ANTES...

Ruby ficara observando o homem de capuz empurrar os corpos das jovens mulheres e a de um rapaz para próximo de onde estava o portal. Não precisou esperar muito tempo para ver garras deformadas pôr fogo e unhas longas e negras puxarem os corpos. Uma briga pela dilaceração podia se ouvir do outro lado.

— Os cães nunca ficam saciados — ela sorri para o encapuzado — afinal Inarius, porque Lilith não se apossou de um desses corpos? — a loira questionou o homem que olhava com satisfação os corpos sendo rasgados.

— Reservei um receptáculo para ela. Preparei o jeito que ela gosta, um lugar cheio de medo, obscuro e ao mesmo tempo com fé uma segunda chance de sua vida. Lilith gostará, tenho certeza — o homem falava roucamente, revelando uma enorme satisfação pelo ato.

Não ouve nem tempo para Ruby continuar seu diálogo com o homem. A voz de uma mulher toda ensangüentada estava à frente de ambos que no mesmo instante se ajoelharam.

— Levantem-se. Vocês dois fizeram muito pelo submundo, em breve a terra estará sob nosso poder, basta seguirmos com os planos e que o selo seja rompido para que o apocalipse saia de seu sono profundo. Inarius, meu amor. Cometemos erros no passado, e nessa nova oportunidade os corrigiremos — a mulher aproximou-se do homem que continuava ajoelhado e levantou-o gentilmente encontrando os lábios do homem aos seus. E sob a mesa repleta de sangue os dois demônios se deixam levar pela luxúria. Ruby assistia sem importar-se com as cenas de sexo e gritos de prazer que ambos trocavam. Afinal, estavam separados há séculos. Ruby apenas conhecia a história dos dois, e por muitos séculos os amantes acabaram em ruínas. Agora seria diferente, Ruby sentia isso e teria uma posição privilegiada ao lado de Lilith.

AGORA...

Ruby retirou-se. Sorria consigo mesma. Enganara os Winchester até agora. Enganara alguns demônios e até os matara para cumprir sua meta. Trazer Lúcifer e o apocalipse para a terra. Ainda tinha muita coisa pela frente. Uma delas, a maior delas estava por vir. Deliciava-se em saber que o Winchester mais velho logo sairia de seu caminho e então seria ela e Sam. O líder que Lilith queria morto. Porém outros planos o aguardavam. Outras forças ocultas necessitavam dele. Só que Dean era o maior dos empecilhos. E logo, logo poderia triunfar e manipular o mais novo. Não seria fácil, ele não era burro. Mas ela daria seu jeito. E começaria imediatamente, tentado ajudar Sam a “salvar” o irmão.

Perdida em seus devaneios, Ruby não havia percebido a presença de Lilith.

—Ruby, está na hora de executar o plano. Você agiu muito bem, provou ser leal a nossa causa. Em breve o apocalipse avassalará o planeta e caminharemos sobre a terra ao comando do grande mestre. Mesmo que alguns de nós sejamos aniquilados, antes do confronto final. Inarius não desconfia de nada. Continua manipulável, pensou que o perdoaria por ter me aprisionado por todos esses anos. Só que ele não imaginava o poder da minha família. Afinal, Azazel teve seu papel muito bem representado. Deu continuidade a criação de soldados que eu sempre quis ter. Não são Nefilins, mas já servem aos nossos ideais. Sam Winchester sofrerá o que nenhum outro humano sofreu, e acabará cedendo para o nosso lado. Se não fosse pelos planos que está traçado para essa família, eu já o teria desintegrado inteiramente da face da terra — os olhos da mulher ficaram inteiramente branco.

Ruby estremeceu, sentia o poder de Lilith crescendo a cada instante. Sentiu que finalmente as trevas encobririam a terra e Lúcifer caminharia livremente sobre ela.

— Dean Winchester, ainda está me dando trabalho — a loira sustentou o olhar em Lilith.

— Está na hora dele ir para o inferno, querida. Mas antes, vá acordar Inarius, tenho planos para ele — o sorriso estampado em sua face contagiou o semblante de Ruby.

— Como quiser.

Inarius estava adormecido, sentia-se forte ao lado de sua amada. Faria de tudo para que ela o perdoasse e quem sabe um dia ele não voltaria a tomar o controle da situação. Sabia que em seu atual estado, não era forte o suficiente para completar sua vontade de ser o rei do inferno e governar a terra. Tinha que ser cauteloso, tinha que ser astuto. E em meio a esses pensamentos ouviu Ruby chamando-o.

— Lilith quer vê-lo. Ela quer colocar o plano de acabar com os Winchesters em ação. E ela precisa de você, Inarius — a loira deixou um belo sorriso em sua face.

Inarius sentiu-se desconfortável, era como se algo não estivesse como ele gostaria que estivesse. Mas balançou a cabeça limpando sua mente de todas as dúvidas e de seus planos. Conhecia o poder de Lilith, ela bem seria capaz de descobrir seus planos futuros e isso não seria muito sadio para ele nesse momento.

— Inarius querido. Por muitos anos fomos tomados pelo poder e acabamos destruindo nossos próprios planos e sonhos. Hoje após tantos anos aprendendo, sobre nossas fraquezas e tolices, temos o dever de trazer para a terra os setes grandes demônios — Lilith sentiu a tensão de Inarius. E para ganhar a confiança dele, aproximou-se sensualmente e livrou-o do capuz que lhe escondia aquele rosto deformado.

Inarius tentou esconder-se sob as belas mãos de Lilith em sua face. E como por um encanto as rugas, queimaduras e a pele macilenta do homem transformaram-se em pele humana aveludada e na cabeça, tufos de cabelos se propagando por toda a extensão antes deformada.

— Um pouco daquilo que você merece Inarius. Sou grata a você por libertar-me. E serei muito mais grata se acabares com aqueles metidos caçadores. Enquanto trago a esse mundo os setes.

— Temo por essa sua decisão querida, pense bem. Trazer Duriel, Senhor do Sofrimento, Andariel, virgem da angústia, Belial , senhor das mentiras, Azmodan, senhor do pecado e o três principais males do inferno Mephisto, o senhor do ódio. Baal, senhor da destruição e finalmente Diablo, o senhor da destruição... eles podem se voltar contra nós. Atrapalhar nossos planos. Você não acha muito arriscado?

O silencio era perturbador. Mas Lilith achou que dessa vez Inarius pudesse ter razão. Trazer todos eles poderia colocar sua missão em risco. Conhecia cada um deles, as vezes era difícil a convivência entre eles. Lúcifer era sua maior arma no momento. O traria primeiramente. Como havia sido escrito que seria.

— Tens razão. Vamos seguir um passo de cada vez. Traga os irmãos Winchester para o sacrifício final, Inarius. E você Ruby, vá preparar o altar.

Ruby e Inarius se entreolharam. A loira sabia muito bem que Lilith começava a abrir as portas para o verdadeiro mal pisar sob a terra. Enquanto Inarius sentia-se vitorioso por ter convencido Lilith a não trazer os setes demônios do inferno.

***

Após a conversa tensa entre os irmãos, Bobby resolvera a procurar em seus livros uma forma de livrar o cabeçudo do mais velho das garras da tal Lilith. Os três estavam lendo. Dean acabara pegando no sono em cima de um dos livros e os pesadelos voltaram a atormentá-lo. Com o peito arfando acordou repentinamente ao sentir o toque da mão do caçula despertando-o.

— Dean!? Está tudo bem?

Não, não estava. Sam sabia. Mas não queria admitir.

— S..sim. Apenas um pesadelo — o loiro passou a mão pelo rosto. Sentiu as correntes do inferno abraçando-o tão fortemente que bolhas levantavam de sua pele. Terríveis queimaduras ao contato com a corrente em brasa. Chegou a olhas para os braços, verificando que tudo realmente não passava de um maldito pesadelo.

Sam percebeu o medo nos olhos do irmão. Não era tolo. O moreno puxou uma cadeira e sentou-se perto de Dean.

— Cara. Não se preocupe. Não vou deixar você voltar para o inferno. Eu prometo, ok? — Dean balançou a cabeça acreditando nas palavras do caçula. Para logo em seguida ver a fisionomia do irmão se retorcendo. Aquela visão o assustou momentaneamente. Sorriu disfarçando o desconforto.

— Está bem, Sammy.

— Venha. Bobby achou algo.

— Sério? Faltando menos de 48 horas... que tal bebermos até cairmos? Encontrar umas “chiquitas” e zoarmos a noite inteira? — aquele sorriso malandro, Sam apenas balançou a cabeça ao dizer:

— Bom. Se for para livrar seu traseiro dessa merda toda... não iremos fazer isso.

Dean torceu os lábios e seguiu o irmão até onde Bobby parecia um cientista maluco ou um feiticeiro com livros e pêndulos sobre a mesa descascada.

— Novidades Bobby? — Sam adentrou a sala. Seguindo com o olhar os movimentos bruscos e imprecisos do velho caçador.

Mas antes que Bobby respondesse, Ruby falava escorada na porta com os braços trançados abaixo do peito.

— Lilith quer trazer os setes males para a terra.

Os três olharam imediatamente para ela. Ali parada, calma e sorrateira. Dean pestanejou ao lembrar que deixou a colt no outro cômodo.

— O que você faz aqui, Ruby? — Sam sentia o ar ainda mais pesado.

— Apenas alertá-los. Ela quer trazê-los para a terra. Já ouviram falar deles, não é? — Ruby voltou a caminhar em direção da mesa onde estavam os livros, mapas e pendulo.

— Já ouvi falar deles sim — Bobby respondeu carrancudo — Conta a lenda que, em sua ignorância, os demônios inferiores começaram a acreditar que os superiores Mephisto, Baal e Diablo tinham medo de continuar a guerra com o céu. E tentaram unir-se para acabar com eles e dar inicio ao Armageddon. Os Irmãos lutaram com toda a feracidade do mundo subterrâneo e, conseguiram aniquilar boa parte dos rebeldes infernais. Mas no final acabaram sendo mortos pela Morte. Que naquela época queria que os anjos se distraíssem perseguindo os males pela terra e deixando as portas do céu sem defesa. Mas todo demônio é igual, querem sempre destruir uns aos outros e acabam se destruindo junto — Bobby relatava todo o resumo de milênios atrás, bebendo de seu cantil a cada pausa.

— Muito bem informado para um caçador. Parabéns! — Ruby batia palmas enquanto voltava sua atenção a Sam.

— O que você quer Ruby? — Sam estava ficando sem paciência com toda a encenação.

— Acabar com Lilith e salvar o lindo par de olhos de seu irmão. O que acha? E antes que vocês me vêem com piadinhas... eu sei onde ela está! — o efeito que Ruby queria surtiu. Conseguiu a atenção dos três.

— Estamos escutando — Bobby falou sorrindo. O que deixou os irmãos confusos.

— Ela está a poucas horas daqui. Um amante dela chamado Inarius a trouxe de volta para esse mundo. Ela agora habita o corpo da mulher que sobreviveu a chacina em uma lanchonete. Vocês sabem de quem estou falando certo? — Ruby deliciava-se com toda a situação armada.

— Luisa — Bobby falara perdendo o sorriso de antes.

— Após tantos sacrifícios de jovens, ela finalmente foi libertada. E, ela acha que eu estou ao lado dela. Pediu que acabássemos com vocês. Vim o mais rápido que pude para alertá-los do perigo — a loira diminuiu o tom de voz. Deixando transparecer sua preocupação em salvá-los.

— Acabassem com nós? Quem mais está no nosso encalço? — Dean resolveu acreditar momentaneamente.

— Inarius! — a loira falou dando passos a frente de Sam. Mas percebeu de imediato o que estava acontecendo. E o porque do sorriso do velho caçador.

— Está com problemas de locomoção, querida? — Dean sorriu ao vê-la presa na armadilha para demônios.

— Tolos! Vim para avisar do perigo real e imediato! E é assim que me retribuem!? — a loira estava muito irritada. E nesse meio tempo a porta se abre em um estrondo.

— Vagabunda! Nos traindo com os Winchester? Vai receber seu castigo quando Lilith souber de tal traição. Ela vai te esfolar viva, sua cadela! — o homem dizia ameaçadoramente.

— Quem é você? — Sam questionou assim que o encapuzado caminhava em sua direção.

— Sou Inarius. Aquele que acabará com a raça de vocês — Sam olhou para Bobby e procurou o irmão, mas ele já não estava mais na sala.