A Imperatriz escrita por Skye Holmes


Capítulo 3
Capítulo 3 - O pub


Notas iniciais do capítulo

Brace yourselves,
Lise is coming



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Cheguei em casa bastante cansada, mas só de pensar na noite em que finalmente conheceria James Price, uma disposição repentina surgia e borbulhava dentro de mim.
No espelho do meu quarto encarei meu reflexo. Antes, esse rosto gostava de aparecer sorridente em alguns comerciais de TV e aceitava de bom grado convites para fotos de lojas de roupas. Agora, ele tinha um aspecto lívido e macilento. Sem cor. Os cabelos nem tão mais longos, ondulados e brilhosos. Apenas uma cor de castanho sem vida caindo pelos ombros. Outrora, a magreza era algo que deixava o corpo ainda mais digno de atenção. Porém agora apenas deixava a aparência mais ossuda e franzina.
Não é por menos que James Price não tenha nem se quer olhado em minha direção.

Começo a fazer alguns deveres que professores mais rígidos e mal amados passaram no primeiro dia de aula. Não consigo por um minuto ficar sem encarar o relógio. 15h. 16h. 17h. 18h. 18:01.
Talvez eu devesse começar a me arrumar, se eu não quiser parecer uma caveira em visível estado de putrefação. Tomo um banho demorado, passando um pouco do creme hidrante de Layla numa tentativa de ressurreição capilar. Vou no meu armário buscar algo perdido no meu passado, como uma calça jeans justa e um jaquetinha preta de couro. Pego uma bota preta cano longo que minha mãe me deu no meu aniversário de 15 anos. Seguro-as forte por enquanto que rajadas de lembranças vão invadindo todo meu corpo provocando uma queimação incômoda na garganta.
Depois de escolher a roupa, volto ao banheiro. Encontro meu antigo estojo de maquiagem enfiado na última das gavetas. Não consigo lembrar exatamente a última vez que as usei, mas talvez consiga fazê-las tão bem quanto antes.
Encaro meu reflexo no espelho depois de ter concluído o árduo trabalho de ficar razoavelmente bonita de novo. Não há nada extravagante – como eu era – mas também nada cavernoso – como eu sou.

O pub parecia mais movimentado do que o normal. Infelizmente, reconheci muitos rostos da minha escola que encaravam e cochichavam entre si. Ignore-os. Paguei a entrada e entrei sem tentar encarar ninguém. No palco vi Zac e a terrível banda dele se aprontarem para começar. Avistei Amy descendo umas escadinhas na lateral do palco e fui em direção a ela, desviando dos corpos – alguns deles abriram o caminho para eu passar. Até agora a ideia de ter vindo aqui hoje está me parecendo péssima.

– Lis! Lis! – Amy deu pulos de animação – Tão bom te ver longe daquela sua caverna! Nunca vi aqui tão lotado. Meu Deus! Zac está tão nervoso.
Ela não parava de dá pulos de alegria e acenar para Zac, que sorriu forçadamente e já suava antes mesmo do show começar.

– Tem tanta gente da escola, M. Não sei se vou aguentar ficar aqui por muito tempo – Falei tristemente.

– Acho que vai – ela sorriu maliciosamente, colocando as mãos no meu rosto e virando-o na direção do bar.

Em um daqueles cinco bancos vermelhos de couro postados na frente do balcão de bebidas, se encontrava James Price.
Senti minhas pernas vacilarem levemente.

– É. Suponho que ficarei mais um pouco – Disse sem tirar os olhos dele.
Amy riu alto e me deu um empurrãozinho – Vai lá!

Minhas pernas se enrijeceram instantaneamente e o empurrão dela não surtiu efeito.

Arregalo os olhos para ela – Não! Enlouqueceu? Eu vou lá e falo o quê? – Elevo minha voz porque o vocalista da banda do Zac já começara a falar.

– Que tal um “oi”? – Amy grita tentando um volume mais alto do que o da banda que começara a tocar.

O estrondo dos instrumentos vibra o pub ressoando entre suas paredes. Eu tento responder, mas mal escuto minha própria voz. Ela franze a sobrancelha fazendo sinal de que não entendeu o que eu disse.

Uma menina baixa, morena e sorridente chega por trás de Amy e a cutuca. Ela se vira e solta um gritinho de felicidade. Não consegui ouvir o que elas falavam uma para outra depois de terem se abraçado.

Afasto-me, indo em direção ao bar tentando me desviar das pessoas e dos seus pisoteio. Antes de chegar nos bancos do bar, vejo que James parecia bastante atento a banda porém imóvel. Nem esboçava sorriso de quem estaria curtindo e nem repulsa de quem estaria odiando. Apenas impassível que – pelo que percebo – é a sua expressão normal.
Então ele vira a cabeça e me encara.
Sinto algo afundar no meu estômago. Evito arquear a sobrancelha em sinal de surpresa.
Aja normalmente. Aja normalmente.
Sento no banco que fica em seu lado. Ele já parara de me fitar, mas também não parecia mais prestar atenção na banda.

– James, não é? – Eu pergunto, com um tom um pouco mais alto do que pretendia.
Ele se vira para mim, com um minúsculo sorrisinho, quase imperceptível e responde:

– É... – Ele se aproxima um pouco, parecendo me analisar. Então uma expressão de reconhecimento lhe perpassou pelo rosto – Ah, claro. Sei quem você é.
Então volta à posição normal, pega seu copo e bebe um pouco do seu conteúdo.

– Sabe? - Pergunto, sem conseguir esconder minha surpresa e curiosidade.

– Ué, sei. Você estuda comigo não é?

– Ah, é sim.

Ele me olhava estranho, com uma expressão de quem estivesse tentando há horas resolver uma equação difícil. Logo, o silêncio entre nós foi quebrado.
– Lise?

Uma voz bastante familiar chama meu nome, chutando novamente meu estômago. Viro-me dando as costas para James relutantemente, e dou de cara com Sam e uma garota loira do seu lado, que parecia ainda menos animada do que eu.

– Ei. E aí – Forço uma entusiástica voz com um mecânico sorriso. Se um dia eu fosse voltar a falar com Sam gostaria que não fosse na presença de uma das suas garotas.

Como eu gostaria de ter ficado em casa.

– Nossa, está linda – ele sorriu fitando-me dos pés á cabeça – Sentimos sua falta todo esse tempo, você praticamente desapareceu – Sam disse tristemente, seu sorriso desaparecera.

Não sei o que estava me preparando para ouvir dele, mas isso não era o que esperava. Não sei o que responder. Nem sei se quero. Não agora. Não me sentia pronta. As palavras que estavam guardadas para esse tipo de momento pareciam chamas, queimando todo percurso até parar na boca e evaporar, deixando apenas a ardência e a dor lancinante.

– Eu... – antes de responder, a garota loira segurou minha mão que estava em cima do balcão.

– Lamentamos tanto o que aconteceu com você. Foi uma tragédia horri...

Alguma coisa explodiu dentro de mim sem dó. Saí correndo dali apenas ouvindo a voz irritada de Sam “Yasmin!”.

Quem diabos é Yasmin? Ela nem se quer me conhecia, como poderia lamentar a minha dor? Como poderia dizer que “sente” algo pelo que aconteceu. Essa desconhecida, como todos os outros que já apareceram com o mesmo papinho. "Sinto muito", palavras tão vazias quanto ás pessoas que as dizem.
A raiva borbulhava internamente, provocando aquela usual sensação de ardência na garganta, como se alguma coisa estivesse prestes a explodir lá dentro. Fui desviando dos corpos que estavam no meu caminho. Visualizei a porta de saída e a empurrei. Senti as lágrimas se formarem nos meus olhos. Não! Suguei todo o ar gélido da rua que pude e expirei. A queimação melhorou um pouco, mas ainda incomodava. Senti pingos caírem na minha cabeça.
Não podia ficar pior.
Ando pela calçada, por enquanto que os pingos engrossavam e a tempestade começava a dar sinal de vida. Senti minhas roupas começarem a grudar e o cabelo pingar, quando um carro aparece ao meu lado desacelerando. O vidro desce e meu corpo congela.
James Price.

– Ei! Quer uma carona? – Ele pergunta com as sobrancelhas arqueadas, transparecendo impressionado ao me ver na situação que estava. Completamente enxarcada.

Duas coisas passaram na minha cabeça naquele segundo. A primeira: Tinha um garoto maravilhosamente lindo me oferecendo carona, em um carro aquecido. E a segunda: Um estranho em um carro preto me pedindo para entrar nele.


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Notas finais do capítulo

Tentem prever o que está por vir.



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