Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 41
Dádiva sob instintos


Notas iniciais do capítulo

Olá, Cavaleiros, como vão?
Eu adorei concluir este, e pretendo começar a escrever o próximo esta noite, depois da animação que foi escrever este.
Espero que este personagem esteja correspondendo ou surpreendendo as expectativas de você, hahahah
boa leitura



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Gelo. Foi a primeira palavra que veio em sua cabeça antes de abrir os olhos. Um rosto feminino o olhava com espanto e dizia algo que ele simplesmente ignorou. Levantou-se rapidamente e articulando precisamente os membros atirou-se para fora da caverna em que se encontrava, numa corrida excitante na neve.

Seus pés afundavam no branco e seus olhos focavam no topo daquela montanha. As suas vestes não faziam tanto peso sobre seu corpo como o normal. Ele sentia-se bem em atividade.

Demorou para alcançar o topo, mas não tanto. O Sol glorificava aquele lugar, como se quem o alcançasse fosse realmente digno de seu calor naquele inferno de gelo.Na ocasião, apenas Serje e ninguém mais.

Serje... só agora o rapaz lembrava do que acontecera antes de desmaiar. O dragão de muitas cores deixando a pele despida das elfas dançarinas, as palavras amargas numa grave voz celestial e sonolenta e o reboliço que elas causaram em sua mente.

­– Yonärea... – A sua voz soou mais potente e metálica que antes. A garganta reverberava agradavelmente. – Preciso falar com Yonärea. – Ele pôs-se a descer a montanha, sem ao menos perguntar-se o porquê de subi-la.

Encontrava-se mais calmo ao adentrar a caverna novamente, cheio de perguntas, mas sem pressa de recebê-las, pois sabia que a elfa compartilhava de algumas delas.

A caverna era uma curta brecha na montanha, uma rachadura desenvolvida de longos anos, irregularmente, mas era tudo que ela pudera encontrar no frio, Serje presumia. A Lady estava sentada, abraçada aos joelhos do lado de Zoräes. Serje sentia o lobo com mais intensidade em sua mente, sentia-se mais íntimo e com mais do animal. Era como se uma onda invisível reverberasse quando estavam próximos.

— Serje, o que aconteceu... – Ela olhava talvez brava ou irritada. – Por que atirou-se para a neve deste jeito?

O rapaz aproximou-se. Sua respiração era mais audível e os pulmões roubavam mais ar, dando-o uma clareza em demasia do ambiente ao redor. Serje sentia-se vivo de uma forma inacreditável e trapaceira. Os seus ouvidos alcançavam os pequenos ruídos escondidos pelo ar e sua visão despia detalhes. Sentia-se seguro para fazer o que quisesse, era um predador, e o mundo sua presa.

— Yonärea, você está bem? – Ele aproximou-se e retirou sua capa. Virando-a tentou envolve-la nos ombros dela.

— Pare! O que está fazendo? Não há necessidade, eu estou em perfeita forma. – Ela afastou seus braços.

— Desculpe, eu... eu estou confuso. – Serje balançou a cabeça. – Onde estão as elfas?

— Elas já foram.

— E os dragões? – Mordeu o maxilar e fungou.

Yonärea olhou-o com preocupação.

— Os dragões são... são... como uma entidade, Serje. – Ela levantou-se. – Eles representam os antigos da Ordem dos Cavaleiros. Deixe-me lhe mostrar. – Ela fechou os olhos e imediatamente Serje sentiu algo em sua cabeça que não pertencia a ele.

O rapaz não soube reagir inicialmente, mas sabia tratar-se de Yonärea. Era como Zoräes que estava sempre presente em sua cabeça, só que numa pequena fração. Ele recebeu lembranças de festividades, mortes, cores, canções e reuniões. Pôde ver novamente o dragão espectral ligado às elfas navegar no ar, a suas conversas com diversos, e pôde sentir a importância de suas  participações no decorrer da história.

Serje abriu os olhos, encontrando os de Yonärea, e sorriu.

— Nós podemos salvar os Lobos de asas.

— Serje. – Ela inclinou a cabeça, olhando-o séria. – Você precisa ter consciência do que os Antigos fizeram com você. – Ela estendeu-o um espelho que primeiramente Serje concluiu que não o refletia.

O que via era um rosto muito vivo, corado como se a quantidade de sangue que percorria em seu corpo houvesse aumentado. As suas feições não eram as mesmas, não chegavam perto de serem simples. Achava semelhante às dos elfos, mas ainda assim tinham algo a mais, uma ferocidade, uma vivacidade expressiva, como um animal. Seus cachos negros ganharam um tom castanho vivo e um volume belo.

Mas aquilo tudo foi esquecido quando fitou os próprios olhos. Eles eram líquidos de tão brilhantes, e desiguais como se significassem cada uma algo, com suas peculiaridades e propriedades. Um da cor de ouro, salpicado de mel, outro vermelho sangue, uniforme e penetrante. 

— Yonärea... – Ele viu-se de todos os ângulos possíveis. Afastou os cabelos para detrás da orelha. Elas eram agora pontudas como as da lady. – O que eu sou?

— Você é você, Serje. Não posso lhe dizer até onde vai a alteração dos antigos sobre você. – A ruiva foi até o livro dos Fäghros e folheou-o com pressa nas mãos. – Dávya explicou-me o porquê dos olhos desiguais nos Fäghros. Eles representam as duas formas do animal, a cor mestiça em um representa sua normalidade, e a cor forte, escura e uniforme representa sua transformação. Existem níveis de facilidade para com a transformação, os que apresentam domínio igual sobre as duas formas e os que tem uma preferência natural para com a segunda forma. Numa escala que vai do vermelho ao violeta. – Ela olhou para Serje, intrigada. – Zoräes apresenta maior estabilidade, sua segunda forma não apresenta dominância, não há problema para ele estar numa forma ou em outra.

“Um Fäghro que apresenta um de seus olhos de cor violeta, dificilmente será visto em sua primeira forma.” Ela franziu o cenho. “Por que seus olhos mudaram de cor? O que os Dragões fizeram?”

Serje então compreendeu o porquê de ela ressaltar aquela parte do livro. Yonärea achava que Serje possuía duas formas agora.

— Eu não quero pensar nisso agora. – Serje grunhiu ruidosamente, como um lobo. – Eu preciso saber como isso pode nos ajudar a salvar os Fäghros.

Lady Yonärea juntou as mãos.

— Depois de você desmaiar, os antigos definiram a fronteira do território dos Fäghros. Não tenho conhecimento de mais nada. – Ela suspirou. – Não podemos simplesmente sair a procura de cada um dos Fäghros e assegurar que continuem vivos. Temos muito pouco para poder salvá-los.

— Mas acredito que temos o suficiente. – Serje murmurou. – Os antigos não nos dariam o insuficiente. Eles me disseram “o necessário”, não? – Foi para fora da caverna. – Eu posso não saber muito a respeito, Lady, mas farei exatamente isso.

— O que seria isso? – Ela o acompanhou às pressas para fora.

— Irei atrás de cada um dos Fäghros e me assegurar que que sobrevivam. – Serje ajustou a Chama do Inverno em sua bainha.

— Eu creio que precisamos estudar um pouco mais e chegar a uma conclusão melhor.

— Faça isto você... – Serje agarrou o braço dela com brutalidade. – Você é inteligente, elfa, eu não... Quando “chegar a uma conclusão melhor”, eu estarei aqui.

Serje percebia algo novo no olhar da elfa para consigo. Sua nova fisionomia era mais intimidadora, talvez.

— Logo estarei de volta. – Ele pousou a mão em seu ombro e acariciou, desculpando-se pelo tratamento rude.

Zoräes saltou para fora com asas a bater. Os pelos do animal encontravam-se mais espessos e assanhados. Balançou a cabeça e abaixou-se para que Serje pudesse montá-lo. O Rapaz saltou para o dorso com uma rapidez absurda. Num salto encontravam-se no céu, afastando-se da caverna como uma flecha.

Serje sobrevoava o branco com impaciência. Não tinha uma ideia concreta de como poderia achar os Fäghros, e nem a paciência que sabia que precisaria ter.

Em determinado momento ele desceu até a neve, apenas para ajoelhar-se e pensar no que fazer a seguir. Zoräes sentou-se e pôs-se a observá-lo, tornando mais difícil ainda concentrar-se.

— O que você tanto observa? – Serje perguntou sorrindo. – Não está ajudando em nada.

O lobo deu um passo para frente, e ele pôde sentir a ligação entre os dois fortalecer-se. Uma onda de informações percorreu a cabeça de Serje como água morna, como acontecera quando Yonärea o mostrava os Antigos.

Viu muitas asas batendo agonizantemente, olhos bem abertos e... árvores. Sangue, presas, morte, vida, sonhos. O rapaz abriu os olhos, sabendo exatamente onde encontrar os Fäghros.

Zoräes abaixou-se para ele subir, com um olhar frio em olhos quentes.

— Eu não consigo mais lembrar de como era minha vida sem você... – Disse o rapaz orgulhoso.

As árvores que vira nas lembranças de Zoräes encontravam-se ao noroeste, depois das montanhas, onde nem sombra nem céu azul alcançavam. O Cavaleiro olhava com atenção enquanto o lobo perfurava o ar velozmente entre as montanhas.

As montanhas os abandonaram, e Serje sentia-se como se ainda não as tivesse atravessado. O branco de um lado delas era o mesmo que do outro. Ele se perguntou como seria possível viver uma vida inteira ali.

Voavam cada vez mais baixo, e quando as árvores finalmente surgiram à vista, Zoräes pousou. Serje não queria chegar chamando tanta atenção, os Fäghros eram animais assustados e imprevisíveis.

Os dois amigos aproximavam-se cautelosamente, ambos com medo do que iriam encontrar dentro daquela floresta de árvores despidas de folhas.Por um momento Serje não tinha a mínima noção do que fazer quando encontrasse o primeiro Fäghro.

Encontraram as árvores, sendo recebidos pelo barulho seco dos galhos batendo ao vento denso e frio. A neve envolvia os troncos como bocas esfomeadas sugando um osso de galinha. Tudo ali era morto e frio.

— Cuidado, Zoräes... – Ele andava sem fazer barulho, olhando para o topo das árvores. – Quanto tempo você ficou neste lugar antes de Dávya o domesticar?

O lobo grunhiu baixo e o fitou de olhos cerrados, acusadoramente.

— Desculpe-me, eu falei sem pensar. Vamos continuar.

Estavam andando alguns minutos pelas árvores, já não sabiam quão dentro da floresta estavam, e já não se preocupavam tanto em não fazer barulho. Sempre que pensava em dar meia volta, Serje lembrava-se que lhe faltava paciência e continuava, de cabeça erguida e cara fechada.

— Você não pode senti-los ou algo assim? – Serje perguntou estupidamente. – Eu não achei que seria tão difícil encontrar os Fäghros. Não mentirei para você, imaginava que este lugar era repleto de belas criaturas.

Belas criaturas que pareciam não existir. As árvores mortas estavam tornando-se menores, e nem um lobo, com asas ou não, apareceu. Porém, Serje sentia algo diferente, um cheiro estranho que não parecia pertencer a nenhum animal. O rapaz farejava o ar e caminhava de encontro à origem do odor.

Seu olhar franzia-se enquanto o nariz trabalhava e o cheiro tornava-se próximo. Um som abafado de caminhada em neve o fez saltar.

— Então Dávya tinha razão? – E a voz repentina gargalhou rouca e aguda.

Serje virou-se assustado, sem compreender tamanha incoerência. Quem o surpreendia no meio de uma floresta morta no norte inabitado e desconhecido da Alagaësia?

Uma velha magra com um vestido negro, carregava um cajado semelhante ao de Dávya. Sua cintura era marcada por um cinto de couro marrom desgastado, onde prendia-se uma adaga de cabo amarelo. Na sua cabeça de cabelos cinzentos e quebradiços repousava um chapéu preto pontudo. Seu rosto rugoso carregava um sorriso sem alguns dentes e um olhar franzido e mangador.

— A velha da adaga de cabo amarelo... – Serje sussurrou apenas para si. Era a velha que jogara um jogo esquisito com adagas e um tronco de árvore marcado com símbolos estranhos, quando o rapaz esteve na casa da velha elfa. – O que faz aqui, velha? Está me seguindo? O que você quer?

— Velha? – A voz rouca soou acusadoramente. – Dávya não lhe ensinou bons modos? Eu esperava mais do Líder da Alcateia!

— Líder da Alcateia? – Serje puxou a Chama do Inverno da bainha com um assovio mortal e apontou-a precisamente para o pescoço da velha. – Não me interessa, diga-me logo o que faz aqui, tão longe.

A velha ergueu as sobrancelhas confusas em meio a tantas rugas.

— Você é prático, e desconfiado, obviamente! – Ela disse à vontade, mas sua postura não se alterou em nenhum centímetro, reconhecendo a ameaça de Serje. – Você será um bom líder. Dávya sempre soube o que fez? Eu não acredito que ela tenha conseguido, um brinde!

Serje suspirou e abaixou sua espada.

— Você me explicará o que está acontecendo? – A espada voltou para a bainha, e o olhar ameaçador do rapaz tornara-se suplicante, de quem não via mais caminhos a não ser os que aquela velha o mostrasse.

— Mas claro! – Ela pôs-se a rodar estalando os dedos, saltitando de uma perna para outra. – Mas primeiro vamos brindar... Eu acabo de conhecer o Líder da Alcateia.

— Vejo que deveria ter me dado mais importância quando visitei a casa de Dávya, mas, ao invés disso, me ignorou como se eu fosse mais um dos móveis desorganizados, e agora está toda feliz por conhecer o “Líder da Alcateia”.

— Aquela casa não era de Dávya, é minha, e você não devia sentir-se tão ferido, o que queria que eu fizesse? O beijasse os pés? Eu não poderia me intrometer no trabalho de Dávya, garoto... minha parte era manter as ordens enquanto você não surgisse aqui. Bem, meu trabalho está praticamente acabado. – Ela suspirou divertidamente.

Serje balançou a cabeça, agoniado.

— Podemos conversar melhor em outro lugar, onde minha amiga está. – Serje fungou. – Você já atrapalhou minha missão mesmo...

— Procurar os Fäghros? – Ela abanou a mão, expressando desinteresse. – Você é o Líder da Alcateia, não precisa sair por aí atrás deles, basta chamar.

Serje franziu o cenho, admirado com o que aquela mulher lhe dizia.

— Esqueçamos isto por hora, vamos até Yonärea. – Ele montou em Zoräes. – E não me chame mais de Líder da Alcateia.

— Que seja. – Ela gargalhou. – Você é teimoso... Ei, ei! Espere! – Ela exclamou quando Serje preparava-se para voar. – Não vai me levar com você?

— O que? Eu pensei que... – Dávya nunca o acompanhou no dorso de Zoräes. Era difícil não relacionar aquela velha a ela. – Esqueça. Venha, suba.

Assim que pronto, com pressa os três foram ao céu, acompanhando o mesmo percurso pelas montanhas. A velha de preto não parava de gargalhar em nenhum momento, e tanto Serje quanto Zoräes encontravam-se furiosos.

Localizar a rachadura na montanha onde se encontrava Yonärea não era um trabalho difícil para Zoräes. O Lobo pousou em extremo silêncio e encolheu suas asas em patas dianteiras. A neve parecia fortalecer-se, e a entrada da caverna era menor. Serje sentia o ar perfurar seus dentes enquanto respirava.

Dentro da caverna, Yonärea repousava sob os joelhos, de coluna ereta e olhos fechados no rosto pacifico entre o emaranhado alaranjado. Algumas luzes coloridas iluminavam as paredes rugosas com passividade.

— Yonärea... – Serje chamou-a receoso, esperando saber como explicá-la do surgimento repentino da terceira pessoa. – Eu preciso lhe mostrar... Ah, poderia abrir os olhos?

 – Lulina, eu posso saber o que faz aqui? – A elfa congelou o humor do ambiente com seus olhos azuis.

— Ora, elfa, uma velha tem curiosidade. – A mulher de preto aproximou-se sem cerimônias. – E aposto eu que anda tão perdida quanto possível que alguém como você esteja.

— Mal posso imaginar o estado da mente de Dávya para que tenha aceitado a sua ajuda. – A elfa fez as luzes flutuantes derramarem-se no ar com violência.

— Bem mais sensata que você e todo este rio de fúria e estupidez.

— Basta! – A elfa levantou-se.

— Basta digo eu! – Serje grunhiu cerrando os punhos. – Não posso acreditar que tenham se esquecido da minha presença. Respeitem-me! – Ele puxou a Chama do Inverno de sua bainha branca. – Sentem-se educadamente e conversem sem ofender ninguém, e não me confundam mais.

Yonärea voltou a sentar-se, sem parar de fuzilar a velha com o olhar em nenhum momento.

— Entre, Lulina, ou seja lá quem for.

— É muito gentil, Cavaleiro. – Ela deu uma gargalhada e desfilou até o canto oposto de Lady Yonärea na pequena caverna, sentando-se com dificuldade.

— Agora expliquem-me detalhadamente tudo o que aconteceu depois de Dávya voltar da ilha dos cavaleiros. – Ele pediu levando a mão à testa, desnorteado e estressado. – Se seguirei esta vida, terei de saber o que sou, quem sou, quem me acompanha, e o que levou cada um de nós até aqui.

— É justo. – Fria, disse Yonärea. – Comecemos por Lulina, a bruxa que foi exilada do Império pela Rainha Nasuada por utilizar de magia a seu favor e causar diversos danos pelas cidades no decorrer dos últimos quinze anos, além de brincar por aí com espíritos.

Lulina gargalhou ruidosamente, como um relinchar.

— Ora, Lady Yonärea, quanto do que você citou considera errado? – Ela balançou a cabeça. – E quando o errado é condenável? E o correto? Considera correto Nasuada retirar a liberdade das pessoas?

— Não considero correto retirar a liberdade de ninguém com sua supremacia, como você também fez.

— Você me conhece muito bem, não, Lady? Diga-me o que fazia a respeito dessa injustiça que acontecia no mundo? Sentava-se num trono de folhas na sua cidade enquanto apreciava as estrelas? Quantos dedos você teve de mover para governar Nandindel? Aposto que tem um senso de justiça muito aguçado.

— Você conhece-me igualmente bem. Tenho senso de justiça e correto suficientes para não levantar-me agora e impedir que continue respirando e causando mais desprezo ao mundo com sua existência.

— Parem de atacar uma à outra. – Serje disse, e Zoräes grunhiu em concordância. – O que você fez para ser exilada? E se foi, como pude encontrá-la em Ceunon?

— Rapaz, eu faço parte do grupo de muitos magos injustiçados que foram expulsos do Império da grandiosa Rainha Nasuada. E tudo por seu desejo de alterar a ordem da natureza e atrasar o alcance de mais conhecimento. – Ela fitou-o sinceramente. – Você é daqueles que acredita que a magia é uma injustiça, não é?

Serje engoliu em seco.

— Eu não sei bem mais em quê acredito. Talvez não.

— Não. – Ela sorriu. – Nasuada é um grande erro para o Império. Ela busca justiça, mas não percebe o seu egoísmo e sua queda pela brutalidade da monotonia humana.

— Não exagere. – Serje exclamou. – Nasuada é uma boa Rainha... Talvez ela apenas não enxergue da maneira correta... Talvez se alguém a convencê-la... – Ele balançou a cabeça. – Bem, isso não tem tanta importância agora. Hoje mais cedo você me falou sobre eu ser o “Líder da Alcatéia”, o que quis dizer?

Ela riu.

— Primeiro me responda, você pode me explicar como criaturas mágicas que dominam a imortalidade podem aproximar-se tão criticamente da extinção?

Serje não respondeu.

— Eles não possuem extintos desenvolvidos como os outros animais, rapaz. São como os Seres humanos, precisam de alguém que os ensine, e que cuide deles. – Ela retirou um cachimbo de dentro de seu vestido. Serje lembrou-se de Dávya, e perguntou-se por que as duas velhas eram tão parecidas. Teria Dávya absorvido a personalidade de Lulina? – Existe outra coisa que não sabe sobre os Fäghros... isto Dávya não pôs no livro. Eles vêm ao mundo com uma parcela de energia a mais do que o corpo pode transportar. Falando grosseiramente, a alma destas criaturas transborda o corpo, e uma camada dela envolve-o. Ao invés do corpo envolver sua alma a alma envolve seu corpo. – Ela disse mais impaciente quando ele franziu os cenhos. – Isto os torna sensíveis ao contato com o mundo, e muito do que nós não somos capazes de absorver, eles são. O que os torna um tanto sabeis, ainda que de forma delirante. Agora imagine que esta maravilhosa espécie está desaparecendo.

— Onde chegamos à parte do Líder da Alcatéia? – Yonärea perguntou.

— O que os Fäghros precisam para sobreviverem a esta terrível faze é de união... E isto só é possível se tiverem um Líder do grupo. A transformação de Serje o proporciona habilidades de comunicar-se com os Lobos de asas, e traz aos animais a necessidade de segui-lo como líder da espécie, faz parte do instinto deles agora. – Yonärea arregalou levemente os olhos com o pronunciamento. – Então, rapaz, se quiser reunir os últimos Fäghros existentes e salvá-los, basta querer.

— E como farei isto? – Ele perguntou, intimidado.

E ela gargalhou ironicamente.

— Apenas faça, rapaz, vamos! Não duvide de mim.

Ele levantou-se, tremulo. Lançou um olhar confuso a Yonärea, que respondeu com um levantar de sobrancelhas, e caminhou para fora da caverna.

Ao sentir o gelo no rosto, fechou os olhos e abriu os braços. Uma onda de compreensão o atingiu e seu ser ganhava coragem e soberania. Sentia-se como que no comando do mundo. A sua consciência fluía, tocava tudo sem limites, como Yonärea e Zoräes o tocaram, e ele agarrava cada pequena coisa por qual passava com sua mensagem.

Serje pode sentir muito... pode sentir muitos, e trazer mais. Seu recado era transmitido para os seus iguais, para a família a qual pertencia agora. E durante algum tempo esqueceu o que era a solidão. O Líder da Alcatéia abriu os olhos e aguardou, não tanto, mas não tão pouco.

As suas esperanças concretizaram-se como uma grande e imperante montanha, quando duas, quatro e incontáveis asas surgiram no céu cinza de frio voando céleres em sua direção.  


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Notas finais do capítulo

E...?
Serje, assim como alguns de meus personagens originais, vem me conquistando... eu mesmo me surpreendo com o rumo que acabo encontrando para eles. E tenho me agradado bastante, espero que a vocês também!
Aguardem o próximo, pois ele virá, cedo ou tarde...
Tenham um bom dia!
11/04/16



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