O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Oi ;D



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Grito e abro os olhos. Para o meu espanto, encontro um cachorro enorme com os dentes cravados em minha pele. Com uma força que não me pertence, eu o empurro. O animal voa para longe, mas a queda parece não afeta-lo nem um copo, ele logo se recupera e volta correndo em minha direção com os pelos negros brilhando em contato com a luz do Sol e os caninos sujos de sangue à mostra. Sujos com meu sangue. Rapidamente pego a adaga em minha mochila e quando a fera lança-se sobre mim, eu a cravo em seu peito. A lâmina rasga sua pele e seu sangue escorre em mim, um sangue preto que mais parece petróleo. Ele solta um uivo de dor e cai no chão. Preparo-me para dar um segundo golpe, mas uma coisa surpreendente acontece.

Quando eu estou preste a enterrar a lâmina no bicho, seu rosto muda. Em de caninos ameaçadores, focinho e orelhas pontudas, o que eu vejo é Felipe. Os globos azuis encontram o meu e eles parecem clamar por ajuda. Hesito por um segundo e Felipe pula em mim. Ou melhor, o cachorro pula em mim. Seu rosto muda mais uma vez e eu volto a ver o animal.

O impacto da queda é forte e sinto o barulho de alguma coisa se quebrando. Minha coluna explode de dor e eu não consigo me mexer. O susto também fez com que eu soltasse a adaga que voou para longe.

O cachorro aproxima cada vez mais a cara da minha com a boca aberta. É o meu fim, penso desesperada. A dor é tamanha que mal consigo respirar. Posso sentir o sangue da ferida aberta do animal pingando quente na minha pele e se misturando com o meu.

Eu vou morrer. E eu vou morrer virgem.

Todas as pessoas que eu amo passam pela minha mente como um flash. Penso no sofrimento delas ao ver meu corpo mutilado. Penso nas coisas que eu poderia ter feito. Eu deveria ter sentido mais, vivido mais. Penso, penso, penso. Penso em coisas banais numa tentativa frustrada de ignorar a dor.

Manchas negras invadem minha visão, resultantes da tamanha perda de sangue. Tento manter-me acorda, porém meus olhos se fecham. Tento gritar por socorro, mas minha voz não sai. Tudo que eu quero é que isso acabe logo, mesmo que eu tenha que morrer para que a dor passe.

Os caninos pressionam a pele da minha bochecha, eles fazem um pouco mais de pressão e perfuram minha pele. Porém, antes que o animal possa fazer desgraça com meu rosto, escuto um barulho de uma coisa sendo cortada e lançada para longe, aterrisando com um estrondo no chão.

O peso em cima do meu corpo diminui. Com muito esforço abro os olhos. Meu estômago se revira quando vejo que o corpo sem cabeça do cachorro jaz ao meu lado. Respiro aliviada quando Felipe e Joana invadem meu campo visual. Felipe está coberto de sangue, porém não parece que seja dele. Seus olhos me analisam cheios de preocupação e ele se agacha ao meu lado.

“Você tá bem?”

Um fantasma de um sorriso irônico se instala no meu rosto e uso as forças que me restam para respondê-lo.

“Não vou negar que já estive melhor.”

Ele me segura com cuidado, mas eu grito de dor. Ele começa a sussurrar frases tranquilizantes ao pé do meu ouvido, ele diz que vai ficar tudo bem e que minha dor vai passa. Acabo adormecendo ao som de sua voz de veludo.


(...)

Acordo sem senti dor nenhuma. Chego a suspeitar que tudo não passou de um sonho, ou que eu morri. Sei lá. Ouço vozes abafadas. Apuro os ouvidos para escutar.

“Eu estava passeando pelo jardim quando vi a Princesa sentada em um banco, não quis incomodar então fiquei observando-a de longe. Só que de uma hora para outra, um cachorro a atacou. Então eu matei o cachorro e usei magia para curar a mordida.”

Felipe “explica” o que acontecer para alguém.

“E como ninguém ouviu nenhum grito dela?”

A médica fala, ela parece não acreditar na versão de Felipe dos fatos.

“Ela apagou assim que caiu, não teve tempo nem de gritar.”

Ela parece se convencer e o deixa em paz. Escuto passos se afastando de onde eu estou e abro um pouco o olho para ver. Decepciono-me ao ver Felipe deixando o hospital. Sei que vai soar egoísta, mas queria que ele ficasse o tempo todo comigo mesmo que fosse do lado de fora do hospital lutando para convencer a médica a deixa-lo entrar, assim como eu fiz quando ele estava internado.

A médica percebe que estou acordada e vem até mim. Pergunta se eu estou bem e se preciso de alguma coisa. Respondo que estou ótima (mentira, mas eu quero é sair daqui) e que não preciso de nada. Ela faz algumas anotações e sai do quarto me deixando sozinha.

Levanto e ignorando a leve tontura, vou até a janela. A visão do jardim me deixa feliz, eu amo o jardim do castelo. Porém logo meu sorriso se desmancha quando eu vejo Joana e Felipe andando de mãos dadas por ele. Eles se viram um pro outro, conversam um pouco e se beijam.

Meu coração fica do tamanho de uma castanha. Deixo as lágrimas caírem, nem tento enxuga-las. Desvio o olhar, isso é torturante demais. Volto para a cama e sento. A médica chega e pergunta se eu estou bem.

“Não.”

“O que foi? Alguma coisa está doendo?”

“Sim. O meu coração.”

(...)

Recebo alta e vou direto para meu quarto. Lanço meu corpo sobre a cama, enterro a cabeça no travesseiro e deixo as lágrimas correrem soltas. Meu ombro ainda dói um pouco e minha cabeça lateja, mas nenhumas dessas dores se comparam à do meu coração. Eu sou uma tola por acreditado que existia alguma chance de eu ficar com Felipe. Agora ele está lá beijando Joana enquanto eu estou aqui chorando feito uma bebezinha.

Escuto o barulho da porta se abrindo e de passos vindos em minha direção. Alguém me abraça por trás e mesmo sem saber quem é, deixo que me abrace. Porque é exatamente isso que eu estou precisando agora. Alguém que me dê colo e não pergunte nada.

Viro um pouco a cabeça e vejo Lucy, ela diz que tudo vai ficar bem, mas isso só faz com que eu me entregue ainda mais ao choro.
Ela enxuga minhas lágrimas e só então pergunta o que aconteceu. Explico tudo a ela e ao final ela pega um frasco de vidro na minha cabeceira, fecha os olhos e deixa que uma lágrima solitária escorra pela sua bochecha. Ela recolhe a lágrima com o frasquinho e me entrega. Fico confusa.

“Nós éramos noivos, então eu posso ser considerada uma viúva.”

Demoro um pouco, mas depois entendo. O guarda que morreu era noivo de Lucy! Ela é uma viúva! Como eu não pensei nisso antes?

Sorrio para ela em agradecimento, depois ela vai embora dizendo que tem que trabalhar. Aproveito a solidão para chorar mais, entretanto minha solidão não dura muito. Pouco tempo depois a porta é aberta e Felipe entra no quarto. Ele pergunta se pode entrar e eu não respondo nada. Mesmo assim ele entra e senta na beirada da minha cama. Ele pergunta se estou bem, mas eu não respondo. Fico encarando a parede do outro do quarto.

“O que aconteceu? Por que você não me responde?”

Porque você é um idiota que estava beijando outra mulher minutos atrás.

“Nada.”

“Olha só pessoal! Ela não perdeu a voz.”

“Nossa que engraçado, cara. Já pensou em ser palhaço?”

“O que eu fiz para você está me tratando desse jeito?!”

“Nada.”

Ele pega minha mão com delicadeza e me encara. Desvio o olhar, pois sei que no segundo que meus olhos encontrarem aquelas maravilhosas íris azuis, eu vou perder o controle.

“Fala o que aconteceu.”

“Eu já disse: nada.”

Ele leva as mãos ao alto, se rendendo.

“Ok, então não aconteceu nada. Eu só vim aqui porque pensei que você gostaria de saber o que te atacou hoje.”

Sou vencida pela curiosidade.

“O que foi?”

“Um Cão Encantado. Eles são bem raros e difíceis de domar, são treinados para perseguir pessoas e possuem poderes alucinatórios. Fazem você pensar que é alguém que você ama e depois dão o bote. Você tem sorte de não estar doida ou morta. A maioria das pessoas não consegue sair do estado de alucinação e por isso não conseguem se defender do cão. É isso que os tornam tão letais. Agora posso te fazer uma pergunta?”

“Você já está fazendo.”

Ele revira os olhos.

“Quem o Cão Encantado fingiu ser para te enganar?”

Uma parte de mim quer jogar na cara dele que foi ele e fazê-lo se sentir culpado por ter beijado Joana, mas essa parte foi facilmente superada por uma coisa chamada sanidade. Conhecem?

“Minha mãe.”

Minto.

“É mentira.”

Ele fala convicto.

“Não, não é.”

“É sim. Continuo sem conseguir ler suas emoções, mas mesmo assim consigo facilmente saber quando alguém está mentindo.”

“Você está certo. Eu menti.”

“Então quem foi?”

“Não vou dizer.”

“Vai sim.”

Ele começa a fazer cosquinha em mim. Tento me desvencilhar das mãos deles, porém meu esforço é inútil. Minha barriga começa a doer de tanto rir. Quero me aproveitar da maldição e manda-lo parar, mas eu não tenho fôlego para falar nada. Ele para porque percebe que eu não estou conseguindo respirar, porém segundos depois ameaça começar uma nova série de tortura, então resolvo desembuchar logo:

“Foi você.”

Falo com um fio de voz, tentando superar a vergonha. Ele para e me analisa como se tentasse descobrir se eu estou mentindo ou não. Depois de se convencer que eu disse a verdade, ele fala:

“Bia, com essa maldição, você sabe que algumas pessoas podem se aproveitar de mim e me pedir para fazer coisas terríveis, não sabe?” Ele usa um tom de voz como se estivesse explicando a uma criança que ela não deve falar com estranhos porque eles podem fazer mal a elas, porém eu não quero de brigar então apenas assinto. “E eu não estou falando de strip tease.” Rio um pouco, mesmo sem humor. “Então me prometa que se eu algum dia atacar você, sendo uma ilusão ou não, você vai revidar e se for preciso me matar.”

Fico calada. Eu não posso prometer uma coisa dessas porque sei que não vou cumprir, eu prefiro morrer a fazer algum mal a Felipe. Nunca parei para pensar que alguém fosse se aproveitar dessa maldição e da proximidade que nós temos para ordenar que ele me mate.

“Prometa.”

“Prometo.”

Minto só que dessa vez ele nem se incomoda em analisar se estou mentindo ou não, simplesmente volta a fazer cócegas em mim, como se nada tivesse acontecido. Resolvo revidar e de alguma forma consigo subir em cima dele e mudar o jogo. Faço cócegas até ele pedir arrego. Jogo-me na cama ao seu lado. Com ambos cansados demais para falar, o único som que atravessa o silêncio do quarto é o das nossas respirações ofegantes.

Uma sensação inexplicável toma conta do meu corpo. Sinto isso toda vez que estou sozinha com ele. Uma paz interior, como se nada pudesse me afetar. Consigo até esquecer que estou presa em um lugar que eu não faço ideia de onde seja, mas com certeza é muito, muito longe da minha casa que estou prestes a me casar e que tem gente tentando me matar. Nesse momento só tem eu e ele e nada mais importa.

Batidas na porta nos trazem de volta a realidade, Felipe mal tem tempo de levantar da cama quando Eduardo entra no quarto.


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Notas finais do capítulo

Tenho uma péssima notícia! Minhas aulas voltaram ;----------; Eu sobrevivi ao primeiro dia de aula!! Pensei fugir da escola, ou me jogar do banquinho da aula de laboratório uma ou duas vezes, MAS EU SOBREVIVI UHUUUU! Pensamento positivo! Faltam só quatro meses pra acabar! Só que eu não vou poder postar sempre, então pensei em definir um dia. Vou passar a postar só nas sextas, desculpem por isso, mas é que a escola me deixa sem tempo :(
Gostaram do cap? Comentem, recomendem, favoritem, me sigam no Twitter: @_lorealves! Beijos ;D



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