InFamous: A Tirania de Rowe escrita por Thuler Teaholic


Capítulo 5
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Notas iniciais do capítulo

Bem, cá estamos mais uma vez!
Mais uma vez agradecendo aos que estão lendo e comentando, vocês incentivem muito, na moralzinha.
Bem, eu quase atrasei esse capítulo, mas como "quase" só vale para ferraduras e granadas, aqui está com algumas horas de antecedência.
Espero que gostem!



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Reginald estava sentado na beirada de um prédio, as pernas balançando sobre o abismo, quando ouviu algo atrás de si. Virou-se despreocupadamente, sabendo exatamente do que, ou melhor, de quem se tratava.

– Oi, Naz. – Bocejou.

A mulher largou os grandes fardos que carregava de forma propositalmente descuidada. Era alta e esguia, tinha um rosto forte e um maxilar quadrado, olhos castanho-claros e cabelos de mesmo tom; as orelhas eram um pouco abanadas.

– Oi, Reggie. – respondeu, o rosto tinha uma expressão firme de poucos amigos. Reginald sabia que era assim, de fato. – Você está ridículo vestido dessa forma, sabia? – Ele deu de ombros.

Naz se sentou ao lado dele. – A ruivinha canta como um passarinho. – Ela constatou com certa satisfação.

– Imaginei que sim. – Disse seco, contava com a cooperação da “ruivinha”. A mulher recostou-se no parceiro com um sorriso contido nos lábios. – O que foi? – Indagou.

– Nada, só o fato de que é uma condutora de som que está soprando o apito. – Reggie riu da ironia. “Realmente” pensou. – Mas, então, alguma sorte com nossa amiguinha colorida?

– Me diga você. – Tirou a máscara de pássaro e deixou-a de lado. Ele tinha a pele um pouco escura, como se fosse latino ou algo do tipo; tinha um maxilar estreito e um queixo pronunciado. Os olhos escuros e amendoados que herdara do pai fitavam a lua baixa à oeste enquanto um vento tênue agitava os cabelos escuros, lisos de tanto tempo sob o capuz.

A mulher afastou uma franja de cabelo do rosto do parceiro com delicadeza.

– Nossos camaradinhas ali – Naz apontou com o polegar para os corpos que havia largado atrás. – Não eram grande coisa. Condutores de vídeo. – Ela sorriu um pouco, ele não argumentou. – Mas então, seu plano decorreu bem?

Lembrou-se da expressão aterrorizada de Leander e respondeu após algum tempo. – Sim, melhor do que pensei. – Respondeu sonolento. Ele havia seguido o condutor de fumaça por todo o caminho de volta e viu-o sair do pátio aparando Yasmine. Depois os viu no quarto da garota, Lee havia agido exatamente como ele esperava. – Ele está morto de medo.

Naz riu seco. – Eu também ficaria. – Reggie sorriu de canto, sabia que seria assim. A mulher desviou o olhar e acrescentou baixo. – Só não sei se o veneno foi necessário.

– Era só anfetamina. – Defendeu-se. Havia coberto o colar com uma anfetamina das fortes, quando Lee pegou o colar, a droga entrou na corrente dele pelos dedos feridos de se segurar em beiradas de edifícios. O propósito era deixar ele desestabilizado e enervado. – Só o deixou um pouco mais paranóico.

Naz não objetou, por mais que não conhecesse Lee, sentia certa empatia pelo fato de ambos serem condutores de fumaça.

– Além disso, cuidado nunca é demais. – Ele fechou os olhos e se aninhou na parceira, cochilando.

Ela sorriu e afagou os cabelos desalinhados de Reggie. Observando, em silêncio, a lua seguir seu lento rumo. Ouviu um farfalhar vindo do lugar onde havia largado os corpos, logo atrás, no momento em que a luz matutina aqueceu suas costas. Os Infames estavam acordando da surra.

– Não os matou, Nazareth? – Reginald perguntou de olhos fechados. Há quanto tempo estava acordado, ou se ao menos havia chegado a dormir, Nazareth não sabia responder.

– Não. – Respondeu dando de ombros. – Acho que você faria isso melhor do que eu, sabe. – Reggie resmungou entre um bocejo e a companheira acrescentou na defensiva. – São condutores de vídeo, que morram pelo vídeo, oras!

– Você e seu princípio samurai. – Suspirou, achava que essa filosofia era bem estúpida, mas decidiu cooperar.

Levantou-se e bateu nas roupas para se livrar do cascalho que aderira nelas. Caminhou até os condutores semiconscientes e segurou suas mãos, drenando o vídeo de suas reservas em um pequeno show de luzes pixeladas. Sentiu o prazer característico que todo condutor sentia ao drenar, como seu um vazio fosse preenchido com energia.

“Melhor que um expresso.” pensou

– Me ajude com isso. – Pediu à companheira. Ela se aproximou dos Infames e ergueu ambos pela gola da jaqueta, um à direita e outro a esquerda. Reginald percebeu que Nazareth parecia um cabideiro humano naquela pose, mas não viu graça.

Concentrou-se e sentiu um formigamento frio nas mãos enquanto o vídeo as envolvia. A esquerda mutando-se em uma grande garra vermelha e luminosa; a direita, afunilando-se em uma longa lâmina azulada e brilhante. Nazareth observava tudo com a fascinação de um testemunho.

Reginald respirou fundo e atravessou o coração dos dois sem mais cerimônias. Nada como umas mortes antes do café da manhã.

Ambos logo se desintegraram em inúmeros pixels que se espalharam errantes pelo ar para extinguirem-se, pouco depois.

Era uma morte digna, afinal. “Limpa.” Ele pensou.

Cortou o fluxo e suas mãos voltaram ao normal. – Satisfeita? – A mulher assentiu. Mesmo que Reggie fosse oito anos mais novo, atendia as caprichos da companheira como era próprio de um irmão mais velho.

Ele suspirou e se afastou, dando as costas para a companheira e caminhando para a beirada.

– Aonde vai? – Ela perguntou, perseguindo os últimos pixels errantes com os olhos.

Ele se espreguiçou e antes de responder. – Fazer uma visitinha para nosso amiguinho fumacento. – Referia-se a Leander. Colocou a máscara. – Já volto. – Disse com a voz abafada antes que a parceira objetasse e jogou-se do topo do prédio.

Desfraldando suas asas de vídeo, luminosas e heterocromáticas, logo em seguida.

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Marie estava sentada no topo do Obelisco Espacial, admirando Seattle centenas de metros abaixo. A sombra do pináculo se alongava e a cobria como um manto que a abrigava do vento.

A visão era como a de um crocodilo com os olhos semi-emersos. Via a cidade brilhar em suas cores, ao mesmo tempo em que a via pulsar em seus sons.

Nada mais próprio de uma condutora de som do que enxergar, também, por este.

Estava imersa em seus pensamentos, Nazareth havia visitado ela fazia alguns dias e as palavras da mulher ainda estavam frescas em sua mente.

“Só mais um pouco, alguns meses no máximo” Ela dissera, e Marie torcia para que fosse bem menos tempo do que isso. Todo dia ela subia no Obelisco esperando ver a condutora, mesmo sabendo que era um esforço fútil. Ela não devia nem mesmo ter chegado à Manhattan.

Isso também tomava seus pensamentos. “Precisamos da garota” a mesma que ela havia poupado mês passado, “Por quê?” ela havia perguntado “Ela é importante, tanto quanto você”

Marie não acreditava naquilo.

Levantou-se e saltou pela beirada do Obelisco. A cidade logo precisaria dela.

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Lee estava deitado, os olhos fechados com força.

Sonhara com Reginald, não foram exatamente pesadelos, mas foram sonhos inquietos. O homem-pássaro não o havia assustado de verdade, até que decidiu se meteu na cabeça de Leander.

A paranoia era maior do que tudo que já sentira, como se alguém o observasse, atento aos milímetros que Lee pisava para fora da linha. Foi horrível.

Mesmo que a sensação tivesse passado, sentia-se exausto e sensível, como em uma ressaca enorme. A luz queimava os olhos e a própria respiração era alta o bastante para ferir seus tímpanos.

O que havia causado aquilo? Cansaço? Envenenamento? Sequelas de controle mental? Parecia ser o mais possível.

Abriu os olhos ao ouvir algo se chocando contra a janela de seu quarto, viu que era apenas um corvo estúpido bicando o vidro. Tornou a fechar os olhos, tentando ignorar o pássaro, mas as bicadas pareciam martelar em sua cabeça.

TOC, TOC, TOC... O pássaro parecia decidido. TOC, TOC, TOC... Lee começou a orar, pedindo aos deuses para que o pássaro fosse embora. TOC, TOC, TOC... Não se incomodaria se alguém arrombasse seu quarto apenas para enxotar o pássaro, nem que fosse o próprio Delsin Rowe. TOC, TOC, TOC... Decidiu, ia dar um tiro de fumaça na janela, talvez assustasse o bicho.

Abriu os olhos e deixou escapar um grito vergonhosamente agudo. Reginald estava sentado em uma cadeira de espaldar reto, batucando no braço da mesma. As pernas estavam cruzadas, o tornozelo de uma repousava sobre o joelho da outra, e o longo bico estava enfiado entre as páginas do registro pessoal de Lee.

– Esse registro está mais para o diário de uma menina de seis anos. – Criticou sem desviar o olhar da leitura. – E sua letra é horrível, diga-se de passagem. – Fechou o registro e jogou por sobre o ombro de qualquer jeito.

Lee se sentou na cama apressado, mas logo se arrependeu por fazê-lo, sentindo o mundo girar, tateou debilmente em busca dos óculos e os achou sobre o criado-mudo. Reginald uniu as mãos em torre como um psiquiatra. Lee sentiu a mente rachar como vidro quando o insurgente bateu as palmas. – Bem, vamos às perguntas. – Reggie esfregava as mãos e sinalizou para que Lee dissesse algo. – E que sejam boas.

– Como entrou? – Lee perguntou com a voz pastosa e Reginald bateu palmas, o estampido como o de uma escopeta ecoou pela cabeça de Leander. – Tá, tá! – Se desculpou enquanto massageava as têmporas. – O que fez comigo?

– Boa pergunta, nada. – Respondeu em curtas sílabas. –Próxima.

– O que você quer de mim? – Olhou com desafeto para o homem-pássaro.

– Colaboração. – Disse devagar, dando tempo para a mente lenta do condutor de fumaça processar as informações.

– Para?

– Outra boa pergunta, boa demais, na verdade. – Bateu palmas novamente, martelando o crânio de Lee de dentro para fora. – Mas vou considerar, mesmo assim. Quero que fique de olho na coloridinha, e não faça nenhuma estupidez, ou eu te mato. – O tom desprovido de ameaças. Ele tocava o bico, como se testando se a ponta estava afiada. – Mais alguma coisa?

Lee pegou o colar no pescoço e viu que a área em que o pingente havia tocado estava vermelha e sensível. Mostrou a peça para Reginald. – O que é isso?

– Dermatite, níquel no cobre. – O insurgente se esquivou. – Água e sabão. – Recomendou.

Lee emitiu um som de frustração e Reginald entendeu que aquele era um sinal de que a conversa havia acabado. Levantou-se e rumou para a janela que, para espanto de Lee, estava aberta.

Pendurou-se no beiral e disse. – Eu volto, parceiro. – Reggie sumiu de vista por um instante, mas voltou. O bico voltado para Leander. – A propósito, na última página você escreveu “imperceptível” errado. – Voltou a sumir e Lee viu um brilho difuso pela janela.

O condutor de fumaça socou a parede mais próxima, mesmo sentindo uma dor que reverberou por todo o corpo. Ele estava começando a odiar o homem-pássaro, o mesmo montava uma gaiola ao redor de Lee, grade por grade.

Deitou e voltou a fechar os olhos, ainda com os óculos por preguiça de tirá-los. Torcia para que conseguisse voltar a dormir, mas foi frustrado quando aquele mesmo corvo entrou pela janela escancarada e começou a bicar sua testa.

– Cara... – Afugentou o pássaro com um abanar de mãos e o pequeno animal pousou na escrivaninha, fitando Lee com os penetrantes olhinhos amarelos. - Como eu odeio pássaros.

Deu as costas para o bicho e, pela primeira vez no dia, pensou em Yasmine.

“Não preciso me preocupar com ele, ela vai me matar antes.”

Quando finalmente conseguiu dormir, a condutora de tinta o perseguia em seus sonhos, com olhos nada amistosos.


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Notas finais do capítulo

Para quem não entendeu, "soprar o apito" em inglês " blow the whistle" vem da palavra "Whistleblower" na literal "tocador/soprador do apito". Um Whistleblower é o mesmo que um informante, infiltrado, dedo-duro, X9 e etc
E, você! É, você mesmo! Comente!
Obrigado por lerem e até a próxima!