Doce Amargura escrita por Clarinha


Capítulo 3
Presa dentro de mim


Notas iniciais do capítulo

❊ Olá leitor (a)!
❊ ALERTA DE GATILHO - SE VOCÊ NÃO SE ENCONTRA EMOCIONALMENTE E MENTALMENTE ESTÁVEL/BEM, NÃO LEIA O SEGUINTE TEXTO. Busque ajuda, disque 188 (Centro de Valorização da Vida).



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As vezes me sinto presa dentro de mim mesma, sem fôlego e nem mesmo ânimo para continuar tentando viver. É como se algo tentasse me fazer desistir a cada dia; uma mão me segurando debaixo d’água, forçando minha cabeça para o mais fundo possível, me fazendo lutar contra o meu próprio ser e o meu próprio corpo, que só quer tentar ter mais uma chance de respirar e retomar a consciência.

“E será que é possível?”. Meus pensamentos parecem me consumir mais e mais a cada momento que se passa, e apesar de as vezes se ausentarem, a minha mente se tornou obscura o bastante para não conseguir se reconhecer sozinha novamente.

A sensação é parecida com a de quando você apaga as luzes, e se deita em sua cama para dormir. A escuridão se torna absoluta e um silêncio, que de certa forma é ensurdecedor, toma o ambiente todo; você se encontra sozinho, em um lugar que antes era familiar e aconchegante, e agora se tornara desconhecido, frio e solitário.

Mesmo que eu tentasse olhar para todos os cantos que possivelmente ali “existiam”, eu era incapaz de reconhecer onde estava ou sequer pensar em um método de fugir daquela situação. É assustador, te consome e você se torna, mais uma vez, inútil.

Sentimentos bons, nomes, sorrisos, pessoas... Memórias. “Elas pareciam ser infinitas, no momento em que estavam acontecendo”. Mas bem, doce engano de quem ainda não conhecia o lado ruim da vida, juntamente com a melancolia e tristeza que a acompanham, e levam todos os momentos bons para longe de você.

Ah, e sobre esse “lugar” em que estou trancafiada, bem... Alguns costumam o chamar de corpo, e morar nele... Mas isso quando ainda possuem controle sobre o mesmo. No entanto, a partir do momento que perdi o controle de tudo e me tornei apenas mais uma alma amargurada, essa não é mais a minha morada.

“Por quanto tempo estou presa aqui?”. Apesar de me perguntar, sei que não há nenhum sinal ou pista da resposta certa; meu corpo se debate na tentativa de me sentir viva outra vez, e eu abro meus lábios na crença de que conseguirei soltar um grito em pedido de ajuda... Mas nem sequer um mísero som é possível escutar vindo de mim.  

 Frágil de mais, fraca de mais. “Como me tornei isso?”. Mais questões feitas, sem que haja a esperança de uma explicação qualquer. Continuo me estremecendo à fim de que alguém me ouça e me tire desse lugar, mas, independente do quanto eu tente, ninguém parece me ouvir... Ou ao menos se importar.

A dor é insuportável, e a escuridão te faz criar a impressão de que nunca mais haverá saída. E na verdade, se não for persistente o suficiente, “ela” irá te consumir de forma abrupta, fazendo com que a sua vontade de lutar suma, assim como a imagem que você tinha de si mesmo. Você não conseguirá mais se reconhecer.

“O que esperam de mim, afinal?”. Após um longo tempo tentando buscar ajuda, e falhando miseravelmente, o sentimento de imprudência me tomou por completa. Eu não sou mais a mesma, e isso se tornara evidente.

Ainda no breu, toco minha pele e a sinto fria; minha respiração está lenta, e coração indiferente... Como o de alguém que já não se importa mais se perdeu a batalha ou não. Me sinto abatida, enferma e até mesmo amortecida pela situação em si.

“Será que isso tudo não passa de um pesadelo?”. Tinha que ser isso! E mesmo que não fosse, eu precisava ao menos tentar acordar. “São apenas ilusões, está tudo bem”, eu tentava me acalmar.

Assim como via nos filmes, me belisquei à fim de me despertar de um suposto transe mental, e batia minhas mãos em meu rosto, mas de nada serviu. Intensifiquei meus atos, enfincando minhas unhas em meus braços; fechei meus olhos e a dor que senti ali não era nada comparada à angústia que senti esses anos todos por causa “dela”: a depressão.

Me sentindo esgotada e cansada, a única alternativa que me restava era de esperar até que aquele momento acabasse; independente se demoraria dias, meses ou até mesmo anos. Eu precisava sumir. Fechei meus olhos mais uma vez, à fim de pedir que algo me salvasse do meu próprio ser, e da minha mente conturbada.

Adormeci, e quando abri os olhos novamente, reconheci que não estava mais no mesmo lugar de antes. Já era manhã, os raios do sol se adentravam pelas frestas de minha janela e eu estava deitada em meu colchão.
“Foi realmente tudo um pesadelo?”. Mesmo sabendo que não, e que aquilo tudo retornaria na noite seguinte, me prendi na ilusão dessa ideia, afinal, não havia como realmente fugir da angústia de viver presa dentro de si, com paredes a prova de som.


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Notas finais do capítulo

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