Eu mal podia acreditar.

Ele estava mesmo me beijando! Deus! O calor dentro do meu coração estava prestes a ser comparado a uma supernova. Aquele garoto Quileute, que passou cada segundo de minha curta vida ao meu lado finalmente era meu.

Eu não iria chorar, não desta vez. Chega de lágrimas! Mesmo que a felicidade as quisesse fazer rolar, eu impediria, pois, ao meu ver, elas eram sinal de tristeza, e com Jake ao meu lado, nada poderia me fazer infeliz.

Perdi a noção do tempo, e só percebi que ficava tarde quando o sol teimava em desaparecer, e dar lugar à linda escuridão da noite. Perdemos a tarde inteira no bosque, e eu jurava que foram apenas alguns minutos. Por isso dizem que quando a gente se diverte o tempo voa. Pelo menos a minha contagem de tempo era eterna.

Dei um salto do chão.

-Temos que ir! Ou Edward vai arrancar nossos pescoços fora! –falei apavorada, afinal, eu ainda estava de castigo, e tentava fazer tudo certo para sair mais rápido.

-Tudo bem, mas me responda uma coisa antes, Ness.

Ele segurou meu pulso com força, para que eu não disparasse pela floresta outra vez. Sorri ao notar o olhar de alguém que implorava por uma resposta. O que eu podia fazer? Não conseguia negar nada a ele. O puxei, fazendo-o ficar de pé na minha frente.

-Diga. –falei.

-Mesmo com tantas diferenças... Sabe, nossas raças são rivais, e apenas aqui em Forks vivemos em paz, isso graças a intervenção da Bella e do seu nascimento. Então, você vai correr riscos estando ao meu lado, pois o que vamos fazer é completamente proibido... E...

-Desembucha, Jacob! Pare de enrolar. Correr riscos está na minha natureza, assim como preferir a noite ao dia. Entenda, não importa o que esteja nos cercando, eu nunca vou desistir de você porque os Volturi ou sei lá quem podem decidir vir tirar satisfações.

Ele sorriu, mas dava para ver a preocupação em seu olhar. Jacob sacudiu a cabeça, provavelmente tentando se livrar dos pensamentos estranhos em relação ao perigo eminente que estaríamos daquele instante para frente.

-Tudo bem... Então... Você vai querer ser minha namorada?

Ergui uma sobrancelha, essa cena toda era só pra perguntar isso? Às vezes Jacob era bobo feito uma criança, como se não soubesse que namorar ele era tudo que eu mais queria na minha vida.

-É claro, bobo. Não faça perguntas quando já sabe a resposta! –sorri.

-Tudo bem. Só vou perguntar outra coisa assim quando você estiver prestes a se tornar a senhora Black.

Franzi a testa e mordi os lábios. Me tornar a “senhora Black” era verdadeiramente um sonho, contando que não fosse nada exagerado. Quando eu era pequena gostava de chamar atenção para o que conseguia fazer, como quando andei pela primeira vez. Mas hoje em dia, prefiro ficar quieta e deixar meus poderes estranhos longe do alcance das pessoas.

Não percebi que minha reação havia magoado Jacob. Eu apenas estava pensando na festa gigantesca que a tia Alice arrumaria para nós, e eu realmente não queria nada daquilo. Claro que explicar para ele que era apenas isso, e que obviamente eu adoraria ser a tal “senhora Black”. Mas acho que depois de alguns beijos ele, enfim, acreditou.

Estar com Jake era a melhor coisa do mundo, e ainda por cima tê-lo como namorado parecia surreal demais para alguém destinada a se meter em confusões, como eu...

Enfim, chegamos em casa. O olhar de meu pai fez com que eu recuasse de medo, mas Jacob continuou tranqüilo, coçou os cabelos e entrou em casa, como se nada tivesse acontecido. Tive a sensação que ele estava torturando meu pai mentalmente, com as cenas do beijo em sua mente, pelas caretas que o leitor-de-mentes-Cullen estava fazendo. Achei engraçado aquilo, mas estava um pouco assustada para tentar brincar.

-Pois fique mesmo, saibam que eu não estou gostando nada dessa história. Escute aqui cachorro, se você ousar perder a linha eu vou decepar sua cabeça! –Edward ameaçando? Deus, onde este mundo vai parar?

-Edward, pare, está agindo como uma criança. –mamãe segurou o braço dele, e pela primeira vez, Edward continuou duro feito uma pedra, ao invés de derreter como faria normalmente.

-Criança, Bella? Nossa Nessie só tem seis anos e esse cachorro fedorento já está roubando-a de nós!

Ouvi um estouro de risada. Emmett estava assistindo a um jogo de beisebol, e quase morreu de rir com a frase de Edward, tive que me controlar um pouco também, e Jacob acabou virando o rosto para não gargalhar. Me concentrei outra vez.

-Pai, eu tenho seis anos, mas a mente e o corpo de dezessete! –protestei.

-Mas eu não quero que ela acabe machucada.

Ele olhava para mamãe, implorando para que ela concordasse. Machucada? O que ele queria dizer com isso? Torci o nariz e o olhei irritada, aquilo estava sendo ridículo da parte dele, me tratar como um bebê e Jacob como se fosse uma pessoa ruim.

-Pare com isso pai, está sendo ridículo.

-Nada! –tia Rosalie apareceu nas escadas. –Acabe com a raça desse pulguento, Edward, coloque-o pra correr e ficar bem longe da Renesmee!

Olhei feio para ela, que abriu um sorriso convencido. A rivalidade entre vampiro e lobisomem continuava bem forte entre estes dois.

-Edward, você sabia o tempo inteiro que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer, você lê a mente de Jacob, sabe que os sentimentos que ele tem por sua filha são os mais lindos possíveis. –vovó Esme e sua voz de mãe fizeram papai recuar.

-Mas namorar um lobisomem é perigoso! Pelo amor de Deus, todo mundo aqui sabia o quanto eu ficava preocupado quando Bella estava com eles, e agora minha filha, a única para todo sempre, vai viver para sempre com um deles? –ele continuava com a voz desequilibrada.

-Papai, pode dar o chilique que quiser, você não vai evitar nada. –respondi malcriada, e seus olhos arderam de raiva.

-Ah, Renesmee Cullen, continue assim e você vai passar um ano inteiro longe de La Push! –ele rosnou, e eu fiz bico.

-Pare com isso, Edward, lembre de todas as coisas que Jacob fez por sua filha, ele sacrificou esses últimos seis anos para ficar ao lado de Nessie. Você sabe que ninguém vai cuidar dela melhor que ele, Renesmee sempre estará segura ao seu lado, pois ele perderia tudo para fazê-la feliz. –Carlisle, como sempre, a voz da sensatez! Ah, vovô, o senhor não sabe o quanto eu te amo!

-Tá, chega disso, você pode falar o que quiser, Edward, eu não me importo, se quiser me bater ou me expulsar, pode tentar. Mas saiba que eu só irei embora quando a Nessie me mandar. Eu nunca vou deixá-la, a não ser que ela mesma me peça. –disse Jacob, meu peito se encheu de felicidade.

-Eu nunca vou te querer longe, meu amor.

Eu respondi num sussurro, tia Rosalie fez um som estranho, como se estivesse vomitando. Fiz bico outra vez, e segurei o braço musculoso de Jacob contra meu corpo, batendo o pé firme no chão e mostrando para meu pai, que eu jamais o deixaria ir, a não ser que fosse comigo nas costas. Edward fez uma expressão fria e preocupada. Dava para entender, por um lado, mas puxa vida, o namoro dele e da mamãe era tão perigoso, ou até mais, que o meu e de Jake, ele era a última pessoa que podia falar mal de nós.

-E você acha que eu nunca me senti culpado por colocar a vida de sua mãe em risco ficando ao lado dela? –papai respondeu meus pensamentos, e todos o olharam naquele instante. –Espero que você tenha um pouco de consciência, Jacob, e não haja por impulso com a Nessie, ela é muito preciosa para acabar ferida, ou pior.

E com esta última frase, ele deu as costas, saindo da casa, com mamãe em sua retaguarda. Eles foram para o chalé, provavelmente conversar um pouco, até que Bella decidisse ajudá-lo a nem pensar mais. Tive vontade de rir outra vez, mas apenas franzi a testa, esperando que ele não tivesse ouvido este pensamento.

Fomos andando para a cozinha. Eu ia preparar algo para Jacob comer, provavelmente o lobo estava muito mais que faminto, afinal, passou a tarde toda comigo na floresta. Pensei em algo prático, que não desse trabalho ou ocupasse muito tempo. Abri os armários, e achei a coisa perfeita, macarrão.

Comecei a preparar, e logo tudo estava ao fogo. Foi então que ouvi uma voz angelical me chamar. Tia Alice aparecera, com os olhos brilhantes e os cílios batendo lentamente. Eu sabia que ela ia me pedir ou impor alguma coisa.

-Sim, tia?

-Pode me seguir, por favor?

Assenti, parecia que o mundo começava a voltar para o eixo.

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