InFamous: A Tirania de Rowe escrita por Thuler Teaholic


Capítulo 6
Caimán


Notas iniciais do capítulo

Obrigado aos leitores, comentadores, acompanhadores e fantasmas, também, por este capítulo concebido após 30 horas sem sono.
Espero que gostem!



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Eu andava sem rumo pela cidade, a chuva fazia a jaqueta dos Infames pesar em meus ombros magros. Meu coração estava acelerado e as memórias eram palpáveis.

Eu e meu pai havíamos deixado a casa em que vivíamos para trás e seguimos para leste, sempre para leste.

Para os rebeldes.

Caminhávamos muito e parávamos muito pouco, mas eu nunca me queixava e acompanhava de perto o homem decidido.

Ele havia dito para mim que nossa vida melhoraria, que nós estaríamos fazendo a coisa certa.

Eu era jovem, mas não era boba. Eu sabia que nada nos esperava com os rebeldes, nada que não a morte, mas meu pai era muito cego para ver isso. Ele tinha certeza que um mundo de maravilhas nos esperava a leste, um lugar onde podíamos lutar pela justiça, pelo bem e blábláblá. Aquilo enchia minha a paciência, não via qualquer utilidade em se juntar ao lado perdedor, mas ele era cego demais para ver isso também.

Estávamos na estrada havia alguns dias quando vi os Infames pela primeira vez. Era uma cerca enorme, farpada e eletrificada que se estendia até onde a vista alcançava dos dois lados, além de ser pontilhada por aqueles pontos de controle que operavam com fragmentos da explosão e mostravam se a pessoa era ou não condutora.

Ele não era condutor, mas eu era então teríamos de dar um jeito de passar.

Acampamos perto da cerca por vários dias para que meu pai pudesse monitorar as patrulhas e localizar pontos de vulnerabilidade. Ele bolou um plano e eu rezei para que falhasse e mesmo que Deus não ouvisse minhas preces com frequência, o plano realmente falhou.

Os Infames espancaram meu pai nos arrastaram até um dos pontos de controle.

Eu me lembraria para sempre do momento em que a máquina gritou: AMEAÇA BIOTERRORISTA.

“Então você está levando essa garotinha para os rebeldes?” Um deles perguntou, mas eram muitos, dezenas. Meu pai não respondeu então eles o espancaram mais um pouco antes de voltarem à atenção para mim. Dessa vez foi um cara mais novo que falou, deveria ser uns cinco anos mais velho que eu, uns catorze ou quinze anos.

Ele tinha vários piercings no rosto, além de mechas vermelhas que não combinavam nada com ele.

Mas mesmo assim, eu o achei muito atraente, talvez fosse porque ele fosse mais velho, talvez porque ele foi educado comigo, talvez porque ele ficava me mandando olhares significativos.

Talvez eu ainda fosse meio boba.

“Hey, garotinha, esse homem é seu parente?” Ele perguntou de forma mansa. Devo ter corado, mas consegui responder fraquinho.

“N-Não...”

Ele me segurou pelos ombros e aproximou o rosto dele do meu.

“Sabe me dizer se ele é um rebelde” Fechei os olhos com força e balancei a cabeça, afirmando.

Quando abri os olhos, estavam segurando meu pai pelos ombros e forçando ele a se ajoelhar.

As últimas palavras dele nunca foram ditas pra valer. “Traidora” Ele disse sem emitir som.

O garoto que estava falando comigo me abraçou e bloqueou minha visão, mas mesmo assim eu ouvi os gritos horríveis do meu pai enquanto um condutor elétrico o fritava.

“As coisas vão ficar bem feias, garota. Quando acontecer, corra.” Ele sussurrou e depois me cobriu com a jaqueta dele e se afastou, passando o braço ao redor de meus ombros de forma protetora.

“Qual é, Caimán, deixe a pirralha.” Um deles falou.

Não pude deixar de olhar a cena triste em que meu pai se reduzira. Ele se movia, mas eu sabia que estava morto.

Limpei as lágrimas que brotavam rapidamente. “Ele era um idiota, e isso o matou.” Disse para mim mesma, mas não melhorava em nada.

Quando o cheiro acre de carne queimada me atingiu, me afastei um pouco de Caimán e vomitei o pouco que tinha no estômago. Alguém, que não era ele, me levantou pelo braço, me machucando. Despontei a chorar. A dor instigando a tristeza e levei golpe no rosto, o que me fez engolir o choro.

“Solta ela!” Caimán gritou.

Fui jogada no chão, mas não tentei levantar, fiquei lá apenas vendo as dezenas de pares de pés que se agitavam ao meu redor.

Um deles se aproximou e eu torci para que fosse Caimán, mas nunca descobriria. Ouvi um estampido seguido de um grito.

“REBELDES!” Eles berraram e se agitaram quase me pisoteando.

Ouvi uma explosão perto o bastante para me deixar surda e levantei com pressa. Mais feias do que aquilo, as coisas não poderiam ficar, então comecei a correr sem rumo.

A chuva machucando meu rosto.

Meu correr logo se reduziu a um chapinhar suave pela água que empoçava aos meus pés. Me encolhi em um beco, refugiando-me sob o capuz de Caimán e rezando para que ele ficasse bem.

Algum tempo depois, um grupo de duas pessoas me achou. Mas não eram os Infames, e sim, os Rebeldes, e para minha surpresa, Caimán era um deles.

Estava sem os piercings e vestido da cabeça aos pés de azul e branco, mas era ele.

“Eu disse que a garota estaria aqui.” Disse ele.

Um homem mais velho e de cabeça raspada andou até mim e me tomou nos braços como se fosse uma donzela desamparada e eu estava muito cansada, psicologicamente, para fazer qualquer coisa que não me aninhar nele para afastar o frio.

“Calma, garotinha, os caras maus foram embora...” Maravilha, mais um idiota que me julgava uma criança estúpida. Ele voltou a falar, mas dessa vez, não era para mim. "Eu sempre acreditei em você.”

“Obrigado, senhor.” Caimán respondeu.

Enquanto me refugiava no sono, fiz uma promessa silenciosa a mim mesma.

Nunca seria uma Rebelde, pelo menos, não de corpo e alma. O idiota do meu pai pode ter morrido por uma causa perdida, mas eu não seguiria seus passos até a cova.

Já que eu não podia fugir da guerra, queria lutar pelo lado vencedor!

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Yasmine acordou na completa escuridão, ouvindo um som suave como o esfregar de duas moedas. O som se manteve por alguns segundos e desapareceu para dar lugar a um longo rangido de dobradiças enferrujadas.

– Onde você estava? – Ela perguntou ao parceiro.

– Bolando estratégias com o Lee. – Ele acendeu as luzes para o protesto da garota. - Por que está na minha cama? – A garota atordoada não respondeu e Hugo, para o alívio da garota, tornou a apagar as luzes.

– Porque não consegui subir na minha. – Respondeu com a voz arranhada. A garota não via o rosto do parceiro com clareza o bastante para distinguir suas expressões, mas tinha certeza que o mesmo erguia uma sobrancelha. – Acabei exagerando um pouquinho no treinamento, sabe, a ponto de mal me sustentar sozinha.

Hugo acendeu seu zippo e usou a luz alaranjada para encontrar uma gaveta secreta sob a escrivaninha, onde guardou um grande maço de papéis. Yasmine imaginou que eram os mapas do mata-mata, Hugo estava meio obcecado com aquilo.

Ele recolheu a chama fraca e voltou a ativá-la, a mesma retomando a força. – Como você está?

Yasmine se sentia pesada e sonolenta, mas só isso. – Cansada. – Ela abraçou o travesseiro do amigo, passando a mensagem que não pretendia sair dali sem resistência.

Hugo voltou o rosto para Yasmine pela primeira vez e a garota notou que ele usava a sinistra máscara de lã com um sorriso esquelético banhada pela luz bruxuleante do isqueiro.

A cena fez com que seu sono recuasse uns três passos.

– Bom. – Ele disse sem sentimento na voz. – Acho que vou ter de dormir na sua cama, não?

Sinal verde. Ela deu as costas pare ele e disse sorrindo. – Acho que vai, mano.

Yasmine ouviu Hugo se aproximar e esperar ao lado do beliche. – Olha só, parece que não vou precisar.

A garota virou-se para observá-lo. – Como assim?

Ele apagou o isqueiro, afastou as cortinas escuras e abriu as janelas. A luz matutina que invadiu o quarto foi o bastante para que o vampiro interno da garota se desfizesse em pó. Ela soltou um silvo e enterrou o rosto no travesseiro, sentindo seu sono derreter como uma vela.

– Hora de acordar. – Disse com um humor sádico.

A garota grunhiu.

Preferia quando seu parceiro era outro.

Quando era Caimán.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem e gostaria muito que comentassem, sabe, me fariam muito feliz :v
E Annie Bee, você me deve um comentário!
até mais



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