Espelho Quebrado escrita por Zenner


Capítulo 7
-Eu sou lesbica




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Enfim quarta-feira. Acabamos de fazer as últimas provas e agora comemorávamos em uma sorveteria próxima a escola. Chris me contava sobre como Adam foi fofo com ela na noite passada. Ele havia ligado só pra dizer que queria ouvir sua voz. Eu quase ri, mas não faria isso com minha melhor amiga.

–Ele disse que espera conseguir ir para o Feriado Best, só pra não ficar uma semana sem me ver.

Ela diz com os olhos brilhando. Eu estava muito feliz por ela, desde o seu último relacionamento não a vi investindo em ninguém. Se o Adam magoa-la eu juro que lhe dou uma surra daquelas. E olha que não sou fã de violência.

–Ah, ele também disse que a Taylor provavelmente vai. As notas delas foram ótimas. Ela teve que fazer algumas provas antes de entrar na escola.

–Que ótimo - digo entusiasmada.

–Você realmente gostou dela. Espero não perder você pra essa gringa - diz com um leve temor e encara o sorvete.

–Hey, você nunca vai me perder. Aceite que sou um fardo na sua vida pra sempre.

Lhe dou um sorriso aberto e ela ri.

Terminamos o sorvete e nos despedimos. Ela teria que cuidar de Laurinha, sua irmã mais nova, já que Clarice, a mais velha, teria aula em uma hora e a babá está doente.
Peguei a bicicleta e pedalei devagar até em casa. Eu queria aproveitar o tempo agradável, o sol fraco e o movimento lento das pessoas àquela hora. O bom de sair cedo da escola é que pegamos esse momento sem pressa. Na corre antes do meio dia.

Deixo a magricela na garagem e comprimento a senhora Das Dores, minha vizinha, antes de entrar. Papi chegaria apenas sábado e mamãe estava no trabalho. A casa era só minha até ás 12:00.

Vou até a sala e ligo o aparelho de som. O meu pen drive já estava conectado e The Monster - Eminem feat. Rihanna começa a tocar. Jogo a mochila no sofá e corro pra cozinha. Sorvete no congelador, colher no armário. Tiro a calça apertada e fico apenas d calcinha e blusa. Volto a sala e canto usando a colher como microfone. Me jogo no sofá e me delicio em mais sorvete.

Esse meu vício é consequência dos subornos do meu pai. Quando eu era criança e ele queria algo de mim, sempre me subornava com sorvete. Provei todos os sabores da sorveteria da esquina em um mês e meio. Mas isso foi anos atrás.
Hoje eu posso sentar no sofá com essa delicia gelada em mãos sem precisar dar nada em troca.

A próxima musica começa.
Red - Taylor Swift. Aquilo me fez rir. No mesmo instante em que meus pensamentos foram até a pequena Taylor que eu conhecia. Aquela menina passava mais tempo na minha cabeça do que eu podia entender. Mas pelo menos os pensamentos nela faziam que os da Bea parecem.

Eu não via as duas desde segunda. Agradeço por não ver Bea e entristeço por não ver Taylor. Uma morena, outra ruiva. Uma boa, outra chata. Uma baixa, outra alta. Uma anjo, um demônio. Meus opostos.

Eu lembro quando comecei até as dúvidas quanto a minha sexualidade. Até tentei me enganar, mas não adianta. Quando se nasce pra ser assim não tem quem resolva.
Eu tinha acabado de começar um namoro com Jason, na época reprimia todos os meus desejos por garotas. Até Bea aparece e eu ficar encantada por seus longos cabelos de fogo e os incríveis olhos verdes. Mas o seu egoísmo e sua crueldade fizeram esse encanto acabar. Ela sempre teve a natureza de uma cobra. Era bela, mas perigosa. Me provocava de todas as maneiras possíveis quando Jason não estava por perto. Não adiantaria falar com ela, pois seu fanatismo pela irmã era maior que o bom senso.

O jeito foi romper aquilo e não precisar vê-la diariamente. Jason não saiu ferido. Muito menos eu, que só estava com ele para enganar a mim mesma. Aceitei a minha condição, mas não fiz nada quanto a isso. Apenas uma conversinha com o meu pai.

Flashback on

A jovem entra na sala e ver o pai no sofá lendo o jornal.

–Pai, preciso falar com você - diz nervosa.

O senhor ver o nervosismo da filha e fica preocupado. Pede que sente-se ao seu lado e ela obedece.

–Então, diga o que houve - a voz grave e mansa do homem lhe acalmava.

– Pai, o que eu quero lhe dizer não é fácil. Eu sei que ninguém, além do senhor, vai me entender. Ou entender isso... - ela esfregava as mãos e encarava o vazio.

Ele segura as mãos da filha e ela lhe encara.

–Paula, seja o que for, eu sempre vou amar você.

–Eu sou lesbica - ela diz as palavras emendadas e rápido.

Ele ri e abraça a filha pelos ombros.

–Eu já sabia.

–O que? Como? - se afasta e o encara confusa.

–Você é minha filha, claro que eu sabia.

Paula encara surpresa o homem risonho. Estava claro que ela não esperava essa resposta. No mínimo um "eu não entendo, mas respeito" ou "eu não me importo, você sempre será minha filhinha", mas não um "eu já sabia". Como ele poderia saber se nem ela tinha essa certeza?
Lopez, vendo a angustia da filha, lhe abraça novamente.
–Eu sou seu pai, Paula. Nós sempre sabemos. Uns apenas não querem enxergar - diz com toda tranquilidade do mundo.

–Então você ainda me ama?
–Obvio que sim. Não tem motivos pra deixar de te amar. Você é a mesma e não será quem você ama que te faz mudar isso.
–Obrigada.
–Não agradeça.
Beija o topo da cabeça da menor.

Flashback off

Depois daquilo eu só pedi que ele guardasse meu segredo. Eu não tinha certeza se mamãe me aceitaria tão bem.

No fim dos últimos acordes da música a campainha toca. Deixo o sorvete sobre a mesinha de centro e corro pra atender. Péssima ideia! A ponta do tapete estava levantada e tropeço dando de cara com o chão.


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