A Gentleman and a Slut escrita por Senjougaha


Capítulo 9
Qualquer sintoma é mera coincidência




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Eu podia tirar uma foto e fazer um retrato daquilo.

Susan, me encarando com uma expressão severa.

Braços cruzados e pés batendo no chão freneticamente, de forma impaciente.

– Coma. Tudo. - ela mandou, apontando para o prato à minha frente.

Fitei a lasanha. O queijo derretia de forma lenta e gorda. O molho se espalhava pelo prato e aquilo me arrancou um ronco de fome.

Mas ultimamente, tudo o que eu comia não parava muito tempo no meu estômago.

Então decidi que comeria apenas nos horários de refeições. Pra manter as aparências.

Porque é claro que eu não contei à ninguém.

Porém, como sempre, Alexia notou.

Meu mau humor fora do normal, os roncos altos de fome, a palidez do meu rosto e as idas frequentes ao banheiro fizeram com que ela ficasse total e completamente de olho em mim.

E quando descobriu o que acontecia após as refeições, ela me pegou de surpresa.

Ao invés de lidar com a situação sozinha, como sempre fazia, Alexia chamou minha mãe e relatou tudo.

Susan me surpreendeu mais ainda.

Surtou, e começou a cuidar para que eu comesse o tempo todo.

Sinceramente, eu não sabia o que se passava na cabeça dela até que um dia, a ouvi comentar com as empregadas da cozinha:

– Preparem o prato preferido de Afrodite - ela mandou - hoje o pequeno herdeiro vai comer o que quiser!

Acho que fiquei verde ao perceber que Susan pensou que eu estava grávida.

E depois, devo ter ficado roxa por ela ter pensado que eu estava grávida DE PIETRO.

– Eu não estou grávida! - entrei na cozinha, fazendo com que todos me encarassem assustados.

Uma das empregadas me olhou com pena.

– Oh, querida… - ela se compadeceu - sei que está naquela fase de negação, mas prometo que vai gostar. Aconteceu comigo e os sintomas são inegáveis.

– MAS EU NÃO TRANSEI COM O PIETRO! - gritei e bati o pé.

Acho que estraguei a visão que as empregadas tinham de mim.

“Que seja”, pensei.

Minha mãe me arrastou cozinha afora com uma carranca decepcionada.

Pensei que ela iria me dar um sermão sobre como damas devem se portar e mesmo diante de situações embaraçosas.

Mas me esqueci de que estava falando era com Susan, e não com Alexia.

– Sabe, Afrodite - ela começou, séria - você e Pietro são noivos agora.

– Aham - revirei os olhos.

– O que significa que uma hora ou outra terão que fazer… você sabe, aquilo - ela torceu a barra do blaser nas mãos e me fitou envergonhada.

– O fato de eu não ter feito nada com ele não significa que eu seja virgem - zombei e sai correndo para o meu quarto.

– Afrodite! - ouvi ela gritar e os saltos altos ecoarem no piso de madeira lustrada.

Soltei uma risada abafada e tranquei a porta do quarto.

Levei um susto ao encontrar Alexia de pernas cruzadas na minha cama.

– Não deveria tratar a sua mãe desse jeito - ela repetiu a frase que por mais de mil vezes já ouvi na vida.

Revirei os olhos e me joguei no sofá.

– Você devia ter visto a cara dela - resmunguei e ri baixinho.

Alexia continuou quieta.

Bufei.

– O que foi agora? - perguntei.

– Temos um jantar beneficente pra comparecer essa noite - ela disse finalmente.

– Não estou me sentindo muito benéfica - respondi, sarcástica e fechei os olhos para me acalmar.

– Afrodite - ela repreendeu.

Suspirei e passei a mão no rosto.

– Como você aguenta isso? - perguntei, aflita.

– Eu vivo essa vida porque quero, Afrodite - ela respondeu.

Franzi o cenho.

– Eu poderia ser uma garota comum, caso você não saiba - ela continuou - mas estou aqui por ganância e interesse próprio. Precisa encontrar algo pra se firmar, ou você pira.

Soltei uma gargalhada.

– Eu já estou pirada - respondi.

Alexia revirou os olhos. Era um ato raro, vindo dela.

– Disso eu não tenho dúvidas - ela concordou - o seu vestido está pronto, lavado e passado.

– Peça para Madeleine trazer aqui - resmunguei.

Alexia assentiu e se dirigiu rumo à porta.

– Ah, e mais uma coisa - ela disse com uma falsa cara de quem acabou de lembrar - Pietro vai ser seu acompanhante.

– E eu pensando que seria suportável - estremeci - e o SEU acompanhante?

– Eu vou… acompanhada pelo seu pai, Afrodite - ela respondeu, hesitante.

A encarei boquiaberta.

– Então você e ele… - deduzi - AI MEU DEUS!

– NÃO! - Alexia se apressou em negar - céus, você tem cada imaginação!

Alexia respirou fundo para se acalmar e o rubor de suas bochechas passar.

– Então por que ele está indo com você? - perguntei, sem acreditar.

– Ele quer estar por perto e ter certeza de que você está bem - ela deu de ombros - no fundo, é isso. Mas ele também vai doar fundos a uma instituição que combate ao câncer.

– Não entendo porque ele escolheu você como acompanhante - murmurei - pensei que ele tivesse outra…

Alexia gargalhou.

– Seu pai? Outra? - ela repetiu, achando graça - Adam pode nunca ter amado sua mãe, mas ele é um homem de respeito, Afrodite.

– Está defendendo demais ele - murmurei desconfiada.

Alexia revirou os olhos novamente.

– Olha, eu sou praticamente uma filha, e ele está divorciado muito recentemente - ela explica melhor - seria estranho Adam surgir com a secretária do lado, ou com a sua mãe. Isso geraria boatos. Também não pode ser você, já que é noiva e bem… soube que não estão mais tão amiguinhos assim.

Assenti e revirei os olhos.

Era óbvio.

“Como eu não pensei nisso antes?”, me senti muito boba.

Alexia sempre fora a responsável em controlar os burburinhos. Meu pai a pagava muito bem para isso e minha mãe não ficava muito atrás.

Desde pequena, ela sempre fora muito boa em mentir e desmentir as coisas, e esse talento não passou desapercebido pela minha família.

Alexia nascera em berço de ouro, então a contratação só foi um impulso para que ela se tornasse milionária.

Crescemos juntas, e no começo, apenas brigávamos.

Eu tinha até desenvolvido um ódio mortal pela mini-Alexia, considerando que ela conseguia virar a situação a favor dela a todo instante, ao passo que sequer mentir eu conseguia.

Claro que ela me ajudou a desenvolver essa habilidade, mais tarde. Isso fez com que o ódio fosse amenizado e logo, uma amizade surgiu. Ela me livrava dos apuros, mesmo quando não era paga para isso e logo, eu retribuía a gentileza (mesmo que não precisasse).

– Afrodite, você entendeu? - ela perguntou estalando os dedos na minha cara, para me despertar dos meus devaneios.

– Oh, sim - respondi - desculpe por duvidar de você.

Alexia me encarou, procurando alguma sombra de dúvidas na minha face.

Quando não encontrou, fungou e alisou o vestido florido que usava.

– Tire uma soneca - ela disse - você está horrível.

– Obrigada - agradeci sarcasticamente.

Ela deu de ombros e saiu do quarto, sem dizer mais nada. A porta foi fechada silenciosamente e resolvi fazer o que ela dissera.

Eu realmente precisava de uma bela soneca depois de uma pratada de lasanha daquelas e o jantar que teria naquela noite.

Só de pensar, já me sentia esgotada.


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