POV Edward
Já ouviram aquele ditado: quanto mais você foge do demônio, mais ele te persegue? Não? Ótimo, então eu acabei de inventar, pode colocar a minha assinatura embaixo.
Porque é isso que a mulher à minha frente é: um demônio. Morena, cabelos macios, um corpo no qual eu adoro passar a mão quando a abstinência bate, mas ainda assim, um demônio.
– Oi, Alice... - murmurei, sentindo meu corpo se arrepiar. De pavor. - O que faz aqui?
– Eu vim para o ensaio, é óbvio! - ela disse, jogando os cabelos castanhos para trás e abrindo aquele sorriso branco para mim.
– Ensaio de quê? - perguntei.
– O ensaio do desfile, querido.
Olhei para a minha mãe, que estava dentro da van me olhando com uma expressão mista de pavor, medo e desculpas.
– Sério, mãe? - sussurrei.
– Desculpe, querido... Ela insistiu tanto, e ela mesma se aprovou para entrar.
– Quase que eu chego atrasada, né? - Alice disse, andando até a entrada da van rebolando.
Ela olhou para mim, que estava em frente à porta, atrapalhando, e eu dei um passo para o lado, relutante. Minha mãe a cumprimentou cheia de beijinhos e sorrisos falsos.
Ô vida.
Me enfiei rapidamente dentro da van e me joguei em um dos bancos do fundo, ao lado de Isabella, que me olhava com uma sobrancelha arqueada.
– Sua noiva? - ela perguntou, visivelmente controlando o sorriso.
– Nem brinca. - revirei os olhos.
O caminho até o local reservado para os ensaios era a 20 minutos de distância. E foram maravilhosos 20 minutos ouvindo a Alice fazendo o ouvido da minha mãe de penico, porque a quantidade de merda que ela dizia...
No fim, eu já estava vendo que Esme não aguentava mais, e nem olhar para Alice ela olhava. Ninguém a suportava. Nem eu aguento, e olha que eu transo com ela, só para você ter uma noção.
Alice era o tipo de mulher fútil, sem assuntos saudáveis, e sem pensamentos também. Era totalmente ignorante em relação a muitas coisas, e só olhava para o próprio umbigo. Vinha de uma família de classe alta, seu pai era empresário e sua mãe era pintora. Sendo filha única, era mimada até dizer chega, e achava que podia fazer todos de capacho. Inclusive a mim.
Mas não é assim que banda toca, minha queridinha.
Eu já havia terminado com ela várias vezes. Eu nem sei porque é que tive a incrível ideia de pedir essa mulher em namoro um dia. Sério. Tínhamos 19 anos e eu achava que dava para ter um relacionamento saudável com uma pessoa que era bonita e... Bonita. Fim. Mas com o tempo você amadurece e percebe que não é assim. Agora eu sou um homem de 25 anos, sem emprego, vagabundo, miserável, sem condições de se manter sozinho, que ainda tem a mentalidade de um adolescente, MAS... Eu sei que Alice não é para mim. Para ninguém, aliás. Quem vai querer um troço desses?
Fora que ela ainda me traiu com o meu primo, como eu já contei para a Isabella. Peguei Alice na cama com ele, no apartamento dela, há 2 anos. Eu quase enfartei, mas de felicidade, afinal, era a oportunidade perfeita para dar OUTRO pé-na-bunda nela, com um motivo plausível. Mas aí, como sempre, ela não entendeu.
Céus, ela nunca entende. Eu digo com todas as letras que não a quero mais, sumo por dias, e ela continua me ligando e invadindo o meu apartamento só de roupão, sem nada por baixo. Aí eu a agarro e ela acha que só porque isso aconteceu, nós voltamos.
Claro que não. Não é porque um homem te agarra que ele quer ficar com você, cara.
Pelo o menos, não no meu caso.
– ... e foi incrível, Paris é maravilhosa. Eu tenho tanta sorte de poder ir pra lá sempre que quero! - Alice dizia, com aquele sorriso convencido.
– Tem certas horas que eu desejo ser surda, sabe. - ouvi Nessie resmungar ao meu lado, olhando pela janela.
– E eu desejo ter uma faca. - Isabella disse, com o olhar fixo no teto da van.
Chegamos ao nosso destino. Alice saiu da van como se houvesse paparazzi do lado de fora, esperando para fotografá-la. Jogou cabelo, rebolou, sorriu sensualmente. Coitada.
Saí da van com Isabella e Nessie e fui logo falar com a minha mãe.
– Pelo amor de Deus, despacha esse troço daqui. - implorei.
– Edward, é a sua namorada... - Esme murmurou.
– Até parece que você gosta dela, mãe! - falei, alto demais. Esme quase tapou a minha boca. - Diz que não tem mais espaço!
– Espaço tem de sobra, querido... Deixe-a, é só ignorar. Ok?
Bufei e assenti, inconformado. Eu realmente não queria ter que aturá-la ali...
Isabella e Nessie me encaravam com um sorrisinho no rosto. Pestes. As guiei para dentro do local, logo atrás de Esme e as outras meninas. Eram 10, no total. 11 contando com Nessie, que seria uma das modelos. Os funcionários da minha mãe já haviam arrumado tudo. Haviam montado um palco no meio do salão, um camarim atrás e todas aquelas coisas que eu nem fazia questão de entender. Na verdade, eu nem sei o que estou fazendo aqui.
Irina já estava lá, afoita enquanto ficava de olho em tudo. Quando eu vi, já estava enfiado dentro do camarim com aquele bando de mulher.
Esme mostrou para Bella o local onde ela poderia colocar o material dela. Aquela maleta gigante que mais parecia uma mala de viagem. Era realmente preciso tanta maquiagem?
– Filho, eu quero conversar com você. - Esme disse, depois de deixar as meninas tendo o que fazer.
– Pode falar.
Esme me pegou pela mão e me puxou para uma parte mais afastada. Tinha uma expressão agoniada.
– O que foi, mãe? Aconteceu alguma coisa?
– Você está se alimentando direito, querido?
Ai, pronto.
– Sim, mãe... - murmurei.
– Mesmo? Não está mentindo, está?
Sorri.
– Não. Eu estou bem, mãe.
Ela suspirou, passando a mão nos cabelos.
– Seu pai é tão severo às vezes... - ela murmurou, mais para si mesma. - Tudo bem que você também não é nenhum exemplo de inteligência e força de vontade, mas caramba, como você vai se manter direito enquanto não arruma um emprego? Eu fico tão preocupada, filho. Ele deixou dinheiro suficiente?
Suspirei, mordendo o lábio inferior. Na realidade, 2 mil não adiantaria de muita coisa, nas minhas condições. Eu precisa comprar algumas coisas para o apartamento, e para mim também. E 2 mil na minha mão some fácil.
– Acho que durante esse mês eu não passo fome. A partir do mês que vem... Bom...
Esme arregalou os olhos e eu pensei que ela fosse cair dura ali mesmo.
– Ai meu Deus, o que aquele homem tem na cabeça?!
– Fica tranquila, mãe. Eu vou arrumar um emprego logo, ok?
Ela suspirou, e ia falar mais alguma coisa, quando seus olhos desviaram para algo atrás de mim. De repente, ela crispou os olhos e sorriu de forma esquisita.
É para eu ficar com medo?
Olhei para trás e apenas vi um grupo de homens. Eram os outros modelos da agência que iriam desfilar no evento também. Olhei para volta para a minha mãe, e agora ela me olhava de forma psicótica.
– Você tá bem? - perguntei.
– Como eu não pensei nisso antes? Você é perfeito! - ela disse, batendo palmas para si mesma. - Você irá desfilar para mim, Edward!
Dei uma risada, balançando a cabeça negativamente, enquanto minha mãe assentia freneticamente à minha frente, sorridente.
– Não... - murmurei. - Não!
– Sim! Apenas até o dia do evento, por favor... Será o nosso segredo. Eu não contarei nada para o seu pai. No dia do evento, bom... Será inevitável, afinal, ele verá. Mas até lá, você trabalha para mim e receberá por isso. Ok?
Respirei fundo, passando as mãos no rosto.
– Não precisa disso, mãe. - falei.
– Por favor, Edward. - ela pediu, com aquela carinha que me desarmava. - Eu também sinto a sua falta, seria uma ótima oportunidade de passarmos mais tempo juntos. O que acha?
Eu também sentia a falta dela. Sempre fui muito apegado à minha mãe. Respirei fundo novamente e assenti, ainda meio relutante. Ela me abraçou apertadamente, e eu retribuí o abraço.
– Eu vou ter que ensaiar hoje também? - perguntei, fazendo careta.
– É claro! Os outros meninos já chegaram. Enquanto eu vou falar com eles, vai ver como a Bella está.
Assenti, e ela se foi. Voltei para o camarim e encontrei todas as meninas já com as roupas trocadas. Todas vestiam as criações da minha mãe.
– Sua mãe é incrível! - Alice disse, brotando na minha frente do nada.
Sai, exú.
– É, eu sei. - falei.
Eu ia passar reto por ela, mas Alice me segurou pelos ombros e deu um beijo estalado na minha boca.
– Eu vou pedir para ela criar o meu vestido de noiva, o que acha? Seria incrível vestir um vestido de noiva de Esme Masen! - ela disse, sorridente. - Minhas amigas sentiriam tanta inveja!
– É, verdade. Avisa isso pro corajoso do noivo. - falei.
Alice riu, balançando a cabeça.
– Você é tão bobo, amor! - ela disse, me beijando rapidamente novamente e rebolando de volta para perto das outras meninas.
– Eu quero ser a madrinha.
Pulei de susto ao ver Isabella brotando ao meu lado. Suspirei, revirando os olhos. Era gargalhou.
Opa. Isabella Swan gargalhando.
– Você realmente não gosta dela? - ela perguntou.
– Eu pensei que fosse bem óbvio. - murmurei, me encostando na parede atrás de mim e cruzando os braços.
A personal stylist que sempre acompanhava minha mãe nesses eventos terminava de arrumar as meninas. Todas já estavam maquiadas. Isabella era incrivelmente rápida.
– Mas vocês já estão juntos há tanto tempo... - Isabella disse.
– Eu terminei pela primeira vez com ela em nosso segundo ano de namoro. Ela nunca leva a sério. Sempre dá um jeito de se enfiar na minha vida novamente, é insuportável. - suspirei. - Mas eu vou dar um jeito de dar um sumiço nela, e não vai demorar muito.
Isabella arqueeou uma sobrancelha.
– Não me conte dos seus planos, não quero ser considerada cúmplice.
Eu ri, e ela sorriu levemente.
Minha mãe apareceu na porta.
– Edward, vá se arrumar, está quase na hora! - ela disse, logo em seguida sumindo novamente.
Isabella me olhou curiosa.
– Se arrumar? Para que?
– Depois eu te explico melhor. - falei, dando um beijo na testa dela e saindo do camarim em seguida, me preparando para o martírio e...
Espera... Eu beijei a testa da Swan?
(...)
Gargalhadas. Gargalhadas o tempo inteiro. Há minutos.
– Já perdeu a graça. - resmunguei, olhando para a rua do lado de fora do carro.
– JAMAIS! - Nessie berrou do banco de trás. - Desculpe, Edward, mas aquele seu tombo foi ÉPICO!
Isabella concordava com a cabeça, enquanto gargalhava sem ao menos prestar atenção na rua enquanto dirigia.
Revirei os olhos, bufando baixo. Todo aquele show apenas porque, durante o ensaio do desfile, eu tropecei em algo invisível e fui direto com a cara no chão. Caí feito uma fruta podre. Lindo e gracioso.
Aos poucos, as meninas foram parando de rir e começaram a agir feito gente novamente.
– Bells, me deixa no prédio do Jacob? Preciso falar com ele. - Nessie pediu, minutos depois.
– "Falar". Sei. - Isabella arqueeou uma sobrancelha, com uma expressão desconfiada.
Nessie suspirou.
– Só iremos conversar, eu prometo.
– Nessie, o que eu já te disse sobre esse cara...
– Muitas coisas. - Nessie a interrompeu. - E eu já entendi tudo, mas só iremoss conversar, eu juro.
Isabella assentiu e suspirou, entrando em uma outra rua diferente da sua. Fomos para o centro de São Francisco e paramos em frente a um prédio bonito. Nessie pulou do banco de trás para fora do carro e deu a volta, aparecendo na janela de Isabella.
– Eu te amo, amiga. - Nessie disse, abraçando Isabella e dando um beijo em seu rosto. - Eu não vou demorar, tá?
– Tudo bem. Qualquer coisa, me liga e eu venho te buscar. - Isabella disse, preocupada.
Que bonitinhas...
Nessie assentiu, com um sorriso fofo, e foi pra a entrada do prédio. Isabella pôs o carro em movimento novamente.
– Posso saber quem é Jacob? - perguntei, segundos depois.
– Não.
Curta e grossa, é por isso que eu amo essa mulher.
– Fala logo quem é esse cara, agora eu fiquei curioso. - pedi.
Isabella revirou os olhos.
– Fofoqueiro. - murmurou. - É um ex-namorado de Nessie com quem ela já terminou e voltou diversas vezes. É um babaca. Eu o odeio. Se eu pudesse, eu o espancava até ele desmaiar, o cortava em pedaços, passava com o carro por cima e deixava seus restos apodrecendo na rua.
Me afundei no banco do carro, enquanto ela apertava o volante, com o olhar fixo à sua frente.
– Parece uma serial killer. - falei. - Não vou mais andar com você, estou com medo.
Isabella riu, balançando a cabeça, e eu sorri com a visão. Estava descontraída novamente, e isso era algo com o qual eu não estava acostumado.
– É que... - ela engoliu em seco, e parou o carro.
Olhei ao redor, e vi que estávamos ao lado de um parque. Algumas pessoas descansavam debaixo das árvores, ou faziam piqueniques e todas essas coisas gays. Isabella deixou suas mãos caírem sobre o seu colo e encostou a cabeça no banco, parecendo exausta de repente.
– Jacob já bateu em Nessie. - ela disse, e eu senti um frio percorrer minha espinha. - Mais de uma vez. Ao ponto de fazê-la ir parar no hospital. E você não tem noção do inferno que foi, para mim, ver a minha melhor amiga e única pessoa que tenho deitada na cama de um hospital, machucada, por causa de um filho da puta que se acha o dono da razão.
Engoli em seco, e senti raiva. De verdade.
– Por que ele fez isso? - perguntei, conseguindo fazer a voz sair.
– Ciúmes. Raiva. Bebida. É um filhinho-de-papai mimado. Acha que pode, e terá, tudo o que quer. Tem uma fixação insuportável por Nessie, e ela gosta dele, apesar de tudo...
– Ele a machucou a ponto de fazê-la parar no hospital, como ela ainda...?
Isabella deu de ombros.
– Eu não sei. Mas acho que está melhorando. - ela falou, com um leve sorriso. - Ela parece ligar menos para ele. Eu não sei se isso é bom ou ruim.
– É bom, não?
– É... Mas será ruim se ele descobrir isso.
Isabella me olhou, e eu engoli em seco. Agora partilhávamos do mesmo ódio, porque eu já queria deixar seus restos apodrecendo na rua, também.
– Bom, a Nessie já é minha amiga. - falei. - Se ele fizer algo à ela novamente, ele é quem irá parar no hospital.
Isabella sorriu.
– Isso foi fofo. - ela disse.
Fiz careta.
– Não me chame de fofo. - pedi.
– Não falei que você é fofo, falei que a sua atitude é fofa. - ela rebateu, voltando a ligar o carro.
– Dá no mesmo.
Ela revirou os olhos, mas ainda com um leve sorriso nos lábios. Conti meu sorriso.
Eu ainda não estava acostumado com aquela visão, mas poderia me acostumar logo, logo.