JD - Just a Dream escrita por Vee Skye Bancroft


Capítulo 8
Castiel VII — Pétalas em chamas


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, perdoem a minha incrível demora. Eu estava ficando louquinha de tanto trabalho e prova, vestibular pra estágio, e não tive muito tempo de sobra pra quase nada.
Ficou curto? Opa se ficou, mas era basicamente isso ae que tinha que ter o capítulo.
Enfim, desculpem-me, e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/512050/chapter/8

O rapaz de cabelos vermelhos retornou cambaleante, sentindo o corpo pesar sobre os pés e o chão parecer agradável o suficiente para se deitar. Ele até choraria, se não tivesse a certeza de que a encontraria novamente algum dia. Engraçado como esse “algum dia”, soou distante.

Colocou a chave na fechadura e manteve a mão sobre a maçaneta por um longo período. Sabia muito bem que ao abrir aquela porta de madeira velha, veria paredes brancas e azul-claras, veria um chão que há muito não era polido, um sofá esverdeado velho que em nada combinava com a decoração, mas era suficientemente confortável. Talvez visse dois colchões no chão, com um tapete felpudo sob eles, e dois cobertores gordos e macios sobre. Uma lamparina apagada e uma tevê de tela plana com os cantos empoeirados.

Tudo isso, mas não ela. Não os cabelos de cachos ruivos abundantes, não os olhos de esmeraldas. Gozado como ele sabia que não veria lágrimas que rolam pela face avermelhada, pelo simples motivo de não poder mais andar com suas próprias pernas, e ainda assim sentiria saudade disso, de poder consolá-la.

Olhou de relance para o relógio que estava na parede. Eram oito horas da noite. Miriam ainda não estava em casa e isso não era um costume dela, aliás, ela nunca saía de casa sem avisar, mesmo quando Frank ainda vivia.

Então como já não havia muito para se fazer, foi ao porão, para recolher sua guitarra ao colo. Se havia algo capaz de distraí-lo neste momento, era a música. Desde as mais tristes, às mais pesadas que ele pudesse tocar. Fazer isso sozinho era estranho, ele geralmente tinha Miriam ali lhe ditando a próxima que queria ouvir, ou então se declarava por belas notas à Jullieta. Nunca se sentira tão vazio.

Neste momento, a única melodia que lhe soou certa, foi a de All my Love, da banda Led Zeppelin. Era apenas uma única guitarra tocando as mais tristes notas e mesmo assim, Castiel podia ouvir com clareza não só o seu próprio instrumento, contudo, ouvia a bateria, o baixo, todos eles entoando em sua cabeça e impedindo que lágrimas rolassem. “Lágrimas que não sejam as delas duas, não valem à pena percorrer um rosto” — pensou ele, bem quando errou um acorde. Sua vontade foi jogar tudo ao chão, e ficar frustrado novamente por assustar ambas, mas não seriam mais assim, seria apenas ela.

Sim, aquela de quem um dia ele se perdeu por amores, mas que agora já não fazia sentido algum amar. Ouviu a porta da casa se abrir e sentiu seu sangue fervilhar. “Ela foi embora sem se despedir de você, para não lhe ver chorar, feliz por ter causado tudo isso?!” — era o que ele gostaria de dizer, mas se viu sem conseguir falar tais coisas.

Subiu lentamente as escadas, sem pressa de olhar aquela casa vazia. Avistou a garota de cabelos negros, que tanto procurava por algo, em certo desespero, até que esta parou frente à escrivaninha próxima aos degraus que davam para os quartos do andar de cima, os quais agora ela poderia frequentar. Miriam delineou o envelope com a ponta dos dedos, olhando calmamente para a cor e o formato apressado que este havia tomado sobre as mãos de Jullieta.

“Me desculpe, querida irmã.” — o rapaz se aproximou da morena, enquanto esta começava a ler as palavras da carta, sendo que ele continuara a ditá-la. — “Eu acabo de ser aceita naquele colégio que eu tanto estimava, e fui embora. Sem deixar rastros, roupas ou pertences, para que você não tenha nada a que se apegar e chorar por mim. Ou bem, talvez eu apenas não tenha me despedido de verdade, por medo de vê-la sofrer ao perder mais um a sua volta. Portanto, não se preocupe, eu estarei muito bem cuidada lá, com Dimitry que assumirá o papel de tutor, e eu quero que você fique bem. Terá ao seu lado não só o Armin, porque eu sei que ele é bem pegajoso, mas o Castiel sempre foi uma espécie de guardião para nós. Deixe-o cuidar de você, pelo menos dessa vez. Atenciosamente, Jullieta Levesque.” — ele respirou fundo ao terminar de falar e posicionou os dedos sobre as têmporas.

— Ela deveria ter me ligado. Eu estava na casa do Armin, mas nada que me impedisse de vir me despedir dela. — Miriam suspirou e olhou tristemente para a carta. — Se você não queria deixar nada ao qual eu me apegasse, não deveria ter escrito isso tudo. — sibilou tristemente.

— Acho graça de como todos tem pena de você, a garota que perdeu o namoradinho querido. Parte pra outra e viva feliz, sua irmã é que tinha os verdadeiros problemas! — ele exclamou evidentemente estressado. — Agora você tem o chorãozinho, e se ele morrer? O que você vai fazer, princesa? Se trancar no seu quarto e chorar o resto da vida? Acreditar que há alguma maldição imposta em ti? Dá-me pena te ver sofrer por coisas tão singulares. — soltou um som de ironia.

Enquanto Castiel se colocava sobre o sofá, a garota começou a se eriçar, sentindo raiva e vontade de bater no ruivo, para que ele não falasse de algo que este não entendia.

— Não fale daquilo que não entende! — ela ergueu a mão para dar-lhe um tapa, mas recuou pouco depois, vendo um sorriso idiota brotar no rosto dele. — Você lá sabe o motivo para ele chorar? O que ele vivenciou? Não! — respirou fundo. — E a mim? E Jullieta? Sabe o que é perder a pessoa a qual você mais estimava? Perder um meio de locomoção próprio?! Seu idiota, você não sabe! Paga o bonzão, aquele que consola as menininhas que se perderam no caminho da vida, e mal sabe que eu me reergui ser a sua ajuda. — sentou-se ao lado dele, arfando bastante.

— Ah é... Eu não sei mesmo. — a voz lhe falhou, e estava embriagada.

Assim ele foi pego em uma situação que ninguém poderia imaginar, na qual algumas lágrimas rolaram pela sua face, quebrando a frase que ele uma vez havia formulado. Miriam lhe tocou as maçãs do rosto, como se pudesse sentir a tristeza dele.

— Desde sempre eu amei você... — ele falou, sem tirar os olhos do teto, deixando que seus olhos desaguassem mais. — Mas algo mudou. Ou não, eu já nem sei mais. — esboçou um sorriso forçado, enquanto virava seu rosto para ela. — Não sei quem eu amo.

Ela permaneceu um tempo em silêncio, sem saber como responder a tal. Mesmo que não tenha sido uma pergunta, apenas acreditou que deveria falar algo.

— Não tenho ideia de como deveria reagir a isso. — gesticulou como se o problema fosse maior do que o esperado. — Sei lá, se você quer gostar de mim, pode fazê-lo, contudo, eu estou namorando o Armin agora e aí você não será correspondido. — puxou os joelhos para cima e os abraçou, passando uma mão no pé, para observar as unhas que estavam um pouco compridas. — Mas, ao gostar da Jullieta você estaria negando o que sentiu por tanto tempo. Porém, ainda assim você seria correspondido e feliz, pode ter certeza. — esbanjou um sorriso saltitando sobre os lábios.

— É, você me entende mesmo. — passou a mão esquerda envolta dos olhos e depois passou um braço atrás dos ombros de Miriam. — Vocês não fizeram nada impróprio lá, não é?

— C-Claro que não! — enrubesceu violentamente.

— Então gaguejou por quê? — disse em tom de brincadeira.

A garota respondeu lhe dando um soco leve no braço e ligando a tevê. Ela sabia muito bem que ambos sentiriam a falta de Jullieta.

Quatro meses depois.

Um tempo se passou. Castiel agora morava com a morena, como se fosse uma espécie de pai. A avó dela os visitava de vez em quando, para trazer cookies quentinhos e jogar conversa fora, fofocando sobre os vizinhos jovens que colocavam música alta e atrapalhavam o seu sono da tarde. Mas o assunto final de todas as vezes era sobre a saudade que a idosa sentia dos pais das garotas. Sempre resultando em um choro interminável, no qual o avô tinha de intervir e levar a senhora para casa descansar.

Armin e Miriam estavam namorando sério e ficavam grudados o tempo todo. Já o ruivo nem bem sabia o que fazer, raramente conseguia manter contato com Jullieta, mas nas poucas vezes que o fez, ele conseguiu dizer tudo o que se passava e agora ela estava mais feliz e um pouco arrependida de não ter se despedido. Logo ela viria para fazer-lhe companhia nas férias que estavam acontecendo.

Era sábado à noite, o dia em que ela retornaria e mesmo assim, Miriam e Armin haviam saído para um encontro especial, porque pelo o que o moreno tinha falado, seria o dia do pedido oficial de namoro dos dois. Houve mais uma discussão entre a garota e o ruivo, se não fosse o namorado dela a impedir algum homicídio, com certeza ela o teria cometido.

Castiel andou rapidamente pelas quadras de ruas e avenidas até chegar ao aeroporto. O cheiro no ar era de terra molhada por uns poucos respingos de chuva, o que significava que breve ocorreria uma precipitação.

O local era velho e fétido, não tinha um bom faxineiro há anos, e este era o resultado. Porém, é claro que ele não deu atenção às paredes cheias de mofo, ou ao fato da espuma da almofada onde ele se encontrava no banco estivesse super amostra. Simplesmente era irrelevante, porque logo ela estaria saindo daquele avião, na pista bem de frente para onde ele esperava.

Mas logo, tudo se transformou em chamas.

O avião havia tido um problema no motor, bem quando se ia pousar a aeronave. Então não houve tempo de posicionar as rodas, e muito menos de conseguir frear. Havia um moinho antigo um pouco ao longe, que foi o único ponto que conseguiu parar o movimento do avião. Em seguida houve uma grande explosão e toda a vegetação mais próxima entrou em combustão.

Não demorou mais do que seis minutos para o corpo de bombeiros aparecer e apagar o fogo. Começou-se então o resgate dos possíveis sobreviventes. Ver aquilo que pousaria normalmente, cair drasticamente e começar um show de chamas, fez Castiel ter vontade de correr, ir atrás dela para ver se estava tudo bem, salvá-la. Mas por algum motivo, ele não foi, suas pernas não se mexiam, estava estupefato com tudo isso.

Ao avistar as macas saindo de dentro do que restara, ele finalmente tirou forças de onde não tinha e foi de encontro a elas, vendo uma a uma passar por ele, buscando o rosto dela, que provavelmente estaria coberto de fuligem e cinzas. E assim estava, mas sua pele parecia fria, congelada no tempo, como se ainda estivesse sentindo o impacto.

— Com licença! — exclamou, segurando a maca em que ela se encontrava. — Ela... Está... — não conseguiu terminar, apenas engoliu em seco.

— Infelizmente, está morta meu rapaz. Você é um parente? — um dos bombeiros respondeu, pousando a mão sobre o ombro direito de Castiel.

Só se foi possível arregalar os olhos, jogar o joelho por terra, e começar a chorar desesperadamente. Mas mesmo assim, o chão lhe foi retirado, ele não sabia ao que se agarrar nesse momento. Gritava, como se Jullieta pudesse ouvir.

— Não! — gritou. — NÃO! Isso não pode estar acontecendo! Não, não, não, não! — foi até a ambulância junto do corpo, lhe segurando a mão, que insistia em pesar. — Você não pode morrer agora, disse para mim que iria me fazer companhia nessas férias. — passou calmamente os dedos sobre a testa dela, lhe percorrendo até a bochecha. — Essa pele fria não combina com você, sempre foi cheia de energia, alegre... Disse que iríamos ficar até tarde conversando para matar a saudade e que, nós iríamos incomodar o namoro da sua irmã só por pirraça... Então, por que você se foi sem fazer nada disso?! — ele parou por um instante e apenas ficou a fitando. — Pare o carro, eu quero descer, me acalmar, depois eu vou para o hospital.

— Mas precisamos de alguém que a reconheça. — falou uma das enfermeiras.

Ele olhou para um caderno que estava bem ao lado da moça, e o pediu com um gesto. Limpou algumas lágrimas na roupa e escreveu no papel.

— Esse é o número da irmã dela. Ela vai reconhecê-la, eu tenho certeza. — a mulher apenas assentiu e deixou que ele descesse. — E vai se arrepender de não ter ido comigo ver a irmã. — murmurou furiosamente para si mesmo, enquanto caminhava com as mãos ao bolso da calça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "JD - Just a Dream" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.