Monomania escrita por nymeria


Capítulo 4
Wreck of the Day


Notas iniciais do capítulo

Oi, gnt! Bom, finalmente mais um capítulo. Eu não consigo definir um dia de postagem pra avisar pra vocês, porque escrevo quando posso e também quando vem alguma inspiração. Espero que vocês gostem! Tem um pequeno pedaço do capítulo dedicado à Prudence, mas achei necessário para o desenvolvimento da história. Bjos!
Música do capítulo:
Wreck of the Day – Anna Nalick
PS. Alguém ainda tá assistindo a tosquice que tá a novela? Eu já desisti. Aparentemente eu acertei e o casal mais chato da TV deve ganhar o reality. #plmdds



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(Bitch mode)

Quinze de julho. A data reverberava pela mente de Megan Lily. Quinze de julho. Inspira. Daqui a dois dias estaria de volta no Brasil. No Rio de Janeiro. Perto demais de Jonas Marra, de Davi Reis, de Manuela Yanes. De todos aqueles que queria esquecer. Expira. Os arcos de fumaça subiram lentamente diante de seus olhos, indo em direção às nuvens de San Francisco, o mormaço do verão americano quente o suficiente para fazer com que pequenas gotas de suor escorressem do seu pescoço para suas costas.

Inspirou novamente. A fumaça do cigarro encheu seus pulmões e preencheu todos os vazios do seu corpo, o prazer nublando a realidade à sua volta. Quatro dias sem a companhia do seu amigo Marlboro. Tinha sido maluca de tentar escutar os monólogos de Prudence sobre as consequências do tabaco para a saúde. Definitivamente aqueles momentos de alívio não eram algo do qual Megan estava disposta a desistir.

Inspira. Expira. Inspira. Expira. O céu de San Francisco definitivamente era o mais límpido que já tinha visto, daquele tom de azul que berra aos olhos.

– Isso ainda vai te matar, sabia? – a voz de Prudence agora era uma constante nos seus dias. Aconselhando. Cantando. Repetindo mantras junto com Brian. Ela adorava a amiga, mas tudo aquilo já estava ficando meio monótono.

– Eu sei que você já usou coisa muito pior, então para de me julgar.

Tinha certeza de que estava sendo cretina. Não deveria usar os segredos que ela lhe confidenciava para machucá-la. Mas Megan não podia dizer que se sentia arrependida.

– Olha, é melhor você desligar esse bitch mode – Prudence se ancorou na parede ao lado de Megan. A tentativa de repreender a amiga era arruinada pela preocupação nos olhos da ruiva. – E não pense que eu não reparei no tanto que você andou bebendo esses dias. Não adianta nada parar com o cigarro e arruinar seu fígado. Duas garrafas de vodca numa única noite, Megan!

Megan riu.

Stalker.

– Você sabe que eu tô certa – Prudence decidiu deixar aquele assunto para mais tarde. – Okay, eu entendo que você esteja nervosa. Mas ficar se prejudicando não vai trazer uma solução. E o Jack tá totalmente certo.

O avô geralmente estava sempre correto. Era uma das coisas que Megan mais amava nele.

– Sobre o que agora?

– Você vai achar alguma coisa que gosta de fazer. E eu posso mesmo te ajudar. A gente assiste algumas aulas na minha faculdade nessa semana, em diferentes cursos – Megan revirou os olhos. Odiava faculdades. Odiava livros acadêmicos, cadernos e fichários, ter de obedecer às ordens de um professor frustrado.

Prudence lhe abraçou pelos ombros e acarinhou seus cabelos loiros.

– Vai ficar tudo bem, I promise. Agora larga esse cigarro, por favor.

Ignorar a ruiva parecia mais fácil a cada dia.

– Eu tô entediada, pra falar a verdade – Megan deu mais um trago no Marlboro, enquanto balançava a raquete de tênis de um lado para o outro com a mão esquerda. Prudence apenas afastou a fumaça de forma dramática. – Nada de extraordinário aconteceu nesses últimos dias. Eu voltei a jogar tênis. O cabelo da Marlene tá mais estranho a cada dia, claro, mas isso não é tão interessante.

– Você também reparou? Thank god – Prudence riu. – Eu achei que só eu tinha implicado com aquele redemoinho.

Ginger, você pode se fazer de santa pelo tempo que você quiser, mas você é tão cínica e cretina quanto eu. Por isso que a gente se ama. Bem lá no fundo.

****

(Boa sorte)

– E eu adorei os presentes, Megan Lily – Pamela ainda não havia parado de abraçar a filha, que tinha chegado no Rio de Janeiro há algumas horas. – A Guerlain definitivamente faz os melhores perfumes do mundo. Você conhece muito bem my taste.

O trajeto de avião havia sido um dos mais curtos na longa experiência de viajante de Megan. Ela tinha tomado alguns calmantes para não passar toda a madrugada acordada esquadrinhando suas ansiedades. Um comprimido só, tinha dito Prudence. Megan tinha tomado dois. Ou três. Não importa.

– Jonas vai voltar very soon, e eu tenho certeza de que vocês poderão colocar a conversa em dia.

Ansiedade. Tristeza. Ressentimento. Megan podia ver cada uma dessas emoções passar pelos olhos da mãe, cada dia posta mais para trás na lista de prioridades do marido. Se nem mesmo a história de amor, a parceria tão perfeita de seus pais iria conseguir durar uma vida, ela definitivamente tinha de deixar de acreditar em romantismos. Prudence estava certa. Amores descontrolados só geravam desastres e maiores lucros para a indústria de antidepressivos.

O atual-quase-ex-presidente da Marra International tinha dado um beijo rápido na filha quando ela chegou à mansão Marra, ainda à tempo para o café-da-manhã. Amoroso como sempre. Distante como sempre.

Eu tenho reunião logo cedo com o Davi, acho que você ainda deve se lembrar dele. Ela lembrava. Definitivamente. Ele vai ser um sucesso, tenho certeza. Muito talento. Determinado. Só tenho que colocar algum juízo naquela alma idealista.

Boa sorte, Jonas Marra. Você vai precisar.

Mais tarde te vejo, Megan Lily.

Nenhuma pergunta sobre sua viagem. Sobre sua nova melhor amiga. Ou a saúde de seu avô. O mesmo egoísta de sempre. Aparentemente tudo continuava igual no Rio de Janeiro, mesmo depois de um mês. Ela ia sentir saudades de San Francisco.

****

Driving away from the wreck of the day

And I'm thinking about calling on Jesus

'Cause love doesn't hurt so I know I'm not falling in love

I'm just falling to pieces

Inspira. Expira. Inspira. Expira. Megan estava sentada nos degraus do lado de fora da entrada de sua casa, observando o jardim, o cigarro novamente preso na ponta de seus dedos. O tempo ligeiramente frio daquela noite não a incomodava.

Volte a fazer o que te dá prazer, o que te faz feliz. Talvez no meio de tudo isso você descubra o que quer fazer no futuro.

O avô tinha dito isso como se fosse algo tão simples. O que a fazia feliz, no final das contas?

O som de um piano. Banho demorado. Barulho de chuva. Pintar a unha do pé de vermelho. Boates lotadas. Pamela Parker. Tapete felpudo. Iogurte grego. Montanha-russa. Tirinhas da Mafalda. Dormir a viagem toda. Prudence McKinnon. Observar San Francisco da janela de um táxi. Séries de TV. Tatuagens. Caras gostosos com tatuagens. Posar para fotos. Idiomas estranhos. Coturnos. Estar só e não se sentir sozinha. Suco de laranja com morango. “Aquele-que-não-devia-ser-nomeado”.

Irritou-se por saber que ele ainda podia invadir seus pensamentos mesmo sem ser convidado. Mesmo depois de um mês. Sentiu seu estômago apertado e curvou-se em si mesma, dando mais um trago no Marlboro.

– Eu não posso comprar um estômago novo – a reflexão inconscientemente foi verbalizada.

– Não se dá pra comprar tudo nessa vida, Megan Marra.

Ela deu um ligeiro salto no lugar, surpresa por não estar sozinha como havia pensado anteriormente.

Ele não havia dado nem mesmo um ligeiro sorriso.

Davi Reis ainda era seu Golias, mas sentia que havia alguma coisa diferente nele. Ainda carregava a mesma expressão, uma mistura de ligeiro desdém e condescendência, com que sempre lidava com ela desde que havia descoberto que Megan era a herdeira dos Marra. Como se a quisesse bem longe. Mas ele havia perdido um pouco do brilho de inocência que tinha no olhar. Aquele brilho idealista. Talvez Jonas estivesse sendo mais bem-sucedido do que imaginava.

– Você fuma – Davi observou de forma simples.

Ela esperou pela frase que quase sempre era dita quando alguém descobria seu hábito mais antigo. Esperou pela observação cliché e óbvia, geralmente bem parecida com o que Prudence dizia. Isso ainda vai acabar te matando. Mas ela não veio.

Talvez Davi Reis verdadeiramente não se importasse nem um pouco com ela.

Megan permaneceu calada e levou o cigarro até os lábios novamente, como que o desafiando.

– Que que você tá fazendo aqui? - Caralho. Ele era realmente irritante.

O estômago dela ainda parecia estar se contorcendo. Maldito órgão traidor.

– Aproveitando esse maravilhoso cigarro. Já você, me julgando.

Davi se controlou para segurar um sorriso.

– Eu quis dizer aqui no Brasil.

Lógico.

– Eu voltei pra casa, obviamente – Megan jogou a bituca na grama e se levantou, se aproximando perigosamente dele. Ela viu quando Davi deu um passo para trás. Encantador. Ele realmente tinha medo dela. Sua fama de devoradora de homens fazia algum sentido, no final das contas. – E como vai sua sweet Manuela?

– Bem – ele disse, ainda afastado. – A gente tá muito feliz, então não começa com seus joguinhos, Megan. Eu amo a Manu. Demais.

Onde estava o maço de cigarros quando ela mais precisava? Megan procurou nos seus bolsos. Ah, ali. Ali estava.

– Bom, é você que tá aqui na minha casa me perturbando – ela se sentou nos degraus de mármore novamente. – O que você quer aqui, afinal?

Davi parecia debater se respondia a questão dela de forma apropriada. Ele por fim chegou num consenso interno.

– Eu vim aqui conversar com seu pai sobre um projeto meu. Bem antigo – Megan não conseguia entender esse garoto. Ele estava se sentando ao lado dela, como se quisesse conversar. Mixed signals all over the place. – Eu tento falar com ele sobre o Júnior desde que entrei na Marra, mas o Jonas sempre acha que isso pode ser postergado.

– Bem-vindo a minha realidade, Golias. A fantástica vida com Jonas Marra, estrelando Megan Lily.

O silêncio entre eles se estendeu durante algum tempo. Era estranhamente confortável ficar sentada ao lado dele, compartilhando o som da irrigação do jardim e dos poucos carros que passavam pela rua.

– É Davi – Quê? Do que ele estava falando? – Meu nome é Davi, não Golias. Você tem que aprender isso.

Ele sempre seria o misterioso Golias. Sempre.

Megan estralou os dedos da mão esquerda, nervosa. Queria que essa animosidade entre eles ficasse pra trás. Ela se sentia bem ao lado dele. Muito bem. De uma forma totalmente não-romântica, Megan tentou se enganar.

– E eu sou a Megan – ela estendeu a mão para ele, tentando baixar suas defesas. – A gente vai conviver durante um bom tempo, Golias. Quer dizer, Davi. E esse clima é totalmente estranho.

Ele apertou a mão dela de forma incerta.

– Prometo que não tento te beijar de novo – Aham. – A não ser que você me peça.

Megan não conseguia se controlar. Sempre tinha sido atirada mesmo. Mas ela devia ter feito alguma coisa certa, porque ele sorriu suavemente.

– Pode ter certeza que isso não vai acontecer – Davi assegurou. O destino realmente guarda muitas surpresas.

Ela soltou a mão dele, um pouco relutante.

– Você não ia entrar pra conversar com o meu pai?

– Eu tô com medo do que ele possa dizer – ele admitiu, passando a mão direita pelo cabelo, meio nervoso. Era uma mania surpreendentemente adorável. De uma forma totalmente não-romântica, Megan voltou a se corrigir. – Minha tia até acendeu umas velas pro santo de que ela é devota logo antes de eu sair de casa.

Megan se sentiu ligeiramente desconfortável.

– Não sei se vai ser de grande ajuda – ele lhe olhou de forma estranha. Ela riu. – Eu não acredito em santos. Ou em Deus, pra falar a verdade.

Davi pareceu refletir sobre o que ela disse antes de se levantar, olhando para a porta atrás deles.

– Eu preciso mesmo falar com o Jonas – Foi ele que lhe estendeu a mão dessa vez. – Vamos tentar manter as coisas numa boa desse jeito, Megan Marra. Vai ser melhor pra nós dois.

– É só Megan, então – ela lhe corrigiu.

Ele estava indo em direção à porta.

Megan já tinha pegado um novo cigarro quando ouviu a voz dele atrás de si.

– Você acredita nisso tudo, na verdade – Davi Reis achava estar sempre certo. – Em Deus e santos, eu quero dizer. Você só pensa que não acredita.

– Eu acho que sei mais sobre minhas crenças do que você, Davi – ela disse meio defensivamente, rindo de forma debochada. – Você não acha?

Ele ignorou a pergunta dela.

– É fácil ficar sentada aí e debochar do sobrenatural. Mas ninguém ri de Deus quando tudo parece estar perdido – Davi pareceu ficar satisfeito com a falta de resposta por parte dela, e logo a porta de carvalho se fechou atrás dele, deixando Megan com seus pensamentos, sonhando acordada. Ele realmente era irritante. Irritantemente perfeito.

****

(Cuidado, Megan)

– Megan, tome cuidado – Prudence, sempre a cautelosa. O telefone, encostado no ouvido de Megan há quase meia hora, já parecia estar insuportavelmente quente. – Eu já te disse que essas paixões obsessivas são perigosas. Você vai acabar se machucando.

Ela não o amava. Não mesmo. Era só uma paixonite boba. Que mal tinha em tentar mantê-lo por perto? Tentar ser ao menos uma boa amiga? Nenhum, obviamente. Talvez assim Davi percebesse que ela era perfeita. Perfeita, sexy e inteligente. Prudence a irritava, por vezes. Quase sempre, na verdade.

O destino gosta de nos pregar peças.

Num futuro não tão distante, uma chorosa Megan diria à amiga que ela havia estado certa todo aquele tempo. Prudence realmente entendia o que era o amor.

****

(O amor segundo Prudence McKinnon)

Prudence era boa em quase tudo que fazia, mas o que ela fazia melhor era amar. A ruiva tinha conhecido diferentes tipos de amor durante toda a sua vida.

Os pais dela tinham se amado de forma tão fervorosa que Prudence suspeitava, com frequência, que não havia restado nenhum sentimento para ser compartilhado com suas filhas. Eles eram pais magníficos, obviamente. Aplaudiam o mais alto possível todas as vezes que a filha ganhava alguma medalha e sempre se certificaram de que suas herdeiras tinham tudo o que precisavam, mas Prudence tinha certeza de que os pais poderiam ter sido igualmente felizes se ela e Catherine não existissem.

Prudence sempre supôs que aquele havia sido um belo romance, afinal.

Como resultado desse desequilíbrio, Prudence depositava todo seu amor sobre a irmã mais velha. Ela precisava mais do que qualquer outra pessoa. A ruiva tinha sido bem-sucedida em fazer com que a irmã a amasse de volta, até o dia em que Catherine conheceu Adam Stevenson, em Los Angeles, e decidiu ficar por lá. Mais uma vez Prudence viu sua família sendo desmanchada devido a histórias de amor vividas de forma intensa e desenfreada.

Sim, Prudence McKinnon tinha anos de experiência em relação ao amor. Era o ódio que era um mistério para a garota que era boa em tudo.

Amar era fácil. Se você procurasse o suficiente, poderia encontrar algo digno de amor em quase toda pessoa. O amor era algo a ser controlado, enquanto o ódio corria de forma descontrolada e irracional pelas veias.

E porque ela tinha amado Catherine e mesmo seus pais, Prudence sabia exatamente como lidar com Gabriel. Era natural, já que o namorado precisava dela e ela precisava exercer sua capacidade de amar em favor de alguém.

Amar era fácil. E Gabriel era a escolha perfeita e segura. Ela não corria risco de amá-lo em demasia.

Amor significa controle.

Amar alguém demais era algo no qual Prudence não tinha o mínimo interesse. Implicava quase sempre em tragédia. Pergunte para Romeu e Julieta. Ou para os magníficos pais de Prudence, que nunca conseguiram amar suas filhas da maneira que deveriam. No fim, a única coisa que restava eram crianças órfãs e histórias de amor ruins.

Na sua faculdade, todos diziam que Prudence e Gabriel foram feitos um para o outro. A ruiva defensora das causas ambientais e o garoto-problema, líder do movimento estudantil que gritava todo o tempo através de um megafone, burguês criado com todo o conforto que apanhava da polícia pelas causas dos operários. Era uma história bonita: a garota que só queria amar alguém e o garoto que precisava desesperadamente dela em sua vida.

Prudence supunha que aquele era um belo romance, afinal.


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Notas finais do capítulo

Mesmo esquema de sempre: deixem reviews e me digam o que vocês gostaram (ou não). É importante pra eu saber como seguir com a história. Tô meio em crise, porque acho que vou mudar o que tinha pensado pra vários personagens. Enfim, só um desabafo. Bjos pra vocês!!
PS. Reviews são tão boas quanto dormir ouvindo sua música favorita.



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