O Refúgio Online escrita por Nedhand


Capítulo 8
Capítulo 52




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Ellinia ficou visível antes de chegarem, um amplo concentrado de árvores altas que faziam uma mancha verde elevada em comparação com todo o resto, mais próxima à medida que o navio descia. Thugles, Kash, Nick, Tabs, Giu e Noctolia eram os únicos passageiros vindos de Orbis, mas na estação havia dezenas de jogadores esperando o navio chegar para poderem fazer o caminho oposto. Enquanto estes embarcavam no navio, os outros seis desembarcavam na madeira lisa e dura, construída como um píer para navios flutuantes.



Um túnel abria-se para Ellinia, e mesmo o píer já estava a várias centenas de metros acima do solo. A cidade inteira ficava acima do solo, e entre as árvores. Pontes de madeira ligavam troncos, em todas as direções e também subindo e descendo em diagonal; ramos e folhas formavam plataformas onde construíam-se casas e lojas. Fadas voejavam por toda parte, interagindo e ralhando com outros habitantes ou mesmo jogadores.



A floresta era densa, mas os dedos marrons cobertos de folhas espaçavam-se de tal modo que permitiam que a luz entrasse aos salpicos, iluminando toda Ellinia com raios de sol vindos de todas as direções. Dizia-se que ficava muito mais bela à noite, mas agora era pouco depois do meio-dia. Acima de todas as outras coisas, lá no alto das copas das árvores, repousava a Biblioteca de Grendel, o Muito Velho, instrutor de Bruxos.



—Ellinia não mudou muito — Thugles notou. Sempre gostara de Ellinia. Quando chegara lá de Porto Lith, entrara bem perto de onde uns músicos tocavam uma serena e suave melodia, e lamentava não saber onde encontrá-los agora — Acho que as folhas estão mais verdes, mas não sei se estão mesmo ou se é só impressão já que sei que houve mudança.



—Estão mais verdes — Nick comentou com um gesto de cabeça.



Ele ansiava por visitar a Loja de Magia de Ellinia – sua varinha era azul com asas brancas, chamadas Asas de Anjo, que já estavam ficando meio obsoletas quando ele estava no nível 75. Tabs queria visitar Kerning, enquanto Kash e Noctolia preferiram ver Athena em Henesys. Era a vila dos arqueiros, e talvez a atualização no jogo tivesse lhes trazido alguma novidade. Combinaram de se encontrar novamente em Ellinia para voltar a procurar lugares melhores para ganhar nível.



—Eu tenho uma idéia. Por que não Porto Lith? — Kash opinou quando se despediram — Lá não tinha quase nada quando saímos da Ilha Maple. Mas pode ser que tenham adicionado alguma coisa com a mudança nos mapas.

—É mesmo, teve um evento lá assim que chegamos da Ilha Maple— lembrou Nick — Foi um chefão num portal especial, e o Dave ganhou uma foice. Acho que ele usa ela até hoje.



Decidiram se encontrar em Porto Lith então – das cinco principais cidades de Victoria, sem contar com Nautilus e os Piratas, ela era a única que não era o centro de nenhuma das classes do jogo. Havia Perion para os Guerreiros, Kerning para os Gatunos, Ellinia para os Bruxos e Henesys para os Arqueiros, mas Porto Lith era apenas o lugar onde os jogadores chegavam depois de sair da Ilha Maple, que era mais um tutorial do que qualquer outra coisa. Talvez, depois da atualização, alguma novidade os esperasse.



Acabou que Tábata ficou em Ellinia, com Nick e Thugles. Eles subiram os degraus feitos de galhos retorcidos até a parte mais alta de Ellinia, onde ficava seu velho instrutor.



Abriram as portas, que deslizaram sem fazer barulho. A Biblioteca de Ellinia era alta e circular, pouco mais de três quartos das paredes formadas por prateleiras cheias de livros, começando no chão e terminando no teto. Isso também não havia mudado. Não havia mesas ou cadeiras – quem quer que quisesse ler sentava-se no chão, o que não era desconfortável ali. Estava vazia de jogadores.



No centro, Grendel flutuava rodeado de esferas azuis emblemadas de símbolos arcanos que ficavam perto de sua cabeça, braços e pernas, num círculo. A longa barba branca era maior do que ele, descendo até alguns centímetros do chão. Vestia túnica branca e limpa, e numa mão carregava um cajado; a outra brincava com um orbe de energia brilhante, que flutuava sobre a mão espalmada.



Grendel sorriu quando entraram, olhos sábios em um rosto com a sutil beleza e sabedoria que só se contemplava na velhice, os olhos de um ancião. Chamou os três pelo nome, e sentaram-se de pernas cruzadas logo à frente dele.



—Uma nova luz brilha sobre nosso mundo — ele disse solenemente — Mudanças vieram, e espero que vocês aprendam a se acostumar com elas.



—Que tipo de mudança? — Tabs quis saber, animada.

—Ora, minha filha, não foi por isso que vocês vieram? Não supus que chegaram aqui apenas para visitar um velho flutuante, ah, não. Eles devem ter imaginado que estas roupas brancas me dariam um ar de mago branco, mas a verdade é que sou muito pequeno para elas. Sinto-me em uma camisa de força, mas minhas mãos estão livres, e meu coração também. Pena que também posso dizer isso de Victoria — quando perguntaram por quê, ele continuou: — Sabem, no passado, eu fui um estudioso de todos os tipos de magia. As de fogo, de gelo e de água, as da energia, as grandiosas magias divinas... Mas sempre tive um certo interesse pela magia negra. Esta, tão proibida e desconhecida, que tipos de mistérios ela poderia me oferecer? Eu tentei conjurá-la, aprender sobre ela, e infelizmente consegui. A magia negra que utilizei foi neutralizada, colocada sob a forma de bonecos que escondi na floresta. No entanto, criaturas curiosas encontraram-nas recentemente...



Eles ouviram enquanto ele falava. Thugles pensou vagamente que era estranho que Grendel contasse aquilo tudo tão de repente, mesmo que ele fosse um NPC. Como que lendo seus pensamentos, o velho sorriu para ele:



—Vocês, que já são Magos e Sacerdote, aprovados por Robeira, já podem saber dessas coisas. Ellinia é também habitada por uma espécie de animal chamada de Lupino, muito esperta e travessa. Têm pêlos marrons e são muito curiosos. Alguns deles encontraram os bonecos... Isso é tudo o que eu sei. Estou confinado em estudos, se vocês aceitarem, podem perguntar a Arwen, ela saberá mais.



Deixaram a Biblioteca meio contrariados – queriam ouvir a sabedoria de Grendel, ele costumava dizer frases bem inteligentes e era quase próximo de um jogador comum, no que se referia a conversas. A Fada Arwen era laranja e, como a maioria das fadas, não lidava muito bem com humanos, mas os Bruxos de Ellinia eram sempre exceção.



—Já estava na hora — ela revirara os olhos, entre zangada e aliviada — Os Lupinos estão encontrando bonecos acima da Árvore que Crescia, e virando Lupinos Zumbis. Ficam muito mais fortes e agressivos, e completamente tomados pela magia negra! Estão atacando algumas de nós quando nos afastamos muito de Ellinia.



Ellinia era o nome da cidade, mas a floresta em si continuava muito além dela. A Árvore que Crescia era o maior tronco de todos, cheio de buracos que davam em cavernas que passavam por dentro dela. Seu interior tinha uma luz verde-clara, estranha e mágica, que deixava o tronco inteiro com essa cor. Era a mais grossa árvore de Ellinia. Subiram por ela e saíram numa das estradas da floresta: galhos grossos, tão largos que não havia risco de escorregarem. Os ramos dividiam-se e se curvavam exatamente como estradas, ora subindo, ora descendo. Em vez de placas, as direções estavam escritas na própria casca: Cinco Árvores, Túnel dos Olhos, A Árvore que Crescia. Acima deles, as copas formavam uma ampla cobertura de folhas, dando sempre a impressão de que se encontravam num imenso salão aberto.



—Lupinos — Nick repetiu o que Grendel e a fada Arwen haviam dito — Que será que devem ser? Lobos? Tomara que sejam rápidos, quero testar meu gelo e deixá-los devagar — os monstros lá de Orbis tinham certa resistência a gelo, o que não tornava o congelamento muito eficaz. Tábata deu de ombros.



—Espero que não sejam lobos gigantes, só lobos não-gigantes mesmo. Ele disse pêlo marrom... Ai, e se eles estiverem se camuflando com as árvores? Eu já vi um assim, gente, são muito chatos. Olhem pra baixo e tomem cuidado por onde andam.



Ela mesma tropeçou num galho e bateu a cara na árvore. Thugles sorriu, e Nick riu até soluçar. Os três seguiam lado a lado, três formas exóticas no meio do verde e do marrom. Thugles vestia branco, sem capuz e um cajado verde com pedra branca. Nick usava túnica azul debruada de dourado, e suas luvas eram pretas. Tabs vestia um manto aberto verde, com a túnica cinza por baixo. Seu capuz era cor de esmeralda, cheio de estrelas prateadas. O cajado dela era o renomado Azul Marinho; cabo de prata, pedra azul oval aninhada numa meia-lua na extremidade.



—Ali — Thugles apontou, mas seu dedo mudou de direção — Outro ali. Sumiu... Ali, não, já saiu, nossa, ou é muito rápido, ou então são muitos...



—Hã, Thugles, por que você está apontando pra cima?



Ela soltou um “[i]uuf[/i]” quando algo atingiu suas costas e ela se virou. Thugles gritou um aviso, um clarão amarelo passou rente aos seus olhos e foi acertar a garota no lado da cabeça. Ela girou de surpresa, grunhindo indignada.



Outro amarelo veio das árvores mais em cima, desta vez acertando a perna de Thugles. Mais cinco bananas vieram do alto das árvores, assustando-os. Nick levou uma na cara.



O primeiro dos Lupinos pulou em cima de Nick quando este correu para enfrentar em fúria os inimigos que não podia ver. Derrubou-o e correu – não era um lobo, mas sim um macaco de cara larga e clara, que não demorou a desaparecer entre as folhas. Nick fez um raio aparecer em sua mão e jogou nele. O raio desapareceu entre os galhos.



Uma casca de banana voou diretamente sobre ele, dessa vez fazendo-o perder HP. Cinco Lupinos saíram dos galhos, de banana na mão – comiam, pegavam a casca e jogavam no garoto. Nick correu gritando, mas os Lupinos tinham há muito se dispersado quando ele chegou. Deixaram apenas uma casca de banana de presente, que o acertou com força.



—Nick — Thugles o curou, rindo — Eles não vão te atacar, é só não atacar eles. Está vendo? Não estão vindo pra cima de nós.



—Precisamos acabar com eles, não se lembra? Macacos malditos...



—São os zumbis que são o problema, Nick — Tabs lembrou-lhe — Vamos. Esses aqui são bonitinhos, não parecem zumbis adoidados.



—Se matarmos eles, não vão poder virar zumbis — Nick respondeu, derrotado. Continuaram a seguir o caminho, que agora descia.



Imaginaram que os Lupinos zumbis os encontrariam, mas foi menos surpresa do que com os Lupinos comuns. No meio do galho-estrada, lá estavam meia dúzia de macaquinhos de pêlo azul escuro como carpete, barriga e rosto cinzento. Uma auréola amarela meio fosca flutuava acima de suas cabeças. Eles seguravam bonequinhos de pano que tinham forma de humanos, brincando com eles. Os três pararam imediatamente ao vê-los. Os Lupinos zumbis também.



Levantaram-se devagar, mirando-os com expressões vazias meio curiosas. Os olhinhos não eram como os dos Lupinos comuns, negros e espertos, mas sim de um verde-claro brilhante, quase cor de água, sem emoção ou pupila. Ainda seguravam bananas pretas de podridão, e descascavam-nas, e a fruta caía em pó, decomposta...



—Então, Nick, esses você pode atacar — Thugles engoliu em seco.



Os Lupinos zumbis não eram tão amistosos quanto os Lupinos comuns, nem tão lentos quanto os zumbis comuns. Correram na direção dos três e Tábata atirou-lhes uma Garra Arcana. O HP perdido foi muito pouco, mas um raio explodiu na barriga de um deles e arrancou bons 30% da barra de vida. Os raios eram lentos de serem criados, então Nick girou a varinha e fez pequenas estacas de gelo, que também infligiram dano.



Todos os Lupinos zumbis conseguiram se aproximar; os três Bruxos teleportaram-se para atrás deles. Thugles curou um, que guinchou e se desfez. Aumentaram a distância com mais Teleporte, o que fez o MP drenar rapidamente até perto da metade. Nick jogou uma bola de neve que rolou pelo chão, diminuindo até sumir, criando uma trilha de frio onde passava. Os Lupinos zumbis deram a volta, ou pularam em galhos para alcançá-los.



Os três restauraram seu MP com poções o mais rápido que puderam. Nick conseguiu acertar uma Lança Elétrica, conjurando um raio na mão e atirando num dos zumbis. Tabs fez surgir pequenas paredes no galho, bloqueando o caminho abruptamente; os zumbis agarravam o topo com as mãos e saltavam sem problemas. Concentrou-se então, reunindo a habilidade, e fez aparecer uma pedra verde radioativa que cobriu um macaco com uma aura verde, envenenando e aumentando o dano que ele recebia. Thugles usou a Cura em outro, e Nick o matou com algumas Garras Gélidas.



Esses dois derrubaram os bonecos que seguravam, que foram para o inventário de Nick e Tábata. Mas eram apenas dois inimigos mortos no meio de dez, pois mais zumbis vinham da estrada atrás deles. Terminaram os dois que restavam e viraram-se para encará-los. Um dos Lupinos jogou uma casca de banana que acertou Tábata e grudou-se nela, andando lentamente como tentáculos até seu ombro – ali ficou e pôs-se a palpitar e a pulsar, como uma sanguessuga. Uma barrinha fina apareceu abaixo da barra de HP, e pôs-se a encher.



—O que é isso? — Thugles perguntou assombrado. A garota arrancou a coisa do ombro, e a casa se abraçou à sua mão.



Tentava livrar-se da casca quando os Lupinos caíram sobre eles. Alguns jogavam mais bananas, outros chegavam perto para dar socos. Thugles só podia usar a Cura em um de cada vez, e não era o bastante – principalmente porque precisava usá-la em Nick, que ignorava os danos, atacando quem visse pela frente. O Sacerdote tentava escapar e teleportar, mas Nick ficava parado gritando desafios e conjurando habilidades. Tábata não conseguiu se livrar da primeira casca e já tinha mais duas nela. A Cura de Thugles fazia as cascas secarem e caírem, segundo ele descobriu, e por um momento a maga era quem mais estava em perigo. Pôs-se a ajudá-la, alternando a Cura entre ela e os Lupinos. Os dois lutaram penosamente, e por uns poucos segundos ele deixou de olhar para Nick.



Quando virou-se para ele, o garoto estava cheio de cascas podres que cobriam seu corpo como pústulas. Havia uma dúzia, e a barrinha nova que surgira havia se enchido, embora nada parecesse estar errado com ele; Nick mantinha o rosto cerrado, movendo-se rapidamente enquanto lutava. Juntos, acabaram com os monstros ainda mais rápido.



—A coisa carregou — Tabs falou quando viu a barrinha — O que é? Você vai virar zumbi também?



—A Cura funciona nele — Thugles declarou. Cura machucava zumbis, e Nick parecia completamente bem sem nenhuma diferença além de uma barra brilhante misteriosa, cheia.



Tinham conseguido por volta de oito bonecos; precisariam de mais, mas não precisavam procurar. Desta vez vinham vinte, das árvores e de ambos os lados da estrada. Thugles ergueu o cajado e consagrou a área ao redor deles; os Lupinos zumbis não poderiam entrar, tornando-se alvos fáceis para as magias de gelo, raio e de terra.



—Vamos rápido — ele incitou; não poderia usar a habilidade novamente antes de cinco minutos, e precisavam de mais bonecos. Seguiram o galho.



Tomaram a direção da Floresta dos Lupinos; uma área formada por plataformas e chão de folhas e galhos, onde se podia pisar com tranquilidade. Lupinos zumbis espalhavam-se por toda volta.



Thugles abençoou a ambos desta vez, conferindo poder sagrado às suas magias. Foi menos desafiador enfrentá-os agora, embora viessem em número muito maior. Tábata jogava um enorme punho de pedra que acertava todos à frente dela, e enquanto esperava a habilidade carregar, fazia surgirem pedras e as controlava para jogar nos monstros. Nick avançava sem medo, explodindo em gelo e criando tempestades de raio que choviam sobre os Lupinos.



Conseguiram trinta bonecos ao todo. Quarenta, cinquenta... Os Lupinos zumbis acabaram, e outros surgiam do nada. Avançavam cada vez mais, ali onde as folhas se juntavam e criavam uma cobertura mais escura, como um túnel. Os Lupinos zumbis brilhavam fantasmagoricamente lá dentro.



—Juntei trinta — Tábata anunciou. Nick e Thugles já haviam reunido esse número, era hora de voltarem.



Aconteceu que a floresta pregava peças no pequeno grupo. No meio da penumbra, não sabiam exatamente por onde tinham entrado, e o jogo não parecia muito disposto a indicar-lhes o caminho. Não se lembraram dos Pergaminhos de Retorno, pelo menos não antes de aceitarem a idéia de escolher um caminho qualquer e seguirem por ele.



Acabaram escolhendo um bom caminho, pois era uma saída do túnel escuro. O chão de folhas e galhos dava lugar a um ramo mais grosso, uma das estradas de árvore, e nela estava gravada a direção da Árvore que Crescia. Seguiram por lá e atingiram uma bifurcação. O caminho da direita era o correto, e estavam prestes a virar para ele, mas viram movimento vindo de lá longe. E quando se viraram...



Mais Lupinos, comuns e zumbis, porém centenas deles. Faziam barulho e se aproximavam muito rápido. Era uma multidão imensa, e se eles eram capazes de derrotá-los, não descobririam, porque não tiveram coragem de ficar. Correram pelo caminho da esquerda, embrenhando-se por outra parte de Ellinia.



—Conheço esse caminho, é por aqui que viemos pra fazer o segundo avanço — Tabs disse enquanto corria — Mais à direita, viramos pra Ellinia!



Realmente o galho fazia uma curva para a direita. O galho ficava mais largo, mais largo até terminar em vários ramos menores cheios de folhas – como uma mão espalmada diante deles. Eles se abriam amplamente, formando chão. Uma placa de aviso fora colocada, porém – havia um galho menor que seguia em diagonal, passando por cima do chão de galhos e folhas. Thugles desapareceu e apareceu no galho, Tábata vinha logo atrás... mas foi Nick quem não reparou no aviso, e correu direto para o tapete formado de folhas e galhos. Assim que pisou nele, afundou e desapareceu lá embaixo.



Thugles gritou de susto, e lá embaixo ouviram Nick reclamando da queda. Bom, se ele estava reclamando, estava bem – caíram lá atrás dele. A queda era alta, mas não machucava. Nick enfrentava uns Lupinos zumbis. Era outra estrada de árvore, só que aquela era formada por muitos galhos grossos, como uma ponte de madeira natural. Caminharam por ela, procurando uma direção quando ouviram um gemido.



—Buuuuuuuu! —Tábata agarrou os ombros de Nick, que pulou e quase bateu nela no susto. Não tinha sido ela quem gemera, no entanto; o gemido se fez ouvir outra vez — Buuuuu! — ela fez de novo.



—O que será isso? — Nick perguntou com rispidez.



—Sei tanto quanto sei o que é aquela barrinha cinza que tinha aparecido em você — Thugles deu de ombros. Ouviram novamente o gemido, e Tábata fez “Buuuu!”, depois riu.



—Bu – ih... — ela se interrompeu.



Não havia nada bloqueando o caminho. De repente a floresta inteira pareceu piscar, e na frente deles surgiu o maior, mais cinzento e mais desanimado Lupino Zumbi de todos. Era maior do que uma casa e tinha pêlo cinza-brilhante, fantasmagórico. Os olhos eram duas bolas de tênis brancas, de expressão triste. Andava curvado como se estivesse cansado, num transe sonolento. E atrás dele havia um boneco de palha, flutuando alto, segurando cordas brilhantes que ligavam-se aos membros da criatura.



[i]Buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!![/i]



Centenas de Lupinos Zumbis vieram por trás. Thugles consagrou a área onde estavam quando o enorme lupino deu três passos rápidos e pesados. O boneco de palha puxou uma corda e um braço grande de macaco bateu neles, ignorando a magia de Thugles. Nick teleportara e escapara; Thugles, jogado para trás, não viu quando Tábata foi arremessada para além dos galhos e mergulhou, gritando, ao chão lá embaixo.



Os Lupinos amontoaram-se neles. Thugles usou sua Cura duas vezes antes de ser subjugado pela massa de macacos. De algum jeito, Nick conseguia manter-se de pé, fazendo estalar raios e atirando pedras de gelo. Ele perdia mais HP do que tirava, e os Lupinos Zumbis socavam e jogavam bananas.

Thugles encolheu o corpo e se ergueu de pé em um salto. Um anjo apareceu ao seu redor, abrindo as asas e espalhando uma luz azul-brilhante, que cegou e afastou os Lupinos. Agarrou Nick pelo braço e o puxou, e felizmente o garoto correu com ele. Não conseguiriam correr mais rápido que os Lupinos Zumbis, mas se usassem Teleporte, talvez...



O macaco maior abriu a grande boca e soltou um ululante uivo de arrepiar os cabelos. Uma bola de energia explodiu em Nick, jogando-o bem longe dos zumbis, deixando Thugles para trás. O rapaz se virou por um instante e correu os olhos pelas criaturas.



—Tábata — gritou — Nick! Cadê ela? — ele não tinha visto quando ela caíra, e os zumbis se aproximavam. Resignado e com os coração aos pulos, deu as costas a ele e ergueu um braço na direção de Nick. Canalizou energia por um momento e reapareceu ao lado do garoto. Aproveitando a distância que tinham aberto, correram por mais alguns metros. [i]Temos que voltar[/i], ele pensou, mas viu outros Lupinos Zumbis surgindo de todas as direções quando chegaram a uma encruzilhada. Nick ficou tenso, mas Thugles conseguiu lembrar-se dos Pergaminhos de Retorno. Leram-nos apressadamente e retornaram a Ellinia.



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O sol reluzia nos elmos prateados dos cavaleiros. Numa direção do horizonte, a borda da floresta Minar estendia-se de um lado a outro, o começo de densos pinheiros, salgueiros e represeiros verdes. No outro, ao norte, fazia um céu azul límpido e quase sem nuvens. O sol brilhava, mas estava um dia fresco.



—Você jura defender as cidades dos homens, com sua honra e com o sacrifício da própria vida? — declarou Sir Emmard.



—Juro — Aphanyus respondeu. Estava ajoelhado à frente dele, uma mão no cabo da espada e a outra sobre o coração.



O rosto de Sir Emmard estava duro e solene.



—Assim como o brilho da lua é somente o reflexo da luz maior que é o sol, esta vida nada mais é do que uma sombra da verdadeira vida eterna, guerreando nos céus gloriosos e servindo à luz superior. Profere os votos, e com eles junta-se à causa verdadeira. Ajoelhou como Aphanyus, levanta agora como Sir Vinski, e toma sua espada.



Aphanyus sentiu a ponta de uma lâmina a tocar-lhe o ombro e levantou-se. Sir Emmard guardou a espada, e Aphanyus sacou a dele. O cavaleiro juntou as mãos nas laterais da lâmina e proferiu uma prece. A espada de Aphanyus brilhou levemente. O céu pareceu ficar um pouco mais escuro – era fim da tarde, talvez fosse só coincidência.



Sir Risser pôs a mão em seus ombros e gracejou as boas-vindas. Aphanyus assentiu e deixou ser conduzido à fogueira onde se reuniam seus novos colegas cavaleiros.



Ele sentia certo orgulho de participar daquilo, mesmo que nenhum daqueles cavaleiros fosse um jogador. Havia pouco mais de vinte, vestidos com cotas de malha e peças diferentes de armadura, algumas azuis ou verde bem claro, mas sempre tendendo ao prateado. Todos tinham uma espada na cintura, embora alguns tivessem também malhos, maças ou clavas presos às costas. Conversavam em volta de uma fogueira, dois deles girando um boi temperado num grande espeto apoiado em forquilhas. Largaram o espeto ao verem Aphanyus.



—Eh, bem-vindo, sir. Vou guardar o melhor pedaço pra você — apontou a parte traseira do boi com o polegar.



—Talvez seja melhor guardar uns ossos. Quem sabe assim você arranja uma armadura decente — comentou o outro, Sir Jonnen. De todos os cavaleiros, o mais recente a ser armado era o único que não usava qualquer tipo de proteção fora as roupas. Aphanyus encarou-os sem expressão.



—A lâmina é toda a armadura de que preciso.... Não preciso de uma armadura quando minha espada não me deixa ser atingido.



—Muito bem dito, sir — Jonnen elogiou com uma gargalhada.



O boi estava saboroso, mas Aphanyus não comeu mais do que o necessário. No jogo, raramente sentia fome, e não sabia como é que a comida podia satisfazer seu corpo no mundo real, mas a carne o sustentava mesmo assim. O sol se pôs – em breve a lua pela qual lutavam e rezavam apareceria no céu.



—Se não se importam, vou caçar por aí — Aphanyus se despediu. Seus colegas lançaram-lhe cumprimentos vigorosos quando ele saiu. Os Cavaleiros da Lua armavam os seus durante a segunda noite da lua cheia, e era na lua cheia que seus poderes eram mais fortes. Era natural que ele quisesse testar seus poderes assim que tivesse chance.



Caminhou a passos largos em direção à floresta Minar, querendo desvendar seus segredos. Há muito tempo queria ir até lá; a floresta guardava monstros de nível superior, e além disso poucos jogadores tinham se aventurado nela até o momento. Certamente, ela estaria cheia de segredos e Quests Únicas que ainda não haviam sido conquistadas.



Agora conquistara o nível 100, onde finalmente realizava seu quarto avanço de classe. Para a maioria dos outros jogadores, este avanço só seria no nível 120, mas os Cavaleiros da Lua tinham sete avanços ao todo, e o de nível 120 seria na verdade o quinto. Antes, era uma espécie de Acólito - agora finalmente ingressara como cavaleiro, um cavaleiro [i]mesmo[/i], e queria usar as habilidades novas.



Quem sabe, as habilidades o ajudariam contra os monstros mais fortes, e assim poderia descobrir que segredos moravam naquela floresta. E realmente não havia andado mais do que dez minutos por ela quando ouviu um arquejo vindo de algum lugar nas árvores. Parou para escutar; o som vinha de não muito longe, e seus pés leves o levaram rapidamente até lá, Era um homem caído, vestido de túnica branca com mangas de um rosa desbotado e sujo de folhas.



Aphanyus ajoelhou-se perante ele. Tentou erguê-lo e o homem respondeu com um grunhido de dor. Arquejava e respirava com dificuldade - pareceu ser com um enorme esforço que ergueu a cabeça para olhá-lo, triste.



—Deuses sejam louvados... Você veio. O mundo corre grande perigo. O ovo das nove foi... não sei. Estou enlouquecendo — pareceu se dar conta, com um lampejo de terror nos olhos —Escute-me. Precisa ir a Leafre dizer a eles que o terror na Caverna está voltando. É um... mal muito grande. Leafre fica... no norte, perto do mar, indo para... no mar perto de Ariant, você precisa ir até lá...



—Eu te levo — Aphanyus declarou. O homem tinha uma barra de HP, mas estava tão baixa, e baixava mais a cada segundo. Se fosse um jogador poderia dar-lhe uma poção, mas os ferimentos de personagens do jogo eram mais reais. Ele precisaria ir a um hospital e ter cuidados imediatos.



—Não há tempo. Sou um homem morto... Largue-me — o HP não duraria muito tempo mais e ele enviou um item para ele, alguma espécie de escama. Pediu que o deixasse ali, pois morreria em poucos minutos. Aphanyus o colocou no ombro. Com um salto, pôs as longas pernas em movimento para sair da floresta.



Quando ele pisava no chão, a perna dava um rápido impulso para frente e deslocava vento num [i]zup[/i] veloz. Deslocava-se meio correndo, meio pulando, mas muito rápido. A floresta logo ficou para trás. Aphanyus passou a correr velozmente, saltando de vez em quando para ganhar algum impulso. Seguiu a direção que o homem havia indicado e conseguiu achar uma segunda floresta, que devia se ligar à primeira em algum ponto. Nela havia movimento, e Aphanyus adentrou-a como um foguete.



—Homem ferido! Preciso de ajuda, homem ferido!



—Aqui! Traga-o aqui...



Uma coisinha pequena, velha e enrugada, com braços e pernas, guiou-o apressadamente até uma segunda coisinha ainda mais velha e enrugada, e depositou o corpo do homem no chão. O HP agora era quase invisível. O socorrista jogou nele algumas pitadas de pó e pediu que Aphanyus o colocasse numa fonte rasa ali perto. Ele o fez, e o rosto do homem se suavizou. Olhou para seu salvador, cansado e de olhos quase fechados, mas com um sorriso de travessura zombeteiro no rosto.



—Rapaz teimoso... Eu disse que não devia me salvar. Não era pra ser — e seu último ponto de HP caiu e o homem piscou para ele, alargando o sorriso antes de desfazer-se em várias fagulhas luminosas.



Aphanyus ficou sério e baixou os braços lentamente. Os cacos esvoçavam como confetes, virando e caindo, então agruparam-se e explodiram num jorro de luz. E da luz surgiu um homem alto, vestido de jeans e camisa, sem cor além de um amarelo tosco como num filme antigo, sorrindo para ele.



—Parabéns, você bugou o jogo. Eu sou o criador de MapleStory Online, e não era pra você ter feito isso — mas a expressão dele era jovial e travessa, e não de censura — Esta personagem deveria morrer, e então você continuaria a missão. Foi planejado para que fosse impossível de retirá-lo da floresta a tempo antes de ele morrer. Mas você de algum jeito conseguiu, não sei como. Bom, parabéns, você é um jogador e tanto. Foi até o fim pra salvar este, embora, né, seja impossível. Deve ser bom ter alguém como você ao lado pra ajudar, não? Então vou lhe dar uma pequena ajuda. Tome esta pedra e dê para um amigo. Ele poderá chamá-lo uma vez, onde quer que vocês dois estejam, e você aparecerá ao lado dele. Assim, quem sabe você não possa salvá-lo quando ele estiver em perigo? Tenha um bom jogo, e obrigado por, bom, ter comprado meu jogo — o homem deu uma leve risada e desapareceu.



—Que cara mais gozado — Aphanyus deu de ombros enquanto guardava a pedra no inventário.



A escama que o homem tinha lhe dado pertencia a um antigo dragão, segundo ele descobriu com um dos mais velhos da cidade. Este era beje e pequeno como os outros, parecia mais um velho feito de raízes murchas com uma longa barba branca, ou pelo menos tão longa quanto podia ser para alguém mirrado como ele. Ao ver a escama, seus olhinhos arregalaram-se tanto que chegou a ser cômico.



—O Ovo dos Nove Espíritos foi roubado há muito tempo. Parece que agora Horntail está voltando. Alguém precisa impedí-lo, embora nós, Halflings, não sejamos guerreiros. Algum herói...



—Eu posso ir.



—Você? — a idéia pareceu assustá-lo — É muito perigoso. Você não parece forte o bastante. No passado, Horntail foi páreo para o Dragão dos Nove Espíritos, o mais poderoso de todos os dragões, na época em que ainda havia dragões bons e honrados à vista da floresta. Se for até lá, ele irá devorá-lo. Não, é melhor outro, ou talvez se você treinar bastante...



Aphanyus saiu dali instantes depois e adentrou a floresta para fazer o que tinha dito aos cavaleiros que faria. Caçou e encontrou uma espécie de besouro gigante do tamanho de uma ovelha, com um longo chifre bifurcado na testa O bicho era agressivo e tentou atacá-lo. Aphanyus era rápido demais para ele, e passou-lhe a espada três vezes. Quase metade do HP foi perdida e Aphanyus arrastou a espada no chão, friccionando a ponta e liberando uma bola de energia ao mesmo tempo em que saltava para golpear. A Experiência foi boa, e os mesos também.



Pensou em entrar mais pro meio da floresta, mas o próximo monstro que encontrou foi uma trupe de bolas de pêlo que lhe chegavam nas pernas. Elas pulavam e eram enganosamente rápidas - duas conseguiram esmagá-lo entre si, deixando-o desconcertado por um instante. Escapou com um pulo e surpreendeu-se quando cinco dos monstros pularam com ele. Conseguiu atacar um, mas outro lhe acertou as pernas e o terceiro espatifou-se em sua barriga.



Aphanyus por pouco conseguiu fugir, e deu de cara com uns cinco besouros. Acabou com os três com golpes rápidos de espada.
























































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