Joguei minha bolsa no sofá do novo camarim e sentei. Minha cabeça ainda girava com todas as perguntas que recebi ao dar uma simples entrevista. Era cada coisa que escutava...

– Você não tem tempo para descansar hoje, senhorita. – disse uma mulher. Dei um pulo e saí do sofá. Sorri, sem graça.

– Desculpe. – pedi.

A mulher de cabelos prateados me olhava feio. Seu terno preto justo estava impecavelmente passado e o longo cabelo preso em um coque. Ela revirou os olhos e suspirou.

– O que eu vou fazer com você? – perguntou, mais para si do que para mim.

Encolhi os ombros.

Ela sorriu sapeca, e me deu um tapa no ombro.

– Ânimo, Erza-chan. – ria. – Até parece que alguém consegue colocar medo em você.

Fiquei um pouco irritada com o comentário, no entanto, resolvi deixar pra lá. Olhei para o espelho gigante do local e comecei a trabalhar com o meu cabelo. Normalmente não me preocuparia com maquiagem e com cabelo, mas era pelo trabalho. Tudo pelo trabalho.

Mirajane dava gargalhadas das minhas tentativas frustradas de tentar me arrumar.

– Por que não espera as garotas? – questionou, desmanchando o coque esquisito que fiz. Meu cabelo caiu como uma cascata ruiva.

Fechei a cara.

– Não quero dar trabalho. Além do mais, eu consigo me virar. – Tirei o prendedor das mãos de Mira. Ela revirou os olhos outra vez.

– Elas são pagas para isso. – Mira pegou seu celular. – Você que é a pessoa mais teimosa que conheço.

Dei de ombros. Continuei tentando repetidas vezes. Quando pareci conseguir fazer um avanço, me lembrei de que Mira estava ali. Era assustador quando ela não falava, sabia que algo grave havia acontecido. Virei.

– Desculpe Er-chan! – começou. Mudou o peso de um pé para o outro e mordeu os lábios. Deixei o cabelo soltar outra vez. O que ela fez?

– O que foi? – levantei.

– É uma longa história. – Mirajane sorriu. E quando minha empresária sorri, é sinal que fez algo muito errado.

– Diz logo! – reclamei.

– Você se recorda daquela entrevista para daqui um mês no canal 27*?

– Sim... – A ansiedade me consumia.

– Então – Mira encarou o chão. – Ela é pra hoje. Daqui a vinte minutos na verdade.

– O QUÊ?!

***

Troquei de casaco uma, duas, três vezes.

– Você parece uma garota. – Meredy saltitou e me deu um empurrão.

– Não me lembro de ter pedido sua opinião. – retruquei.

– É mais criança que ela. – Ultear trouxe um novo casaco, dessa vez de couro e preto. Não achei que fosse combinar.

– Parecerei muito vilão desse jeito. – Ul ainda segurava. Contra a minha vontade, peguei a roupa. Vesti-a.

– Você é um vilão. – Meredy sussurrou.

– Eu ouvi isso!

Eu olhava para um rapaz de vinte e um anos, com cabelos azuis arrumados de um jeito bagunçado. Seus olhos me analisavam profundamente, procurando um sinal para demonstrar se eu era inimigo ou não. Achei que parecia um rapaz do tipo que muita gente não gostaria de encontrar. O casaco preto de couro confirmava minha opinião.

– Você ficou bonito. – Ultear me ajudou a arrumar o casaco.

– Você está errada, eu sou bonito. – Empurrei um pouco o cabelo para o lado.

– Vai ser bom para as suas fãs verem um lado mau seu. – disse Ultear. Assenti. – A maioria dessas garotas mataria por uma foto sua assim.

– Eu nem sei como elas são suas fãs. – Não aguentei e taquei uma almofada em Meredy, que desviou e riu. Aquela pestinha. – Eu estou falando sério! Rogue, Simon, tantos cantores bons, e você aí.

– Eu sei que você me ama. – dei meu melhor sorriso “vou-te-conquistar” para Meredy. Foi a vez dela tentar me acertar com a almofada.

– Eca!

Comecei a rir de sua expressão.

– Crianças, é melhor pararem. – aconselhou Ultear.

– Sim, mamãe. – respondemos em uníssono.

Brincávamos de chamar Ultear de mãe porque no começo ela ficava extremamente irritada, afinal, além de atormentarmos a garota, ainda a chamávamos de velha. Porém, com o tempo a brincadeira acabou se tornando uma simples piada interna, já que Ultear não ficava mais irritada.

– Finalmente hoje é o dia em que a grande estrela brilhará no canal 27. – disse para mim.

Ultear e Meredy me deram sorrisos. Como eu queria me apresentar no canal mais assistido do Japão! Já não era sem tempo.

– Já está pronto, garoto? – perguntou Laxus Dreyar da porta. Meu empresário era a pessoa mais desorganizada que conhecia. Só aparecia praticamente quando tinha de me buscar para me levar até algum lugar.

O loiro encarou meu casaco por um breve tempo.

– Finalmente está virando homem, não é? – perguntou irônico.

– Há, há. Não sabia que tinha se tornado comediante. – respondi, enquanto fechava a porta.

***

– Mira! Como se esquece de algo assim? – guinchava eu enquanto corria de um lado para o outro colocando um pé do sapato e escovando o cabelo junto.

– Desculpe Er-chan! – Mirajane procurava as chaves do carro dentro do meu camarim. – Isso não vai mais acontecer.

Queria responder que é claro que não aconteceria novamente, pois já tinha acontecido. Deixei pra lá.

– Só... – arfei. – Só certifique-se de que minha guitarra está dentro do carro.

– Quando achar a chave. – gritou Mirajane, olhando debaixo do sofá.

– Quando achar a chave. – repeti.

Decidi deixar o cabelo solto. Não consegui arrumá-lo decentemente, as garotas não viriam e não queria preocupar ainda mais Mira. Teria que estar bom do jeito que estava. Procurei entre as várias roupas uma que seria fácil de colocar. Uma calça jeans, uma blusa de lã por cima de uma camiseta branca normal, e as botas camurça que eu tinha colocado antes.

Mira achou a chave e correu para o carro. Despi-me e rapidamente pus a roupa. Olhei a pessoa que estava na frente do espelho. Nunca estive tão natural em minha carreira. Sem roupas extravagantes, nem maquiagens irritantes, apenas eu, minhas roupas simples e meu cabelo escorrido.

Esperava que nossos superiores não nos matassem depois que me vissem no programa. Onde já se viu, Erza Scarlet, a Titânia, aparecer tão ao natural em um canal como esse? Tentaria dar um jeito no carro. Peguei a bolsa que tinha um batom e uma sombra e corri para o carro.