Espelho Quebrado escrita por Zenner


Capítulo 2
Então você estaria morta também


Notas iniciais do capítulo

Mais um pedido de desculpa.



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Acordo por volta dás 8:00, minha mãe que via tv sentada na cadeira ao lado da cama, me enche de beijos quando ver que estou desperta.

Ela me ajuda a tomar banho e avisa que papai teve que viajar.

Esperamos Dr. Renata enquanto conversamos sobre a viagem de papai.

–Bom dia minha paciente favorita - Dr. Renata entra na sala toda sorridente.

–Bom dia Dr - dizemos juntas.

–Ansiosa para ir pra casa? - pergunta.

–Um pouco, quero ir ao luau de hoje á noite.

–Ela pode Dr.? - mamãe pergunta apreensiva.

–Pode, mas nada de bebidas alcoólicas. Além de você ser menor, pode lhe fazer mal por causa dos remédios que tomou.

–Eu não bebo, fique tranquila - respondo a ela.

–Que bom. Então, pode ir.

Despedimos-nos dela e vamos para casa.

x-x-x-

Estava quente demais. Pela terceira vez eu reescrevia o mesmo parágrafo da redação para a aula de literatura. Era um trabalho para terça-feira e eu achava meio impossível a professora me dar mais alguns dias para a entrega só porque passei 3 dias no hospital.

Ela é um monstro, sem exageros. Uma vez ela passou um trabalho para a nota de fim de semestre valendo um terço da media final. Tínhamos que fazer uma poesia sobre a beleza da vida em 2 dias. O avô de um garoto da sala morreu, ele não fez a poesia e ficou em recuperação. A bruxa das letras, era assim que chamavam a Srª Marli, nossa professora. Eu me perguntava como uma mulher tão bonita como ela podia ser tão ruim. Ela deve ter sofrido muito pra ser daquele jeito.

Desisto do trabalho por hoje e ligo para Chris.

–Oi garota, como está? - ela disse logo que atende.

–Tou bem, e você? Fez o trabalho da Marli?

–Tou bem, já fiz o trabalho daquela bruxa sim. Perdi meu sábado fazendo uma historia que tivesse todas aquelas palavras que ela passou. Ainda acho que aquela professora precisa de uma transa.

–Também acho. Vai ao luau hoje?

–Claro que vou, não perderia isso.

–Já tem um esquema marcado?

–Tenho, vou ficar com o Adam.

–FINALMENTE.

Ela ri.

–Finalmente mesmo. Ele disse que a prima acabou de chegar á cidade e vai leva-la na festa.

–Prevejo que vai sobrar pra mim...

– Você pode tomar conta dela? Por favor, por favor, por favooooor...

–Ok, ok. O que eu não faço por você, sua chata.

–Ai, amiga. Muito obrigada, juro que da próxima eu arrumo um boy maravilhoso pra você.

–Tudo bem, vou cobrar viu?

–Pode cobrar. Ah, já avisei minha mãe que vou dormir ai.

–Avisa a ela, mas não avisa a mim. Muito bem, D. Christina.

–Quando éramos crianças você disse que eu podia dormir ai quando quisesse e não precisava avisar. Só estou fazendo isso.

–Ta bom, senhorita eu-tenho-resposta-pra-tudo. Te encontro na barraca do Jó ás 20:00, pode ser?

–Pode, até mais. Beijos...

–Beijos...

x-x-x-x-x

"Já está chegando? Aqui tá cheio e não gosto de ficar sozinha"

Mando um sms para Chris que até agora não chegou. Já eram 20:17 e nem sinal dela. A barraca tava lotada, assim como todas as outra por ali.

–Então, borboleta, vai querer alguma coisa? - Jó pergunta enquanto limpa o balcão.

Jó era um cara extremamente gay. Mesmo ainda usando roupas masculinas eram sempre em tons claros e com estampa florida. O cabelo loiro era arrepiado, mas sempre bem arrumado. Ele era o cara mais famoso daquela praia, não tinha ninguém que não conhecesse o Jó.

–Não, estou esperando a Chris. A vadia esta me fazendo esperar faz quase 20 minutos.

–É um pecado deixar uma menina tão linda como você esperando. E, alias, adorei o vestido. Ficou super fashion em você. Quem foi mesmo que fez?

–Foi você – sorriu.

–Ah, foi mesmo.

Rimos da brincadeira e ele volta a atender os clientes.

Jó alem de ser dono dessa "barraca", que era mais um pequeno restaurante, tinha uma excelente mão para desenho. Meu vestido era realmente lindo... Estilo tropical, solto na cintura e mais preso na parte dos seios. A estampa colorida entre amarelo, laranja e vermelha, parecia entrar em chamas.

–Hey loirinha - escuto a voz de Chris logo atrás de mim e viro.

Ela estava linda também, o vestido era quase como meu, só que azul. Um casal lhe acompanhava, Adam e a tal prima. Adam era o típico bonitinho da escola, alto, moreno, sorriso de galã e olhos cor de mel. Sua prima era diferente, baixinha, cabelos pretos e a pele muito branca. Ficaria facilmente vermelha se pegasse sol.

–Até que enfim você chegou - digo e caminho até ela.

–Desculpa, eu tava esperando o Adam - ela sinaliza para o garoto e eu lhe cumprimento.

–Na verdade, a culpa foi minha - a menina sai detrás do primo e sorri ficando vermelha, "eu não disse?" - demorei um pouco para me arrumar.

–Tudo bem. Eu sou Paula, seja bem-vinda a Natal - estendo a mão e ela a segura.

–Eu sou Taylor. Muito obrigada.

–Agora já podem pegar o violão e cantar Long Live pra gente - Adam brinca como era de se esperar.

–Só que elas estão com o visual trocado. A Paula é morena e a Taylor que é loira - Chris continua enquanto sentamos em uma das mesas.

–Aqui é Br, minha gente - digo tentando amenizar a zoação.

Conversamos, rimos, cantamos sem vergonha algumas das musicas que tocava, mas a cada minuto era mais evidente que Chris e Adam estavam loucos para se pegar. Aproximo-me de Taylor e falo baixo.

–Acho que minha amiga e seu primo estão implorando para ficarem sozinhos, quer dá uma volta?

–Claro, vamos lá.

Levantamos e nem deu pra avisar, já que os dois se agarravam.

Ficava difícil de conversar sem que alguém esbarrasse na gente ou a musica nos permitisse falar sem gritar. Pego sua mão e lhe levo até uma parte mais afastada, sem muito barulho e movimentação.

–Você quer sentar um pouco? - sento no capô de um carro que estava estacionado na praia.

–Não é ilegal estacionar na praia? - ela pergunta e senta ao meu lado.

–É sim, mas esse carro não é meu mesmo.

Ela ri e deita com as costas no vidro da frente, faço o mesmo.

–De onde você veio? - pergunto depois de segundos em silêncio.

–Muitos lugares.

–Onde nasceu então?

–Nasci nos Estados Unidos.

–Então você também fala inglês?

–Sim. E espanhol e um pouco de alemão.

–Já foi em Roma? Eu sempre quis ir lá.

–Já sim, duas vezes.

–Onde mais você foi?

–Fui á Argentina, China, África, Canadá...

–Seu passaporte tá cheio.

–Bastante.

–Quanto tempo morou nos Estados Unidos?

–Até os meus 3 anos. Depois fui para o Canadá...

–Por quanto tempo?

–Mais 7 anos.

–Foi onde ficou mais tempo?

–Foi, morei por 6 anos em Londres depois disso.

–E agora esta aqui.

–É.

–Deixou alguma coisa para trás? - viro de lado para olha-la.

Achei estranho estar tão curiosa sobre aquela garota.

–Alguns livros, alguns cds. Acho que só... Ah, e um par meias amarela.

–E amigos? Namorado?

–Não. Só deixo algo em algum lugar se puder conseguir em outro.

–Deve ser triste não ter amigos.

–Eu pareço triste? - ela pergunta e olha para mim.

–Não.

–Então você não está tão certa.

–Ou você.

–Como assim? - ela vira completamente para mim.

–Se a morte viesse buscar você agora, o que você diria para que ela não lhe levasse?

–Como isso vai me explicar o que você disse?

–Só responda.

–Eu ainda tenho muito livros para ler.

–Bééééém - faço o barulho de buzina - você está morta.

–Ok, então o que você diria?

–Dê livros a essa garota.

Ela ri e senta.

–Então você estaria morta também.

–Talvez não.

–Por que eu sim e você não? – ela pergunta.

–Porque talvez ela pudesse enxergar que eu pensei em você antes de pensar em mim. O mundo precisa de pessoas assim.

–Ou... Ela achasse que você pensou em mim primeiro porque é uma pessoa triste demais pra pensar em si mesma.

Por essa eu não esperava. Sento-me ao seu lado e encaro aqueles olhos escuros e misteriosos.

–Eu não vejo como alguém que ajuda os outros pode ser triste. Venha comigo, vou te dar uma amostra de como fazer a morte te deixar ficar.

Pulo do capô e me pé afunda na areia. Antes que eu “coma areia” os braços de Taylor me seguram e impedem a queda.

–Você está bem? – aquele sotaque, meu Deus.

–Eu estou, obrigada – fico de pé e lhe puxo pela mão.


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Notas finais do capítulo

:)



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