Cigarettes escrita por Laris


Capítulo 2
I - Tentando roubar a sua comida


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que comentaram no prólogo e que estão acompanhando a fic. Então, boa leitura e tomara que gostem.



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A cada dois segundos, o olhar minucioso daquela loira assustadora me analisava dos pés a cabeça, procurando por algum tipo de hematoma ou machucado que pudesse incriminar o cara bonito e extremamente mal humorado que estava jogado na outra ponta do sofá.

– Christopher, eu vou perguntar pela última vez. – Diane disse, desviando os olhos do meu rosto e quebrando aquele silêncio desconfortável que tinha se instalado no cômodo. – O que você fez com ela?

– Eu não fiz nada. – ele cuspiu as palavras em cima dela, da forma mais raivosa possível. Christopher mantinha os braços pálidos cruzados na frente peito, e os lábios apertados em uma linha fina. – Na verdade, eu fiz sim. Impedi que ela se estatelasse no chão da nossa cozinha.

– É verdade. – apressei-me em dizer antes que eles começassem a discutir mais uma vez.

Ela me encarou ainda desconfiada, arqueando a sobrancelha esquerda.

– Tem certeza? – perguntou alguns segundos depois.

– Absoluta.

Diane balançou a cabeça, assumindo uma expressão derrotada, e colocou uma mecha do cabelo claro atrás da orelha. Era nítido que ela não confiava nele.

– Tudo bem. – minha suposta colega de dormitório forçou um meio sorriso. – Mas o que você estava fazendo em cima da bancada? – ela perguntou, parecendo bem curiosa.

Tentando roubar a sua comida, foi o que eu pensei em responder, mas me contive. Até Christopher estava prestando atenção em mim agora, mas era óbvio que ele não tinha tanto interesse na minha resposta. O cabelo castanho que parecia nunca ter sido penteado na vida, quase me impedia de enxergar os seus olhos escuros, carregados de divertimento e ironia. Ele com certeza sabia o que eu estava fazendo ali em cima.

– Bom... – comecei, meio incerta sobre o que dizer. Que tipo de idiota quase se quebra toda por causa de um pacote de amendoins?

– Assaltando a nossa despensa, não é óbvio? – ele disse irônico, esboçando um mínimo sorriso naquela boca perfeita. – Aliás, aqueles amendoins estão vencidos, e eram meus.

– Então era isso? – Diane perguntou, de uma forma mais suave e eu assenti constrangida.

– A comida da classe econômica era uma droga, e eu acabei não tendo tempo de parar em algum lugar para comer. – eu expliquei a eles.

– Não fique muito esperançosa, é Diane quem geralmente cozinha por aqui. – Christopher alfinetou a loira.

– Não acredite em nada do que esse babaca disser. – ela estreitou os olhos de um jeito assustador. – Por algum motivo desconhecido, ele sente prazer em atormentar a vida dos outros.

Christopher riu, arrancando o par de tênis pretos e surrados dos pés e se acomodando no sofá, como se eu não estivesse sentada ali também.

– Isso é verdade.

Revirei os olhos.

– Venha, vou te mostrar o seu quarto. – Diane disse e apontou o polegar em direção ao corredor estreito com três portas fechadas. – Christopher, pegue as malas dela. – a loira ordenou em seguida.

– Claro, e depois eu vou lavar a louça e limpar o banheiro. – ele ironizou enquanto procurava por algo entre as almofadas do sofá. – Me deixem em paz, eu já fiz a minha boa ação do dia. – completou, se referindo ao meu quase acidente.

Diane até que tentou insistir com ele, mas foi em vão. No fim, ela mesma acabou sendo obrigada a me ajudar com as bolsas pesadas.

Diferente da sala, onde tudo cheirava a cigarro e bebida, a aparência do quarto era até que bem agradável. As paredes tinham um tom de azul claro muito bonito, o chão era todo coberto por um carpete creme e haviam duas camas de solteiro, junto com um armário gigante, escrivaninha, uma cadeira com rodas e uma janela ampla.

– Gostou? – Diane perguntou depois de fechar a porta e se jogar na própria cama.

– É ótimo. – eu respondi, puxando o zíper da primeira bolsa gigante.

Eu precisei de um bom tempo para esvaziar as malas e guardar tudo em seu devido lugar. Roupas, livros, produtos de higiene e por aí vai.

– Você ainda precisa conhecer o Luke. – ela disse, referindo-se ao nosso outro colega companheiro de alojamento. – Te garanto que ele é bem mais simpático do que aquela criatura raivosa que está criando raízes no nosso sofá fedorento.

– Ele é sempre assim? – antes que eu me desse conta do que estava fazendo, as palavras já tinham pulado da minha boca.

– Não, não. – Diane rapidamente negou e eu quase soltei um suspiro aliviado. – Ele parece estar de bom humor hoje. – E lá se foi todo o alívio.

Eu estava quase perguntando o que acontecia quando aquele ser, aparentemente, maligno ficava de mau humor, mas o barulho da porta batendo acabou cortando todos os meus pensamentos.

– Vou ver quem é. – Diane disse, se levantando da cama e indo até sala. – Luke, eu estava falando de você agora mesmo. – consegui ouvir ela dizer a alguém.

Segundos depois, ela voltou ao quarto acompanhada por um cara que deveria ser, no mínimo, uns trinta centímetros mais alto do que eu. O tal Luke parecia ser mais um daqueles quarterbacks cheios de músculos e viciados em anabolizantes que carregavam uma ervilha no lugar do cérebro.

– Luke, essa é a Heather, nossa nova companheira. – ela me apresentou e eu tentei sorrir como uma pessoa normal e simpática.

– Faz quanto tempo que ela está aqui? – Luke perguntou, ignorando totalmente a minha falha tentativa de socialização.

– Quase duas horas. – ele arregalou os olhos azuis assim que Diane respondeu. – E ela ainda nem tentou fugir.

Como é?

– Nesse caso, – ele me encarou, abrindo agora o maior dos sorrisos e exibindo todos os seus dentes brancos perfeitamente enfileirados. Arqueei a sobrancelha. – Seja bem–vinda.

– Obrigada, eu acho. – murmurei, muito desconfiada. – O que você quis dizer com isso? – eu perguntei a Diane.

– Você vai descobrir com o tempo. Tendo o Chris aqui, você logo vai entender. – o quarterback acéfalo respondeu, me lançando um último sorriso antes de dar meia volta e sair do quarto.

E pela expressão cômica da minha colega de quarto, eu era a única idiota que não tinha entendido a piada.

– Como nós estamos com despensa totalmente vazia, vamos ter que pedir pizza mesmo. – a loira disse. – Então, a sua primeira tarefa como nova moradora desse lugar desagradável é contribuir com parte do dinheiro.

Faz menos de um dia que eu estou aqui e já sinto saudades da minha mãe paranóica. Pelo menos ela me alimentava de graça.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que vocês acharam do capítulo e da capa nova.
Elogios, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindos. E nada de leitores fantasmas por aqui, não custa nada comentar.
Beijos (: