Stand By Me. escrita por aliciamalicia


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Nesses primeiros capítulos eu sei que não estou dando muita enfase ao casal Megavi mas eu realmente quero que seja mais focado na Megan esse começo e em como tudo vai acontecer precedendo ao encontro dela com o Davi e como tudo aconteceu antes do Brasil, talvez no próximo capitulo eu dê um foco no Davi pra mostrar como ele vai lidar com vencer o concurso e o relacionamento com a Manuela e enfim, depende do que vcs querem.



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Era segunda feira quando Kathe me levou até o asilo onde ela fazia trabalho voluntário algumas vezes na semana, instantaneamente quando a ideia foi apresentada eu recusei, não sabia lidar com gente velha, não sabia lidar com caridade e essas coisas e mesmo que eu gostasse era sempre a minha mãe que ia até os lugares e ajudava enquanto eu ficava em casa ou ia a alguma festa com as pessoas que eu costumava considerar amigas. Kathe insistiu pelo fim de semana inteiro então na segunda feira lá estava eu usando meu vestido de verão com um casaquinho fino e um tênis qualquer. Nós duas paramos o carro na garagem ao lado do asilo e pulamos pra fora, andamos juntas até a recepção e recebemos nossos crachás de identificação, encarei meu nome escrito errado mas resisti ao impulso de pedir a moça que desse um jeito naquilo, pendurei o cordão no pescoço e andei ao lado de Kathe até o salão principal.

Eu segui minha melhor amiga enquanto ela passeava pelo salão conversando alegre com todos do local, uma velhinha emburrada estava sentada do outro lado do salão e eu instantaneamente quis conhecer um pouco dela, a cara fechada e os lábios franzidos me lembravam de como eu me comportava quando não conseguia o que queria, desgrudei de Kathe e andei até a senhora, me sentei na cadeira na frente dela e sorri esperando que ela correspondesse e tudo que eu ganhei foi um revirar de olhos que me fez querer rir.

– Bom dia, eu sou Megan e você, quem é?

– Eu sou alguém que não lhe interessa, garota metida. - Eu dei uma risada curta e a encarei outra vez, sempre gostei de desafios mesmo e ela acabava de se tornar um pra mim.

– Então, isso quem decide sou eu e eu estou seriamente interessada em saber o seu nome e acho que vamos ser boas amigas. - Dei a ela o meu conhecido sorriso perfeito que não surtiu o efeito esperado, ela apenas rosnou uma série de xingamentos e começou a sair de perto com sua cadeira de rodas.

– Está é Azalea, ela é um pouco difícil. - A moça ruiva se sentou ao meu lado e estendeu a mão pra mim, eu apertei e sorri pra ela.

– Ela não pareceu gostar de mim.

– Ela não gosta de ninguém querida, pelo menos é isso que ela quer que todos pensem. - Ri do comentário e voltei a observar a senhora que agora estava ao lado de Kathe. - Azalea está morrendo de câncer, ela acha que não deve ser alegre se ela vai morrer em alguns meses ou antes disso.

– Ela vai morrer? - De repente a certeza de que aquela senhora que eu nem conhecia estava a beira da morte me fez pensar no granpa e em como ele estaria agora, onde estaria, se ele estaria bem ou mal. Instantaneamente eu senti falta de casa e do que estar com eles representava, encarei o lugar ao meu redor e tentei prender o turbilhão de sentimentos dentro de mim outra vez.

– Em alguns meses. Desculpe, eu devia ter sido mais gentil, sei como esse tipo de noticia abala qualquer pessoa até mesmo as que não conhecem o paciente. - A enfermeira disse enquanto alcançava minha mão e a apertava como se isso fosse diminuir qualquer medo que eu sentisse, pensei em o quão irritante isso devia ser para aquela velha senhora, como todos os dias alguém vinha e apertava sua mão lhe dizendo que no céu ela estaria livre de dor e seria feliz, como se um aperto suave na mão fosse curar o que quer que lhe arruinasse por dentro. Era bem compreensível que ela fosse amarga do jeito que era, eu pelo menos podia compreender facilmente.

– Posso vir visita-lá todos os dias? - Perguntei automaticamente, não pensei sobre como iria chegar até lá sem o meu carro ou sobre como seria recebida pela velhinha, simplesmente soltei a pergunta.

– Claro que pode, eu acho que ela pode gostar.

Nós passamos o dia inteiro no asilo ajudando as enfermeiras em tudo que elas precisavam no fim da tarde Azalea até mesmo me deu um sorriso que durou cerca de dois segundos antes de me enxotar pra fora do quarto, andei pelo lugar e me comprometi mentalmente em lembrar de pedir ao papai para que ele fizesse doações mensais para o lugar em um valor suficiente para manter todos aquecidos e felizes. Kathe disse que Bruce também ajudava o lugar mensalmente além de cuidar das reformas e nós duas fizemos o acordo silencioso de que voltaríamos logo logo. Enquanto nós duas deixávamos o lugar eu percebi o quão afortunada eu era, tinha um pai e uma mãe que se preocupavam comigo (em excesso devo dizer) um avó que estava ali para me aconselhar, Dorothy que é como uma tia sempre disponível para algum puxão de orelha ou para me defender de caras que não são bons pra mim, Brian que sempre me guiaria pelo caminho que ele achasse iluminado o bastante para alguém como eu, sempre tive um lugar para voltar e pessoas que me queriam de voltar enquanto Azalea e os outros estavam ali esquecidos pelos filhos, mantidos por outras pessoas, sem visitas diárias ou telefonemas de filhos, netos ou sobrinhos preocupados, alguns esperando pelo fim e outros apenas aproveitando a estádia ali. Minha garganta secou e os olhos lacrimejaram, engoli o bolo na garganta e tentei ignorar a vontade de entrar no próximo vôo e ir para onde minha família estivesse, mas o que quer que eu tenha para fazer ainda não estava completamente feito, eu podia sentir isso.

– Tudo bem, Megan? - Kathe perguntou enquanto estacionava na garagem de casa e eu acenei rapidamente.

– Eu só estou cansada. - Disse baixinho e ela acenou enquanto descia do carro e esperava por mim na porta de casa. Entramos juntas e apostamos uma corrida até a cozinha, estávamos famintas, cheguei primeiro e ganhei como prêmio um pedaço extra de bolo de chocolate que a mãe de Kathe tinha feito no dia anterior. Quando terminamos de comer, Kathe subiu para tomar um banho e eu andei até o lago perto da casa, precisava ficar sozinha por alguns minutos que fossem.

O lago perto de casa era uma das coisas que eu tinha amado na primeira vez que vim visitar Kathe. Era cercado por árvores grandes e majestosas, a água era escura mas não turva e no verão era como se os dias ficassem mais bonitos a partir daquela vista. Acendi o cigarro que tinha escondido no bolso do casaco pela manhã e traguei profundamente. "Deus, se você estiver me ouvindo, look, eu sei que preciso pedir desculpas por ter falhado durante esse tempo todo, eu meio que deixei de acreditar em você. Sorry. Really, sorry. Preciso que você me diga o que porque eu estou aqui e o que vem em seguida, quero que me diga quem eu realmente sou e o que rumo eu tenho que tomar. I really need. So, please, fale comigo." orei silenciosamente enquanto tragava e soltava a fumava lentamente, esperando que aquela ação me trouxesse um pouco de paz interior ou o seja lá o que é isso. Encarei meu reflexo na água e me perguntei quem era aquela garota me encarando. Estava mais magra do que costumava ser, meus olhos estavam sem o delineado preto e o cabelo preso em um rabo de cavalo frouxo, as roupas pretas se foram e a atitude rebelde não estava em lugar algum, essa simplesmente não era a Megan de alguns meses atrás e no meio de tudo, eu não sabia qual Megan eu era naquele momento, perdida demais para responder a pergunta que valia um milhão de reais. "Quem sou eu?" Resmunguei um dos muitos palavrões que vovô Jack sempre proferia e me sentei na grama orvalhada, traguei novamente e esperei que a nicotina me acalmasse. "Megan, você não acha que é hora de voltar pra casa?" lembrei da minha mãe perguntando em um telefone um mês atrás e da minha resposta evasiva "Onde é a minha casa, mãe?" a discussão que se seguiu pela minha idéia aparentemente "louca" de procurar quem eu era ao redor do mundo, sobre o quão irresponsável e insensível eu estava sendo, acusações que eu respondi com um "Eu sempre fui assim, na verdade eu era pior".

Quando dei por mim estava escuro e a lua brilhava toda imponente no céu escuro cheio estrelas, lembrei de como eu era e de como eu não queria mais ser, o celular tocava no meu bolso, o cigarro a horas tinha se apagado entre os meus dedos, meus lábios estavam quase dormentes e em um momento aleatório eu quase pude ouvir Coldplay ecoando nos meus ouvidos cantando Fix You em um tom suave. "Lights will guide you home" ecoou na voz de Chris Martin e eu nunca quis tanto que alguém estivesse certo, porque nesse momento, eu precisava seriamente de uma luz.


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