Sing Me To Sleep escrita por Alice


Capítulo 5
Capítulo V




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And tell me how I'm supposed to feel,

When all these nightmares become real;

'Cause I don't know

(Rise Against: Roadside)

–x-

Tínhamos uma festa de São João para ir. Eu, minha irmã e meu pai.

Era uma festa da família de meu pai, que acontece todos os anos. Com o jogo de futebol do Brasil que aconteceu mais cedo, bem, meu pai ligou e perguntou se eu iria querer ir ver o jogo com todos, e eu disse que não.

– Venha só umas cinco para seis horas - eu disse.

Então, fui tomar banho. Vesti uma blusa de xadrez azul, uma calça jeans, insisti que ia com o meu All Star para a minha mãe, "arrumei" meu cabelo da melhor forma que encontrei e pronto.

– O que você acha? - perguntou a minha irmã, Lúcia, entrando no quarto.

Ela estava linda, com aquele vestido verde e preto que um dia fora meu. Usava um par de sapatilhas e meia arrastão, também minha.

Não estava vulgar, fora de sua idade ou qualquer coisa que as crianças atuais fazem para parecer que são mais velhas. Estava apenas linda.

Minha mãe fizera uma maquiagem nela, usando tons verdes e brancos. Entrava em contraste com sua pele morena, mas ainda assim estava bonita. Sei que descrevendo assim, parece que ela estava mais velha e não sei o que - afinal, ela tem apenas onze anos -, mas... Não estava.

Minha irmã é a pessoa mais adorável do mundo. Ela é companheira, amiga, o tipo de pessoa que guarda um segredo. Alguém que eu nunca vou conseguir ser.

Não que ela saiba como eu me sinto todos os momentos.

Acho que ela e Hugo são os únicos motivos de eu não ter ultrapassado a linha entre vida e morte.

Não consigo ver como ela ficaria se eu me matasse, ou se descobrisse que corto a mim mesma. Realmente não consigo. Diferentemente de Hugo, que provavelmente se sentiria culpado por não ter conseguido me ajudar. Ele também é depressivo e não tem ninguém que o entenda.

Eu o entendo. Mas não sei se ele me entende. Isso é bem triste, na realidade.

De qualquer modo, eu fui colocar a única maquiagem que eu até uso sem precisarem brigar comigo - um simples lápis de olho - e minha mãe brigou comigo, simplesmente porque ela "não gosta dessa maquiagem".

Ela me perguntou por que eu não passava alguma sombra, um batom ou qualquer uma dessas porcarias. Expliquei pela milésima vez que eu não gostava.

Nunca expliquei a ninguém o porquê de eu não gostar de maquiagens - e é a mesma razão de eu não gostar de prender o cabelo ou "tirar o cabelo da minha cara", como dizem. Não gosto de ser vista. Não por qualquer um.

Parece loucura? Paranóia? Estranho? Bem, é a verdade.

Não é como se alguém fosse entender se eu explicasse - iriam dizer que é frescura ou qualquer merda assim.

–x-

Terminei de me arrumar mais ou menos cinco e meia. E então, simplesmente esperei por meu pai.

Coloquei um DVD de um seriado em meu computador, assisti dois episódios e meio e simplesmente cansei. Liguei para meu pai cinco vezes, e comecei a pensar que ele não viria. Mas ele veio.

Deu oito e quarenta e ele ligou para mim, avisando que estava no portão.

– Mãe! A gente tá indo, certo? - eu disse.

– Me esperem que eu vou descer pra falar com o seu pai! - ela respondeu. Senti um frio na espinha.

Por que será que todas as vezes que eles se falavam sempre, sempre dá em briga?

E aí ela desceu. E eles ficaram lá conversando tão amigavelmente quanto dois cachorros brigando.

Senti um aperto na garganta. Por que toda vez que eles brigam é assim?, eu perguntei a mim mesma. Por que eu sou tão idiota e não consigo nem me controlar?

Minhas mãos tremiam. Apertei com força, muita força, minha mão contra a parede de concreto, quase arranhando a mim própria.

Se eu estivesse sozinha ali, provavelmente começaria a chutar a parede. Mas não fiz isso. Virei para o outro lado, onde não podiam ver meu rosto, e mordi minha mão com toda a força que minha boca permitia. Virei para meus pais, ainda brigando, e minha irmã apenas observando aqueles dois adultos.

Dei a volta e entrei no carro, com vontade de xingar Deus e a vida.

– Alice? - chamou minha mãe, sua voz já levantando-se - Saia desse carro.

– A gente já pode ir? - perguntei, ignorando minha mãe,

Puxei minha irmã também para dentro do carro.

Alguns xingamentos e gritos depois, estávamos andando. Meu telefone vibrou, e olhei o identificador de chamadas.

"Mãe", tinha lá. A música Savior, de uma banda chamada Rise Against, tocava, e eu apenas ignorava. Depois de duas novas tentativas, ela desistiu e passou a ligar para o telefone de meu pai.

Quando chegamos no meio do caminho, meu pai encostou o carro e atendeu.

Não lembro de tudo o que ele disse. Mas não consigo esquecer de quando ele disse "tá vendo? É por isso que sua filha e depressiva, e tá precisando de um psicólogo!".

Me magoou muito. Não por ele ter me chamado de depressiva, mas por ele ter dito que eu precisava de um psicólogo.

Não precisava, não preciso e nunca vou precisar de pessoas que perguntam o que aconteceu, balançam a cabeça e me perguntam como eu me sinto sobre isso. Preciso de pessoas que me compreendam. De pessoas que estão do meu lado de verdade, e que me dizem o que devo fazer.

É pedir muito?

"Eu te amo" passa a soar tão mais vazio, depois de "não sei o que te dizer", "não consigo te entender" ou "não sei como você sobrevive sozinha a isso", sabiam?

E essa é só a primeira parte de como o meu final de semana foi maravilhoso.


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Notas finais do capítulo

Poisé. Foi um final de semana realmente merda, do tipo extremo.
Talvez o próximo capítulo saia hoje, ou só amanhã, ou daqui a uma semana. Quando eu arrumar coragem para fazer alguma coisa, nem que seja coragem para comer, talvez eu venha escrever.

Alice.



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