Eu estava tocando alegremente na praça, cada vez mais e mais pessoas vinham para me ver tocar, ficava tão feliz por tantas pessoas apreciarem minha musica... Quando terminei de tocar, todos bateram palmas. Todas as crianças começaram a correr novamente, mas uma ficou, foi quando reparei que era Sophie. Ela estava com um vestido vermelho com bolinhas brancas, um cachecol cinza e branco, uma meia longa preta e sapatos vermelhos. Linda como sempre...

–Bela musica Layla! – disse ela batendo palmas com um sorriso no rosto.

–Obrigada...

–Não sabia que você sabia tocar, é realmente muito boa!

–Obrigada, eu não costumo contar sobre mim...

–Você faz isso pra ganhar dinheiro?

–N-não, nunca faria isso... É que não dava para tocar em casa, então vim aqui...

–Entendo, posso ficar com você?

–C-comigo?

–É, gosto de você! Parece ser uma boa pessoa.

Fiquei feliz com o pedido de Sophie, dei um sorriso e acenei com a cabeça que sim. O senhor de chapéu se aproximou, com sua carteira em mãos. Ele colocara dois reais na capa de meu violino, virou-se e foi embora, eu peguei a nota e fui até ele.

–S-senhor... Por que você me deu esse dinheiro? – perguntei colando a mão em seu ombro

–Ora, você tocou tão bem.

–Sim, mas não faço isso pelo dinheiro.

–Não?

–Não senhor, só toquei aqui por problemas em casa...

–Ah, entendi...

Eu devolvi seu dinheiro novamente e ele me deu um sorriso.

–M-mas obrigada... Pela intenção... – disse.

–Não há nada minha jovem... Sempre adorei os violinos, seria muito bom que de vez em quando você viesse tocar aqui.

“-Tocar aqui às vezes pode ser bom, já que todos gostaram da musica...”

Ele sorriu e foi até seu amigo antes que eu pudesse falar algo. Então voltei para conversar com Sophie.

–Por que você saiu correndo naquele dia? – disse Sophie.

–Você quer dizer ontem.

–É também serve.

–Tinha um compromisso...

–Mas você também gritou com Louis.

–É Linos, Sophie... Haha, eu estava meio brava com ele...

–Vocês são namorados?

Corei ao ouvir essa pergunta.

–Anh?! N-não nós s-somos bons amigos!

–Hehehe... Claro, bons amigos... Então por que você está vermelha?

–N-não é nada!

Sophie ficou rindo de mim, mas não encarei como uma coisa má e sim como uma brincadeira... A bela mulata veio até mim, com a criança nos braços. A criança estava chorando em seu colo e por mais que a mulata cantasse a criança continuava a chorar...

–Desculpe atrapalhar garota, mas será que você poderia tocar novamente?

–Ah, sim, tudo bem...

–Obrigada! A Julia não se acalma desde que eu você parou.

Eu sorri gentilmente, peguei meu violino e me preparei, respirando fundo e me posicionando. Comecei a tocar movimentando um pouco meu corpo, como se colocasse uma criança para dormir, o bebê que estava no colo da mulata logo parou de chorar e a ficar calmo feito às brisas de verão, comecei a tocar com mais vontade, com mais alegria e mais uma vez todos prestaram atenção em mim. A mulata começou a balançar o bebê, a fim de fazê-la dormir... Quando eu estava terminando, Julia, o pequeno bebê adormecera e para não acordara-la com o repentino parar do violino, fui tocando cada vez mais baixo e deu certo. Ninguém bateu palma, pois viram o bebê dormindo e eles sabiam que poderia acorda-la...

–Obrigada garota, você me ajudou muito. – disse a mulata, baixinho.

–Não há de que senhora...

Ela retirou-se com um sorriso de gratidão. Quando ela já estava longe, ouvi um bater de palmas, mas era só uma única pessoa batendo... Vir-me-ei para ver quem era que estava fazendo isso, quando vi quem era quase cai pra trás...

–Você toca lindamente, Lay...

–L-Linos...

De repente todas as lembranças do dia anterior invadiram minha mente num piscar de olhos, comecei a ficar completamente vermelha, Sophie viu como eu estava e disse:

–Hehe, vou deixa-los às sós...

–S-sophie!

E ela foi embora pilotando sua cadeira para outra parte do parque. Eu estava com medo, não sei o que iria acontecer se eu ficasse com Linos...

–E-então você v-viu tudo, n-não é? – falei com nervosismo.

–Vi sim... E você estava linda tocando, ainda está linda na verdade...

Fiquei de costas para Linos, morrendo de vergonha por causa daquelas palavras. Coloquei meu violino na capa junto com o arco e fechei tudo, coloquei o violino nas costas e meu plano era ir embora...

–Ei, ei, aonde vai?

–P-pra casa...

–Sei que é mentira, vi você correndo para cá o mais rápido possível.

“-ELE VIU?!” – N-não... Só estava com pressa...

–Mentira.

Olhei para Linos, ele estava com um olhar sério para mim... Ele pegou meu braço e foi me puxando para longe do parque.

Ele foi me puxando até um beco, bom quase um beco, era como uma fenda entre duas lojas. E me colocou contra a parede e disse seriamente:

–Por que você foge de mim?

–Anh?! Eu não estou entendendo, me deixe ir.

Ele me impediu de sair de lá, então me segurou com sua mão direita, colocando a outra na parede.

–Então vou explicar melhor, por que você esta fugindo de mim desde ontem?

–E-eu não estou...

–E o que foi isso no parque?

Fiquei sem o que dizer... Admito que eu estava fugindo dele, mas não por que tenho medo, ou por que eu o odeio e sim por que não sei o que eu sinto por ele e preciso de tempo para pensar...

–Você não quer admitir que estamos saindo?

–Anh?! N-não estamos saindo!

–Estamos sim, ontem nós estávamos de mãos dadas, nos beijamos na cafeteria e antes de você ir para casa. Isso significa que estamos saindo.

“-Significa?!” - Você me beijou! E como vou saber que você... Realmente gosta de mim...? Desfiei o olhar para o lado, com lágrimas nos olhos, ninguém nunca se apaixonou por mim... E era tudo tão novo, novos sentimentos, novas experiências... Tudo novo de mais para mim.

–Você está insegura não é?

–Anh?

–Eu entendo isso... Mas eu realmente gosto de você, não... Gostar é pouco, eu amo você! E não vou descansar até você falar que me ama também.

–L-Lino-

Fui interrompida por um beijo dele, então ele parou de me segurar e passou sua mão em meu rosto.

–Amo seu rosto, seu cabelo, seus olhos... Amo você por inteiro...

–Linos... Por que você faz isso...?

–Isso o que?

–Você pode ficar com qualquer garota que você quiser! Mas você insiste ficar comigo, eu não sou bonita, não sou magra, sou diferente das outras! E você... Ainda me escolhe...! E-

Fui interrompida por um beijo de Linos...

–Esse beijo é por você ser linda.

–L-Lin- não podia falar, sempre acabava sendo interrompida por seus beijos...

–Esse é por você ser gentil.

Ele me beijou mais uma vez.

–E esse é por todas as coisas boas que você é.

Eu iria começar a falar, mas ele me beijou novamente.

–E esse é pra você, se você falar pra parar eu paro. Mas se não falar nada, vou te beijar de verdade.

Eu não conseguia dizer uma só palavra, estava paralisada com sua ultima fala.

–Vou entender isso como um “não pare”.

E ele me beijou de verdade, não era como os outros beijos que ele tinha me dado, esse tinha mais carinho, mais afeto, era longe de qualquer coisa que eu poderia pensar... Eu podia ouvir seu coração, sua respiração, como se nós tivéssemos nos tornado um só... Era um paraíso na terra, jamais tinha me sentindo assim em algum momento na minha vida... Quando ele parou, eu estava completamente vermelha de vergonha e ele, por sua vez só estava com um leve rubor quase que não se notava, mas eu notei.

–S-será que v-você pode s-se afastar...? – disse virando o rosto.

–Hahaha, está envergonhada?

– S-só é e-embaraçoso ficar assim...

Ele se afastou, eu ainda ficava encostada na parede. Não consegui me mover, ainda estava tentando entender tudo aquilo.

–Tá, tá... Quer ir a algum lugar?

–A-ah... T-tudo bem...

Linos sorriu e pegou minha mão. Começamos a andar, não tinha certeza o que ele queria... Nunca me senti amada por outra pessoa sem ser de minha família, como também nunca fui tão bela como outras garotas, todas sempre magras, altas, de cabelos lindos e lisos... Só queria entender, por que eu?

Nós estávamos andando na calçada, Linos estava com um sorriso radiante em seu rosto enquanto estava de mãos dadas comigo, meu coração bati rápido e mais rápido, como as asas de um beija-flor...

–Quer ir naquele café que fomos ontem? – perguntou Linos.

–Ah, p-pode ser... Não me importo...

Ele riu e fomos até aquele café, mas quando chegamos ao local, estava fechado. -Aaah! Não posso acreditar!

–É... P-parece que eles fecham aos sábados...

–Pois é... Lay quer fazer outra coisa?

– B-bom... Por mim, o que você escolher já estará bom...

–Haha, só você mesmo! Antes você parecia me evitar, mas agora esta tentando me agradar. Haha.

–N-não estou! Só não sei o que falar! Virei minha cabeça para o lado, morrendo de vergonha. Tá, tá... Admito! Eu gosto do Linos! Só não sei como dizer isso a ele, é mais difícil do que parece...