto eu cantava? Ou como explica o fato de se arriscar e impedir que eu caísse? Havia uma probabilidade enorme de você se machucar também ou pior, cair junto comigo e pagar o maior mico da sua vida. E me explique ainda o por que de você ter chego DEZ DIAS ANTES do teste?
– Espera um pouco ai! Se alguém estava flertando com alguém ali, era você comigo! E quanto o meu lugar na primeira fileira, um cara chamado Aaron que me colocou lá. Ele é o meu colega de quarto e foi irritatemente legal desde o segundo em que me viu...
– Aaron? - a expressão da garota era de confusão.
– Sim. Eu me sentei na cadeira onde tinha uma plaquinha com o nome dele escrito. Pode conferir se quiser. E eu não te deixei cair Elena, porque não queria te ver machucada. Não pensei em nada além da sua segurança quando fiz aquilo, e você achar o contrário disso me magoa profundamente.
Ela suspirou e mexeu nos cabelos, nervosa. Estava evitando meu olhar novamente e aquilo me irritava muito. Por isso, peguei seu queixo, forçando-a a me encarar e continuei.
– Eu vim dez dias antes para ter algumas aulas. Conversei com os responsáveis e eles me autorizaram. A dança não é uma coisa natural para mim Elena, apesar de eu gostar bastante. E o único motivo pelo qual estou fazendo este teste é para agradar o meu pai. Acredite, se eu não passar, ele me mata.
Aquilo não era exatamente verdade. Eu estava lá pelo meu pai E por ela. Mas isso eu não podia dizer.
Um brilho passou por seus olhos. Ela queria acreditar em mim, eu podia sentir isso, mas ainda continuava desconfiada. Aquilo era frustrante.
– Eu já fui enganada dessa forma uma vez, Damon. Mas eu realmente quero acreditar em você, pois parece ser um cara legal -Elena pegou minha mão e delicadamente a retirou de seu queixo, mas não desviou o olhar desta vez - O que acha de uma chance de me provar que estou errada ao seu respeito?
Dei um risada.

– O que tem em mente?
– Ei! Vocês dois aí! Não temos a noite inteira, vamos logo! - Klaus gritou. Eu não havia percebido como havíamos ficado para trás.
Elena continuou parada me olhando por um tempo, provavelmente pensando numa resposta. Mas depois deu uma risada e saiu correndo na direção de Klaus.
– Ei! Espere aí! Ainda não terminamos! - gritei para ela.
– Vai ter que me pegar!
Sorri e comecei a correr.