Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 13
Soldado solitário


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo...
Hoje eu parei para pensar um pouco e fazer uma auto avaliação da minha fic... Bem, faço isso todos os dias, mas desta vez fiquei realmente inseguro? (Será que estou blefando ou fazendo realmente a construção de minhas idéias?)
Esta fic está tomando proporções totalmente diferentes do que eu imaginava no começo... E para realmente concluir e chegar no ponto em que a fic gira em torno, vou precisar de MUITOS capítulos. Não sei se aqui existe um limite de capítulos... mas em fim... Leiam atentamente esse capítulo, e depois comentem o que acharam não só dele, mas da fan-fic em geral, essa é minha grande dúvida.



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O caminho à sua frente era extensamente verde e plano. A neve, há muito, havia ficado para trás, com Ceunon. O que aguardava Serje agora eram as planícies que vestiam o Império. A imensidão que o jovem rapaz visitara algumas vezes, mas nunca sozinho como agora. Bem, não estava realmente sozinho, mas sua nova companhia lhe causava um pouco de insegurança.

O Gigantesco lobo, normalmente sumia quando Serje parava para dormir, e sempre voltava alguns minutos depois de o rapaz acordar, olhando-o com aqueles seus olhos desiguais, que eram as únicas coisas quentes que tinha. Às vezes voltava com um animal morto entre os dentes, que comia sozinho, afastado de Serje, mas sempre voltava para junto dele, e assim continuavam sempre no mesmo ritmo a viajem, que não era tão rápido para o desejo de Serje, o lobo não avançava mais do que desejava, andando sempre nada mais que alguns quilômetros a cada dia, e nem sempre na direção correta.

Contudo aquele dia havia sido o mais proveitoso. Desde o amanhecer até o presente entardecer o lobo saltitava vivo e veloz, ainda que voltasse a seguir uma direção errada depois de algum tempo.

Maldita seja aquela velha e sua maldita “montaria”; Serje pensava irritado; Nesse ritmo nunca chegarei a Iliera.

Serje só não abandonava o Lobo por que havia prometido cuidar dele, e mesmo que tentasse, o lobo sempre o seguia.

­­­­– Já chega! – Gritou Serje já bastante irritado com o lobo que agora pulava de um lado para o outro, sem avançar mais. – você deve ir para lá, estupido! – Apontou para o sul.

Maldito animal descontrolado... Serje não sabia mais o quefazer. A velha lhe disse para ensinar o lobo, mas era um animal selvagem. Como faria isso? Não é um cavalo que eu possa guiar, nem um dragão com quem eu possa falar. A única forma é... Fazê-lo me respeitar. Refletiu Serje com um punhado de esperança.

­– Não sou nenhum domador ­– Disse descendo das costas do lobo. – Nenhum cavaleiro de dragão. – Continuou, atirando o arco a aljava e a Chama do inverno ao chão, e tudo mais que pesava sobre seu corpo. ­– Então, se conquistarei seu respeito, rapazinho, será fazendo a única coisa que sei fazer. ­– Concluiu tirando a pesada capa negra, sua túnica, a camisa de cota de malha e tudo o que cobria seu tronco. – Guerreando! – Gritou ele saltando em direção ao pescoço do lobo.

Este saltou para trás, sobre duas patas, quando Serje agarrou seu pescoço, rosnando. E os dois sacudiram-se, lutando um contra o outro. As garras de Zoräes arranhavam suas costas, e o rapaz esmurrava inutilmente o pescoço do lobo. Por fim, os dois caíram no chão fofo, e puseram-se a rolar, um tentando livrar-se do outro, como duas crianças brigando.

Já cansado, Serje soltou o pescoço de Zoräes e afastou-se para trás ofegante, desistindo da luta. Estava exausto, com as costas ardendo e os braços ensanguentados.

O lobo não demonstrava sinais de cansaço. Pulava de um lado para o outro, com a cauda levantada, divertidamente. Foi então que Serje percebeu, perplexo e aborrecido, que o lobo estava apenas brincando com ele.

Serje soltou um grunhido de insatisfação e deitou-se, cansado, na grama por um momento. O lobo também deitou-se, ao seu lado, e pôs-se a observá-lo, como sempre fazia. Seus olhos eram certamente diferentes demais para serem de um animal qualquer... Carregavam certa solenidade, e pareciam sábios.

– Por que sempre me observa dessa forma? – Olhou nos olhos desiguais do animal. – Seus olhos... eles são quentes... e lindos. – Disse como se afirmando aquela verdade absoluta. Pela primeira vez parara para observar a beleza do animal.

Era, talvez... agora que parara para observá-lo, uma das criaturas mais belas que já vira.

Levou uma mão à testa do animal e fechou os olhos, sentindo o calor dos seus olhos. Aquilo o acalmou de uma certa forma, que tudo havia sumido: Sua sede de vingança, Martelo forte, Iliera, Carvahall... Tudo o que existia agora eram aqueles olhos, uma vermelho e outro dourado, e o calor que eles carregavam. Era muito bom... Serje sentiu segurança, felicidade, e outras sensações estranhas e.... Boas.

Aquilo era, Serje podia falar com certeza, a melhor coisa que já havia sentido na vida. Como uma melodia arrepiante, em um dia completamente nublado, porém com o gigantesco sol a se por, entre montanhas familiares e belas, com o cheiro de chuva e terra molhada em seu nariz. Era tudo isso, só que... melhor.

Quando abriu os olhos o mundo ao seu redor era outro, muito mais... ele não sabia a palavra correta... apenas arrepiantemente belo.

O lobo branco fechou os olhos e pôs a grande pata na testa de Serje. O rapaz sorriu ao perceber que o lobo havia feito exatamente a mesma coisa que ele.

– Está me imitando, rapazinho? – Perguntou Serje.

O lobo abriu os olhos e o olhou como se o tivesse entendido. Ou talvez realmente tivesse.

Quando a noite chegou, fria e escura, sem lua nem estrelas, os dois dormiram recostados em uma rocha, um recebendo o calor do outro.

Em seus sonhos, Serje percebeu que Zoräes era muito mais para ele do que inicialmente julgara – Uma “montaria” –, e compreendeu que havia ganhado o maior dos presentes de sua vida.

Os sonhos não vieram perturbadores esta noite. O cadáver de Ismira não lhe atormentou, e ele quase esqueceu-se do que havia acontecido...

A manhã veio mais gelada que a anterior, e quando acordou, Serje encontrava-se sozinho mais uma vez. Levantou-se da grama fria contra a vontade de seu corpo e cobriu os restos da fogueira. Prendeu o arco e a aljava às costas e pôs-se a caminhar. ­– A chama do inverno sempre estava na bainha, em sua cintura.

O ar estava pesado e enchia os pulmões de Serje de frio, enquanto procurava Zoräes em meio aos arbustos e às poucas arvores baixas e afastadas umas das outras que enfeitavam os campos verdes.

Não precisou andar muito para ver o lobo gigantesco voltar com uma lebre entre os dentes.

– Ah, aí está você... – Disse, afastando-se para que o lobo comesse em paz.

Mas para sua surpresa, o lobo não comeu distante de Serje, como das outras vezes. Pôs-se a segui-lo e abandonou a lebre em seus pés.

– Oh, você está... ­– Serje pegou a lebre. – Muito obrigado. – Disse como se o lobo fosse capaz de entender. – Já comeu, é isso? Então trouxe algo para mim? Não deveria tê-lo julgado.

O lobo apenas o olhava com os olhos desiguais.

– Desculpe-me por tê-lo chamado de montaria. – Sorriu.

Um lobo que traz coelhos para você... Refletiu Serje; O que mais poderia querer?

Serje guardou a lebre, enrolando-a em sua capa, e subiu no dorso do lobo.

Desta vez Zoräes avançou sem rebeldia, e na direção certa, como se soubesse para onde ir por extinto... Era incrível, ele ia exatamente por onde Serje esperava que fosse. Era como se, ao montar no lobo, suas patas tivessem se tornado parte de Serje, e andavam por conta do rapaz.

Isso é impossível... é só impressão minha; Pensava ele, um pouco assustado com o que poderia ser verdade.

Aquele dia, os dois avançaram tanto, e tão rápido, que pouco depois do pôr-do-sol, Serje já avistava as luzes de um vilarejo, que só previa vê-lo, depois de mais um dia.

Yazuac; Serje avançou até chegar bem perto das primeiras casas do vilarejo, então desmontou Zoräes.

– Nos separamos agora, amigo, - Disse afagando o focinho do lobo. – Pela manhã, nos encontramos do outro lado do vilarejo, entende? – Disse demonstrando com o dedo um arrodeio. – Você sempre me segue, certo? Irá me encontrar, agora vá. – Terminou dando uma palmadinha no focinho dele.

O lobo lançou um último olhar sábio à Serje antes de virar-se.

Serje cobriu o rosto com o capuz e caminhou até o vilarejo, observando o lobo sumir na escuridão.

Arvores cresciam por entre as casas do vilarejo e até invadiam as ruelas e o caminho principal que seguia para o restante do império. Era como se o lugar ficasse no meio de uma floresta. E ficava.

Serje andou mais um pouco, até encontrar a única taverna do vilarejo. Uma luz alaranjada saia pelas janelas enegrecidas do lugar. Serje escutava vozes e gargalhadas vindas lá de dentro.

O rapaz já estivera ali antes meia centena de vezes, na verdade, conhecia cada parte do Império, mas nunca pode aproveitar muito de cada lugar, pois sempre estava em algum tipo de missão. E dessa vez não era diferente.

Quando adentrou a taverna, o cheiro de fumo de cachimbos e álcool invadiu seu nariz, assim como o de carne mal passada. Havia um homem desmaiado no canto da taverna, mas ninguém parecia ligar. Outros riam ao ponto de estourar, assim como suas enormes barrigas.

A última vez que estivera ali fora a um ano e meio, naquela mesma taverna. Estava voltando de uma batalha para a qual foi enviado por Martelo Forte. Quando chegou a Yazuac, permitiu-se um descanso, e saiu de lá bêbado. Albriech havia lhe castigado por isso, e desde então, nunca mais bebeu quando voltava para Carvahall.

No balcão, o corpulento homem de sempre atendia os fregueses. Serje aproximou-se e lhe entregou o coelho.

– Faça disso um caldo para mim. – Pediu Serje.

O homem lhe olhou com seus olhos baixos e embriagados.

– Vai servir. – Disse o ele virando-se para a cozinha, levando o coelho consigo.

Serje esperou à mesa mais próxima. Observando o movimento da taverna... Os bêbados que discutiam entre si, os homens à procura de mulheres que lhes aquecessem a cama...

As diversas vozes aleatórias enchiam a cabeça de Serje, mas mesmo assim ele conseguiu ouvir uma conversa em especial.

– ... Estou dizendo, foi uma daquelas batalhas sangrentas, tudo foi tomado... e as pessoas saíram desesperadas, pelas ruas. – Ele ouviu um homem falar a um grupo de amigos.

– Está inventando essas histórias, ninguém jamais irá tomar Carvahall, a cidade é uma verdadeira fortaleza. E mesmo que tomassem, Martelo forte, com toda certeza, tomaria de volta. O homem é um verdadeiro herói.

– Martelo forte está morto... Um machado abriu sua cabeça... Se não acreditam, pouco me importa, eu sei o que aconteceu. Tenho amigos por lá, e estão sempre bem informados...

Os outros pararam de dar atenção a hitória do homem, mas Serje ouviu atentamente. As histórias já estão espalhando-se? Perguntou-se; Melhor assim....

– Serje? – Uma voz interrompeu os pensamentos dele. – Oh, é você?

Serje virou-se para ver quem lhe dirigia a palavra. A moça tinha cabelos negros que terminavam em suas costas, olhos castanhos claros, sobrancelhas arqueadas que completavam lindamente seus olhos. Sorria-lhe de satisfação.

– Havena... O que faz aqui? – Serje havia esquecido que poderia encontrar alguém ali, estava tão focado na sua missão que só lembrava-se de Iliera, Carvahall e todas as outras cidades por onde teria de passar, e Zoräes, claro.

Havena era uma jovem da mesma idade de Serje, sua irmã adotiva, da qual foi separado quando criança, quando foi mandado para Carvahall pelo pai, caçador.

A garota suspirou.

– É bom revê-lo também, Serj’. – Avaliou-o dos pés à cabeça. – Não vi vocês chegando desta vez, onde está o restante dos soldados?

O homem corpulento do balcão, trouxe o caldo de carne que Serje pedira... Derramou-o brutamente em uma tigela e entregou a Serje. O caldo fervia à sua frente, e ele pode sentir a pimenta arder em seus olhos.

– Não tem nós desta vez, apenas eu. – Ele explicou à curiosa garota. – Estou sozinho.

Ela pareceu surpresa, arqueando ainda mais as sobrancelhas.

– Está sozinho, desta vez? O que houve? – Ela perguntava... e perguntava... – Já que está só... Vamos para casa... Meu pai saiu para a caça, só volta daqui a cinco dias.

Se ela soubesse de tudo pelo que passei... Serje não tinha tempo.

– Não, Havena... – Ele disse com a voz pesada de cansaço. – Estou em uma viajem corrida, logo pela manhã já estarei na estrada. – Deu a primeira colherada no caldo quente e apimentado. Estava bom... Ou era ele que estava esfomeado.

A garota mais uma vez o avaliou.

– Serje, Serje... Está escondendo algo de mim, vamos, conte-me. – Ela pressionou-o, com o rosto bem próximo do seu. – Está bem diferente... Não pense que me engana.

Ele detestava o modo como ela lhe provocava, mas apesar de tudo era uma boa amiga, e normalmente partilhava seus segredos com a garota.

– Se prometer guardar segredo... – Ele propôs.

Ela suspirou aborrecida.

– Sei mais coisas sobre você do que de mim mesmo. – Ela agarrou-lhe o braço com uma mão e a tigela de caldo com a outra. – Vamos para casa... me contará tudo.

– Como se eu tivesse escolha... – Ele a seguiu.

Serje já estivera incontáveis vezes na casa de seu pai, porém nunca com a presença dele. Ele e o Pai de criação não davam-se bem... havia sido mandado para Carvahall para viver com a tia por que o pai não tinha condições de cuidar dele, e o pai passou a desprezá-lo quando resolveu tornar-se um soldado de Carvahall. Já Havena sempre foi muito próxima de Serje, mesmo não tendo o mesmo sangue eram mais que irmãos.

A casa era um pouco mais para dentro do vilarejo, já dentro da floresta. Ao entrar, as lembranças de sua infância vieram em sua mente.

– Então, guerreiro, conte-me o que aconteceu. – Já no quarto, sentou-se na cama e o puxou para sentar-se ao seu lado. – Você parece exausto, não quer dormir aqui?

Serje a encarou.

– Só será hoje... Partirei pela manhã.

– Como quiser... Talvez prefira dormir num bordel... – Ela disse acusadoramente.

Serje empurrou-a delicadamente com o ombro.

– Odeio seu senso de humor estúpido e invariável... A culpa não é minha se meu pai não me considera mais um filho... E sabe que só desejo uma pessoa.

– Ah, sim... A “Querida Raposa”, “a minha doce Lady Ismira” – Ela caçoou dele. – Sabe que nunca terá ela... Ela é uma Lady, e você um estúpido guerreiro cabeça dura. – Sorriu.

– Basta... – Ele estava irritado. – Não preciso mesmo ouvir suas idiotices hoje... Minha cabeça está lotada, não tem espaço para isso.

– Tudo bem... – Ela desculpou-se. – Mas pelo menos diga por que sua cabeça está assim atordoada?

– Às vezes você me assusta. – Ele deitou-se na cama. – Me assusta o que pode dizer à seguir.

– Você é estúpido. – Ela deitou-se também. – Esperava que eu ia dizer isso? – Ela gargalhou. – Vamos, diga-me logo o que aconteceu.

– Havena... eu... – Serje demorou um pouco para começar. – Carvahall foi tomada, Hav... – Suspirou. – Soldados disfarçados entre os nossos, tomaram toda Carvahall. Estava tudo uma confusão, não conseguia distinguir os nossos dos inimigos, então só me restou fugir... – Falar aquilo a Havena custou lágrimas que não queria derramar na frente da garota. – Entende? Eu perdi tudo... Meus amigos, Ismira... Minha cidade.

– Oh... Serje... eu... Sinto muito, de verdade. Você... com certeza irá recuperar tudo de volta. – Ela pousou a mão em seu ombro. – Está ferido? – Ela perguntou.

– Pareço ferido? – Devolveu.

– Não seja estúpido e me responda... – Disse ela enxugando as lagrimas do rosto do rapaz...

– Você poderia parar de me chamar de estúpido?

Ele tirou a capa, a túnica e a camisa de cota de malha, revelando todos os ferimentos.

– Sim... Estou ferido. – admitiu.

– Oh... – Ela olhava com espanto para os ferimentos. ­– Isso está horrível.

Ela referia-se ao corte que ele havia recebido na barriga, por uma espada qualquer. Ele realmente não estava muito bonito, mas Havena sempre fazia tempestades em copo d’água.

– Não exagere, isto logo irá sarar... Você já me viu com ferimentos piores.

– Seu corpo está todo marcado. Vamos, vire de costas.

Ele obedeceu.

Havena deu um grito tão horrendo que Serje sobressaltou-se.

– Hav? Já disse, não exagere...

– Não, Serj’, veja, você tem de ver... – Ela o guiou para o espelho.

Serje não conseguia ver muito de suas costas, mas conseguia ver que sua pele estava aberta em sulcos enormes, cobertos de crostas de sangue seco. Aquilo sim parecia realmente horrível.

– Isso não me parece com uma espada... – Ela observou.

– Hum... tem razão... não parece mesmo. – Ele era incapaz de dizer mais.

Ela o encarou, com seus olhos castanhos, brava.

– Espero que não esteja me escondendo mais nada. – Ela o pressionou novamente com os olhos.

Na ausência de sua resposta, ela continuou:

– Vamos, conte-me logo o resto da história que ainda não me contou.

Sem escolha, Serje deu apenas um longo suspiro e contou a ela sobre sua fuga de Carvahall, sobre sua chegada a Ceunon, e então a parte mais difícil, contou-a sobre a velha que lhe escrevera a carta de que precisava, e sobre a “Montaria” que ela lhe havia dado. E de como ganhou aqueles sulcos nas costas enquanto tentava “domar” Zoräes.

A primeira reação de Havena foi esquecer os cortes de garras nas costas de Serje e limitar-se a franzir o cenho.

– Não está inventando isso, não é? Espero que não. Mas... Onde está esse tal lobo? – Disse ela ainda indiferente.

– Hav, eu não estou mentindo, é sério, eu realmente tenho montado um lobo na última semana, por que mentiria para você?

– Relaxe, rapaz, não estou duvidando... Eu disse isso em algum momento? – Ela continuava indiferente.

– Não, mas... eu lhe disse que estou montando um lobo gigante que ganhei de presente de uma velha, juntamente com uma espada vermelha e dourada, eu só... esperava um pouco mais de surpresa.

Ela sorriu.

– eu estou surpresa, só não sei demonstrar... nossa, isso é realmente incrível, se parar-se para pensar. – Ela voltou a olhar para os ferimentos. – Deixe-me cuidar disso... Não pode continuar viajem assim.

– Como quiser.

–//-//-

A água ardia em suas costas, mas Havena não tinha piedade, lavava seus ferimentos com água quente e despejava ervas em cima, que segundo ela, ajudaria na cicatrização.

– Aprendi isso com nossa mãe, antes dela morrer. – Explicou.

Serje pouco se lembrava da mãe de criação, mas gostava do que recordava dela...

Depois de tomar banho, Serje deitou-se na cama de Havena. A moça acendeu uma lareira para afastar o frio e fechou as janelas, antes de os dois deitarem para dormir.

Lentamente, Serje dormiu. O sono pareceu um verdadeiro coma a ele, queria movimentar-se na cama, mas estava tão cansado que não saia da mesma posição. E então teve um momento em que raios de luz invadiram suas pálpebras abscindindo sua visão... só então virou-se para o outro lado, mas foi apenas isso.

Quando finalmente acordou, estava ensopado de suor, e Havena não estava mais na cama. Levantou-se abruptamente e pôs-se a vestir cota de malha e túnica.

Quando desceu as escadas do quarto, viu Hav na mesa de baixo, preparando uma refeição.

– O que é tudo isso? – Perguntou enquanto descia as escadas.

– Deve estar com fome... Não viajará de barriga vazia. – Ela colocava talvez o décimo prato na mesa.

– Isso está, hã... Variado demais para um café da manhã...

– Você pulou o café da manhã, Serj’... Isto é o almoço.

– O que? Ah raios... Zoräes está me esperando... eu disse para ele me esperar ao amanhecer...

Ela o olhou surpresa.

– Você DISSE?... Estou começando a ficar curiosa a respeito deste lobo... Ele pode esperar mais um pouco, já esperou esse tempo todo. – Segurou seu braço e o sentou em uma cadeira. – Vamos... Não pode deixar de comer.

– Está bem... – Disse ele sentindo-se culpado pelo lobo gigante.

Serje comeu o mais depressa possível, quase sem sentir o gosto do frango com calda. Comeu uns poucos pedaços com batata e levantou-se.

A comida dela era divina, um gosto de todas as suas passagens pelo vilarejo

– Estava magnífico, como sempre... Agora não posso esperar mais... Tenho de ir, a estrada me espera.

Ela suspirou.

– Se é assim... Não vou lhe prender aqui, vá de encontro ao seu lobo.

– Não quer vê-lo? – Ele achou que queria... A garota era bastante curiosa.

– Não agora... Vá. Depois terá de voltar aqui, para me mostrar essa fera. – Sorriu.

– Eu sempre volto. – Disse ele indo à direção da porta.

Mas ela abriu-a primeiro, para ele.

– Então... até a próxima vez. – Ela disse, olhando-o com aqueles olhos castanhos num olhar familiar.

Serje segurou seu rosto com ambas as mãos e beijou-a na testa.

– Até... Irmãzinha. – Sorriu.

– Irmãozinho. – Ela gargalhou, então fechou a porta. Deixando Serje sozinho do lado de fora.

Ela era realmente uma boa companhia... Mas agora Zoräes o esperava, ou pelo menos era o que Serje achava. Vagueou pela rua que dava na estrada, então, quando percebeu já se encontrava fora do vilarejo, na estrada limpa no meio do campo esverdeado, novamente.

Sentou-se na beirada e esperou pelo lobo. O ambiente estava calmo, e, por mais que evitasse, os pensamentos voltaram-se para aquele dia, o dia em que perdeu tudo o que tinha.

Ismira e Hope estavam no meio da multidão... Terão elas sobrevivido?

Não, aqueles pensamentos de novo, não. Sabia que se continuasse, os pensamentos o derrubariam.

Mas o rosto de Ismira sempre aparecia em sua mente... Os seus olhos inocentes, que sempre o chamavam para si, os cabelos perfeitos para ele, e seu sorriso que acabava com ele... ela era tudo e um pouco mais.

Ah... Era tão difícil negar meus sentimentos para ela; Lembrava ele; Mas era sempre bom quando ela vinha com alguma história nova para contar-me...

Serje viu-se sorrindo, perdido nos pensamentos. Talvez não fosse ruim lembrar-se da garota. Talvez doa muito, mas não irei parar de lembrar de você...

Distraído, Serje mal notou quando o lobo apareceu ao seu lado, encarando-o.

– Ah, Zoräes... – Encostou a testa no focinho do animal, sentindo seu calor... – Como foi a caça? Está pronto para ir? Vamos lá...

Serje montou o lobo e os dois avançaram como um só, pelos campos verdes e bonitos. Aquilo era melhor do que cavalgar um cavalo.

O mundo o esperava, e tinha a verdade para lhe oferecer...

Ali, nas costas de Zoräes, não se sentia triste, nem feliz, apenas vivo.


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Notas finais do capítulo

Então...? o que acharam?
Estou angustiado e ansioso para o verdadeiro desenrolar dessa história, mas ele nem de perto está perto... Isso só acontecerá quando a história de Roran e Marbrayes estiver resolvida... depois disso focarei mais em Eragon, em Ariän e na parte dos cavaleiros...
ha... E próximo capítulo sai semana que vem.



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