Aquela estranha sensação de déjá vu. Meus sentidos estavam fracos, alguns inexistentes. A claridade me cegava mesmo eu estando com os olhos fechados. O barulhinho irritante de "bip, bip" me tirava a concentração.

Abro um pouco os olhos, havia uma TV pequena na parede de frente a mim, exibia um desenho animado, mas estava no mudo. O quarto em tom pastel me deu ânsia. Ou seria essa agulha enfiada na minha mão?

Tento levantar em vão. A grande força que coloquei pareceu um nada, pois meu corpo mal se mexeu.

Uma mulher de jaleco branco aparece no meu campo de visão. Ela tem um sorriso leve no rosto, mas seus olhos estão cansados.

-Como se sente, Paula? - pergunta a mim.

-Enjoada. Onde eu estou? - minha voz sai rouca e desgastada.

-Na Unimed, seus pais acabaram de sair.

-E onde esta a Dr. Marisa? Ela que sempre me atende.

-O seu antigo hospital sofreu um acidente, você não sabe disso porque está dormindo há três dias.

-Acidente? Que acidente...? E por que dormi tanto tempo? - tento levantar, mas a senhora não deixa.

-Vamos com calma criança. Eu vou lhe contar, mas primeiro tome isso.

Ela vai ate a mesinha ao lado e pega dois comprimidos e um copo com água. Tomo em segundos e espero ela falar.

-Primeiro, eu sou a Dr. Renata e sou eu quem vai cuidar de você agora. Segundo, o acidente não foi tão grave assim, um motorista bêbado bateu com o carro em uma das alas do hospital e evacuaram a área. Ninguém se feriu gravemente. E terceiro, você sofreu um acidente na piscina. Não lembra?

Sinceramente, eu não lembrava. Minha cabeça já começava a doer e eu estava com frio. Olho pela janela e o sol brilha forte la fora, eu devia estar febril. A última coisa que me lembro é...

-Breatrice - digo sem pensar.

-Foi ela quem lhe trouxe aqui. Disse que pagaria o quanto fosse pra ver você bem. Essa menina gosta mesmo de você.

-Foi ela que me empurrou.

-Huum, isso foi grave. Vai denuncia-la?

-Não, vou perdoa-la. Tenho pena da Bea, mesmo que ela seja podre de rica, tem uma alma pobre.

-Você é uma boa garota. Mas acho melhor que descanse um pouco.

-Eu estou morrendo de fome - passo a mão na barriga e ela ri.

-Vou mandar alguém lhe trazer comida.

Sai do quarto e me deixa sozinha. Aumento o volume da tv e fico assistindo Bob Esponja por um tempo.

Eu queria lembrar o que aconteceu naquele dia, mas era uma parte bloqueada. Lembro apenas de estar no clube esperando Chris quando Bea sentou na cadeira do meu lado no bar e conversamos, sobre o que? Não sei. Mas como sempre, acabou em briga. Depois disso está tudo em branco.

Escuto gritos vindos do lado de fora, parecia ser uma confusão. Tento levantar para ver, mas a porta de abre e uma Chris descabelada aparece.

-Paula, sua vadia, pare de me dar sustos assim.

Ela corre em minha direção e lhe abraço com força.

-Desculpa ter desmaiado e não ter lhe deixado uma carta avisando - digo quando ela me solta - que confusão era aquela lá fora?

-Uns seguranças idiotas não queriam me deixar entrar, pode isso? Eu, uma diva, não poder visitar minha melhor amiga no hospital. O jeito foi fazer barraco.

-Claro que não, uma diva como você pode tudo - entro na brincadeira e rimos juntas.

Ela pega o controle da minha mão e deita ao meu lado.

-Então... É verdade o que estão dizendo? Que foi a Beatrice que empurrou você... - pergunta sem me olhar, já até imagino o que se passa na cabeça dela.

-Não, ele não fez nada. Eu escorreguei e cai, só isso - minto.

Ela vira para mim descrente.

-Então eu dei uma surra nela por nada?

-Você o que? - agora eu que não acreditava.

Ela se encolhe e encara a TV.

-Ela mereceu - diz baixo - ficou dizendo para todo mundo que te empurrou porque você tentou beija-la.

-Eu não acredito que ela disse isso.

-E disse que não tinha sido a primeira vez. Então...

-Você foi pra cima dela e defendeu sua amiga - completo a frase.

-Isso mesmo - diz e segura a minha mão.

-Obrigada.

-Não agradeça, eu faria muito mais por você.

Ela bagunça meus cabelos e voltamos a ver TV.