O Refúgio Online escrita por Nedhand


Capítulo 3
Capítulo 47




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Edelstein era realmente uma cidade grande.



Os últimos minutos de sol ainda brilhavam no horizonte, criando sombras escuras ao longo dos prédios. Praças espalhavam-se por toda parte junto com casas, lojas, academias, templos, canos de esgoto, campos de flores e barraquinhas de feira, tudo ligado por ruas que serpenteavam como cobras, levando a becos sem saída e a vilas com quatro saídas. De forma bizarra, ao mesmo tempo que a cidade parecia enorme e cheia de coisas, também era muito espaçosa, e todo lugar era amplo o bastante para servir de campo de batalha. Seria mesmo um pandemônio tentarem encontrar a prefeitura no meio de toda aquela bagunça.



A Softower e a Guardaforte foram os primeiros clãs a chegar, perdidos no meio da ampla cidade. Arapucas eram ativadas em todo lugar e lançavam todo tipo de coisa: cortinas de fumaça, líquidos ardentes, pelúcias que grudavam no corpo e inchavam, pesando e prendendo o jogador. Uma regra de ouro foi criada assim que pisaram no asfalto: ninguém deveria se separar. A regra foi quebrada antes dos dez minutos, quando as armadilhas começaram a ativar-se por toda parte.



Estavam escondidas em buracos das ruas, na escuridão de becos ou nos vasos de flores. Precisavam ter cuidado com elas, embora a maioria das armadilhas não matasse ou incapacitasse, apenas dificultava o avanço.



E havia também, é claro, o problema de que todo jogador parecia achar que o outro estava um passo mais avançado que ele. Por isso, sempre que duas pessoas de clãs opostos se encontravam, a luta era inevitável.



Cinco membros de um clã conseguiram ficar juntos. Lutavam contra alguém que usava lança da Sunrise of Astoria, sozinho mas com golpes rápidos; dominou três quase que com facilidade. Um dos outros dois, também usando uma lança, soltou um grito e um rugido, que reverberou ao redor - conseguiu desequilibrar o adversário e cravou a lança em seu peito, empalando-o e erguendo o corpo do chão.



—Morra, Italo! — ele disse num sorriso feroz enquanto mantinha o oponente no ar, sustentado pela lança. O sorriso mudou e seus olhos se arregalaram ao sentir algo penetrar-lhe as costas.



—Boa tentativa — falou um outro lanceiro atrás dele, enquanto puxava a lança azul — Mas esse aí é o Luisao.



Luisao sorriu quando o guerreiro caiu, por pouco não ativando o bônus de defesa e velocidade. Resolveu deixá-lo ir embora, mudou de idéia e atacou, mas o rapaz foi mais rápido e escapou, correndo como nunca correra na vida. Luisao deu de ombros.



—Vile Slayer ficou lá fora fazendo o mapeamento da cidade — disse ao líder — Ainda estamos esperando por ele.



—Sei disso, se fui eu que mandei ele fazer isso — Italo respondeu — Bom, vamos precisar desses mapas, não dá nem pra sair daqui se quisermos. Você viu o Zeon ou a Leslie por aí?



—Vi eles um milhão de vezes, mas como vou saber onde? — Luisao respondeu com um sorriso seco.



Zeon, longe de seu líder e sem ordens para receber, atacava sem moderação e fazia o que bem entendia. O HP ainda estava cheio e ele enfrentava seis de uma vez, mas era pego com frequência e era atingido por muitas magias. Quando isso acontecia, irritava-se e atacava com ainda mais raiva e menos cautela.



—Vá atrás da prefeitura — Italo lhe disse — Quando achar, fica lá até todo mundo chegar, e não sai dali.



Deixou o outro ir procurando e seguiu por uma casa trancada. Saltou um quintal e foi parar numa espécie de avenida, uma rua muito larga cheia de saídas. Ouvia os sons da luta de longe - havia um chiado por toda parte, sem dúvida causado em defesa de Edelstein e a Detecção Auditiva de todos os jogadores tinha sofrido muito com isso. Ouvia o barulho, mas não sabia discernir bem de onde vinha. Era como se todos os sons viessem de três lugares diferentes e estivessem no alto de uma montanha.



O clã que tinha mais membros juntos era a Wingeder, com onze pessoas junto a Aegan, seu líder.



—Aquele com a espada gigante e a armadura de bronze — dizia ele, em seu tom arrastado e sério de sempre — Tomem cuidado com ele. Se o virem, não comecem uma luta —depois chamou um dos seus e mandou que saísse na frente, exterminando os mais fortes que encontrasse.



Rapidamente ficaram dez com Aegan aos invés de onze quando um saiu para cumprir a ordem. O líder olhou ao redor rapidamente. Era uma figura alta e magra de rosto anguloso, uma túnica negra com luvas azuis de metal. Olhava carrancudo para tudo enquanto imaginava o que fazer em seguida. A espada cinzenta e longa permanecia atrás das costas, sem que ele fizesse menção de pegá-la.



Ele mandou que os três Gatunos fossem atrás dos demais, e que os trouxessem até ele. Aegan e os demais andariam juntos em busca da prefeitura. Eram sete sem contar o líder, dois Guerreiros, um Arqueiro, uma Maga, um Mago, um Pirata e também Imper, um anão que usava um elmo em forma de lobo e um machado grande demais para ele.



A Solaris foi a última a chegar, pois pararam no meio do caminho até que todos estivessem juntos. Depois esperaram por cerca de cinco minutos antes de entrar até Giu voltar da cidade.



—Leslie e Zeon estão juntos não muito longe das saídas, e não vejo o Italo em lugar nenhum. Não consigo ouvir as coisas, mas o grupo da Mad Shadow parece que está junto.



—O que acha, Gatts? —South perguntou a ele — Vamos direto pra prefeitura ou lutamos contra ele?



O enorme guerreiro encarava Edelstein.



—Vamos andar pela cidade. A prefeitura, o clã do Italo, vamos ao que vier primeiro.



—Espera — Thugles ofegou atrás dele. Tinha acabado de se aproximar com Tabs e Nick, depois de ter corrido muito — O Dark Corpse... tá lá... atrás.



Todos se voltaram e de fato lá estava o cara alto que ficava cada vez mais alto á medida que se aproximava. South o xingou em voz alta, e Gatts, mais baixo.



—Vamos rápido, antes que ele nos alcance. Quem puder colocar alguma armadilha, coloque agora. Vamos precisar de todos lá dentro.



Liderou-os por uma abertura entre duas casas que dava acesso a uma praça de entrada. Gatts foi o primeiro a chegar, seguido por Kiara, Anna e os guerreiros, e quando Donnie foi entrar, uma mulher pareceu materializar-se diante dele.



Estava toda vestida de preto com branco, e uma máscara negra cobria os olhos, que o olhavam com severidade através de buracos. Donnie derrapou ao parar, quase se chocando contra ela.



—Claudine... — reconheceu.



—A Resistência não pode ser vista em ação na cidade — a mulher o interrompeu, irada. Donnie pareceu ter levado um soco.



—Eu preciso entrar, pra impedir que... — mas Claudine o interrompeu outra vez:



—Você é membro da Resistência, Donnie. Não podemos ser vistos abertamente dentro da cidade. Quer que os Black Wings saibam de nossa existência? Saia daqui — o olhar dela era frio, irritado e sem nenhuma piedade. Ela puxou uma adaga de uma mão enquanto a outra segurava uma shuriken. Começou a caminhar na direção de Donnie, que cambaleou para trás ao recuar.



Não havia tempo; ele teria que arranjar outro jeito de chegar na prefeitura, e fez sinal para que os outros continuassem. Quando Donnie ficou bem fora da cidade, Claudine desapareceu. Praguejando baixinho, resolveu ser útil de outra maneira.



Afinal, dividir o inimigo era uma excelente tática, e ainda havia uma última pessoa que não tinha entrado na cidade.



—Todos fugiram de medo — Dark Corpse gritou de longe, seu sarcasmo chegando com ele — Só sobrou você, Donnie? Que pena. Podia ter chamado mais alguns dos seus amigos...



Donnie apareceu subitamente diante dele, e Dark Corpse moveu-se rápido como uma pantera. No entanto, seu cajado o acertou duas vezes no peito, e quando o pistoleiro conseguiu se livrar, Donnie surgiu atrás dele e o atacou várias vezes.



Dark Corpse girou habilimente e atirou nele algumas vezes, mas as cajadadas eram mais forte que as balas. A mão de Donnie subia e descia, de um lado para o outro, e a madeira tocava o corpo de Dark Corpse tantas vezes que ele sentia que enfrentava uma metralhadora. Um de seus pulos era mais rápido, como uma corrida fugaz, mas Donnie o trouxe de volta com correntes. Quando Dark Corpse jogou uma bomba de fumaça e correu, Donnie conjurou uma aura amarela ao redor de si e pôs-se a seguí-lo a uma velocidade surpreendente.



E ainda tinha seus teleportes, suficientes para escapar de qualquer disparo. Dark Corpse nem invocara o polvo, e suas bombas e tiros não eram mais eficientes. Sempre que conseguia se afastar, Donnie estava de novo diante dele atacando seus braços e suas pernas, desamparando-o e prejudicando sua corrida. A única forma de lutar era atirando nele à curta distância, mas em pouco tempo seu HP já havia descido um bom pedaço. Quando ao de Donnie, a aura azul que agora tinha ao redor dos pés parecia protegê-lo, pois seus tiros mal o arranharam.



Dark Corpse se viu atirando para o céu várias vezes, com balas que deixavam um rastro vermelho no ar como fogo iluminando a noite. Atirou com as duas pistolas no chão e pareceu planar no ar enquanto caía, com Donnie esperando abaixo de si. Mas, quando chegou ao chão, deitou-se de costas e desferiu um violento chute em seu rosto com a longa perna direita, depois girou-se pela cintura e o acertou de lado com a esquerda. Atirou assim que ficou de pé, mas logo Donnie se recuperou quase sem parecer sofre danos.



—Você ficou forte — Dark Corpse forçou-se a admitir num resmungo contrariado — Eu tinha me esquecido que você é um mago guerreiro. Não tem problema, mato seus amigos e recupero meu cavalo com a Honra deles.



Donnie tentou impedir, mas Dark Corpse tinha se colocado habilmente entre ele e a cidade, e já se aproximava de Edelstein. Em seu lugar vinha um garoto menor, todo vestido de azul-claro com um capacete ornamentado à moda samurai. A bainha da katana estava vazia, a katana segura na mão.



Era Evil Corpse, Rakyaat, o espadachim de cabelos loiros e rosto juvenil. Donnie lembrava-se dele, de quando o enfrentara em El Nath. Não disse nada, e Evil Corpse também não respondeu.



Ele parou a uma boa distância, observando, planejando. Donnie via seu rosto fechado, calmo como água parada. Esperou. Não podia entrar na cidade de qualquer maneira; Rakyaat que o atacasse, se quisesse.



Esse pensamento durou quase meio minuto antes de Donnie perder a paciência e atacar. Correu depressa, não o máximo que podia, a aura azul de proteção rodeando seus pés com símbolos e monoglifos. Quando estava a uns cinco metros, teleportou-se, aparecendo num ponto à esquerda de Rakyaat, longe do braço da espada, e mirou o peito.



A katana subiu como água escorrendo sobre o vidro, e interceptou o golpe muito antes que chegasse. Donnie mudou a direção saltando para a direita e Rakyaat virou o corpo junto com ele, apontando a katana para baixo e mantendo-a paralela ao corpo. A madeira a atingiu sem causar danos. Donnie avançou pelo outro lado, e o espadachim aparou o golpe.



Rakyaat ficou de lado e iniciou uma sucessão de ataques rápidos, ainda mais que os de Donnie, com a katana brilhando num azul mais forte que o aço do qual era feita. Donnie sentiu os golpes mais fortes, também mais rápido, e precisava mexer mais o braço do cajado. Segurando no meio da madeira, defendia-se girando o pulso e levando a metade superior do cajado para interceptar o gume de Rakyaat, mas um dos golpes ele não conseguiu prever e foi arranhado no peito pela lâmina.



Donnie recuou, grunhindo. Doera mais do que qualquer outra espada. Manteve-se firme em sua posição e mudou a aura azul para roxo escuro, quase preto, girando no chão. Lançou-se num rodopiar de cajado. A luz roxa parecia um relâmpago enquanto se movia; a espada de Rakyaat também, uma lâmina azul que brilhava acesa na noite.



Donnie atacou seus ombros, depois as pernas e por fim a barriga, então girou para colocar mais força no golpe e bateu com o cajado com toda a sua força. Rakyaat bloqueou o golpe e no mesmo instante Donnie girou para o outro lado, mirando a direita de Rakyaat, mas teletransportando-se para a esquerda. A madeira atingiu o flanco com um baque surdo, e Donnie não tirou o braço rápido o bastante para evitar o golpe de resposta.



Rakyaat inverteu a posição do gume e desferiu uma cortada à frente. Donnie desapareceu dali com facilidade. Voltou para atacá-lo, mas desta vez, o garoto se manteve firme e se defendeu quase que com a ponta da katana, mantendo o oponente o mais longe possível de si. Sua katana tinha maior alcance, já que Donnie segurava o cajado quase no centro da haste, e percebeu que o mago procurava manter a distância entre eles o menos possível. Assim sendo, não deixou que ele se aproximasse mais.



Donnie tentava várias táticas, como teleportar-se para um ponto atrás dele e para o lado. Rakyaat então girava rapidamente e a katana aparava o golpe. Quando Donnie tentava uma pancada lateral, a katana ficava em pé e bloqueava. Uma vez Rakyaat deu um golpe com as duas mãos no cabo da arma, vindo por cima, e a força foi tamanha que derrubou o bloqueio de Donnie. Em seguida, Evil Corpse o cobriu de cortadas da katana, e exatamente um instante de Donnie se teleportar, enfiou-a na sua barriga até a ponta do cabo.



Donnie tinha baixado demais a guarda e agora se via encarando os olhos azuis de Evil Corpse, sua expressão concentrada e zangada enquanto a mão quase tocava seu corpo. Donnie nada conseguiu fazer senão observar impotente quando Rakyaat fechou os olhos, respirou fundo e fez o mundo sumir e virar um nada de luz azul. Donnie só enxergava a luz por um tempo não maior do que um segundo, mas sentiu como se cem cortes o tivessem atravessado. Sentiu-se atingido várias vezes e quando caiu, o azul se transformou em trevas e depois no verde da grama onde caíra.



Levantou-se com dificuldade, enquanto à sua frente Rakyaat estava parado, a katana pronta, sem atacar. Donnie hesitou por uns dois segundos e o surpreendeu usando uma magia rápida de cura. E então apareceu na frente dele. Agora era como se Rakyaat tivesse duplicado a velocidade dos golpes, que punham o braço e o pulso do rapaz para trabalhar ao bloqueá-los.



"[i]Ele não sabe que eu não posso entrar na cidade[/i]", Donnie pensou e teletransportou-se para ficar atrás do rapaz. A katana girou em defesa, mas nenhum golpe veio. Donnie corria em direção à cidade.



Iria desviar da entrada assim que chegasse perto o bastante, e não viu que o espadachim estava parado, quieto, a katana apontada para ele... E então avançou, cortando a distância entre eles como um relâmpago, e Donnie sentiu uma mão nas costas antes que pudesse fazer outra coisa. Rakyaat o girou pelo ombro e passou o gume da espada por ele. Donnie sumiu, apareceu em outro lugar, e lançou-lhe correntes, que Rakyaat quebrou com um golpe quando chegaram perto dele.



Donnie apontou a ponta rombuda do cajado para o chão. Fê-la brilhar mais roxo do que antes, clareando, até se tornar branca numa uma cortina de pontas negras e seu teleporte seguinte o deixou bem ao lado de Rakyaat, acertando todos os oito golpes que desferiu. O penúltimo foi no queixo, o ultimo foi um giro e uma pesada pancada no peito e outro giro, que criou um disco de serra que atravessou Rakyaat. Atacou mais três vezes numa perna e na mão da espada, depois bateu violentamente em sua barriga até que deu uma pancada particularmente mais forte, seguida de uma rasteira que o derrubou no chão.



Rakyaat caiu pesadamente, ativando seu bônus de defesa e velocidade. Donnie deu uma rápida olhada e se virou para tentar achar um jeito de entrar na cidade.



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A luta seguia na cidade, contra os clãs e contra a própria cidade. Bombas estouravam em toda parte, o chão ficava coberto de cola e macacos selvagens saiam de casas, batendo e mordendo. Os Bruxos se sobressaíam mais nessa parte, usando fogo e eletricidade para acabar com eles. Mas não podiam fazer nada quanto às pedras que caíam, às lanças de madeira e dardos misteriosos, nem às redes que vinham de todo lugar.



South, Zeru e Anna lutavam juntos, a menina protegendo-os enquanto os dois atacavam. Formavam uma bela dupla de guerreiros, protegendo-se os flancos mutuamente com pouca necessidade de comunicação. Zeru era mais forte e South, mais ágil e esperto. Anna tinha feito um círculo de fogo ao redor deles, com paredes que se erguiam a cinco metros e pareciam assar tudo lentamente. Seus dois companheiros nada sentiam, mas os adversários sim. Ficavam meio cegos pelo calor sem fumaça e seu HP descia por causa do calor e das espadas.



Kash e Noctolia estavam muito juntas, no meio de Tabs, Thugles, e Nick. As flechas das arqueiras acertavam pontos críticos nas pessoas, ou explodiam e criavam nuvens escuras de fumaça. Thugles sentia-se feliz por não precisar entrar muito em ação, enquanto à sua frente Nick e Tabs mostravam-se um bom par de magos. Eles escolhiam adversários que já estivessem lutando, ajudavam um deles e depois lutavam contra o vencedor. Nick lutava contra um Mago do Fogo e do Veneno, aparecendo no meio da nuvem de fumaça tóxica como se não ligasse para ela. Dois foram para cima de Tabs, que inchou as bochechas ao prender a respiração e foi engolida pela terra. Seus dois adversários piscaram, confusos, e um pilar de terra surgiu abaixo do primeiro e o jogou longe, depois explodiu e as pedras acertaram o segundo. Tabs saíra do meu do pilar sorrindo travessamente, ajeitando os óculos. Fez surgir uma pedra do tamanho de uma roda de trator e esmagou a ambos.



Quando ela se virou para Nick, deu de cara com um garoto de pele morena, vestido de preto e boca coberta.



—Oi, menino — ela cumprimentou alegremente. Teletransportou-se para atrás dele e levantou o cajado. Emitiu um gemido de surpresa quando ele se virou, enfiando-lhe duas espadas, uma na coxa, outra na barriga. Manteve-a assim por alguns segundos, depois puxou as armas e as cruzou como uma tesoura no pescoço da garota.



Tabs caiu ao chão e por muito pouco não morreu. O menino já avançava para Nick, que estava de costas e ainda não o tinha visto. As espadas levantaram-se, mirando as costas. Correu...



E de repente, Nick havia sumido e o rapaz sentiu frio. Atrás dele, Nick o atacou com uma sucessão de Garras Gélidas enquanto se cobria de gelo, explodindo e fazendo lascas congeladas voarem. Elas atravessaram o manto preto do garoto com facilidade.



Ele deu meia-volta e viu uma tempestade de relâmpagos chegando. Pôs as espadas entre ele e o céu, e foi como se um escudo invisível o tivesse coberto. Depois, estava em cima de Nick. A primeira espada foi em seu pescoço, a segunda lhe rasgou a barriga e a primeira atravessou o crânio.



Nick caiu, tinha menos defesa que Tabs, mas o outro tinha sido mais cuidadoso dessa vez. Deixara Nick com um traço do seu HP restando na barrinha. Deu um displicente golpe com a ponta de uma espada, quase de leve, até se certificar que o bônus de defesa se ativasse. Depois desapareceu e sumiu por uma construção.



Giu foi quem os viu primeiro.



—Tabs! — ela gritou ao ver a menina caída. Correu a ampará-la, estava desacordada, não se movia. Depois viu Nick pondo-se de pé e correu até ele: — O que aconteceu? Foi o...?



—Me larga — Nick afastou a mão dela e se levantou de um salto — Foi um cara preto de duas espadas. Avise os outros, eu vou atrás dele.



—Como assim...? — mas Nick a deixou cuidando da garota e seguiu por uma viela, de dentes cerrados.



Nick passou por uma batalha entre quatro dos que usavam túnicas vermelhas e um pessoal da Guardaforte, mas ninguém pareceu notá-lo. Viu uma velha igreja não muito bem conservada, passou por um jardim de flores silvestres, uma plantação de melancias, uma escola de paredes altas e uma grande torre. Passou até pela [i]prefeitura[/i], mas nem reparou nela. Procurava o rapaz preto, queria encontrá-lo... e encontrou.



As costas de Nick foram ao chão, e se viu encarando um rosto moreno, de olhos castanhos e máscara na boca. Os cabelos estavam desalinhados por baixo do capuz, negros como a noite atrás dele.



—Tá querendo morrer? — ele disse numa voz jovem — Dei uma chance pra você lá atrás. Deixa eu te pegar de novo, e não vai ter defesa extra pra você.



Tão rapidamente quanto surgiu, ele o deixou, e Nick nem chegou a ver o gume que o cortara, mas que mandou mais de um quarto do seu HP restante embora. Aquele rapaz era insanamente mais forte, não havia como. Bebeu uma poção de HP e viu que não fez efeito, tentou mais três e somente então pareceu se lembrar que a proteção de defesa e velocidade tinha sido ativada. Ele deu um meio grito onde colocou raiva, frustração e desespero, e pôs-se a correr de volta para a base.



Longe dali, seis pessoas que vestiam negro andavam pela cidade em busca da prefeitura.



—Estive pensando, e se for uma dessas casas? Nenhum de nós sabe como a prefeitura é — o mais velho, Andaral, sugeriu para sua líder de grupo. Ela não respondeu, antes disso uma outra menina comentou:



—Do jeito que está a cidade, é bem capaz de a prefeitura ser num chiqueiro. Edelstein é tão estranha que não tem nenhuma organização, olhem só pra essas coisas!



—Edelstein é forte — corrigiu-a Andaral — Tanto que eles conseguiram [i]mudar[/i] as construções de lugar para dificultar nossa tarefa. Eu já estive aqui antes, faz tempo, mas tenho certeza de que não era assim. A prefeitura ficava mais no centro... Mas não lembro bem como ela era. Era branca, eu acho.



Xaniqua bufou.



—Fique na frente de uma parede. Se ela contrastar com a sua roupa, é a prefeitura — zombou — Além disso, não faz muito sentido nós procurarmos. Como o pessoal vai nos encontrar depois?



Mad Shadow, a líder, virou-se para ela e sorriu com aquele olhar perverso.



—O Italo pode se comunicar comigo... Confiem em mim. Eu não posso começar a falar com ele, mas ele pode começar a falar comigo. Quando acharmos, ele vai descobrir que achamos e me chamar. Ele sempre descobre tudo.



—É um saco — um outro admitiu, resmungando.



Passaram por mais casas do que podiam contar, todas elas trancadas por dentro. Tentaram bater em algumas, mas parecia que não podiam ser abertas, e ninguém queria perder tempo sem ter certeza se as portas eram ou não Objetos Indestrutíveis. Mas houve um momento em que passaram por um pequeno grupamento de casas, quase na borda da cidade, casas brancas com uma construção maior perto do centro. Esta era pintada de vários tom de azul, e as portas de madeira estavam firmemente trancadas como as outras, mas Mad Shadow sentiu algo estranho. Talvez fosse sua Detecção, talvez um instinto... ou simplesmente porque achou a casa bonita.



—É aí a prefeitura? — perguntou Andaral. Mad Shadow sacudiu a cabeça.



—Tenho certeza que não...



Ela se calou e pôs-se a destravar a porta com uma gazua metálica e um pequeno bastão de ferro. Concentrada, em meio minuto a trinca estava aberta. Abriu-a. Lá dentro estava tão escuro quanto lá fora, e o espaço parecia menor do que imaginaram. Alguém jogou uma bola de luz lá dentro, que flutuou e revelou um galpão vazio, onde duas dezenas de pessoas se encolhiam, nervosas.



Um homem resolveu fazer o papel de porta-voz, aproximando-se com uma espada.



—Alguém nos trancou aqui... Provavelmente um dos invasores. Não sei dizer quem. Estamos salvos — ele se virou para os demais, que levantaram-se de armas nas mãos — Estávamos presos aqui.



—Agora estão livres — Mad Shadow sorriu para eles.



—Foi o antigo prefeito — gritou um homem de lança — Tenho certeza! Eles acharam que seríamos fracos e nos deixaram aqui!



—Vocês são os verdadeiros senhores de Edelstein — reconheceu outro — Deixem-nos irem com vocês, e os escoltaremos até a prefeitura. Chame seu líder... e o levaremos para lá.



—Ora, mas que legal — Mad Shadow olhou para seus companheiros e sorriu.



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Pela cidade, Gatts liderava seu clã contra os outros. Giu havia se distanciado, atrás da prefeitura, enquanto Rockfield entrava nos grupos de vez em quando, para dar-lhes Agilidade. Ele também os salvava algumas vezes quando alguém estava para atacá-los pelas costas, ou impedindo um Mago de conjurar uma grande explosão.



South, Anna e Zeru andavam juntos. Os dois guerreiros ficavam lado a lado, protegendo-se mutuamente enquanto enfrentavam três e até quatro de cada vez.



Zeru era cauteloso, movia-se somente quando necessário e atacava quando via uma brecha, não mais. South movia os pés descalços pelas pedras do calçamento em investidas, cortadas e estocadas, pondo sua espada para trabalhar. Fazia graça e troça com os oponentes, enfurecendo-os e atraindo-os para que defendesse com o pequeno escudo redondo e os apunhalasse com a espada. Sem nenhuma habilidade especial já que era Aprendiz, ele tinha que confiar somente em seus golpes e na perícia com a arma.



Anna causava certa apreensão com sua armadura de Imperatriz do Fogo. Seu cajado disparava bolas de fogo que explodiam, criava cortinas de fogo, fazia lanças flamejantes choverem do céu na direção de um único ponto. Quando se teletransportava, criava um vácuo que atraía calor e causava uma pequena explosão. Seu cajado parecia uma enorme tocha cujo ornamento da ponta lembrava uma meia gaiola pegando fogo, e ela podia fazer com que ele soltasse fumaça, espalhando-a, negra e cheia de fuligem, ardendo os olhos e fazendo os inimigos tossirem. Também tinha um fogo divino, que curava e conferia um dano mágico extra às lâminas.



Kash e Noctolia também estavam juntas. Ficavam o mais longe das lutas que podiam, e quase ninguém prestava atenção nelas. Ambas eram rápidas com as flechas, atingindo pessoas em pontos críticos e deixando-as se perguntando o que era a dor pinicante que de repente sentiam no ombro ou no peito. Às vezes as flechas explodiam para ajudar seus amigos a enfrentarem um inimigo particularmente difícil, ou chegavam em dez de uma vez. Quando as duas usavam essa habilidade ao mesmo tempo, parecia que uma chuva caía sobre os inimigos. Arqueiros eram muito raros - se todos eles se juntassem num único clã, ele seria menor do que a Solaris.



A luta se concentrava ali, mas havia também os que se aventuravam sozinhos, ou em pares. E tinha também um rapaz quieto com um manto negro e boca coberta, que encontrava os solitários e os enviava de volta para suas bases. Ele usava suas duas espadas tanto para atacar como para defender, cruzando-as, usando uma como escudo, apunhalando com a outra. Quando era atingido, pouco HP era perdido.



Depois de vários minutos vagando sem encontrar mais ninguém, achou seu líder lutando contra uns vinte guerreiros de Edelstein, todos vestidos de armadura.



—Ah, Mix! Uma mãozinha aqui seria boa — lembrou Aegan. A túnica dele fazia dobras no chão e era de um preto mais escuro que as roupas de Mix. A espada era cinza, longe e de dois gumes, e as luvas eram de um azul brilhante. Embora seu bronzeado rosto magro não estivesse bem-humorado enquanto falara, ele não parecia precisar de ajuda. Frustrava qualquer golpe ao levantar a espada, abrindo a guarda inimiga para atingí-lo. Se alguém viesse pelas costas, ele fazia um meio círculo que soltava bolhas vermelhas, causando dano e recuperando o pouco HP que perdia. Mas Mix saltou por cima dele e rodopiou no ar, as espadas ao lado dele brilhando como numa roda com ferrões. Caiu como um pneu abrindo uma larga linha nos lutadores, girando o corpo ao ficar de pé e matando os que estavam ao seu redor. Aegan deu cabo dos último que restavam e olhou para ele.



—Achei esses numa mansão que pensei que fosse a prefeitura. Eles me atacaram então. Achou alguma coisa?



—Só uns desgarrados que despachei pras bases — o rapaz balançou a cabeça.



—Continue procurando. Fique de olho na prefeitura e avise aos mais rápidos pra procurarem também. Se achar a prefeitura, aumento cem mil no seu pagamento.



—Vou achar — Mix garantiu.



Quando ele saiu, Aegan foi procurar e acabou por seguir sons de luta até boa parte do seu clã, onde lutavam contra a Solaris e os outros. Sorriu por dentro ao ver que a máquina de bronze não estava com eles. Convocou suas habilidades de suporte e juntou-se a luta.



A "máquina de bronze" não estava lá, pois tinha se distanciado ao pisar numa armadilha. Ele e Kiara foram parar numa outra parte da cidade quando fugiam da fumaça, e depararam com uma dezena e meia de pessoas que o cercavam. Eram jogadores, havia Guerreiros de armadura, Bruxos com túnicas, varinhas e cajados e mesmo dois Arqueiros, sendo que um deles usava uma cabeça de cavalo.



—[i]Hue[/i]mpestade de flechas! — comandou. Com as flechas, que subiam no céu para cair de volta, todos que os rodeavam gritaram e berraram, e avançaram com as armas na mão enquanto Gatts imbuía a arma com gelo.




























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