A Gentleman and a Slut escrita por Senjougaha


Capítulo 8
Bad dad




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Uma semana.

Uma torturante semana que se desenrolou de forma lenta e excruciante.

A sessão de fotos tinha sido tranquila. As mulheres já pareciam estar habituadas com o novo emprego e estavam aturando Susan com sucesso e maestria.

Em casa era onde a tensão começava.

– Pietro voltou ao trabalho e agora não terão mais tanto tempo juntos - Adam disse parecendo se lamentar.

Senti que cada célula do meu corpo finalmente deixaram de entrar em colapso.

– Sério? É uma pena - comentei, tentando ocultar a animação que senti ao ouvir isso, mas minha voz saiu cantarolante.

Meu pai me olhou desconfiado e bebericou seu café. Sorri de orelha à orelha.

– Não se preocupe, estamos bem - garanti.

Alexia massageou as têmporas. Estava farta de ver e ouvir eu fingir que estava de bem com aquilo só para agradar meu pai, enquanto fazia de tudo para irritar minha mãe.

Ela não entendia a diferença sentimental que os dois tinham para mim.

– Querida - meu pai chamou com o cenho franzido - posso falar com você um instante?

Primeiro pensei que ele se dirigia à Susan, que estava estranhamente calada naquela manhã.

Mas depois de muito piscar e olhar para os lados, percebi que era comigo que falava.

– Claro - respondi e me levantei arrastando a cadeira no chão com um rangido, ansiosa.

– No meu escritório - ele chamou e deu as costas.

Adam passou pela porta de madeira em mogno e a deixou aberta para que eu o seguisse.

– Feche a porta, por favor - ele pediu e se jogou na grande cadeira de couro, servindo-se de um copo de conhaque e girando o mesmo, sem demonstrar intenção de beber realmente.

Me sentei na cadeira à sua frente. Não podia negar: estava ansiosa.

Foram poucas as vezes que eu entrara em seu escritório, e sempre eram pra levar bronca por artes da infância.

Os móveis antigos de madeira em estilo vitoriano me davam certa nostalgia. O ar tinha um aroma rústico, que contrastava com o visual antigo e chique. A janela escura coberta por uma pesada marrom esverdeada, a cabeça do cervo empalhada na parede, o tinteiro em sua mesa sempre intacto… E as gavetas que eu, desde pequena, fora instruída a nunca abrir. E aquela era a única regra que eu segui a vida toda.

– Você está feliz, Afrodite? - ele perguntou.

Seu tom de voz estava sério. Mas algo além disso fez com que eu olhasse para ele assustada e surpresa. Seu olhar era carregado de um misto de preocupação, mistério e perigo.

– Não, não estou - confessei sem pensar, em transe pelo olhar intenso do meu pai.

– E por que não? - ele pergunta, parecendo me testar - tem de tudo o que quer, não acha egoísmo ficar emburrada porque uma ocasião ou outra não lhe sai como planejado?

Senti meus dentes rangerem.

Não importava naquele momento se ele era meu pai. Ele havia cutucado a minha ferida e parecia ter exatamente aquela intenção.

– Planejado? - repeti, sarcástica - eu não PLANEJO a minha vida, mas posso dizer que algo que eu jamais planejaria seria me casar em plena juventude com um psicopata que nunca vi na vida, posso dizer com certeza que jamais planejaria perder a minha paz todos os dias pra ter que agradar jornais e revistas, e muito menos participar desse casamento arranjado para garantir que a piranha da minha mãe consiga continuar sendo piranha!

Na ultima frase, espalmei a mesa com força. Só depois de ouvir o som produzido que acordei da minha súbita raiva.

Era injusto.

Eu estava sendo injusta.

Trinquei o maxilar e abaixei a cabeça.

– Me desculpe, papai - pedi com sinceridade - você não tem a ver com isso e eu estou descontando.

– Na verdade eu tenho tudo a ver, Afrodite - ele afirma e acende um charuto.

– Ahn? - arregalei os olhos.

– Eu arrumei esse casamento pra você - ele deu de ombros, parecendo se sentir culpado.

Era como se uma faca, não, um machado estivesse sendo cravado em meu estômago.

– Existem certos segredos de família que simplesmente não se conta a uma adolescente bêbada, drogada e irresponsável - ele explica e tenta se aproximar de mim, se levantando da luxuosa cadeira.

Me afastei.

– Mas eu nunca fui nada disso - murmurei num fio de voz.

– Eu sei, querida - ele balança a cabeça - só quero que saiba que não fiz por dinheiro.

– E fez por... ?

Ele umedeceu os lábios e pareceu se lembrar do copo de conhaque em suas mãos. Encarou-o e finalmente, depois de muito pensar, o bebeu num só gole.

– Você não entenderia - ele disse e quando abri a boca para ironizar, ele me interrompeu - pelo menos não agora.

Cruzei os braços.

– Sabe como isso está sendo frustrante para mim, não sabe? - perguntei e confessei ao mesmo tempo.

Ele assentiu.

– Estou arruinando o pai perfeito que você imagina que sou - ele disse e encarou o teto - vai descobrir que sou o pior pai, Afrodite.

A ultima frase ele disse com uma pitada de tristeza que fez com que o machado fosse arrancado do meu estômago e eu quisesse abraçá-lo e perdoá-lo.

Mas o rosto de Pietro, zombeteiro, veio à minha mente naquele exato momento e balancei a cabeça.

– Ao menos me explique - supliquei.

Ele me encarou. Analisou-me como se eu ainda fosse uma criança e ele precisasse contar como se ganha bebês.

– Eu não sou mais criança, pai - choraminguei - você sabe disso, ou não estaria noiva.

Ele suspirou e me abraçou de surpresa.

Inalei seu cheiro de bebida e perfume francês. Seu cheiro de Adam.

– Ah, querida - ele suspirou e passou a mão nos meus cabelos ruivos - vou deixar que descubra sozinha, prometo dar uma ajuda.

Franzi o cenho sem entender do que se tratava.

– No momento, se concentre em compreender o lado de Pietro - ele continuou - vai ser doloroso quando descobrir sobre nossos segredos de família e você vai precisar dele ao seu lado. Embora eu ache que não vá ajudar muito - ele murmurou a ultima frase para si mesmo.

Suspirei, exasperada.

– Alexia sabe do que se trata toda essa… Palhaçada misteriosa? - perguntei cansada.

Ele assentiu.

– Alexia sabe tudo sobre nós, você e Pietro - ele comentou - sabe até demais.

Passei a mão pelo rosto, torcendo para que não estivesse vermelha. Ter o meu pai, por mim venerado, cúmplice no meu casamento indesejado já era algo frustrante, ter minha melhor amiga e quase irmã envolvida era pior ainda.

– Mas não espere que vai conseguir arrancar algo dela - ele comentou em alerta.

Revirei os olhos. Como se eu já não soubesse o quão difícil era arrancar informações de Alexia.

– Vá dormir - ele diz e vira as costas de repente - prometo ir embora amanhã de manhã, antes que acorde.

Não fiz o que ele disse.

Continuei ali encarando os ombros largos do meu pai se moverem devagar, depois rápido. Como se ele estivesse nervoso - e se eu não o conhecesse, diria chorando.

– Não vá, por favor - me vi pedindo com os olhos marejados.

Adam se virou surpreso e me surpreendi também ao constatar que seus olhos estavam no mesmo estado.

– Sua mãe e eu não estamos casados mais - ele explica e me olha desconfiado - e eu… Bem, eu tenho um lugar pra ir.

Finalmente entendi.

De forma inconsciente, sempre me perguntara: por que a separação logo agora?

Minha boca se retorceu em desaprovação, mas era inevitável que ele fosse embora, justo naquele momento quando achava que a filha o odiava e tinha encontrado alguém pra se apaixonar.

Ele tinha outra.

Uma pessoa só, para substituir duas que nunca tiveram real papel importante em sua vida.

Uma mulher perfeita o suficiente para fazê-lo abandonar a dama vagabunda que era sua filha e a vadia que era sua esposa.

Sorri de lado. Meu pai sempre teve bom gosto.

Me virei de costas em direção à porta e caminhei até o batente.

– Okay - disse - seja feliz, Adam.


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