A Imperatriz escrita por Skye Holmes


Capítulo 4
Capítulo 4 - A carona


Notas iniciais do capítulo

Espero de coração que gostem!

Aberta a sugestões também.



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– É... Eu estou legal. Obrigada.

Coloco minhas mãos por dentro dos bolsos da jaqueta e continuo a caminhar. Meu corpo estremeceu. A chuva engrossava cada vez mais.
O carro me segue pelo meio fio. A rua estava completamente deserta.
Encarei James novamente, e... Ele não estava mais impressionado, e sim com um sorriso de deboche no rosto.
Minha situação o entretém? Quis perguntar, porém me manti de boca fechada e apressei os passos.
Ele acelerou um pouco.

– Tem certeza disso? Só é uma carona – Ele perguntou ainda com o sorriso no rosto.

E a primeira vez que eu o vejo sorrir. Por que diabos alguém com um sorriso desse não sorri constantemente?

– Desculpa cara, mas eu nem te conheço direito – Meu corpo todo gritava por um lugar quente, mesmo assim bati o pé e continuei a caminhada.

O carro ainda me seguia.

– Você sabe meu nome. Eu que não sei o seu. Isso te coloca na posição de Pessoa Estranha, e não eu. – Ele não olhava para mim, encarava a rua a sua frente.

Continuei andando – Lise – Falei.

– Agora que as apresentações foram devidamente feitas, quer fazer o favor de entrar no carro? As ruas já estão ficando mais desertas.

Seu olhar era fixo e atento no caminho á sua frente, como se ele temesse algo.
Eu parei de andar. Abri a porta do passageiro e entrei no carro. Meu corpo inteiro agradeceu por isso.
Ele acelerou e não olhou para mim quando falou:

– Indique o caminho, Lise.

Seu rosto permaneceu sério. Desconforto seria a palavra para me resumir naquele instante.
Era melhor você sorrindo, James.
Ele me encarou de repente – Seu cinto.
Coloquei meu cinto com dificuldade e quando eu voltei a posição normal, percebi que ele ainda me encarava.
Engoli em seco.

– Esquerda? Direita? – Ele perguntou e virou a cabeça olhando para rua com os olhos vidrados.

–Direita. De onde você é?

– Do sul.

– Que parte do sul?

– Direita de novo?

– Não. Esquerda.

Esperei ele responder minha pergunta, mas foi como se eu não tivesse feito.

– Por que você não ficou no show? – James pergunta, ainda olhando a rua com muito interesse.

– Desisti.

– Resposta vaga – Ele me olhou rapidamente.

– Pelo menos eu lhe dei uma – Encostei a cabeça no vidro da janela.

– Sou de uma cidade do interior chamada Weymouth– Ele me olhou de novo, mais rápido quanto da ultima vez.

Weymouth. Quem prefere sair da praia pra vim á Sheffield?
Alguém que não teve escolha, talvez.

– Direita. Lá estava muito lotado, não curto lugares assim – Menti. Tudo bem que esse foi um dos motivos, mas não o que me fez verdadeiramente ir embora.

– Só isso? – Ele arqueou a sobrancelha em sinal de desconfiança e girou o volante.

– Talvez não.

– Abre o porta luvas – ele fez sinal em direção ao porta luvas.

– Voce nunca pede por favor?

– Raramente.

Bufei e abri o porta luvas.
Tinha uma caixa de chocolate, lenços e moedas.

– Pode pegar um chocolate, se quiser.

– Não, obrigada.

– Talvez te faça se sentir melhor, sei lá.

Ou poderá ter algum tipo de droga para me dopar e me apagar instantaneamente.

– Coma um primeiro – Eu disse.

Ele riu. E me senti tão bem que o chocolate parecia desnecessário agora.
Entreguei um dos chocolates e ele comeu.

– Viu? – Ele rolou os olhos.

– Só mais alguns segundos...

Ele riu novamente. Um sorriso escapou por entre meus lábios. Esperei um tempo e então relaxei.

– Ok. Agora é seguro – Eu disse mordendo um pedaço do chocolate.

Foi como se o gosto tivesse lavado toda a queimação que restava em minha garganta e eu pude finalmente respirar sem dor.

– Sente-se melhor? – Ele perguntou sem demonstrar nenhum interesse na resposta.

De fato, me senti. Mas...
– Eu não disse que estava mal.

– Você não precisava dizer – Ele me olhou rapidamente e voltou a atenção para a rua.

Desejei um espelho para me certificar que minha cara se encontrava em um péssimo estado ao ponto de um estranho qualquer conseguir perceber isso.

– E você? Por que não ficou até o final do show? – Perguntei.

– Tenho que ir para casa mais cedo.

– Espero não estar te atrasando.

– Voce está, na verdade. Eu moro na outra direção.

Meu corpo enrijeceu com a sinceridade repentina.

– É... Não queria te atrapalhar, se quiser encostar o...

– Está tudo bem. Você não está atrapalhando.

Seu rosto era sério agora. Esse garoto é bipolar ou algo assim?
Afundei no banco e desejei que ele aumentasse a velocidade para chegar logo na droga da minha casa. Dei outra dentada no chocolate.
Ele me encarou novamente tão rápido quanto da última vez.

– Estou no caminho certo?

Para me conquistar? Não.

– Sim, minha casa é no final dessa rua.

Olhei para o velocímetro e percebi que ele tinha diminuído a velocidade. Arqueei as sobrancelhas.

Ele me olhou – Algo errado?

– Pode aumentar a velocidade se quiser.

– Com pressa?

– Bem, você está.

– Nem um pouco.

Engoli em seco. Mas que diabos tem de errado com esse garoto?

– Minha casa é aquela das grades pretas bem ali – Apontei com o dedo.

A manga da minha jaqueta subiu um pouco revelando uma cicatriz no começo do braço. Ele a fitou por uns instantes, e parou o carro. Ajeitei a manga escondendo-a do seu olhar.

– Entregue sã e salva – Ele disse sem esboçar sorriso algum.

Tentei desafivelar meu cinto de segurança mas emperrou. Ouvi ele se aproximando e senti a sua respiração quente perto do meu rosto. Suas mãos apareceram no meu campo de visão me ajudando com o cinto. Senti elas esbarrarem nas minhas mãos provocando um pequeno choque. Clic.

– Obrigada – Eu disse visivelmente embaraçada.

E então algo aconteceu. Algo que eu não esperaria que ocorresse, me pegando completamente, indiscritivelmente de surpresa. Ele segurou minha mao e afastou a manga do meu casaco.

– O que foi isso, garota? – Ele perguntou calmamente, passando o dedo por cima da minha cicatriz.

E a sensação boa que seu toque foi substituída pela queimação atordoante das lembranças.
Não poderia dizer “Nada demais, só um arranhãozinho” porque seria a maior mentira de todas. A grande mentira da minha vida. Cansei de ter que mentir só para evitar a dor até porque nunca consegui em nenhum momento como este evitá-la.
Porém, não consigo contar a verdade. Não aqui, nem agora. Muito menos, para ele. E eis o que eu fiz:
Afastei minha mão do seu toque e disse – Obrigada de verdade pela carona, James. Boa noite.
E abri a porta do carro, deixando o cheiro e o toque dele para trás.

x-x-x-x-x
– Você não foi um pouco fria, não? O cara te deu carona e chocolate e você bate a porta do carro na cara dele – A voz da Amy indignada soava pelo celular.

– Eu não bati a porta na cara dele! E outra, eu agradeci pela carona.

Assim que cheguei em casa, Layla me questionou por ter aparecido tão cedo em casa. E como eu tinha vindo para casa já que ela iria me buscar no Pub assim como havia me deixado. Eu disse que vim de carona e que lá estava lotado e chato. Layla não fez mais perguntas, ela não se importava realmente.
Mais tarde, quando provavelmente Amy teria retornado do show, eu a telefonei e contei toda a história. Ela simplesmente me interrompia com diversas perguntas sobre os detalhes do acontecido.

– Qual o carro dele?
– Ele foi te seguindo até você entrar no carro?
– Que chocolate ele te ofereceu?
– Você mordeu o chocolate de forma sexy não foi? Eles geralmente observam essas coisas...
– As mãos deles eram quentes?
– Ele beijou sua cicatriz?
– Vocês pelo menos deram um beijo de despedida?
– Como assim não????

Finalmente ela desistiu das perguntas, e deu seu argumento final:

– Olha Lis, vou falar isso porque você é minha melhor amiga e porque eu te amo demais. Eu acho que você deveria colocar o passado de lado algumas vezes, em algumas circunstâncias. Curtir o momento, aproveitar os gatinhos que aparecem pra você e simplesmente não voltar com essas lembranças que te deixam tristes. Poxa, você está viva mas simplesmente não está vivendo. Entende o que eu quero dizer? – A voz da Amy saía esganiçada, e eu sei que pra ela estava sendo difícil dizer todas essas coisas. Porque ela nunca havia me dito nada antes.

Amy me escutava, alisava minha cabeça e pronto, fim. Não dizia mais nada pois tinha medo de me ferir igual os que me feriam. Eu sempre reclamei das pessoas que vinham dizer o quanto sentem por mim. O quão tristes eles ficaram diante da notícia. E cada vez que isso acontecia, era um corte que eles faziam em meu coração. E mal os cortes se curavam, sempre vinham mais pessoas sabe lá Deus de onde, o cortando mais uma vez. Amy nunca havia feito corte algum nele. Ela me ajudava a curá-los. A esquecê-los. Pena que temporariamente.
Talvez agora por telefone seja mais fácil para ela dizer.
E hoje, eu também direi. Está na hora.
Eu perdi os meus pais em um acidente de carro. Eu estava no carro. Eu sobrevivi.
Eu não lembro muito do que aconteceu porque eu estava dormindo quando o acidente ocorreu. Mas eu lembro de ter acordado com o solavanco. Eu lembro dos gritos, dos meus e dos deles. Lembro dos vidros espatifados. Do calor que senti, do cheiro de queimado. Eu lembro dos gemidos até a hora que eles cessaram. Me lembro dos meus olhos se fechando para escuridão, esperando nunca mais ver a luz. Mas eu vi, embora não foi a mesma luz que os meus pais viram. Eu vi a luz da lâmpada do hospital.
E o mais estranho vem agora: Desde do que aconteceu, eu não tenho sonhado só com o acidente e sim antes dele. Da conversa dos meus pais. Do que eles viram antes de morrer. Sinceramente, eu não entendo como isso pode ser possível já que eu estava completamente absorta, dormindo no banco de trás. Eu não lembrava de nada, nem do que ocasionou o acidente e muito menos do que meus pais conversavam. Porém, cada sonho que eu tenho, era como se fosse mais uma lembrança.
Meu primeiro sonho, após o acidente, foi ter escutado minha mãe perguntando ao meu pai:

– Aquela luz longe é uma moto parada, John? O que é aquilo?

Meu pai responde algo, mas eu não consigui entender até meu segundo sonho em que a resposta do meu pai se torna clara:

– Não acho que seja um farol, Becca.

Várias vezes sonhei com esse mesmo trecho. Sem nenhuma mudança, apenas acrécimos. Semanas atrás eu ouvi minha mãe gritar no meu sonho. Antes mesmo do solavanco do carro que me acordou. Até hoje ninguém sabe o que ocasionou o acidente, mas o que todos acreditam que tenham acontecido foi que um animal tivesse no meio da pista e meu pai desviou, capotando várias e várias vezes.

Eu não sei no que acredito.
Pelas minhas lembranças, algo veio de encontro ao carro, o carro capotou uma vez no ar e passou alguns instantes até colidir no solo. Eu não sei se minhas memórias ou mesmo os meus sonhos são 100% confiáveis, até porque tive ferimentos na cabeça. Tudo pode ser fruto da minha mente contundida e imaginação fértil.

Agora não importa mais. Ter esses sonhos só torna as coisas ainda mais difíceis de superar. Minha irmã, com sorte, tinha ficado em casa no final de semana que viajamos. Ela alegou que precisava estudar para as provas, porém eu sabia que não. Um dia antes de viajarmos, eu ouvi uma conversa dela com o namorado planejando o fim de semana juntos. Até hoje, eu sinto que talvez eu tenha salvo a vida de Layla ao optar por não dedurá-la aos meus pais.

Amy também foi salva, mas não por mim (eu tinha a convidado). Foi salva pela gripe que ela pegou dias antes da viagem, fazendo com que ela tivesse que ficar em casa para se recuperar.
Ás vezes me pegava pensando em diferentes formas que poderia ter evitado a tragédia.
Eu poderia ter pego a gripe que assolou Amy, eu poderia ter um namorado para ficar de amassos ao invés de estudar, eu poderia ter insistido em não viajar.
Meus pais estão mortos e não pude salvá-los, e agora toda noite tenho que ouvir eles morrerem.

x-x-x-x-x-x


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Notas finais do capítulo

Sonhos assim não são lá muito comuns...
Querem descobrir o mistério desses sonhos?
Apenas continue lendo *-*

GOSTARAM??? Quero saber sua opniãão!



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