Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 9
Puro éter branco


Notas iniciais do capítulo

Ah finalmente desempaquei!
não aguentava mais tanto tempo sem escrever, mas agora tudo volta ao normal.
Mais um capítulo para vocês...
Aproveitem!



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O brilho da manhã já aparecia nas gigantescas folhas das arvores da Floresta Branca. O vento batia nas folhas provocando um farfalhar sonoro áspero e agudo. Ele sempre foi fascinado pela floresta. Sempre que o tempo permitia, visitava-a para meditar e explorar todos os seres que ali habitavam.

A beira do penhasco estava desgastada, enfeitada com marcas das garras de Saphira. O dragão costumava passar uma boa parte do tempo ali, na beirada do precipício, observando tudo o que seus olhos permitiam.

As mãos expostas do cavaleiro absorviam o frio do ar denso. Olhou para os calos nas dobras dos dedos, estavam lá como sempre estiveram, mas raramente lembrava que os tinha.

Eragon estava confortavelmente alegre, os recentes problemas haviam se convertido em soluções e sua mente estava controlada novamente. Ele e Ariän pareciam ter chegado a um acordo. Ambos participavam de um jogo agora. Poderia parecer esquisito, mas realmente era a melhor escolha.

Ambos não se conheciam – ou pelo menos Eragon não conhecia Ariän, mas tinha certeza que o cavaleiro do dragão branco pouco tirara de sua mente. Eragon havia aprendido a envolver a sua mente com a lembrança do nome dos nomes, assim ninguém seria capaz de decifrar sua mente, apenas Saphira. –, mas mantinham um laço de confiança, que era conquistada aos poucos, e dessa forma, aluno e professor tornavam-se cada vez mais próximos. O que era arriscado para Eragon, de certa forma, uma vez que o homem de cabelos brancos possuía um grande poder.

Ariän estava sentado ao seu lado. Suas costas largas descansavam em uma rocha cinzenta alinhada com o grande paredão natural que ia de encontro ao chão. Usava uma túnica branca, que Eragon lhe dera para que usasse na apresentação dos novos cavaleiros aos seus respectivos mestres, que aconteceria mais tarde. Botas de couro branco acompanhavam seu traje, que era bastante apropriado a ele. Ariän parecia feito de um único material vestido na túnica branca. Uma visão um tanto surreal a Eragon: Sua pele era branca e quase no mesmo tom da túnica que usava. E o cabelo que terminava nos ombros era como uma cascata de leite que descia uniforme, cabelos branquíssimos e incrivelmente lisos. Os olhos sem Iris estavam fixos no seu companheiro de mente, que brilhava, longe, à luz do sol.

Os olhos azuis de Saphira observavam com atenção dobrada o ponto branco que se afastava cada vez mais.

O pequeno cresce depressa, não vi nenhum dragão crescer tanto em tão pouco tempo.

Um bom ou mau sinal, pássaro de couro? – Os olhos brancos de Ariän olhavam para o dragão azul, como se já esperasse sua reação.

Não me chame assim Saphira fungou. Não brinque com o que acha que sabe de mim. Saphira levantou-se, fumaça saia de suas narinas.

– Pare! – Gritou Eragon, precipitado depois de segurar tanto. – Não irrite Saphira, não se esqueça de quem sou. – Eragon controlou-se e voltou a olhar o Dragão branco que batia as asas ligeiramente e cortava o ar sem dificuldade.

Nos poucos dias de vida que tinha, o dragão já estava sete vezes maior que quando saiu do ovo. E voava com uma maestria incomum para a idade – Para a idade, nem deveria voar.

Eragon estava fascinado com a maestria do instinto do dragão, que voava com o prazer camuflando a técnica.

– Se ele continuar crescendo nesta proporção, logo poderá montá-lo. – Recostou-se na rocha. – Hoje iremos à cidade, Baöh já está em tamanho suficiente, Conhecerá os outros dragões. Apresentaremos também os mestres para os novos cavaleiros, mas para você não, ficará sobre meus cuidados se desejar ficar, e depois... Depois pode fazer suas próprias escolhas.

Sem avisar, o pequeno dragão Baöh surgiu sobre o penhasco e pousou abruptamente na frente de seu cavaleiro, esfregou a cabeça em sua perna. Estava quase alcançando o tamanho do companheiro.

Baöh... Ariän não dissera a Eragon o que o nome significava, mas ele podia sentir o peso que o nome escolhido para o dragão carregava.

– É isto que quero saber, Ariän – Continuou ele –. Treinará aqui em Venora, ou seguirá seu caminho para onde quer que vá? – A pergunta era direta, e carregava certo peso que não gostava de usar quando conversava com o homem.

Um bom tempo passou até que Ariän dignou Eragon com sua resposta:

– Não podemos negar que o fato de um pássaro de escamas ligar sua mente à minha, não faz de mim um aprendiz seu, Matador de Reis. – Passou a mão pelo pescoço de seu dragão. – Entendo que o pequeno precisa de treinamento... Na verdade isto eu também não sei, mas não cabe a mim escolher se ele fica ou não. Quando alcançar a maturidade necessária para decidir... Partiremos ou não. Depende da escolha que minha metade fizer.

Eragon teve de reconhecer a verdade daquelas palavras, e em vez de assentir ou questionar, presenteou o homem com seu silêncio.

O sol agora estava exposto por completo, fazia contraste com as montanhas mais para leste, do vale sem sol.

– A cidade despertou – Eragon escalou a perna de Saphira. – Devemos ir. – Estendeu a mão para Ariän, que a segurou e acomodou-se na parte de trás da cela.

Esculpindo mais uma vez a rochosa beira do precipício, Saphira levantou vôo. Baöh com seus olhos brancos arregalados seguia paralelo, seu pescoço parecia mais longo que nos outros dragões, para seu corpo, e a mancha negra no pescoço inchava e murchava, como um pulmão respirando.

Eragon não podia deixar de sentir calafrios quando olhava para os olhos grandes e brancos rodeados por uma sombra mórbida. Tinha muita dificuldade em esconder sua curiosidade sobre aquele homem – Talvez ele já tivesse conhecimento dela.

Chegaram rapidamente ao centro da cidade, que estava pintada de escamas, de todas as cores, os dragões e cavaleiros cobriam completamente toda extensão do pátio. Certamente havia cavaleiros das outras duas cidades. Os dois mestres cavaleiros e seus dragões encontravam-se no centro, só restava ele. Dobrando o pescoço, Saphira mergulhou entre as rajadas de vento, desalinhando o cabelo do mestre. O pouso do dragão fez o silencio nascer em todos. Baöh pousou logo depois, chamando mais atenção do que devia. Eragon podia escutar os murmúrios curiosos, os olhos vacilantes, porém acompanhantes, postados nos recém chegados.

Istalrí refletia à Luz do sol, grandioso, com os gigantes olhos laranja bem abertos, como dois sóis, Incandescentes. Transmitiam um calor próprio. Ao lado, menor, mas não menos majestoso, Awremöm. Suas escamas eram como milhões de laminas de espadas prateadas presas em sua pele. Seu focinho era mais fino que os demais dragões, seu pescoço era grosso, e as garras bastante longas.

De todos os cavaleiros, havia apenas três mestres. Havia cavaleiros que já tinham concluído os estudos com seus mestres, mas os estudos seguiriam por conta própria pelo resto de suas vidas, nunca deveriam parar. E a condição de mestre só viria depois de muitos e longos anos de estudos. E o único motivo pelo qual Eragon e os eldunarí deram a Blödhgarm e Oriúmos a condição de mestres cavaleiros, era a experiência e sabedoria que ambos já possuíam – E também a necessidade de no mínimo mais dois cavaleiros para instruir os cavaleiros que estavam por vir.

– Olá Shur’tugals! – Eragon caminhou pelo pátio, cumprimentando cavaleiros e dragões.

Ali estavam mais que alunos, amigos... Amigos que ele não via a um bom tempo. O dragão fêmea, Jaede, e seu cavaleiro, Veogöh... Peön, o dragão púrpura e sua cavaleira, Amisha, e os diversos aprendizes que ali se encontravam. Alguns tiveram coragem para perguntar sobre Ariän e Baöh, e em outros Eragon via perturbação. A noticia correra entre todos, e ele não podia apenas fingir que o estranho não existia. Argumentara normalmente à respeito dos dois, passando a segurança de sua palavra para os jovens aprendizes.

Eles logo aceitarão Ariän e Baöh como um de nós. Saphira compartilhava entre os mestres.

Mas devem aceitar? Eragon questionou.

Ele foi sincero conosco, até agora. E o pequeno dragão conviveu em nossa presença por muito tempo, dentro do ovo, ele é o que nos aproxima do Estranho. Awremöm sugeriu.

O prateado parecia certo daquilo, e Eragon confiava bastante no que o dragão dizia. Também pensava daquela forma, mas as hipóteses confrontavam-se dentro de sua cabeça.

Já estava na hora, os mestres já haviam discutido e feito a lista dos seus correspondentes alunos. Eram cinco cavaleiros, contando com Ariän. Todos os ovos escolhidos para aquele ano haviam nascido, ele ainda aguardava noticias sobre os que enviou à Alagaësia.

– Muito bem, Jovens cavaleiros. – Eragon falou para que todos ouvissem. – Tiveram dois dias a sois com seus recém companheiros de mente. Chegou a hora de saberem quem será o tutor de cada um de vocês. Aprenderão a dádiva de servir como Cavaleiros de Dragão. – Eragon sorriu-lhes por fim. – Kewird e seu dragão. – Chamou pela lista. – Aproximem-se.

Da fronteira de pessoas e dragões, surgiu um jovem de cabelos negros, humano, com um pequenino dragão amarelo, de escamas bem claras e corpo esguio. O jovem andava com uma hesitação a cada passo. Parou na frente dos mestres e submeteu-se a olhar para Eragon.

– Aproxime-se mais jovem. – O cavaleiro aproximou-se até o alcance do mestre. – Seu dragão já possui um nome?

Ele sorriu, e suas sobrancelhas negras arquearam-se de empolgação.

– Ela achou Shavaníra, um nome bem-vindo. – O dragãozinho fêmea levantou a cabeça ao ouvir o nome. Seus olhos eram de um amarelo mais escuro que suas escamas, e bem nítido.

Gosto deste rapaz. Saphira comentou com Eragon. É dono de certo humor que me admira.

– Kewird e Shavaníra. – Matador de Reis pronunciou alto. – Ficarão sobre os cuidados de Blödhgarm e Awremöm, Irão ser treinados em Noëma.

Que as estrelas os guiem, cavaleiro e dragão. Disse o coro das vozes dos mestres.

Os dois misturaram-se novamente aos outros cavaleiros. E ele continuou com a lista.

– Vigär e seu dragão, aproximem-se. – Disse ele com prazer. Uma vez a cada ano aquilo acontecia, e ele sentia-se grato pelo o momento ter chegado.

Um elfo rapidamente surgiu, logo após o chamado. Acompanhava-o, com passadas firmes, porem desengonçadas, um dragão de escamas marrons, bem escuras e olhos de mesma cor. Patas longas para o tamanho e corpo esguio, espinhos branquíssimos e polidos faziam contraste, no pescoço. Já trazia consigo o ego de um majestoso dragão.

O elfo que o acompanhava, Eragon conhecia. De cabelos castanhos bem escuros e ondulados, derramando-se pelas costas, olhos estreitos da cor dos troncos que formavam Du Weldenvarden, Vigäh era um antigo feiticeiro que abandonara a Alagaësia para viver ali na ilha de Kormodra. Trazia consigo um sorriso de satisfação e determinação em seus passos.

– Eragon-elda, Matador de Reis, Saphira, Escamas Brilhantes – Cumprimentou. –, Blödhgarm-elda, Cavaleiro Selvagem, Awremöm, Escamas de prata – Direcionou-se para o mestre restante e seu dragão. – Oriúmos-elda, O Tocador de Almas, Istalrí, Sol Poente.

Eragon sorriu levemente.

– Agradecemos os cumprimentos, Vigär, mas agora cada um de nós é apenas Ebrithil. Aqueles que lhes orientarão. – Falou a ultima frase para todos. – E este pequenino? Como nos direcionamos à ele? – Eragon sorriu ao pequeno dragão marrom.

– Este é Baorüch. – Disse, orgulhoso, em voz alta e em tom forte, para que todos ouvissem.

Ele tem a imponência de Vocês dragões. Disse Eragon à Saphira.

Não. Ela retrucou observando o elfo de onde estava. Ele herdou isso de seu povo, os elfos. Um Dragão não se mostra majestoso, ele apenas é por natureza.

Eragon sabia disso, mas achou que deveria ter dito aquilo à Saphira.

Um nome forte. Saphira disse pondo o focinho na cabeça do dragãozinho.

Digno de um poderoso dragão. A consciência de Glaedr trovejou por toda a cidade. Eragon não tinha tanta certeza de até onde a mente do velho dragão alcançava.

– Serão ensinados e guiados por Oriúmos e Stalrí. – Ele fez uma pausa, um sentimento lhe invadiu, e refletiu por apenas aquele breve momento. – Irão até Jewän, e quando terminarem suas lições... Serão livres para fazer suas próprias escolhas. – Repetiu o que disse para o cavaleiro branco. Olhou para Ariän e Baöh... O que fariam? Iriam embora? Ou seguiriam o legado dos Cavaleiros?

Voltou à lista afastando os pensamentos precoces, enquanto o Elfo afastava-se.

– Zeón e seu dragão, – Chamou. – Aproximem-se. – Ele disse com a alegria de um anão, na voz.

O jovem surgiu, carregando seu parceiro nos braços. Era um dragão vermelho escuro, mas de um vermelho falho, tinha tons rosados nas raízes das escamas, e escurecidos, quase negro, nas pontas. Os olhos bem abertos eram negros. E espinhos curtos desciam pelo pescoço.

Zeón era um jovem humano, de cabelos ruivos bem vermelhos nas pontas, e amarronzados nas raízes. Trazia um ar de preocupação nos olhos castanhos bem abertos.

– Zeón, qual o nome de seu dragão? – Eragon sentia que algo o incomodava, mas ainda não era tempo de interferir.

– O chamei de Göro, Ebrithil. – O Rapaz tentou sorrir, talvez não para Eragon, mas para ele mesmo, uma forma de tranquilizar a si mesmo.

Tinha o rosto magro e de feições bem definidas, um nariz curvo, que parecia feito para seu rosto.

Um pouco assustado com a nova realidade, eu diria. Saphira murmurou na mente de Eragon.

– Zeón e Göro, serão instruídos por Blödhgarm e Awremöm na cidade de Noëma. – Pousou a mão no ombro do humano. – Anime-se rapaz, você encontrou sua metade perdida.

O céu era limpo, e tudo agora estava quente. As mudanças de clima aconteciam desordenadamente na ilha. E agora era possível escutar as ondas quebradiças, há milhares de distancia dali.

– Líria e seu dragão, – Ele chamou, os últimos daquele ano.

A elfa veio um pouco insegura, mas feliz. O dragão Azul escuro vinha no chão, explorando tudo pelo que passava no caminho. Era lindo. Seu azul bem definido não se submetia a outras cores, bem escuro, forte e vivo.

– Como se chama este belo dragão? – Eragon olhou nos seus olhos escuros.

– Ele é Blöh – Ela sorriu. – Achei que Azul seria a sua definição perfeita, ele gostou do nome.

Um nome bem escolhido. Observou Stalrí.

A elfa de cabelos castanhos escuros tinha o rosto perfeitamente esculpido, e um belo e chamativo sorriso sempre era presente em seu rosto.

Líria ficaria sobre os cuidados de Eragon, junto de Ariän, foi a conclusão que chegou com a ajuda dos outros mestres. Inicialmente Eragon iria ser tutor apenas de Ariän, mas chegaram à conclusão de que seria melhor se o estranho homem de cabelos brancos convivesse com outro cavaleiro, assim mais rápido teria proximidade de todos, e Líria parecia a companhia perfeita.

– Líria e Blöh, ficarão sobre meus cuidados e de Saphira. Aqui em Venora. – Apoiou-se sobre um joelho e pôs a mão na cabeça do pequenino Blöh – Será um dia um poderoso dragão. – Levantou e disse agora à jovem – E você uma virtuosa cavaleira.

Eragon ficou satisfeito pela felicidade nos rostos, naquele dia. E feliz também, por poder novamente treinar cavaleiros. Aquela função há muito tempo não havia sido entregue a ele.

O momento difícil havia finalmente chegado. Ariän devia ser apresentado a todos ali. E Eragon sabia o quão difícil seria para os cavaleiros, aceitar um estranho em convívio com eles, ainda mais tendo um aliado de bastante peso. Mas a decisão dos mestres em conjunto era respeitada. Os cavaleiros compreendiam que a decisão de um mestre vem devagar, de forma cautelosa e bastante pensada.

– Cavaleiros – A voz dele pesou sobre todos. – Recentemente... Deixamos um acontecimento por explicar. – Passeou paralelo aos cavaleiros, de um lado para o outro. – Os que acabaram de conhecer seus respectivos mestres, não são os únicos novos cavaleiros, como podem ver. – Já havia escolhido suas palavras. – Ariän cumpriu sua divida com o destino – Disse apontando para o homem –, e chegou até Baöh de forma um tanto perigosa. Surgiu na ilha sem explicação alguma. E não me interessa como ou por que veio até aqui. O que me interessa é que veio... e tornou-se cavaleiro de dragão. E a escolha do dragão só prova o quão merecido foi pela jornada. – Aproximou-se dos dois, empolgado. – Um homem desconhecido, mas que agora é mais conhecido por todos aqui, do que pelos que o conheceram antes. Um Cavaleiro de Dragão! – Terminou animado.

Pela primeira vez falou sobre Ariän. O silencio não o fez duvidar se teria feito o certo.

“Um cavaleiro de dragão!” A multidão repetiu de repente mais forte.

E a agitação dos homens, elfos e dragões, surgiu em concordância, como se todos estivessem ligados.

A parte mais complicada estava resolvida. O que o intrigava agora era o que rodeava aqueles dois. Iria descobrir o que havia naquela ligação, distorcida, tão forte que não podia ser interferida pelo nome dos nomes. Queria ajudar Ariän e Baöh, mas para isso precisava saber quem ou o que era Ariän.

Ariän parecia calmo, e Baöh reservado demais. Eragon sabia que ele não era como os outros dragões, seria difícil para ele se aproximar dos de sua raça, por esta razão era necessário que outros dois alunos convivessem com eles.

– Quanto tempo acha que eles aguentaram calados? – Ariän sentou-se ao seu lado, olhando para frente enquanto falava. – As pessoas não aceitam nada sem ter conhecimento sobre o tal.

Eragon apoiou a mão no cabo de Brisingr, refletindo.

– O que é visto por eles é guardado em suas mentes. – Eragon não tinha de convencê-lo. Apenas esperaria até que Ariän percebesse a confiança que seus alunos tinham por ele. – Espere e verá.

O rosto do cavaleiro branco parecia pedra, sem expressão, olhando fixamente o sol, sem vacilar. O corpo relaxava ao receber a exagerada luz, que incrivelmente não irritava a sua visão.

– Não espere que eu interaja com as pessoas. – Disse agora olhando para Eragon.

Eragon não esperava isso dele. Tudo que esperava era que conquistasse sua confiança. Isso não seria “útil”, mas seria bom. Eragon queria poder saber quem era Ariän sem precisar pressioná-lo, queria realmente que algo fluísse entre eles. No mínimo confiança.

– Não espero nada que não esteja vindo. – Respondeu levantando-se. – Venha comigo, lhe mostrarei a cidadela com mais calma.

Então os dois andaram por toda a cidadela, Eragon lhe mostrou cada edifício e suas respectivas funções. A Arena de combate, onde aconteciam duelos entre cavaleiros de dragão, o Salão dos Mestres, onde estivera nos últimos dias, e as outras gigantescas construções.

Ariän – assim como Baöh – mostrou-se indiferente durante todo o caminho, mas atento. Líria e Blöh também o acompanhavam, e mostraram-se mais interessados a respeito da Cidadela. Ela vivia na floresta da Costa-Oeste de Kormodra, com outros elfos, e parecia fascinada pelas construções.

O dia havia sido bastante produtivo e movimentado para Eragon, Que mais uma vez teve o prazer de instruir alunos recentes, e as horas teriam passado por seus dedos sem que percebesse, se ele não tivesse adquirido a percepção do tempo e da movimentação do sol.

Pouco depois do sol se por, havia testado a habilidade dos novos cavaleiros em combate. Zeón, o humano de cabelos ruivos, mal sabia segurar em uma espada. Blödhgarm ficaria com a responsabilidade de ensiná-lo, tanto a lutar manualmente, quanto a fazer o uso de magia.

Os dois elfos, Vigäh e Líria já tinham mais intimidade com o uso de magia e da espada, principalmente Vigäh, era um feiticeiro habilidoso.

Kewird, o jovem cavaleiro de Shavaníra, o recém nascido dragão amarelo, tinham algum conhecimento sobre luta de espadas, já tivera aulas profissionais antes, apenas pelo prazer de lutar – O que não significava que não teria de se aprofundar, a final, um cavaleiro tem capacidade de alcançar um nível maior que um humano, elfo ou anão comum.

Enquanto os cavaleiros treinavam, aprendiam e duelavam, seus respectivos dragões brincavam pelo grande espaço de terra da Arena de Combate, mas sem atrapalhar o treino de seus parceiros. Baöh, no entanto, não se misturou aos outros dragões, assim como Ariän não mostrou a Eragon o que sabia sobre o duelo de espadas – já era totalmente evidente que fazia um bom uso da magia –. Os dois parceiros reservaram-se na plataforma, onde ficava a platéia, vazia.

Eragon observava o duelo que seguia à luz do sol que se despedia do dia, junto de Saphira, Blödhgarm, Awremöm, Oriúmos e Istalrí. Todos atentos ao desempenho dos adversários.

– Não permaneça tão perto de seu oponente. – Advertiu Blödhgarm a seu aluno, Kewird, que lutava com Líria.

O humano deu um passo para trás em guarda, mas foi inútil, pois seu oponente avançou em tempo igual, com maior rapidez, lançando uma serie de golpes com a espada de aço comum – Antes de concluir seus aprendizados, não receberiam as espadas de cavaleiro –. Kewird teve dificuldade em defender-se dos golpes de Líria, mas aparou todos de forma cansativa. Seus olhos estavam cravados nos dela e os dela, igualmente. Foi uma luta favorável para a elfa, e cansativa para o humano.

E logo acabou, com a espada de Kewird no chão e a bota de Líria pressionando o peito do humano – Como que para enfatizar a vitória – que desmoronara no chão. A elfa lançou um sorriso ao humano e estendeu a mão para levantá-lo

– Foi uma boa luta... – Disse ela sorrindo. – Você luta bem.

– Façam uma pausa. – Eragon rodou seu anel, Aren, no dedo. – não quero que desmaiem antes de irmos à próxima lição. – Deixou os alunos no campo de batalha e seguiu em direção a plataforma onde estava Ariän.

O Cavaleiro Branco olhava para Eragon, enquanto subia as escadas a seu encontro, com os olhos pesados em uma expressão de extremo tédio e indiferença.

– Observou a luta? – Perguntou já sentado ao lado do homem de branco.

Ele deu um meio sorriso, expondo a ponta de sua presa.

– Me parece que eles têm muito que aprender ainda. – cruzou os braços e encolheu os ombros, como se estivesse com frio.

– Obviamente. – Eragon também sorriu. – Com a paciência necessária irão chegar próximo ao equilíbrio de si.

– Equilíbrio de si? – Perguntou ele fazendo uma expressão de divertimento.

Eragon observava os alunos que duelavam no campo, Líria e Vigäh.

– Sim. – Eragon permitiu distrair-se mergulhando a visão nas facetas de seu anel. – O equilíbrio de todo o ser, de corpo e de alma. Só assim chegando à uma condição ideal de existência.

Ariän sorriu.

– Então você considera que o equilíbrio é realmente útil? – Ariän parecia perplexo.

– Não o equilíbrio de uma forma geral. – Eragon ficou mais perplexo ainda com o rumo que a conversa estava levando. – Veja bem... – Continuou ele adquirindo a mesma expressão travessa de Ariän. –... O equilíbrio de tudo, quero dizer, do mundo, é impossível de ser alcançado, uma vez que a própria existência de qualquer coisa já é um desequilíbrio da neutralidade. – Decidiu que gostava de conversar com Ariän.

– Então está querendo me convencer que o equilíbrio de seres naturalmente existentes, logo desequilibrados, é realmente importante? – Sorriu acusadoramente. – Prefiro ficar em minha ignorância e simplesmente aceitar sua teoria sobre o sentido da vida.

Eragon sorriu e voltou a observar os alunos que agora lutavam em pares.

– Não quer mesmo juntar-se a eles? – Perguntou Eragon com certa cautela. – Apenas para eu avaliar suas habilidades. – Continuou sem dar tempo de resposta a ele.

– Não adianta tentar, Matador de Reis. – Ariän sorriu. – Por mais que force, sempre soa como um professor... Mas já que quer tanto isto, vou realizar seu desejo. – Levantou-se. – Dê-me uma espada.

O que Eragon viu foi surpreendente. Os dois dirigiram-se até os outros cavaleiros, que imediatamente pararam o treinamento quando Ariän aproximou-se.

– Ariän ainda não foi testado. – Eragon sorriu ao observar os rostos espantados. – Vamos... Alguém se habilita a um duelo?

Os alunos se entreolharam, mas Blödhgarm os salvou.

– Lhe testarei, mais uma vez, humano. – respondeu Blödhgarm levantando sua espada de aço de luz cru com um tom brilhante. A espada pertencera a um antigo cavaleiro que simplesmente a nomeou de Lua, pois seu brilho não se assemelhava ao de aço normal, mas como o brilho do luar.

E o ápice do dia foi aquele duelo, que se estendeu por vários e longos minutos. E pela primeira vez Eragon viu a maestria e o deslumbre de Ariän. Lutava como se realmente estivesse dançando e envolveu Blödhgarm em suas estocadas e aparos, tornando a luta entre humano e elfo uma verdadeira e magnífica demonstração artística.

– Basta – Eragon disse fascinado, fazendo os dois cavaleiros abaixarem as espadas depois de uma interminável luta. –, acho que realmente o testamos hoje! – continuou ainda fascinado.

Todos pareciam compartilhar do mesmo fascínio de Eragon, – Talvez com um punhado de medo e ansiedade.

– Por hoje chega, estão liberados para ir, agora que conheceram um pouco da cidade dos cavaleiros, e lembrem-se: Amanhã irão todos à grande clareira da floresta branca, ao por do sol. Agora vão. – Disse por fim, sem ser capaz de dizer mais nada, sua concentração agora estava voltada para Ariän, assim como sua curiosidade nunca estivera.

Assim que os alunos partiram Eragon teve uma breve reunião mental com os mestres, para lhes dizer uma idéia que lhe passara pela cabeça enquanto assistia o duelo de Ariän. Foi realmente uma troca de pensamentos muito rápida, Eragon não queria que Ariän percebesse ou desconfiasse que os mestres estivessem discutindo sobre ele.

– Agora devemos ir. – Disse Eragon a Blödhgarm e Oriúmos. – Tenho assuntos a resolver, e lembrem-se, saberão no momento em que tudo der certo. – Disse referindo-se à sua idéia sobre Ariän.

Das asas de Saphira Eragon via as luzes de Venora e a torre gigantesca que ocupava o sudeste da cidade, feita de pedra negra, a torre era comandada pelos humanos da ilha, que sentiam-se mais seguros tendo sua própria proteção. Eragon achava desnecessário, mas não questionou, à final, se não fosse os humanos Venora nunca existiria. Foram cerca de mil homens no inicio, instalaram-se na ilha e ajudaram Eragon e os outros dois únicos cavaleiros da época, Blödhgarm e Oriúmos – Este ultimo tornando-se cavaleiro apenas depois de Eragon chegar da ilha –. Se não pela mão de obra dos humanos, o embrião da cidade nunca teria nascido. Posteriormente os anões tornaram a cidade na imensidão que crescia até o momento.

Depois disso Eragon pode despreocupar-se e finalmente dar início à sua missão de treinar os novos cavaleiros. Tudo se tornou melhor quando os elfos foram para o leste da ilha e criaram Noëma, todos os ovos que foram destinados à ligações com humanos, elfos, anões e urgals, haviam chocado, o restante tornar-se-iam dragões selvagens. E assim aconteceu, os dragões selvagens passaram à habitar o deserto rochoso ao nordeste da ilha – Lugar não muito visitado, obviamente.

Já a cidade de Jewän fora criada por pura necessidade, Os ovos destinados para tornarem-se dragões de cavaleiros já haviam eclodido, mas os dragões rapidamente procriaram e mais e mais cavaleiros surgiram mais rapidamente ainda.

Saphira pousou levemente entre as rochas do Rochedo-Cinzento, ao som do trovão de suas asas. O dragão seguiu a passadas estrondosas, passando pela entrada da caverna que era a casa de Eragon.

Sem esperar mais, Eragon desmontou do dorso do dragão. Murmurou algumas palavras e a grande lareira, que mais era um paredão, rompeu em chamas azuis desprovidas de calor. Murmurou mais algumas palavras e a cortina de chamas tornou-se fria ao toque e tornava refrescante o clima úmido e quente da caverna.

– Acomode-se Ariän. – Disse dirigindo-se ao seu quarto. Lá, pegou um embrulho longo e fino e apressou-se a mostrá-lo ao humano.

Sentou-se na grande mesa circular e o desembrulhou olhando para Ariän, que estava atento de olhos, mórbidos, fixos.

Era Islingr, a iluminadora, ou Vrangr, a distorcida. Seja como for, era a espada de Vrael, o líder dos antigos cavaleiros, antes da queda. Ariän olhou com interesse para a espada.

– Esta é Islingr, a iluminadora – Disse Eragon antes de qualquer pronunciamento. – Pertenceu ao antigo líder de nossa ordem, e depois ao traidor Galbatórix, como já ouviu ontem nas histórias que lhe contei. – Entregou a espada à Ariän. – Umaroth não aceitou tão fácil esta decisão de lhe entregar a espada de seu antigo cavaleiro, portanto faça bom uso dela.

Ariän o fitou com um olhar desconfiado.

– Me parece uma boa espada. – Disse desembainhando e erguendo a espada à altura do peito. – Não recusarei o presente. – Disse em um tom mais serio.

Talvez não significasse nada para ele, mas Eragon não se importava, Ariän era cavaleiro, e muito habilidoso para ser negado. E avia escolhido ficar pelo bem do parceiro de mente. Não havia mais nada a fazer a não ser reconhecê-lo como um cavaleiro completo.

Eragon o fitou de cima a baixo. Agora, com a espada, parecia completo, feito de um único material puro éter, totalmente branco. Baöh ao seu lado parecia feliz acima de toda a sua melancólica dor.

– Agora pode fazer suas próprias escolhas.

Ariän o olhou com peso no olhar.

– Eu sempre pude. – Retrucou acusadoramente.

Eragon assentiu desculpando-se.

– Agora mostre-me o que pode realmente fazer. – Disse Eragon desembainhando Brisingr.

Os olhos de Ariän brilharam por um breve momento, e então levantou Islingr com o rosto desprovido de emoções.


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Notas finais do capítulo

Então? o que acharam?
Espero por dicas e opiniões, argumentação. Interação.
E é isso, esperem o capítulo do próximo mês.



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