Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 29
Reencontro




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Depois de chorar todas as lágrimas que havia guardado por muito tempo e expulsar toda a frustração e... Qualquer outro sentimento ruim de mim, finalmente voltei ao normal e larguei minha “irmã”. Ela enxugou minhas lágrimas antes mesmo que eu o fizesse. Fazia tanto tempo que não a via que apenas fiquei encarando-a admirada. Ela apenas retribuiu o olhar com um doce sorriso em seu rosto... Era uma ótima visão. Depois de algum tempo, ela resolveu quebrar o silêncio:

– Nossa! O que estamos fazendo? Olhe só para seu ombro!

Rapidamente saí do “transe” e voltei minha atenção para meu ferimento. Agora que minha adrenalina estava baixando eu podia sentir uma forte dor vinda de lá. Levei minha mão até ele e contraí meu corpo num leve espasmo de dor.

– Acho que não deveria tê-la lembrado disso... Enfim, agora que a merda já foi feita... Deite-se. Vou ver o que posso fazer.

– Você entende disso?

– Bem... Meu pai é um cientista, o que está quase relacionado à medicina. Mas eu também vi o passado de uma porrada de médicos, então não deve ser muito difícil para mim.

Eu confiava nela, mas mesmo assim deitei muito nervosa. Ela retirou o pedaço do meu casaco que eu tinha usado para estancar o sangramento, retirou... Agulha e linha dos bolsos e começou a verificar o buraco da bala. Depois de cutucar algumas vezes (o que doeu horrores), ela sorriu e começou a aquecer a agulha com um isqueiro que também tirou dos bolsos (seriam eles infinitos?).

– Vai ficar tudo bem. Por sorte a bala atravessou e como não pegou nenhum órgão é só fechar o buraco que estará novinha em folha! Quer dizer... Seu braço vai ficar meio coisado e tal... Recomendo que procure um médico quando tudo acabar.

– V-você sabe costurar ferimentos?

– Isso eu sei. Aprendi quando estava no quartel.

– Oh... O em Harvyre ou em Cherland?

– Heh... É engraçado como as notícias se espalham.

Ela parou de esquentar a agulha e começou a costurar meu ferimento. Doeu muito, mas não foi grande coisa comparada à dor do disparo.

– Voltando ao assunto, foi em Harvyre. O quartel de Cherland foi quase como uma estadia num hotel quatro estrelas. Coitados... Foram burros o suficiente para acreditar que por ter traído o exército de Harvyre eles poderiam ficar tranquilos.

– Deve ter sido difícil para você.

– Olha... Fácil não foi. Quase que tudo deu errado algumas vezes, mas no final valeu a pena. Ver como as coisas ficaram melhores com a queda da ditadura é o maior prêmio que poderia querer.

– Isso foi... Eu... Queria ser alguém forte como você, irmãzona.

– Anh? O que está dizendo?

– Digo... Você fez tudo aquilo mesmo correndo o risco de morrer e agora está aqui do meu lado...

– Heh. Sinto muito em lhe informar, mas a “grande” Cherry Winter não fez nada daquilo sozinha. Muitos se sacrificaram para que pudéssemos atingir aquele objetivo e várias pessoas ajudaram sem nem ao menos estarem cientes disso. E acho que é o seu caso.

– Anh? D- do que está falando?

– Quando tudo acabou, e com isso quero dizer depois de a UDH (União de Desenvolvimento Humanitário) “limpou” o pais, tirei um tempo para descansar e fui conversar com o Paul, ou o líder dos Fallen Ones, como muitos o conhecem. E ele me disse algo interessante.

– E o que eu tenho a ver com essa história? Nem estava mais lá quando a guerra começou.

– Acalme-se, eu já vou chegar lá. Ele me falou que depois de me sequestrarem ele ficou totalmente desmotivado a fazer... Qualquer coisa, mas daí, quando andava sem rumo, Paul encontrou com uma garotinha inocente e alegre que o fez, com apenas algumas simples palavras , arranjar a motivação necessária para fazer uma revolução no país. E essa garotinha era você.

– O- o quê?

Aquilo me pegou de repente e... Absorveu todas as minhas palavras. Achei até que ficaria muda. Foi um “choque” tão grande que até passei por algumas etapas antes de voltar ao normal. Primeiro: a negação. Não conseguia acreditar naquilo, mesmo vindo da minha “irmã”. Segundo: a “falta de memória”. Fiquei tentando me lembrar se aquilo realmente havia acontecido, o que durou até ela terminar de costurar o buraco de entrada e começar a costurar o de saída. Terceiro: a lembrança. Depois de muitos esforços, consegui me lembrar do ocorrido e... Eu realmente havia falado com ele antes de me mudar para Solene. Quarto: a aceitação. Percebi que não havia como negar minha interação com Paul naquela época, mas ainda havia algo que me incomodava naquela história.

– Eu... Agora me lembro e... Realmente falei com ele na época, mas... Foram coisas tão banais.

– Às vezes nosso mundo está prestes a desabar e não conseguimos um alicerce sozinhos. Nesses casos até simples palavras banais como “ela é minha heroína!” podem fazer toda a diferença.

Foi aí que meu mundo veio abaixo... Não... Seria mais correto dizer que veio... Acima? Enfim, aquilo mexeu comigo de uma forma tão... Inexplicável que eu senti como se fosse chorar novamente. Só que não era hora para isso! Assim como o Paul, estava perdida, mas Cherry me ajudou a voltar para o caminho certo e eu estava pronta para voltar a agir. Assim como eles deram o máximo para derrubar as ditaduras militares em Harvyre e Cherland... Eu tinha que fazer o mesmo para acabar com os Harrisons!

– E... Prontinho! – disse Cherry depois de terminar sua “costura”. – Deve aguentar até o final dessa confusão.

Começamos a ouvir barulhos de disparos vindos de todas as direções.

– E parece que acabará logo...

– Sim... Mas não podemos ficar aqui paradas.

– Heh. Já sabe o que fazer?

– Sim! Vou atrás do Lucas.

– Então vamos. Sei exatamente onde ele está.

– Sim... O... O quê?

– É isso mesmo que você ouviu. Aquele pobre coitado sabia, então agora que eu vi o passado dele eu também sei. – disse Cherry apontando para Cromak.

– Oh... É verdade... Falando nisso... Como foi que você me achou? Digo... Estamos bem longe de Harvyre.

– Então... É uma história meio longa, mas resumirei para você. Depois que eu concluí meu objetivo, notei uma coisa: eu sabia o que tinha rolado no meu passado, mas ainda não tinha ideia do porquê de eu poder ver o passado alheio. Daí saí numa “jornada” viajando de país em país para tentar encontrar respostas. Eu estava quase desistindo quando um desses espíritos apareceu e disse que eu precisava fazer algo para ele. Daí, o segui até aqui e ele me explicou tudo no caminho.

– Eu avisei que as coisas seriam difíceis e eu não poderia ajudar diretamente. – disse Jessy. – Mas não disse nada sobre intervenções de terceiros.

– J-Jessy! Então você...

– Não. – disse uma voz masculina desconhecida. – Fui eu quem a trouxe até aqui. Jessy estava cuidando de você.

Olhei para o lado e vi um garoto sentado no balcão que usei como barricada. Ele tinha um ar de sério, mas sorria inocentemente.

– E quem seria você?

– Sou outro espírito evoluído. Na verdade... Eu e a Jessy somos quase que uma só existência, por isso fomos os únicos que sobraram.

– Oh... Eu entendo.

– Entende mesmo?

–... Não, mas isso não importa. Se continuarmos enrolando as coisas ficarão feias.

– Isso é verdade... – disse Jessy. – Nós ficaremos os observando sem estar em forma material. A partir daqui é com vocês.

– Utilizem sabiamente suas habilidades. – disse o garoto.

– Não precisava nem avisar. – disse Cherry. – Enfim... Siga-me.

Levantei-me e comecei a andar em direção à Cherry. Ela parou e ficou me encarando. Depois olho de cima a baixo e voltou a olhar nos meus olhos.

– O- o que foi?

– Nada... É que... Com quantos anos você está?

– 19. Por quê?

– Nada... É que... Você cresceu muito. Da última vez que nos vimos eu que a olhava de cima, agora...

– Não se preocupe com isso. Você fica bem nesse tamanho.

– Bem... Não posso reclamar muito. Já me acostumei a ser baixinha mesmo. Fazer o quê? Enfim... Vamos!

Saímos do prédio e começamos a andar por vários becos, atalhos e ruas de pouco movimento. O tiroteio ainda acontecia pela cidade e depois de andarmos muito tempo dando uma enorme volta, percebemos que não havia ninguém nas ruas. Daí, começamos a andar tranquilamente sem se preocupar com nada. Mesmo assim, minha perna estava machucada, o que nos atrasava um pouco. Levamos horas para chegar perto do local desejado... Que eu nem sequer sabia aonde era! Enfim... As palavras de Cherry eram totalmente confiáveis, então apenas continuei a acompanhando.

Mais uma hora se passou e, segundo ela, faltava muito pouco para a tal residência do Lucas. Estávamos andando tranquilas quando avistamos algumas figuras paradas em frente a um carro “estacionado” (ele claramente foi abandonado durante o tumulto). Eram Harrisons e quando nos avistaram começaram a vir em nossa direção. Não sabia se Cherry estava armada, mas decidi protege-la a todo o custo. Entrei em sua frente e arremessei uma das facas. Meu ferimento atrapalhou na postura de arremesso e fez com que eu acertasse apenas o ombro de um deles. Os homens ficaram putos e começaram a correr mais rápido. Arremessei as duas últimas facas e consegui acertar uma na testa do mesmo cara com o ombro fodido, embora eu tenha errado a outra. Estava prestes a pegar meu revolver quando um ser estranho veio “voando” e deu um chute na cara do que estava mais próximo de nós.

Ele rapidamente levantou-se e começou a bater no eu ainda estava de pé (o outro parecia ter entrado em coma). Eles ficaram numa luta frenética enquanto eu pegava minha arma. Tudo para perceber que estava descarregada. Comecei a carrega-la rapidamente, mas a pressão me fez derrubar as balas no chão. Cherry as pegou rapidamente e colocou no revólver. Mas quando me devolveu, o homem já estava caído e nosso “salvador” sacou uma arma e finalizou o infeliz. Quando esse “herói” se virou... Não pude acreditar. Era James, o filho da puta que meu deu um tiro quando mais nova.

– Parece que chegue a tempo.

– O que está fazendo aqui? Onde estão os outros? – perguntei.

– Ah! Já estão vindo.

Ele apontou para o final do beco do qual ele tinha surgido e pude ver Harry, Bunny e Lisa vindo em nossa direção.

– Ah... Lá estão eles.

– Viu só? Não sou tão ruim assim

– Pode até não ser agora, mas já foi.

Cherry começou a rir e depois se conteve:

– Vocês são engraçados. O passado é realmente algo preciosos, mas tem certas coisas que devem ser esquecidas.

– Não posso evitar... – disse. – Aquilo foi um grande trauma para mim!

– Eu sinto mui...

James ia dizer algo, mas rapidamente pulou em mim, fazendo com que eu caísse no chão. Ele sacou sua arma e apontou para o cara que tinha levado uma voadora dele. Este também apontava a arma para James e... Ambos dispararam. O homem tomou de vez com um buraco no meio da testa. Nosso “companheiro” tentou se levantar, mas logo fraquejou e caiu de joelhos. Teve até que se apoiar com os braços. Nesse momento, os outros chegaram até nós um pouco ofegantes.

– James! – gritou Ana. – Você está legal, não é? Diga que está!

– Eu... – disse e depois cuspiu sangue. – Acho que vou cumprimentar a Jade... Quer dizer... Não iremos para o mesmo lugar... Ela era boa...

– Não diga isso! Você...

– Já deu. – disse Bunny interrompendo a pobre Ana. – Você está dispensado de seus serviços, James.

– Sério? Obrigado... Foi uma honra lutar ao lado de vocês... Heh... Pelo menos eu consegui salvar essas duas antes de morrer... Sinto que fiz algo bom...

– Eu... – disse. – Não consigo lhe perdoar pelo que fez aos meus pais.

– E eu... Entendo perfeitamente.

– Mas... Obrigada... Por agora...

– Neste caso... Eu que devo agradecer... Por deixar que eu compensasse de alguma forma... Sei que não é a mesma coisa, mas...

Essas foram as últimas palavras de James, o assassino. Harry fechou os olhos dele e o colocou em uma “posição estratégica” para que pudéssemos levar o corpo para a mansão assim que tudo acabasse. Passei boa parte da minha vida odiando aquele cara... E pensar que ele acabaria me salvando... É... Parece que as coisas mudam mesmo assim como diziam em comerciais. Só restava uma coisa: a cabeça do Lucas. E eu estava disposta a lutar por isso.


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Notas finais do capítulo

Bem... Acabei notando que não tinha ideia do que se tratava o trabalho e resolvi escrever (já que estava com vontade). Bem... O que posso dizer? Esse foi o... penúltimo capítulo! O próximo será o último! E depois dele, o epílogo, claro... E as notas finais... E o primeiro capítulo da próxima *w*
Enfim... Esse foi o maior momento de "link" entre a Cherry Pie e a Cursed Eyes. Não direi mais nada porque... Estou morrendo de sono suahsuahshas
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e... até a próxima =D



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