DRAMIONE || Compreendendo o inimigo escrita por Corujinha


Capítulo 5
Atitude inesperada e desejo de verdade


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Bom, estou de volta com capítulo novo que eu acabei de escrever.
Novamente agradeço a quem está acompanhando e comentando, e a AnneLovegood e a maniaca por livros que favoritaram a Fic.



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POV HERMIONE

Que droga! Eu tinha vontade de bater em alguma coisa para descontar essa raiva que eu tinha dentro de mim. Ele não era o mocinho, não merecia que eu sentisse pena, que eu sentisse remorso. Que droga, eu não quero que ele consiga me confundir.

Eu tornei meu passo ainda mais rápido e fui para o dormitório. Disse a senha a Mulher Gorda que antes de abrir a portal para me dar passagem disse:

– Calma, menina, parece que brigou com um trasgo!

– Não, mas com alguém com o cérebro de um. - eu respondi grossa e entrei no Salão Comunal.

– Oi, Mione... - cumprimentou Rony que estava conversando com Harry, os dois sentados no sofá. Eu passei direto por eles sem dizer qualquer coisa. Eu sei que foi estupidez minha ser tão rude, mas eu estava com raiva e o que menos queria era descontar neles.

Subi para o meu quarto o mais rápido que minhas pernas permitiam. Chegando lá vi Gina e Luna conversando sentadas na cama da primeira. Eu contornei minha cama e me joguei nela enterrando meu rosto no travesseiro e dando alguns socos na cama.

Eu quase podia sentir as duas se entreolhando e decidindo silenciosamente se deveriam me perguntar o que aconteceu ou não. Depois do que não pareceu nem um minuto, ouvi Gina dizer:

– Mione? - e sentar-se ao meu lado na cama.

Eu desenterrei meu rosto do travesseiro e a olhei com cara de poucos amigos.

– O que foi? - perguntei e ela olhou para Luna que estava atrás dela com uma expressão meio apreensiva.

– Aconteceu alguma coisa, amiga? - ela perguntou e voltei a virar meu rosto para o travesseiro.

Eu não sabia de devia compartilhar isso com Gina, embora ela fosse minha melhor amiga. Fiquei meio receosa que ela ficasse chateada comigo afinal ela irmã de Rony.

Eu me levantei devagar e me sentei recostando minhas costas na cabeceira da minha cama e Gina e Luna fizeram o mesmo, uma de cada lado meu. Ficamos em silêncio por um momento. Elas provavelmente esperavam que eu começasse a falar, mas o que? Ou melhor, como falar? Eu respirei fundo e disse:

– Vocês acham que alguém pode mudar? Alguém... Que você acha que nunca vai ser diferente, aí a pessoa muda. Vocês acham que isso pode acontecer de verdade? - perguntei a elas.

– Hum... - começou Gina - Talvez... Depende da pessoa, se ela está realmente a fim de mudar sabe? Sinceramente.

Eu assenti com a cabeça.

– Eu acho que tudo depende do porquê. - Luna disse e eu olhei confusa. - Se uma pessoa muda muito tem um por quê para isso. Se for algo forte, se for por alguém que ela ama muito provavelmente será sincero. Você muda por algo ou alguém. Mas o importante é que há sempre um provocador de tal mudança. A sinceridade da mudança depende da sinceridade do provocador. - minha boca se abriu com minha surpresa. Luna dizia isso tudo encarando o teto com uma expressão avoada, mas ela estava completamente certa e tudo o que disse, por mais que fosse confuso, fez muito sentido para mim.

Gina me olhou com uma expressão de "Não faço a menor ideia do que ela disse" e eu apenas sorri disfarçadamente.

Voltamos, nós três, ao silêncio até escutarmos a voz de Rony aos berros do Salão Comunal:

– GINA! VEM AQUI!

Gina revirou os olhos e nos disse:

– Um minuto, meninas, vou ver o que meu irmão chato quer.

Nós assentimos e a vimos sair irritada para o Salão Comunal.

Quando Gina cruzou a porta Luna me disse:

– Mione?

– Sim, Luna.

– Você se referia ao Malfoy, não é? - ela perguntou ainda com um olhar meio avoado pegando meu travesseiro e colocando-o em seu colo para poder ficar mexendo nele.

– O - o que? De onde tirou isso, Luna? - eu gaguejei nervosa. Como Luna sabia disso?

– Eu vi vocês conversando ontem perto do lago. - ela disse com um sorrisinho e eu corei furiosamente.

– Mas eu não vi ninguém nos jardins... - eu disse mais para mim mesma, mas Luna ouviu.

– Eu estava andando por aí, dentro do castelo mesmo. Aí eu parei um pouco e fiquei olhando pela janela. Tinha uma ótima vista do céu e do lago. Foi quando vi vocês dois. Não dá pra confundi-los. E eu bem que achei estranho, sabe? Você e Malfoy não costumavam se dar muito bem e depois do que aconteceu no trem...

– Eu e Malfoy não nos damos bem, Luna, no presente do indicativo. - eu disse.

– Então porque perguntou se alguém pode mudar de verdade?

– É que... Ele me disse umas coisas... Falou que aprendeu a lição com o que viveu na guerra e a situação atual de seus pais. O... Lúcio Malfoy - aquele nome ainda era difícil de pronunciar sem externar pura raiva - está em Azkaban e parece que a mãe dele... Bom, ela não está nada bem, pode-se imaginar. - eu disse a Luna.

– Uhum. - minha amiga disse somente.

– Mas não sei consigo acreditar que alguém mude tanto, Luna. Acho que eu perdi essa capacidade. - eu disse por fim com um suspiro.

– Mione - Luna disse e olhou em meus olhos - eu sei o quando você preza a justiça, e entendo que todos tenhamos motivos para não acreditar em Draco, mas... Por que, então, não tenta somente observar. Com o tempo você vai se está certa ou errada a respeito dele. - ela aconselhou.

Sabe, Luna é realmente uma pessoa incrível. Ela fala com uma leveza que acalma. Eu fico muito feliz por termos ficado tão amigas após tudo o que aconteceu em nossas vidas com essa guerra. E ela não deixava de ter razão. Eu não precisava acreditar de pronto, com o tempo eu veria se estava errada, e se estivesse... Bom, eu já me desculpei com ele uma vez, não é?

– Obrigada Luna - eu disse com um sorriso discreto e lhe dei um abraço que ela correspondeu carinhosamente e depois levantou -se, deixando meu travesseiro no lugar onde o havia pegado e falou:

– Acho que vou andar um pouco por aí... Até depois, Mione. Boa sorte. Ah e se ficar na dúvida, pergunte-se por que será que o Malfoy disse isso tudo justo para você. - ela disse e me deu uma piscadela. Saiu do dormitório quando ouviu o meu breve "Até logo."

Eu sentia como se não conseguisse organizar meus pensamentos. Dúvidas obviamente eu tinha, mas bem que o que ela era coerente. Por que será que ele me contou isso? Não faz sentido, nunca tivemos um bom entendimento... Bom eu só sabia que seguiria o conselho de Luna. Não há outra coisa que eu possa fazer, não é? E é o justo, como ela mesma mencionou.

Nesse momento Gina entrou atrapalhada pela porta, carregava um envelope na mão.

– Mamãe mandou cartas para mim e para Rony. É o nosso segundo dia, o que ela pode querer saber? - ela disse me olhando indignada. - E por que a Luna foi tão cedo? Nem conversamos direito.

– Ela queria andar por aí. - eu respondi.

– Bem Luna mesmo. - ela comentou e nós demos risada.

– Como ela entrou? A Mulher Gorda não deixa ninguém entrar sem senha. - eu perguntei.

– Ela veio comigo. Eu queria conversar com ela. Sabe... Sobre o Nev. - ela disse com um sorrisinho travesso. Isso era bem Gina.

– O que houve? - perguntei.

– Ah Mione, a gente sabe que ele gosta dela. E ela também gosta dele, não entendo por quê não estão juntos...

– E aposto que você está querendo bancar a cupido Ginevra Weasley. - eu disse semicerrando os olhos.

– Ah, quem sabe. - ela disse com aquela expressão, se fingindo de inocente.

Eu revirei os olhos e perguntei mudando de assunto:

– O que a Sra. Weasley disse?

– Me deixa ver... - ela disse e sentou-se em minha cama, abriu o envelope e pôs-se a ler.

Depois de alguns minutos de leitura silenciosa, ela disse:

– Não disse nada de novo. Só deu notícias, disse que ela e papai estão bem, o Jorge... Bem o Jorge continua na mesma, abatido e desanimado e isso a preocupa. Perguntou de mim, de você e do... Do Harry... E disse que nos deseja um bom ano letivo. - ela disse e eu não pude deixar de notar a pausa que ela fez para citar Harry, como se falar o nome dele fosse algo desconfortável.

Que havia acontecido algo com esses dois, isso era claro. Mas se Gina e Harry não se sentem à vontade para falar eu respeitarei isso.

– Eu vou mandar uma resposta a ela, mas só quando voltar do jantar. E falando nisso, deve estar quase na hora. Vamos descer? - ela me disse.

– Okay. Só um minuto, Gina. - eu disse e fui até minha mesinha de cabeceira. Abri a gaveta que tinha ali e peguei um pedaço de pergaminho que eu guardava ali: o horário de minhas aulas. Eu tinha que ver quando tinha Adivinhações de novo porque com o que aconteceu na biblioteca eu acabei não lendo os capítulos que a professora Sibila mandou.

Gina levantou-se e direcionou-se a porta e me esperou. Enquanto isso eu olhava o meu horário e única coisa que pude dizer foi:

– Ah meu Merlin, e agora?

– O que foi? - perguntou Gina.

– A professora Sibila mandou que lêssemos os primeiros dez capítulos do livro para a próxima aula. Eu ainda nem comecei e adivinha. A próxima aula é amanhã!

– Viu? Por isso eu não escolhi adivinhação. A professora Trelawney não é uma pessoa equilibrada. - ela comentou.

– Que droga. - disse e peguei minha pequena mochila e coloquei nas costas.

– Aonde vai com essa mochila? - perguntou a ruiva.

– Vou comer algo rápido e voltar para a biblioteca, tenho que ler esses dez capítulos... Vamos, vamos! - falei apressando-a.

POV DRACO

É de surpreender pensar que eu estou nesse momento deitado lendo. Ler não é meu passatempo favorito, admito, e esse livro não é meu.

Bom quando aquela Granger saiu que nem uma louca da biblioteca, da mochila dela caiu esse livro. Era o de Adivinhação, eu não tinha qualquer necessidade de ficar com ele, mas eu também não quis fazer o favor de ir devolver.

Tá eu abri o livro por algum motivo, e olha só, agora eu estava dando boas risadas do que ela escreveu nele, provavelmente durante a aula de hoje. Na parte de cartas e seus significados ela fez anotações sobre elas e embaixo, com uma letra que mal dava para notar ela escreveu, digamos, sobre sua opinião particular sobre cada uma delas. Lá vão elas seguida pela opinião da Sabe-Tudo de Hogwarts:

Dinheiro - Ao contrário do que imaginam tirar esta carta não significa que irão cair galeões do céu.

Uma pessoa - Pode ser qualquer um, do que adianta?

Amor - Fala sério...

Perdão - Não sei se sou capaz disso...

Admito que essa última me chamou atenção e me fez pensar sobre o por quê disso... Bom, mas foi audacioso da parte da sempre certinha Granger, falar mal da matéria da maluca da Trelawney bem em seu livro. Ganhou um ponto, Sabe-Tudo.

– Draco, vamos pro Salão Principal. Está na hora do jantar. - Blás disse entrando no dormitório repentinamente. - Tava estudando, cara? Não tinha mais nada pra fazer? - ele perguntou rindo.

– Não enche, cara. - eu disse e peguei minha mochila colocando o livro de Adivinhações lá também.

– Por que vai levar isso? - Blás perguntou.

– Porque eu não terminei a droga daquele questionário de poções. Tenho que fazer isso depois do jantar. - eu respondi.

– Tá. - ele respondeu e nós saímos do dormitório e depois do Salão Comunal.

Quando finalmente já tínhamos passado daquelas irritantes escadas que mudam a todo momento, Blás falou pela primeira vez desde que tínhamos saído do dormitório.

– O Nott falou que você brigou com a Pansy.

– O que? - respondi - Não briguei com ela. Ela estava querendo armar confusão e dava pra ver que ia dar errado. Eu só avisei. Eu devia ter deixado ela se ferrar já que ela ia ficar com essa palhaçada. - me defendi irritado.

– Ei, calma Draco. Você anda muito estressado ultimamente. Nós sabemos como a Pansy é cheia de frescura, eu não ia reclamar com você. Mas sou teu amigo, cara, então te aconselho que pegue leve okay? Hogwarts é o máximo de tranquilidade que nós vamos conseguir. Aproveita isso. - ele disse com expressão aparentemente feliz.

– Talvez tenha razão... - eu falei.

– Claro, o Zabine aqui sempre tem razão. - Blás falou convencido e nós rimos.

– Sei...

(----)

Chegamos ao Salão Principal que já estava bem cheio e nos sentamos com Nott e Pansy como sempre. Esta mal me olhou, ainda estava chateada com o que eu havia dito na aula de Adivinhação, provavelmente. Já Nott nos saudou todo animado. Quando aquele cara não estava feliz?

Eu peguei um copo de suco de abóbora e levei a boca, mas desisti no meio do caminho e disse:

– Pans - ela apenas me olhou sem dizer nada com uma expressão nada amigável - Foi mal... O que eu disse na aula de Adivinhação...

Ela assentiu com a cabeça e falou somente um "Tudo bem, Malfoy" e voltou ao seu jantar. Claramente ela não havia me perdoado. Ela não me chamava somente pelo sobrenome, a não ser que estivesse chateada. Deixa pra lá, depois ela esquece...

Eu não percebi, mas estava com fome. Quando sai da aula da professora Sibila, fiquei andando por aí alimentando minha raiva dessa mulher ter acertado justo dessa vez. Depois fui para a biblioteca e de lá para o dormitório, não havia comigo nada.

Saboreei o ótimo jantar e acho que bebi uns três copos de suco. Assim que terminei, já fui logo me levantando.

– Depois vejo vocês. - disse à Nott, Blás e Pansy, mal dando tempo de que me perguntassem aonde ia e sai pela porta do salão.

Andei por um corredor que me levaria à biblioteca de novo. Pelo caminho olhei lá para fora por uma das janelas e vi que já dava para ver as estrelas, sinal de que estava ficando de noite e Madame Pince ia me botar pra fora da biblioteca.

Também dava para ver o lago dali. Havia alguém sentado à margem. Ela era facilmente reconhecível pelo cabelo cacheado e o livro ao lado.

Um minuto passou enquanto eu pensava no tamanho da burrice que era ir até lá. Mas eu também não sou conhecido pelas minhas melhores escolhas.

Mudei minha rota e fiz o caminho até o portão. Foi sorte (ou talvez azar) não encontrar com o Filch. Ele ia começar a sessão de reclamações dizendo que não ia me deixar sair porque era tarde, ou dizer que me deixaria sair para que os monstros na Floresta Proibida acabassem comigo. Vai saber... O cara é maluco.

Ao sair, andei consideravelmente pelos jardins (puxando mais para mim a capa que vestia porque estava bem frio) até ficar próximo dela no lago. Ela não me notou ali. Eu devia estar fazendo o mesmo que ela fez comigo noite passada.

Notei que ela virou o livro que eu vi ao seu lado da janela de um lado para o outro e parecia atordoada. Virou a mochila que trazia consigo para baixo e nada caiu dela. Agora sua rapidez em vasculhar a mochila mais parecia a de alguém desesperado. Não sei como, mas eu sabia o que ela procurava: o que ela havia perdido hoje à tarde na biblioteca.

Silenciosamente tirei seu livro de minha mochila. Ela agora apoiava a cabeça nas mãos. Tipicamente Granger fazer esse tipo de tempestade em copo d'água por causa de um livro.

Caminhei a distância que faltava e me abaixei ao seu lado.

– Tá procurando isso? - disse estendendo-lhe o livro.

Ela claramente se assustou. Depois olhou de mim para o livro e certo alívio pareceu passar por seu rosto. Tal expressão logo mudou para desconfiança, como sempre.

POV HERMIONE

– O que está fazendo com meu livro? - eu disse pegando-o de sua mão. Eu soei arrogante até para mim mesma, mas como se já não bastasse o susto que ele me deu chagando de repente, ele ainda está com meu livro que eu procurava desesperadamente há poucos segundos.

Ele revirou os olhos e respondeu ironicamente (como sempre):

– Ah. De nada, Granger. Eu sei que salvei o seu dia. - ele disse com um sorrisinho.

Agora foi minha vez de revir os olhos.

– Caiu quando saiu da biblioteca. - ele explicou.

– Obrigada... - disse não muito alto, mas ele pareceu bem satisfeito em me ver na situação de ter que agradecer a um Malfoy.

Eu fiquei em silêncio e abri o livro na primeira página. Vi que ele se sentou confortavelmente a beira do lago. De ontem para cá nós parecíamos apenas ter trocado de lado.

– Bem interessantes suas anotações sobre a aula de Adivinhação. - ele disse e com aquele sorriso de "Estou prestes a aprontar alguma".

– Eu sempre anoto tudo o que os professores falam. É importante e... - comecei, mas ele me interrompeu.

– Não isso. Suas notas particulares sobre o significado das cartas. - ele disse e meu queixo caiu com a surpresa.

Tudo o que eu pensava era "Não, não, não! Ele é a última pessoa que podia ter lido aquilo!".

– Você leu?

Okay, foi uma pergunta altamente estúpida, mas foi tudo o que consegui dizer.

– Eu não falei que eu só disse a Trelawney o que você também acha, mas não tem coragem de dizer? - ele falou num tom vitorioso.

– Isso é invasão de privacidade! - acusei-o, mas tive a certeza de ter corado. - Por que não diz a todo mundo? Com certeza vai ser muito divertido pra você. - eu disse com um tom meio rancoroso.

– Ai, ai... Sabe que seria mesmo? Mas eu vou deixar passar essa, Granger. Mas só porque sou muito bondoso.

– Claro, e Hagrid plantou um hipogrifo. - se ele pudesse realmente o faria, diga-se de passagem.

Ele riu e ficou em silêncio por alguns minutos, depois voltou a falar num tom menos irônico:

– O que está fazendo aqui?

– Queria ler em algum lugar. – disse depois de analisar mentalmente se seria sincera ou não. Acabei optando por ser. – Achei muito bonita a vista aqui ontem. Dá pra ver o reflexo da lua no lago lá na frente e parece... - comecei o que seria uma longa explicação e percebi que ele me olhava interessado.

– Desculpa. - disse e me silenciei.

– Você gosta de fazer de tudo um grande tema a ser discutido não é? - ele perguntou e por incrível que pareça não identifiquei sarcasmo em sua voz.

Assenti com a cabeça.

– O que parece? - ele perguntou.

– O que? - perguntei sem entender.

– Você disse que dá pra ver o reflexo da lua lá na frente e parece... - ele me disse para que e completasse.

Eu fiquei meio constrangida, mas continuei:

– Parece que há duas luas aqui. E tudo parece ter mais luz... - essa foi a segunda vez que eu tive aquela sensação de "Porque estou dizendo isso a ele?"

Eu fiquei olhando a minha segunda lua no lago. Estava tão frio ali e eu me abracei para tentar me proteger da garoa da noite, mas foi inútil. Eu havia vindo para cá sem capa. Grande burrice da minha parte.

Quero dizer que o que Malfoy fez a seguir foi a atitude mais improvável vinda dele que eu podia esperar em toda a minha vida.

Ele desabotoou a própria capa e estendeu-a a mim. Simples assim, aparentemente sem brincadeiras e sem dizer qualquer palavra. Eu o olhei desnorteada num momento em que pensava no que fazer.

– Uma capa da Sonserina? - eu disse com um risinho.

Ele virou os olhos e respondeu:

– Claro, eu não andaria por aí com uma capa da Corvinal não é, Sabe-Tudo? Pega logo, ou prefere congelar aí? Pensei que a certinha não tivesse preconceito com as outras casas. - ele concluiu.

Eu, meio devagar, peguei a capa de suas mãos e me envolvi com ela.

Agora o frio parecia não poder me atingir com tanta força, mas o brasão de Sonserina pesava em meu peito e aquela capa parecia ter a capacidade de sentir que cobria alguém com sangue de origem trouxa. O que em tal casa, seria inaceitável.

Mas eu sabia que isso era coisa da minha cabeça, então tentei me desligar de tais pensamentos e prender minha atenção em qualquer outra coisa. Notei então o silêncio incômodo que pairava ali.

– Por que está sendo legal? - perguntei.

De primeira pensei que ele tivesse se ofendido, mas ele só pareceu meio indignado e respondeu sem muita emoção:

– Não estou sendo legal. Estou evitando que morra congelada.

– Em outra época você me deixaria morrer. - disse lembrando-me do quanto brigamos em todos os nossos anos em Hogwarts, mas ele infelizmente lembrou-se de outra coisa.

– Eu já fiz isso uma vez.

Eu gelei com sua resposta. E não era um tipo de frio que sua capa podia aplacar. Era o frio que tomava meu coração toda vez que me lembrava da tortura de Bellatriz.

Eu via que ele também recordava daquilo naquele exato momento. E eu podia ver que ele se angustiava com isso.

– Por que não fez nada? - eu praticamente sussurrei. Parecia que algo estava preso na minha garganta e me impedia de falar normalmente.

– Eu não podia. - ele disse.

Eu o olhei e podia sentir a mágoa que transmitia.

– Podia sim. Devia! - eu disse e depois tudo aconteceu muito rápido dentro da minha cabeça. Foi como um estalo que fez com que eu achasse a resposta de um enigma. - "Mas... Querido... Eu sinto em dizer que você poderia ter feito algo sim. E deveria." - eu repeti as palavras da professora Sibila exatamente como ela havia falado para ele na aula de Adivinhação.

Eu olhava para o nada enquanto falava, só quando terminei olhei para Malfoy e ele mordia o lábio inferior demonstrando nervosismo.

– Era a isso que ela se referia, não era? – respondi

– Está se dando muita importância. – ele disse e eu ignorei totalmente esse comentário sórdido porque ele estava mentindo, eu podia ver. A voz dele não tinha confiança alguma.

Ele de repente se levantou e começou a caminhar devagar em direção ao castelo.

Eu tinha duas opções: Aceitar ficar completamente confusa e deixar pra lá (algo que eu acho que não conseguiria fazer nem se quisesse) ou ir atrás dele e fazê-lo me dizer a verdade. Obviamente escolhi a segunda. Levantei-me e andei o mais rápido que pude e segurei seu braço quando o alcancei.

Eu não havia percebido, mas agora a fina garoa noturna tinha evoluído e eu já conseguia sentir a umidade do meu cabelo e da minha roupa.

– Você me deve. Então me conta a verdade. – eu disse.

– Me larga, Granger. – ele respondeu e puxou grossamente o braço voltando a andar.

Eu não pensei muito. Eu queria saber e ele ia me dizer. Peguei minha varinha presa a minha saia e desferi:

– Imobilus! – okay, atingir o adversário pelas costas era covardia, mas ele podia ter facilitado as coisas.

– Você vai me contar. – afirmei apontando a varinha para ele – Finite Incantatem – conjurei e continuei apontando a varinha para ele.

Eu podia ver que ele ficou no mínimo surpreso por eu tê-lo enfeitiçado, mas nesse momento ele olhou de mim para a janela do castelo e ficou com uma expressão nada boa. Logo eu pensei que havia alguém ali, afinal Luna mesmo tinha nos visto do castelo. Como eu cai nesse truque tão velho? Eu desviei meu olhar para a mesma direção que ele olhava só para ouvir:

– Expelliarmus!

Minha varinha voou.

Malfoy mais que rapidamente aproximou-se de mim e com uma mão segurou meu braço e a outra meu pescoço. Ele me empurrou contra a árvore do jardim e falou num tom nada calmo:

– Ficou maluca garota?!

– Me solta!

– Não. Você é curiosa demais pro meu gosto, Granger, mas tudo bem, quer saber a verdade? Eu vou contar para você. – ele disse ainda apertando meu pulso e eu encarei seu rosto, nervosa. Eu não sabia dizer com certeza se ele estava com raiva de mim, mas seus olhos cinza pareciam negros agora – Aquela maluca da Trelawney acertou dessa vez, e creio que seja a única, mas ela estava falando disso sim. Ela disse que o rosto de alguém vive trazendo a lembrança, lembra? – eu assenti devagar porque seu braço ainda estava em meu pescoço – Porque toda vez que eu olho para você eu sou obrigado a conviver com a ideia de que eu quase deixei alguém morrer por pura covardia. E você é louca o suficiente pra achar que depois disso eu ainda sou capaz de colocar a cabeça no travesseiro toda noite sem sentir qualquer culpa. Eu não tenho paz, e você não melhora isso. Sempre desconfiada como se a qualquer momento eu pudesse matar alguém. Isso é enlouquecedor!

– Eu não sabia... – eu disse baixo.

– É... Parece que achamos algo que a Granger não sabe. – ele disse me largando e me dando as costas voltando ao castelo. Mas dessa vez eu não iria segui-lo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, galerinha *----*
É isso, comentem e/ou favoritem. Espero as corujinhas de vocês :3
Beijão e até o próximo capítulo o/