Naquela noite, depois de toda a bagunça que fizemos na casa Kendall e deixamos para a coitada da Kathy arrumar - claro, eu não queria deixar tudo uma desordem, mas diante da insistência de Kendall em me fazer ficar quieta, eu fiquei - segui com James para a casa dele, que durante todo o percurso, teimou alegando que queria dormir comigo novamente. Mas não pude ceder ao seu pedido, tendo em vista que meu subconsciente gritava para ter Kendall, enquanto o pouco de consciente que ainda me restava alertava que James era a escolha certa.

Estacionei o carro em frente à sua casa, e quando ele aproximou-se para se despedir com um beijo, eu desviei. Seu olhar duvidoso pairou sobre mim durante alguns instantes, enquanto ele analisava minhas feições em silêncio.

– Aconteceu alguma coisa? - indagou por fim, com o tom de voz preocupado.

– Nada - respondi olhando o poste no lado oposto da rua, que se tornou bem interessante naquele momento.

– Certeza?

– Uhum - respirei fundo.

– Eu disse algo ou fiz algo que não te agradou ? - insistiu.

– Relaxa, Jay, só estou cansada, O.k?

– Olhe em meus olhos e diga que é só isso - pediu.

– Deixe de besteira - soltei um riso nervoso pelas narinas, se é que aquilo podia considerar-se um riso.

– Não vou dormir direito se não me disser isso.

– E eu já lhe disse que é apenas cansaço James, o que quer que eu faça? - perguntei o olhando de soslaio.

– Olhe em meus olhos.

– Pronto, e agora? Hm? - disse virando-me bruscamente e olhando seus olhos preocupados.

– Agora, repita que o único problema aqui é seu cansaço - ordenou cruzando os braços.

– Vou lhe dizer qual o único problema aqui, o problema é que você está paranoico, e eu estou cansada para ouvir tantas baboseiras, então por favor, saia do meu carro, conversamos amanhã - indiquei a porta ao seu lado, enquanto ele permanecia paralisado com os olhos arregalados.

– Você... - começou.

– Mandei sair do carro? Sim, mandei James, faça esse favor agora - bufei e voltei a encarar o poste.

Alguns minutos depois, ouvi o ruído da porta sendo aberta e logo após fechada novamente. Não olhei para ele, apenas liguei o carro e pisei fundo no acelerador, frustrada, e decepcionada comigo mesma por ser tão rude. E quando olhei o espelho retrovisor, e vi-o limpar uma lágrima com as costas das mãos, meu mundo desmoronou ainda mais, se é que tal feito era possível.

Era fato que eu não conseguiria dormir aquela noite. Passei horas me movendo de um lado à outro da cama, pensando no que fazer, como agir, mas pensei demais, e acabei me debulhando em lágrimas. Com as mãos trêmulas, tateei as paredes no escuro até encontrar o interruptor e acender as luzes. Minha visão embaçada pelas lágrimas insistentes me fazia tropeçar em tudo, andei sem rumo dentro do apartamento por um tempo, depois peguei um travesseiro, as chaves do carro, calcei minhas pantufas e desci até a garagem. Eu sabia o que devia fazer, e onde devia ir.

Estacionei o carro em frente aquela casa que eu não costumava ir, mas mesmo assim era conhecida para mim. Quando desci do carro, o frio da madrugada cortou minha pele desprotegida. Caminhei rápido até a porta e toquei a campainha. Enquanto esperava algum sinal de vida, abracei meus braços finos, esperando ter algum conforto ou até mesmo me esquentar, ainda haviam lágrimas em meus olhos, que ao se chocarem com o ar frio, congelavam minhas bochechas. Ouvi passos cambaleantes dentro da casa, logo depois uma luz foi acesa, e então a porta foi aberta. De trás dela, surgiu Logan, sem camisa, com os olhos inchados e o rosto amassado, seu cabelo estava totalmente bagunçado e ele coçava a nuca enquanto me analisava.

– Sam? - vi-o fazer uma careta.

Não falei nada, apenas pulei em seu pescoço e enterrei meu rosto ali, deixando várias lágrimas desesperadas molharem os ombros de meu melhor amigo.

– Samantha? Samantha, o que houve? - indagou ele, me puxando para dentro em meio aquele abraço desajeitado, e fechando a porta atrás de si.

– Eu estrago tudo, Loggie, sempre estrago - disse-lhe entre soluços.

– Sam, por favor, se acalma e me diz o que aconteceu - pediu ele me guiando até o sofá.

Me sentei e deitei a cabeça nas pernas de Logan, que havia se sentado ao meu lado. Era tão bom saber que tinha ele para falar sobre tudo. Respirei fundo diversas vezes, procurando as palavras para explicar a ele o que se passava.

– Log...eu não sei o que fazer - disse-lhe por fim.

– Sobre o que, flor?

– Você vai me matar.

– Se for necessário, corro até a cozinha para pegar a faca - brincou.

– Para, idiota - ri um pouco.

– Agora, explica o que aconteceu para o Tio Loggie.

– Bobo - sorri de lado - Eu não sei o que fazer, porquê eu... - respirei fundo - ainda amo o Kendall - confessei.

– Ah, não diga - respondeu ele com um tom irônico.

– O quê? - levantei-me e olhei em seus olhos.

– Isso eu sabia, Sam - sorriu - Sou seu melhor amigo, e mesmo que queira esconder algo de mim, eu sempre saberei no final.

– Você é incrível - o abracei.

– Mas, o desespero todo é por amar Kendall?

– Não, eu pisei feio na bola com James - respondi deixando uma lágrima rolar sobre minha bochecha.

– Como? - indagou enquanto fazia carinho no meu cabelo.

– Fui rude com ele, deixei o pobre coitado plantado em frente a própria casa chorando.

– Está vendo?

– O quê? - perguntei confusa.

– Kendall, mesmo sem querer, faz com que seu mundo desabe...

– Mas, eu o amo.

– Mas, ama James também? - indagou com uma sobrancelha arqueada.

– Eu...amo - respirei fundo - Só que meu amor por Kendall é...

– Devastador? - interrompeu.

– Isso.

– Esse é o ponto xis Sam, se o amor por ele é devastador, ele vai acabar te destruindo.

– Então?

– Eu voto em James - sorriu - Ele te faz bem, e não te destrói, se eu pudesse escolher por você, seria ele.

Fiquei ali, apenas analisando as ultimas palavras de Logan. Do nada, senti seu braço ao meu redor afrouxar, e quando o olhei, ele estava dormindo. Sorri e me aconcheguei ainda mais nele, dormindo em seguida.No dia seguinte, acordei disposta, eu sabia o que ia fazer. Tentei a todo custo me levantar sem acordar meu amigo, que parecia totalmente desconfortável sob mim, mas quando me mexi, seus braços me apertaram contra ele.

– Onde pensa que vai? - indagou ele me apertando.

– Lugar - respondi rouca - Você tá me sufocando.

– Que lugar?

Me aproximei de seu ouvido e sussurrei a resposta. Ele riu, me empurrou e gritou para ir logo. E assim, de pijamas, pantufas, e com o coração cheio de certeza, segui ao encontro do meu amado. Ao estacionar a carro, corri até a porta desesperada, eu precisava vê-lo, era tudo o que eu mais queria. Parei à centímetros da porta principal, respirei fundo, e toquei a campainha.

– Quem é louco de me acordar às sete da manhã em pleno sáb... - gritou aquela voz que eu adorava enquanto abria a porta - Sa-sa-sa...

– Samantha ? - conclui - Bom dia, James - sorri.