PDV Edward

Eu estava desnorteado.

Desde que a Jane faleceu, eu vivia com a culpa. Nunca havia superado, apenas encontrei uma forma de conviver com essa culpa.

Mas quando a Charlotte apareceu em minha porta, dizendo que eu tinha uma filha que estava com a mesma doença da Jane, eu parei de funcionar. Aquilo mexeu comigo de um jeito muito profundo.

Era como se a Jane estivesse me dando uma segunda oportunidade para fazer com a Abby o que eu não fiz por ela.

Eu era só culpa, e tudo que eu queria era tirar aquilo de mim.

Eu amava a Bella, amava muito. E ninguém podia ousar dizer o contrário. Se eu havia conseguido encontrar um jeito de conviver com a culpa, foi por causa dela. Ela me deu motivos para continuar vivendo.

E quando ela saiu de casa, dizendo que iá dormi no Toca, eu não tive forças para ir atrás dela. Porque a minha força era ela .

Eu passei a noite em claro, ainda desnorteado e sem saber direito o que fazer.

O dia seguinte, eu segui mecanicamente. Eu precisava da Bella pra me dizer o que fazer, pra me ajudar. Suspirei e decidir sair mais cedo do trabalho para me encontrar com a Charlotte.

Eu precisava saber mais sobre a Jane, sobre a doença. Eu precisava encontrar algo para fazer a respeito disso.

Eu não cometeria o mesmo erro duas vezes, e pensando nisso, segui até o endereço do hostel que ela havia me dado.

—--*---*---

Cheguei na recepção do hostel e pedi para falar com Charlotte Mason, e 5 minutos depois ela apareceu sozinha.

— Edward? Não achei que você viesse me procurar tão cedo. — ela parou na minha frente com a testa franzida.

— Onde ela está? — pergunto sem jeito e passando as mãos no cabelos.

— Está no quarto assistindo TV.

— Hum... É, será que podemos conversar?

— Claro. — ela diz sorrindo e vai se sentar numa poltrona na varanda do hostel.

Eu fico encabulado enquanto me sento de frente para ela e fico sem saber o que falar.

— Hum ... Como está a sua namorada?

— Bella!

— O que? — ela diz confusa.

— Bella, o nome dela é Bella. — suspiro — E ... Ela es está um pouco abalada com o que aconteceu.

— Me desculpe ter chegado daquele jeito, Edward. — ela parecia sem graça — Não sei o que deu em mim. Acho que senti saudades de você.

— Olha Charlotte, eu só quero saber da minha filha. Tá? Eu amo a Bella, e a gente não tem mais volta. Ok?

— Claro. O que você quer saber? — ela diz envergonhada.

Passamos um bom tempo conversando, talvez umas 2 horas. Até que eu a vejo se aproximar de nós.

— Mamãe, a senhora sumiu. — Abby diz se esticando para sentar no colo da mãe, que prontamente a pega.

— Desculpe amor, a mamãe estava aqui conversando com o Edward. — a voz de Charlotte transborda amor pela filha.

— O papai ... — ela diz e põe a mão sobre a boca como se tivesse dito algo errado.

Eu sorrio.

— Desculpa Edwald. — ela diz baixinho se embolando ao falar meu nome.

— Hey, está tudo bem. — digo amaciando o tom da minha voz. — Eu sou mesmo o seu papai, não é?

Ela me encara um pouco e logo abre um sorriso enorme.

— Você vai ficar com eu? Com eu e a mamãe? — ela diz com sua voz infantil.

— Vou minha linda. Eu vou ficar com você. — digo contendo a emoção e segurando as minhas lágrimas. Omito a parte de ficar com a mãe dela.

Ela sai do colo da mãe e se joga em meus braços.

Eu a abraço apertado, cheirando seus cabelos e sinto algumas lágrimas caindo do meu rosto.

— Promete que não vai embora nunca papai? Você promete? — sinto meu coração perder uma batida ao ouvi ela me chamar de pai, e me lembro que a Jane me fizera prometer a mesma coisa. E eu não consegui cumprir.

— Eu prometo meu anjo. Eu prometo. — sussurro com ela ainda em meus braços e decido que farei tudo o que for preciso para cumprir minha promessa e não abandona-la nunca.

— Isso quer dizer que a gente vai morar junto? Eu, você e a mamãe? — ela se afasta me olhando com os olhinhos brilhando.

Eu engulo a seco, sem saber o que dizer. Afinal, eu moro com a Bella, certo?

— Abby, o papai já tem casa. Lembra que viemos aqui por causa dos seus tratamentos? — Charlotte diz com a voz macia.

Abby baixa a cabeça triste e meu coração se parte.

— Vamos sim meu anjo, nós vamos morar juntos. — eu digo sem pensar, só querendo tirar aquele sofrimento de seu rostinho.

Ela me olha com o rosto transpirando felicidade e volta a me abraçar.

— Que bom papai, que bom.

Eu sorrio e por cima do ombro, vejo a Charlotte me encarar confusa.

— Abby querida. Suba para tomar banho, a mamãe logo sobe. Certo?

Ela assente, se afastando de mim.

— Você vai ficar papai? Vai com a gente? — ela diz empolgada.

— Eu preciso fazer umas coisas hoje. Mas a partir de amanhã, o papai promete que vai ficar sempre sempre com você minha linda.

Ela sorrir pra mim, me dá um beijo na bochecha e sobe.

— O que você fez Edward? — olho pra Charlotte que me encara furiosa. — Como você promete para Abby algo que não pode cumprir?

— Eu vou cumprir o que eu disse. Ela precisa de estabilidade emocional. Não fará bem a ela conhecer o pai e ele nunca estar presente. Já basta o tempo em que você me fez ficar longe dela. — Charlotte me olha ainda furiosa. — Eu tenho um apartamento da época da faculdade. É pequeno, mas o suficiente para nós três.

— E a sua namorada? — ela pergunta arqueando a sobrancelha.

— A Abby é a minha prioridade. Eu não vou voltar pra você Charlotte, se é o que você está pensando. Mas também não vou sujeitar a Bella a uma situação dessas.

— Vai terminar com ela?

— Isso não é da sua conta. Amanhã cedo vou leva-la a um médico de minha confiança. Esteja pronta às 07:00. Eu passo aqui para levar vocês.

Digo e me levanto sem esperar uma resposta dela.

Meu coração dói no peito ao perceber o que eu fiz. Eu não queria de jeito nenhum magoar a Bella, mas era a minha filha. E era o certo a se fazer.

Olhei no relógio e havia se passado da hora de chegar do trabalho em casa. Suspirei e fui para casa esperando que a Bella estivesse lá. Eu daria um jeito de estar com ela, mesmo não estando mais presente em sua vida, eu cumpriria também a promessa que fiz a Bella.

A Abby estava morrendo. E eu faria de tudo para salva-la. Até mesmo abrir mão da minha felicidade.