Acordei faz exatos dez minutos e continuo olhando um ponto fixo no telhado do quarto. Ainda estou usando meu vestido de casamento, provavelmente Stefan deve ter pedido alguém pra me trazer á um dos quartos. Não o dele, claro. E ele nem está aqui agora, e eu estou com fome.

E nem sei exatamente onde estou.

Talvez um bom banho resolva tudo, talvez leve tudo embora de vez. Ou não. Tirei minha maquiagem da noite passada, penteei meu cabelo, vesti uma calça jeans e uma camiseta, um tênis e sai do quarto. Deparei-me com um corredor grande e movimentado, segui o fluxo de pessoas até me deparar com um salão.

Parecia um hall de hotéis chiques que se vê na tv ou coisa assim. Vários casais, crianças e idosos andavam de um lado para o outro, uns nas piscinas outros mais longe, na praia.

Não faço ideia de onde estou.

Procuro ao redor algum rosto conhecido, o que obviamente não acontece. Procuro por Stefan, mas ele não esta em lugar algum. Estou prestes a voltar para o quarto quando uma mulher me aborda, um sorriso grande no rosto.

–Oi! Sou Angela!

–Oi... Sou Elena. – respondo.

Ela é incrivelmente bonita. O corpo bonito, rosto bonito, olhos verdes, cabelos enrolados e loiros, pele bronzeada. Tipo uma modelo de revista.

–Ah! Senhora Elena Salvatore! Seu marido nos avisou que teve de sair um pouco cedo...

Elena Salvatore? Ok. Respira. Não voe na cabeça dela, Elena. Não arranque esse sorriso idiota.

–Ah. Claro. Obrigada pela informação, acho que vou voltar para...

–Mas a senhora não tomou café! Venha, seu marido providenciou tudo... – ela simplesmente agarrou meu braço como se fossemos amigas de infância e me guiou para fora do hotel.

Tudo do lado de fora é extraordinariamente maior e mais bonito. A praia particular esta praticamente lotada, e o mar bate forte na areia, algumas pessoas estão sentadas em espreguiçadeiras lendo livros ou conversando, alguns garotos surfam e crianças fazem castelos com os pais. Sabe quando você se vê em um filme? Então, essa visão, é digna disso.

–Onde exatamente estamos?- perguntei casualmente.

A garota sorriu.

–É uma praia particular. Poucas pessoas conhecem... É muito usada para lua de mel ou férias de verão... Venha, pode sentar-se aqui. – ela acenou para uma mesinha lotada de comida. Frutas, pães, suco, café...

–Nossa. – murmurei.

–Seu marido nos avisou de que a senhora não podia comer doces pela manhã, então trouxemos nossas melhores frutas. Temos maçãs, peras, uvas...

–Nossa, obrigada. – respondi meio embasbacada.

Desde quando Stefan sabe sobre minha alimentação pela manhã?

–Qualquer coisa é só chamar. – ela disse antes de me deixar sozinha.

Olhei ao redor meio sem como reagir. Não sabia que Stefan tinha planejado algo para uma lua de mel visto que o casamento nem era real. De qualquer forma, peguei meu celular no bolso e disquei o numero de Care.

–ELENA! Estava começando a ficar preocupada. Onde você está? Stefan está aí? Já comeu? Como foi a noite? – Caroline não parava de fazer perguntas.

–Bom dia primeiramente né Caroline.

Ela bufou. – Só responda.

–Bom, não sei exatamente onde estou. Stefan não está aqui e eu não sei onde está. Nesse exato momento estou comendo um café da manhã que ele estranhamente mandou preparar. E sobre ontem a noite, apaguei completamente.

–Como assim “apaguei”?

–Dormi no carro e acordei em uma cama.

–Uau. Ele estava com você?

–Obviamente não.

–Hum.

–Car

–Sim?

–Como ele sabe o que eu não como pela manhã?

Um minuto.

–Meio que ele me ligou perguntando e eu achei bem fofo então... Disse que você não comia doces pela manhã porque te dava enjoo.

–Espera. Ele te ligou?

–Ligou, e só pra você saber eu achei bem fofo da parte dele.

–Isso é muito estranho.

–Achei atencioso.

–Argh. Tanto faz. Onde você está?

–Saindo de casa agora.

–Grill?

–Obvio.

–Já estou com saudades de lá.

–Ai Elena, nem me fale. Isso aqui já está um tédio sem você.

–Como foi o resto da noite ontem? – perguntei tentando mudar de assunto.

–Foi ótimo. Falando nisso, o que foi aquele beijo ontem hein amiga?

Suspirei irritada.

–Stefan é um babaca.

–Ele te beijou de proposito?

–Ele quis me mostrar como ser “convincente”.

Ela riu.

–Ótima amostra.

–Caroline!

–Elena você ficou toda mole depois que ele te soltou, precisava ver...

–Cala a boca.

Ela riu de novo.

–Falando em Stefan, o que é aquele irmão dele hein? Um gostoso!

Revirei os olhos.

–Tão babaca quanto.

–Mas gostoso também...

Tive de rir.

–Um pouco.

Caroline continuou falando sobre o quanto Damon era gato quando avistei Stefan caminhando na minha direção. Demorou uns segundos para que eu focalizasse o ponto onde ele estava.

Usava uma calça jeans, uma camisa branca dobrada no meio do braço e que deixava muito de seus músculos a mostra. O cabelo estava meio bagunçado por causa do vento e ele falava no telefone enquanto andava.

... E aqueles olhos mar? Santo Deus. Eu pularia no colo dele se ficasse lá mais um minuto...

–Care ele está aqui preciso desligar.

–Ok. Liga mais tarde...

–Tá.

E desliguei, jogando meu celular dentro da bolsa no momento em que ele chegou perto da mesa.

–Hey. – respondi meio apressada demais.

Como ser discreta com Elena Gilbert.

–Oi. Tudo bem?- perguntou olhando de mim para minha bolsa.

–Sim. Estava falando com Care.

Sua expressão séria se desfez.

–Ah.

–Valeu pelo café da manhã.

–Que nada. Desculpe ter saído cedo demais, mas precisei resolver umas... Coisas.

Quis perguntar que coisas, mas isso obviamente não era assunto meu.

– Então, não sabia que a gente estava em lua de mel. – comentei.

Stefan sorriu.

–Minha mãe insistiu em nos dar de presente o fim de semana aqui.

–Uau, foi muita gentileza dela.

–Acho que ela realmente gosta de você, sabia? Meu pai também.

Senti-me corar.

–Gosto deles também.

Stefan sorriu um pouco, mas não respondeu. No minuto seguinte sua expressão séria voltou e a minha curiosidade foi maior.

–Qual o problema?- perguntei.

–Só... Umas coisas.

–Que coisas?- insisti.

Stefan levantou o olhar para encontrar o meu e por mais ou menos um segundo ponderando se me contava ou não, tirou uma revista do bolso de trás da calça e jogou na mesa.

–Esse tipo de coisa. – disse mal humorado.

Peguei rapidamente a revista de fofocas e dei de cara com algo que me fez ofegar. Era uma foto minha e de Stefan ontem à noite, enquanto nos beijávamos. Eu estava na ponta dos pés, agarrando o pescoço dele, enquanto Stefan mantinha sua boca na minha. Encima da foto a manchete:

AMOR OU FINANCIAS?

Nosso mais novo herdeiro milionário, Stefan Salvatore, 19, filho do empresário renomado, Giusepp Salvatore, 56, acaba de se casar!

Fontes afirmam que Elena Gilbert, 18, e Stefan, estudavam juntos no colegial e apaixonaram-se perdidamente durante o ultimo ano... Acontece que alguns colegas de classe desmentem a paixão.

“Eles mal se falavam, não sei de onde veio isso, mas Stefan e Elena eram de mundos diferentes na escola, sem chances de terem se apaixonado” Diz uma colega de classe.

Os rumores indicam que Elena esteja gravida do nosso Príncipe, e que o casamento não passa de um golpe de marketing. De qualquer forma, como podemos ver, os dois parecem bem apaixonados, não acham?

–Mas que merda... - murmurei.

–Foi o que eu te disse.

Levantei o olhar para Stefan.

–Quão famosa é a sua família?

–Como?

–Por que esse tipo de coisa sai em uma revista? Sua família faz parte da realeza por acaso?

Stefan levantou a sobrancelha e riu.

–Você não tem ideia do que meu pai faz, não é?

Dei de ombros.

Stefan suspirou e curvou-se para mais perto de mim.

–Meu pai é um dos donos da Salvatore&Mikaelson - respondeu. -Não somos a realeza, mas as revistas de fofocas adoram estar de olho, principalmente quando algo como nosso casamento acontece.

SALVATORE&MIKAELSON é uma das maiores empresas de construção no país. Que idiota, Elena.

–Ah,

–Você não sabia mesmo disso?

–Stefan, eu vivo em Mystic Falls.

Ele riu.

–Ok. Perdoada.

–E você vai ficar com a parte dele na empresa? – perguntei boquiaberta.

–Se conseguir sair dessa, provavelmente. – ele suspirou. – Passei os últimos anos me privando de todo tipo de festa ou diversão que uma pessoa normal pode ter... E agora posso ter colocado tudo a perder.

Concordei silenciosamente.

Era verdade.

Que merda pra ambos.

–Quem sabe não teria sido melhor eu não ter te contado. – disse pra ele.

Stefan me encarou, mas não respondeu. Ele não disse absolutamente nada por mais ou menos dois minutos.

–Podemos fazer isso dar certo. – ele disse finalmente.

Levantei o olhar.

–Você viu o que está escrito aí. Fomos convincentes naquele beijo. – completou.

Acho que devo ter encarado ele por mais 2 minutos.

–Tudo bem.

Stefan pareceu mais animado.

–Ok. Primeiramente, precisamos ficar no mesmo quarto. Em segundo...

–Espera, o quê? Porque mesmo quarto?

Stefan me encarou como se eu fosse uma idiota.

–Porque as pessoas aqui acham que estamos em lua de mel, Elena. – dava pra ver que ele se esforçava para soar calmo. – Todo mundo acha que estamos casados e completamente apaixonados. Gente casada não dorme em quartos separados.

–Mas o que isso tem a ver com eles?

Stefan respirou fundo.

–Elena, sabe essa entrevista aqui? Alguém deu. Alguém contou isso. Eles fazem tudo para encontrar gente que esteja perto da gente, eles subornam, compram, fazem qualquer coisa por informações. Você sabe disso, não é? A gente pode dividir a cama, você nem vai perceber que estou lá, certo?

Ah mas eu vou Stefan.

–Tá. Certo. Espero que isso seja somado na minha conta bancária. – resmunguei.

Stefan só riu.

Depois do café eu já estava instalada no mesmo quarto que Stefan. Era grande e luxuoso, havia uma cama de casal enorme no meio, e os lençóis vermelhos com certeza eram bem sugestivos.

Tomei um longo banho, vesti um short e uma regata para dar uma volta na praia – decidi que já que estou aqui, vou aproveitar. De qualquer forma, Stefan disse que ia ficar no hall esperando uma ligação, então fui sozinha e sentei-me em uma das espreguiçadeiras.

Sinceramente essa é a coisa mais estranha que pôde me acontecer. Estou casada. Casada mas não por amor, por negócios. Isso é tão patético quanto parece. Fechei meus olhos e tentei bloquear pensamentos ruins, pensamentos que implicassem os próximos doze meses ao lado desse homem. Eu não o amo. Ele não me ama. Acho que nem chego a gostar dele. Stefan é atraente e sexy, mas não consigo enxergar mais do que isso nele. Se é que existe mais do que isso.

Fiquei pensando nos meus pais. Na noite do acidente, na minha estupidez completa e tudo o que aconteceu de ruim depois. Abri meus olhos e deparei-me com algumas crianças brincando na areia, um casal que estava sentado logo ao meu lado ficava mandando que elas não chegassem muito perto do mar. Eles deviam ser uns 3 ou 4 anos mais velhos que eu. O rapaz tinha olhos tão azuis e o cabelo enrolado, e a garota olhos castanhos claros. Eles faziam um belo casal, pareciam felizes e tudo mais. Me senti frustrada.

–Oi. – a garota disse pra mim.

Eu nem sabia que estava olhando naquela direção. Que droga.

–Oi.

–Sou Lia e esse é o meu marido, Tomas.

–Prazer. Sou Elena.

Eles trouxeram as espreguiçadeiras para mais perto de mim.

–Você está de férias?- Lia perguntou.

–Mais ou menos. Lua de mel. – respondi.

Juro que tentei soar feliz e animada.

–Oh. Meus parabéns. – Ela respondeu, mas dava pra perceber que estava quase pra franzir a testa.

–Meu marido está meio... Ocupado. – apressei-me.

Ela sorriu.

–Entendo. Vocês vão ficar até quando?

–O fim de semana inteiro.

–Isso é ótimo! Porque não jantam conosco hoje?

Stefan não vai gostar disso.

–Claro! Obrigada pelo convite.

–Somos do quarto 26.

–40. – respondi.

–Da cobertura? Uau.

–Meus sogros...

–Ah sim, isso explica muito.

Meu telefone tocou. Stefan.

–Hum, acho que preciso... Ir. Foi um prazer.

–Até mais Elena.

Andei alguns passos até estar longe para ser ouvida.

–Oi.

–Com quem você estava falando? – a voz de Stefan era preocupada.

Olhei ao redor procurando por ele.

–Onde você está?

–Piscina.

Levantei o olhar para o conjunto de piscinas e encontrei um Stefan sem camisa, parado, com o celular na orelha.

–Oh. Estou indo.

–Não vai me dizer quem era?

–Eram só duas pessoas educadas.

–O que eles disseram?

Eu já estava de frente pra ele, então desliguei o celular.

–Porque isso é tão importante?

–E se estiverem...

–Não estavam. Não se preocupe, eles só perguntaram meu nome.

–Só?

–E se queríamos jantar com eles... – murmurei.

Stefan estreitou os olhos.

–E...?

–E eu disse que seria ótimo.

–Você o quê?

Dei de ombros.

–Achei que seria legal conhecer alguém pra variar.

Stefan expirou mais vezes que o normal.

–Ok... Ok. Talvez seja legal.

Sorri e caminhei até a piscina sem ele.