Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 31
Uma Magnífica Esperança


Notas iniciais do capítulo

Olá, cavaleiros!
Tive alguns problemas durante a escrita deste capítulo... ele estava pronto ainda quando o anterior foi postado, mas esperei este tempo para decidir se o postava ou não.
Enfim... obviamente, escolhi postá-lo.
Boa leitura, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/506861/chapter/31

Ismira ergueu a cabeça apenas à procura de mudar a posição. Deitada ela olhava para o céu contando as folhas das árvores, e tentando memorizar cada uma delas. Seria possível contar centenas de folhas das árvores sem que repetisse alguma delas? Ela se perguntava, sem nada mais para fazer.

Estavam à beirada rio que seguia as Montanhas Beor. Imensas, elas faziam parte do seu mundo como se fossem as roupas que a davam pudor. Um corredor de paredes verdes extensas.

A garota sentia-se até culpada, mas estava se divertindo com aquilo tudo. Voltara a sentir-se bem diariamente, praticando tiro ao alvo, treinando de espadas com Elva e aprendendo magia. Ela queria esquecer o que acontecera em Carvahall, e ocupava-se de todas as formas possíveis.

Devia estar próximo do meio dia. Era o período mais iluminado... ela já havia aprendido a perceber a passagem do tempo naquele lugar. Fazia cinco dias que seguiam viagem por dentro das montanhas, cinco noites e quatro dias dentro do lugar estranho. Ismira tinha medo à noite, os sons eram muito diferentes ali, e até de dia era um pouco escuro, mas era um bonito lugar.

– Veja... – Dissera Elva, apontando, no primeiro amanhecer. – São Nagras... Certamente você já comeu algum em um banquete qualquer em seu castelo, mas aqui, posso lhe dizer, são bem vivos e igualmente perigosos.

As criaturas estavam deitadas na encosta do que pareciam ser dois barrancos, formando uma depressão no meio das arvores. Os javalis gigantes pareciam apáticos à presença de Elva e Ismira, mas fugiram como galinhas num quintal quando avistaram Gorjar e todo o seu tamanho.

No segundo dia, Ismira já estava mais que ansiosa para chegar à montanha dos anões, e entender o que pretendia a feiticeira com tudo aquilo, mas a ansiedade transformou-se em histeria. Bem... não era como estar alegre de verdade, ela sabia, mas ela havia cansado de sentar-se a noite e chorar, não podia mais fazer isso.

Levantou-se da grama e olhou entre as folhas o pouco do dourado que vinha do sol. Foi até o rio, mergulhou as mãos em concha e bebeu da água fria e saborosa. Haviam parado ali fazia alguns minutos para descansar da viagem demorada.

– Quando poderemos continuar? – Perguntou para Elva.

– Logo... – Respondeu a feiticeira que se concentrava no reflexo pálido no rio.

Ismira observava curiosa a feiticeira, mas não tinha coragem de se aproximar ou perguntar o que tanto ela olhava. A garota deu de ombros, recostou-se numa árvore e puxou a espada da bainha. O aço havia se tornado seu refúgio. Era a ele que recorria quando precisava ocupar a mente e fazer as horas passarem mais rapidamente. Pegou a redonda e bonita pedra de amolar que morava em seu bolso e pôs-se a trabalhar. O barulho peculiar a fez voltar a Carvahall. Fechou os olhos e imaginou os soldados treinando no pátio do castelo, ao som da pedra riscando o aço.

Inevitavelmente lembrou-se de Serje. O soldado de cabelos grandes e encaracolados sorria, com suas feições simples e o pontudo nariz, enquanto duelava com um soldado qualquer. Ismira gostava de imaginar que estava tudo bem. Que Carvahall estava em seu lugar, com seus moradores, e ela viajava num passeio tranquilo até Farthen Dûr, para conhecer a cidade de dentro da montanha...

Quando ela voltasse, lá estaria seu pai e sua mãe, esperando-a com saudades. Hope a levaria pelas ruas da cidade lhe contando tudo o que acontecia sem sua presença. Serje... Serje estaria de braços abertos e ansiosos, fortes, eles a aguardavam para sua proteção e calor. E ela voltaria... Era fácil acreditar nisso, e ela podia esquecer-se muito rápido do inferno que vivera, mas o grande problema era que seu humor ondulava ao som do passar do tempo.

Abriu os olhos, percebendo que não se concentrava na tarefa de amolar a espada, e isto era um erro, um erro terrível. Devia se concentrar em tudo o que fazia, pois tudo o que fazia vinha de sua mente, e sua mente devia estar no controle se ela quisesse desenvolver-se como feiticeira. E era o que ela queria, desde pequena, quando vira os elfos pela primeira vez, e Sírin. Ela nunca se esquecia. O elfo de cabelos castanhos havia feito uma bolinha de luz para que brincasse. Na época, com seus sete anos, aquilo a fascinou muito.

– Já estamos prontos? – Elva ergueu-se e afastou-se das margens do rio com calma e solenidade. – Farthen Dûr... Falta pouco. – Ela espreguiçou-se exageradamente, fazendo as costas envergarem-se como um arco ao se puxar a corda. – Você provavelmente nunca esquecerá esta viajem. Imagine... conhecer a grande montanha oca! – Os olhos violetas cintilaram. – Vamos, levante-se. – A feiticeira estendeu a mão para Ismira. A jovem agarrou a mão pálida.

Ismira não sentia tanto medo de Elva como antes, ela era até um tanto engraçada e bonita. A garota gostava algumas vezes de conversar com ela, e fingir que eram melhores amigas. Fingir... Seu mundo, tudo agora, era fingir. Fingir estar feliz, fingir estar tudo sobre controle, fingir um lar, amigos... Mas era assim que ela sobrevivia.

A viagem continuou e logo o ritmo monótono os invadiu novamente.

– Rei Orik sabe que estamos indo? – Perguntou Ismira tentando conversar com a Feiticeira, que parecia mais séria que o normal. – Não acha que podemos causar algum tipo de confusão chegando na cidade dos anões com... é... com um urso? – Ela arrependeu-se logo em seguida, amargamente, do que disse.

Eu sou apenas um Urso, garotinha? Senhor Gorjar grunhiu. Eu acredito que posso comportar-me melhor que você em qualquer situação.

Gorjar não será um problema, Ismira. – Respondeu Elva concentrada no caminho.

Ismira estava estranhando o jeito da feiticeira, aquilo a estava deixando inquieta, mas mesmo assim seguiu calada o resto do percurso. Não sabia o que significava aquele comportamento, mas uma coisa era clara: Não seria muito bom perturbar a feiticeira no momento.

As arvores abriram-se em volta numa passagem onde as montanhas eram ligeiramente mais distanciadas. Ismira pode ver muito do céu, e brancas contra a luz as cabeças das montanhas. Senhor Gorjar caminhava ávido, como em nenhum outro lugar antes das montanhas. Ismira sentia que o urso pertencia àquele lugar. Ela sentia vontade de falar, principalmente com ele, mas sentia-se pressionada por aquele silêncio forte e esquisito, e nada conseguia vir à mente.

– Algo está errado... – Ismira sussurrou de repente.

– Fique quieta e calada... tente aproveitar a viagem, e nada de precipitações. – Disse Elva. – Estamos quase lá.

Ismira seguiu o conselho, mesmo que inquieta com a seriedade de Elva. A feiticeira parecia sempre rir do mundo, debochando-o. Ismira jamais a vira tão séria. Mas pouco sabia sobre aqueles dois que toparam em si numa floresta, por acaso ou não, e decidiu não haver importância naquela mudança de comportamento.

Continuaram, independente de seu temperamento. Os movimentos enjoativos que fazia o dorso de Gorjar não ligavam para seu tédio. Aos poucos Ismira foi tombando para frente, e dormiu, com a cabeça encostada nas costas de Elva. Ela percebeu o que fazia, mas não ligava, a feiticeira nada disse, então dormiu.

Quando acordou, a luz vinha de detrás das montanhas, esparramada pelo céu como tinta fraca. Logo escureceria completamente. Ismira deu um longo bocejo e remexeu a língua, desconfortável com a saliva.

– Estamos mais próximos agora, não é? – Ismira coçou o couro cabeludo, sonolenta.

Elva virou-se na cela para contemplá-la com os olhos violetas julgadores.

– Certamente. – Disse com lentidão. – Derrame um pouco no rosto e desperte. – Ela lhe estendeu um odre de água. – Você dorme muito, Lady... Isto não é bom. Os feiticeiros trabalham com a mente, com o mundo e com toda sua energia. Dormir demais nos faz perder muito do que acontece no mundo. Durma apenas o necessário, a partir de agora, estamos de acordo?

Ismira assentiu devagar, sentindo o corpo dolorido. Abriu o odre e despejou a água no rosto. A água fria a fez estremecer e ardeu em suas pálpebras. Só então percebeu um grande portal de bordas douradas na parede da montanha à sua frente. Um lago morria na grande entrada. Uma queda d’água derramava-se no portal, mas não tapava a passagem, derramava-se nas bordas douradas e partia-se no meio, a água deslizava pelas bordas do bonito e grande portal até adentrar o lago.

– Estamos em Farthen Dûr! – Percebeu a garota. – Agora... agora aguardamos os anões? Ou entramos logo?

– Temos que aguardá-los. – Ela desmontou Gorjar e aproximou-se das margens do lago. – Todos os territórios devem ser respeitados, garota... E mesmo que tentássemos, não conseguiríamos sem a permissão deles.

Ismira desceu escorregando pelos grossos pelos de Gorjar.

– Eu aposto que você conseguiria... – Disse com um meio sorriso. Ela tinha certeza que Elva era capaz de fazer muitas coisas.

– Não se faz tudo o que se pode... – Respondeu Elva.

A feiticeira franziu o olhar para as águas do lago. Virou-se fazendo do manto negro um circulo. Ela olhava para o céu com seu olhar debochado.

– Parece que alguém teve a mesma idéia que nós.

Ismira olhou, também, para o céu, tentando entender do que falava a feiticeira. O céu era o mesmo azul tapado pelas incalculáveis montanhas, calmo e tedioso. Um bom tempo se passou e Ismira sentiu-se tola de fitar o céu à toa.

– Do que está falando? – Finalmente perguntou, deixando o céu em sua paz. – Para onde está olhando? – Atirou as mãos ao alto. – Às vezes você é irritante!

Elva continuou olhando para o céu ignorando totalmente Ismira. Algum tipo de fúria parecia tomar seu rosto.

Ismira voltou a olhar na direção que ela olhava, com mais atenção desta vez. A princípio nada viu, mas depois pode perceber um ponto locomovendo-se entre as montanhas. Ela achava que podia ser uma ave, não achou que fosse o que Elva observava...

...Só que o ponto cresceu. E ganhou cor, e, aos poucos, forma. Era de uma cor alaranjada, e movia-se com rapidez na direção do portal.

– É... É um... – Ismira cerrou os olhos e observou a criatura crescer em sua vista. – É um dragão!

As asas batiam velozmente e ele inclinava-se para o chão. Da cor de mel, o animal trazia uma cela presa ao corpo e alguém montando em si.

– É um Cavaleiro de Dragão! – Ismira disse sem ar com a visão.

Elva assentiu erguendo uma sobrancelha, não parecendo nada surpresa. Ismira a contemplou, incrédula.

– Você sabia o tempo todo! – Disse com receio.

– Quem quer que seja este cavaleiro, não tenho nada haver com isto. – Respondeu Elva sem tirar os olhos do dragão que pousava.

– Mas você sabia que ele viria! – Ismira segurou o cabo da sua espada. – Este dragão veio do ovo de Carvahall, e você sabia que ele viria para cá, não é?

– Aquiete-se, e tente demonstrar alguma gratidão! – Elva ergueu a mão esquerda e a espada de Ismira partiu-se e inúmeros pedaços. – Eu não percebo como pude eu vir parar neste rumo. – Deu um meio sorriso. – Estou lhe dando presentes demais, Lady. – A feiticeira olhou para o dragão com uma postura empertigada e as mãos no quadril. – Cavaleiro e Dragão, não tenham medo! Aproximem-se, somos amigos, e sua difícil jornada chegou ao fim... Estamos aqui para ajudar.

O dragão, já no chão, andava de um lado para o outro olhando para Elva com um olhar ameaçador. Um grunhido escapou da criatura. Ismira levou a mão à espada, mas lembrou-se que não a tinha mais. O dragão tinha uma cor translúcida como mel. Cada escama parecia vidro laranja e rosa. Era muito belo, e também ameaçador.

– Quem é você? – Gritou uma voz melódica. – Como saberei se posso confiar em você? – Insistiu a voz.

– Tenho comigo uma amiga sua de longa data... E pretendo ajudar, é tudo. Terá de confiar em mim, afinal, procuramos o mesmo destino, Farthen Dûr... Você foi inteligente de vir para cá!

Então Ismira avistou alguém saindo de detrás do dragão. Era alto e esguio, tinha cabelos longos e aquele mesmo rosto duro de sempre. Era...

– Sírin! – Ismira não podia acreditar. – Sírin, é você! Você conseguiu salvar o ovo, e agora é cavaleiro? Como saiu de Carvahall? Você... você sabe algo sobre Serje? Hope? Ou... – Ela parou de falar e correu até o elfo. Era realmente ele.

– Lady Ismira... – Ele arregalou os olhos. – Como... como... – Ele estava boquiaberto. – Você está viva! – Sorriu.

– Sim. – Disse Ismira orgulhosa, endireitando a postura. – E ele? – Perguntou apontando para o Dragão, só então percebeu que ainda havia alguém montado nele. – Você não é o Cavaleiro! Então... quem é? – Ela franziu as sobrancelhas tentando enxergar a silhueta montada no dorso.

O dragão agachou-se e o Cavaleiro desceu. Os dois, Cavaleiro e Dragão, andaram até Sírin e Ismira. A garota demorou a reconhecer, através do cabelo emaranhado, o rosto sujo. Caminhava ao lado do Dragão, com roupas tão esfarrapadas quanto as suas e com o nariz empinado de sempre, Hope.

Ismira abriu a boca quando compreendeu que era Hope, e que ela era a Cavaleira do Dragão cor de mel.

– Hope... – Ela aproximou-se devagar, a princípio. – Hope, você está... Aqui...

A garota do nariz empinado correu até a amiga e a abraçou com força, empurrando-a para trás.

– Ismira! Como você conseguiu? – Ela segurou-a pelos ombros. – Como chegou até aqui? Tão longe? – Ela abraçou-a novamente e beijou sua cabeça. – Eu não posso acreditar!

– Calma, Hope! – Ismira sorriu, em choque e desgrudou-se da amiga. – Você conseguiu, é uma Cavaleira de dragão agora!

Hope sorriu, seu sorriso curvado.

– Sim... – Ela aproximou-se do Dragão. – Ismira, esta é Gmäera. Gmäera, esta é Ismira.

O dragão fêmea tocou a testa de Ismira com o focinho quente.

Lady Ismira, Disse ela com uma voz forte e desenvolvida, Minha cavaleira tem falado muito de você. É uma surpresa estar viva! E um prazer conhecê-la.

Gmäera, Disse Ismira para o dragão e para Hope ouvir, É uma surpresa conhecê-la, e... você é muito... bonita. Ela completou ainda chocada.

Hope gargalhou.

– Seu professor disse-me que Gmäera significa magnífica na língua dos elfos... – Hope aproximou-se do dragão e coçou o focinho dela. – Magnífica e a esperança... não é uma boa dupla?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estive muito preocupado com este capítulo, mas... já está postado e vamos seguir adiante. Ele não é perfeito, mas para mim é o suficiente.
Quem dera saber a real impressão que vocês que estão lendo - ou lerão - tiveram dele.
Esperem pelo próximo, ate!
30/09/15



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um mundo além do mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.