You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 9
The one with Romeo and Juliet


Notas iniciais do capítulo

É, eu sei que é de madrugada e também sei que os reviews no capítulo anterior foram mínimos, mas eu resolvi postar o capítulo mesmo assim pra compensar o tempo que o outro demorou pra sair :v Apreciem a minha bondade extrema (sqn) xD Okay, okay, eu admito que também só vim postar porque tava aqui de boa folheando meu livro de Português (sintam o tédio) quando vi um conto interessante e resolvi escrever um capítulo inspirado nisso :3 Todo mundo conhece esse conto e acho que pelo título do capítulo já deu pra entender :v Enfim... Boa leitura!



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Clary Fray

— Acorde, Clarissa! — Era a voz de minha mãe vindo pela porta.

Apertei o travesseiro contra a nuca, reprimindo o som. Minha cabeça latejava com dor, e qualquer ruído me fazia ter vontade de gritar. O arrependimento pela amostra grátis de bebedeira do dia anterior percorreu meu corpo na velocidade de uma avalanche, e eu jurei a mim mesma que ficaria longe do álcool por, pelo menos, bons seis meses. Pelo menos ninguém te viu enquanto você vomitava, uma voz envergonhada murmurou na minha cabeça. Suspirei.

— Adele? — Minha mãe insistiu, me fazendo grunhir.

— Hoje não tem aula — resmunguei, tirando o travesseiro da cabeça e erguendo os olhos apenas de leve para ela. — É domingo e eu estou de férias. Qual é o problema?

— O problema? — Ela soou incrédula ao adentrar no quarto e bater a porta com força atrás de si. — Tudo bem, vamos ver qual é o problema! Sebastian me disse que você saiu ontem à noite sem me avisar e deixou seus amigos preocupados. Sua jaqueta cheira a álcool. E você, claramente, está de ressaca.

Oh, ferrou-se. Apertei os olhos com força, dando a entender que estava com sono, e afastei os cobertores com pequenos chutes. Maldito Sebastian! Eu deveria desconfiar. Encarei minha mãe por uns segundos, perguntando a mim mesma como ela lidaria com aquilo. Pelo tom de voz, ela estava decepcionada comigo, o que era pior do que eu esperava. Odiava quando minha mãe se decepcionava comigo; era como se eu fosse a vértice de todo o sofrimento dela, como se eu fizesse tudo de propósito para ver a felicidade sair de seus olhos.

— Me desculpe — murmurei, sentando na cama. — Mãe, eu sinto muito mesmo...

— Não importa — sua voz era firme, mas ela engoliu em seco. — Você está de castigo até o fim do mês de janeiro, Clarissa.

Ela se virou para sair antes que eu pudesse protestar, mas eu não faria isso mesmo. Parecia mais do que justo. A meio caminho do lado de fora, porém, Jocelyn pareceu pensar melhor e se virou para me olhar, sua expressão menos rigorosa:

— Eu não esperava isso de você. Mas saiba que eu estou aqui também, Clary.

***

No dia 3 de janeiro, Maia e Jordan já haviam voltado para Vermont — na verdade, eles voltaram antes disso, antes mesmo do Ano Novo — e era hora de retomar a vida como se o recesso de inverno nunca houvesse existido. A segunda-feira amanheceu milagrosamente sem nuvens, embora lufadas geladas ainda causassem arrepios na minha espinha. Quando levantei, tive o prazer da abrir a janela e deixar que a brisa entrasse no quarto, carregando um leve cheiro de metal que eu já havia me acostumado.

Enquanto observava a paisagem, enxergando o Empire States apagado no horizonte, me lembrei das palavras de minha mãe, alguns dias antes. Saiba que eu estou aqui também, Clary. Ela pareceu sincera ao dizer aquilo, mas eu ainda estava hesitante. Não queria falar sobre meus sentimentos idiotas com a minha mãe; não queria dizer para ninguém o quanto ficava confusa ao pensar no rumo que a minha vida estava levando.

Depois de já estar pronta para o colégio, eu acompanhei Sebastian até o lado de fora. Eu estava dando um gelo nele por ser tão dedo-duro, mas não parecia fazer diferença nenhuma. Raramente nos falávamos, de qualquer modo.

Nós chegamos ao colégio quase atrasados. Sem uma palavra sequer, me afastei de Sebastian e corri para o interior da escola, atravessando os corredores com pressa. Eu não avistei Simon, o que foi até melhor. Da última vez que o havia visto, falara mais do que normalmente falaria para alguém. Eu me sentia exposta ao demonstrar o quanto estava insegura, o quanto minha vida parecia instável.

Para o meu azar, a aula de Inglês era meu primeiro tempo em todos os dias da semana. Ao chegar à sala, meu companheiro já estava lá, tipicamente afundado em sua leitura matinal. Ignorei-o, assim como havia ignorado todos os meus pensamentos que se voltavam na direção dele — e, posso garantir, não eram poucos. Até o final daquela semana, os alunos poderiam mudar a grade de horários. Decidi que faria aquilo naquele mesmo dia: mudaria meu primeiro horário de Inglês para algo diferente, talvez Filosofia. Não queria ter que encarar meus próprios sentimentos controversos sempre que entrava na sala de aula.

A aula seguiu com uma lição torturante sobre tipos de texto até que, dez minutos antes de o sinal para o intervalo tocar, o professor virou-se para nós com uma expressão que sugeria uma ideia diabolicamente ruim.

— Alunos, abram o livro na página 187 do livro — ele pediu, e foi o que eu fiz.

A página mostrava um texto do gênero teatral. Fiz uma careta ao reparar que se tratava de Romeu e Julieta.

— Preciso que dois de vocês leiam em voz alta para mim — ele vasculhou os olhos pela sala. — Preciso de uma dupla composta por um casal.

Meu estômago gelou quando seus olhos pararam sobre mim. Eu e o garoto ao lado éramos os únicos da sala que sentavam com alguém do sexo oposto. Droga, droga, droga. Passei as mãos pelo rosto. Aquilo não estava acontecendo comigo. Não poderia estar.

— Vocês dois — o professor apontou para nós. — Senhorita Fray e Senhor Herondale. Façam as honras.

Ignorei a pontada de felicidade que surgiu no meu peito quando o professor falou o sobrenome dele. Uma parte idiota de mim estava feliz por ter alguma informação dele, por mais idiota que fosse. Não era como se um sobrenome pudesse adiantar muita coisa.

— É claro — ele respondeu, aparentemente entediado, descartando seu livro de poesia e abrindo o de Inglês.

Foi por uma fração de segundo que eu percebi a pressão em seu maxilar que indicava que ele não queria fazer aquilo tanto quanto eu. Tentei não me sentir constrangida, mas era tarde demais. Mesmo que minha parte racional insistisse em ignorar o efeito daqueles olhos dourados sobre mim, meus nervos ainda resistiam firmemente, gritando de alegria a cada segundo que se passava na presença dele.

Ele pigarreou, e eu fiz o mesmo. Baixei os olhos para o meu livro. A primeira fala era dele.

Só ri da cicatriz quem nunca foi ferido — leu, numa voz tão intensamente bonita que tive que reprimir um calafrio. — Silêncio! Que luz é aquela na janela? É o sol nascente: Julieta nasce.

Seus olhos subiram para meu rosto, e um pequeno sorriso sarcástico brincava em seus lábios. Revirei os olhos, mascarando meu nervosismo com o tédio. Foquei a atenção em manter a voz firme enquanto dizia, da forma mais ridícula que poderia imaginar:

Romeu, Romeu! Por que você é Romeu? Negue seu pai e renuncie ao nome; se não quiser, basta jurar-me amor, e eu deixarei de ser Capuleto.

Ele continuou sorrindo.

Peguei você na palavra. Eu não fui batizado, meu nome é Amor, não sei quem é Romeu.

— Como chegou aqui? Por onde veio? — fiz uma pausa para suspirar, imaginando se haveria maior constrangimento que aquele. — Os muros não são fáceis de escalar e o lugar é mortal para você, se algum dos meus parentes o encontrar.

— Com as asas do amor, saltei por eles: não há muros de pedras para o amor — por um momento, pude jurar que Jace soava hesitante. — Se ele pode fazer, eu também posso: seus parentes não podem me deter.

Tive que me controlar para não resistir ao impulso de suspirar. Eu não queria mais ler; queria apenas que ele continuasse lendo, com sua voz suave como veludo que tornava a história mais encantadora do que eu realmente achava. Mas os olhares que meus colegas de classe me lançavam me deixavam fincada na realidade. Continuei:

Mas quem foi que ensinou este caminho?

— Quem me fez indagar foi o amor: deu-me conselhos, eu lhe dei meus olhos. Sem ser piloto do mar, eu a acharia na mais longínqua praia do oceano: por essa carga, arriscaria tudo.

Tentei convencer a mim mesma que o aspecto trêmulo da voz dele a cada vez que pronunciava a palavra "amor" era apenas uma ilusão minha.

Ainda bem que a noite me máscara, senão a máscara seria rubra — quase ironicamente, eu senti meu rosto corar nesse momento. — Pelo que viu e ouviu, seria vão tentar manter as aparências, vão desmentir, mas... Chega de cerimônia! Você me ama? Vai dizer sim, não? Pois vou acreditar em sua palavra. Jurar seria falso. Até Júpiter ri das juras de amor - é o que dizem. Gentil Romeu, você me ama? Diga!... — eu suspirei, piscando com força. — Ou fui fácil demais para se ganhar? Então, vou dizer não!, fechar a cara, para você correr atrás; senão, nunca... Dessa vez, as palavras seguintes pareceram entaladas em minha garganta. Olhei em volta, rezando para que aquela tortura acabasse, e tudo o que recebi foi um olhar do professor, me encorajando a seguir em frente. Engoli em seco e fechei os olhos enquanto dizia: — É que eu estou apaixonada.

O sinal tocou no mesmo momento em que os olhos dele se ergueram para me olhar novamente. Ele parecia indeciso. Eu sentia que todo o meu rosto queimava, lançando um calor sobre meus ombros e meu pescoço. Sentia uma vontade incontrolável de correr e, ao mesmo tempo, de abraçá-lo. Ao invés disso, apenas afastei o cabelo do rosto e comecei a guardar minhas coisas.

— Você atua bem — foi o seu cumprimento antes de, às pressas, colocar a mochila sobre os ombros e correr para fora.

Eu fiquei sozinha na sala de aula, o sentimento de constrangimento tomando conta de mim. Balancei a cabeça.

— Não atuo, não — falei, para ninguém em especial, porque era verdade.

Se aquilo parecera verdadeiro para ele, então certamente eu havia deixado um pedaço dos meus sentimentos verdadeiros escaparem nas palavras. Me odiei por isso. Eu não queria mudanças. Percebia, aos poucos, que elas não eram bem-vindas. Eu não queria mudar. Não queria admitir que estava apaixonada por ele, sequer considerar a hipótese.

Antes de eu me virar para sair, percebi um livro de capa branca deixado sob a mesa. Me inclinei para pegá-lo e analisei o título. Era um livro de poesias. O livro de poesias dele. Com certa hesitação, o abri para encarar a contracapa, e quase dei um salto de surpresa ao ver seu nome rabiscado em elegantes letras garranchadas: Jace Herondale.

O sorriso que se espalhou por meu rosto foi totalmente involuntário e inevitável. Com cuidado, arrumei um espaço em minha mochila e guardei o livro lá. Seu nome rondava minha mente como um mantra sagrado enquanto eu avançava pelos corredores. Jace, Jace, Jace. Uma parte de mim queria correr para ele e sorrir ao chamá-lo pelo nome, enquanto outra estava assustada com a intensidade de seu efeito sobre meu peito. Jace. Eu não conseguia imaginar nada melhor do que aquilo. De repente, a hipótese de tê-lo afastado de mim parecia dolorosa demais. Eu não seria capaz de forçar uma distância entre nós, mesmo que nada existisse ali, mesmo que meu sentimento fosse algo precipitado, mesmo que ele parecesse tão distante quanto uma estrela no céu. Eu não desistiria. Sequer poderia. Eu sabia agora: não havia como evitar aquele sentimento que crescia cada vez mais, avançando os limites do meu peito, tomando conta de meu cérebro. Eu me sentia estranha, lembrando o quanto as palavras de Julieta haviam soado verdadeiras ao serem ditas por mim. É que eu estou apaixonada.


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Notas finais do capítulo

Eu pulei várias partes para encurtar a história :v E sim, eu peguei esses fragmentos de "Romeu e Julieta" do meu livro de Língua Portuguesa. Nunca achei uma utilidade maior que essa pra aquela bagaça :3 É a primeira vez que eu curto "estudar" Português...
Sério, eu adorei muito escrever esse capítulo, vocês nem tem noção :3 Nada melhor do que um pouco de Clace depois de um capítulo Climon, só pra deixar a Clary um pouquinho confusa :v Hehe. Ah, e nem vão pensando que a coisa vai ficar fácil pro Jace e pra Clary só porque ela tá louquinha por ele, tsc, tsc u.u Vão tirando o cavalinho da chuva.
Enfim... Mandem reviews com a opinião de vocês, galera c: A data da próxima postagem só depende do número de comentários u.u Beijos, até o próximo!