Xeque-Mate escrita por Mariii


Capítulo 4
Capítulo 4




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– Sherlock

Levei-a para fora desacordada e a coloquei no chão com cuidado. As sirenes se aproximavam, o som ficando cada vez mais forte. Eu tentava não pensar em tudo que eu tinha perdido, minha cabeça começava a latejar diante do ardor em meus olhos. Ainda lutava contra todos os sentimentos que tentavam me invadir. Eu ainda não podia cair, porque não sabia quando me levantaria de novo.

Sentei ao lado dela na calçada e deixei que sua cabeça repousasse em meu colo. Desejava que ela não se lembrasse de nada quando acordasse, mas sabia que não seria assim.

Olhei para minhas mãos, vermelhas de sangue. Assim como a rosa. Estava cada vez amis difícil segurar as lágrimas que eu sabia que viriam uma hora ou outra.

Lestrade saltou do carro assim que parou na entrada da garagem e seus olhos se arregalaram ao ver o estado em que estávamos. Ao ver o sangue. Vi espanto em seus olhos quando encontraram os meus, talvez meu semblante demonstrasse mais emoções do que eu imaginava. Mesmo assim, Lestrade caminhou decidido e passou pela porta. Havia pesar em suas feições.

Os paramédicos se aproximaram para nos atender. Não resisti e não reclamei. Sei que deveria me levantar e investigar o máximo de detalhes que pudesse, que eu tinha que encontrar o responsável por tudo isso. Mas não conseguia fazê-lo. Não enquanto meu melhor amigo e sua esposa - que também era minha amiga- estavam lá. Mortos. E no momento precisava garantir que Molly estaria bem. Ela era tudo o que tinha me restado. Eu precisava ir com ela. Molly estava viva e era isso era o que importava agora. Voltaria ali depois, para descobrir tudo aquilo que Lestrade não verá, porque com certeza ele deixará várias para trás. Mas... Depois. Depois que os corpos fossem retirados.

Colocaram Molly em uma maca e nos levaram até uma ambulância, onde fizeram alguns exames em mim para detectar se eu estava em choque. Quando chegamos ao hospital algo foi aplicado em meu braço. Eu imediatamente dormi. Um sono pesado e sem sonhos que me fez agradecer o que quer que tenham me injetado.

Quando acordei e vi que estava em um hospital, tudo voltou em um flash na minha mente. Droga, eu não queria me lembrar. Fechei os olhos com força e quando os abri novamente, vi Mycroft sentado no sofá que existia no quarto. Não conversamos mais que o necessário. Ele havia me trazido algumas roupas, e eu percebi que já não estava mais cheio de sangue. Os enfermeiros devem ter lidado com isso durante a noite, mais um motivo para agradecer.

– Nós vamos pegar quem fez isso. - Foi só o que ele me disse antes de sair e eu assenti. Sim, nós iríamos. Não importava o que isso fosse custar.

Não demorou para que eu recebesse alta e, confesso, eu estava perdido sobre o que fazer. A única coisa que eu sabia era que precisava ver Molly o quanto antes. Não podia esperar mais para saber como ela estava.

Quando entrei no quarto, ela encarava o teto e lágrimas escorriam de seus olhos, que estavam vermelhos. Molly ficaria mais algum tempo no hospital, por conta do seu estado de choque. Era necessário que ela se recuperasse totalmente. Sentei-me na beirada da cama e segurei sua mão, fazendo ela finalmente olhar para mim. Molly surpreendeu-me sentando na cama e me abraçando com força, soluçando em meu ombro. Não sabia o que dizer, não vinha nenhuma palavra à minha mente. Não queria que ela sofresse assim. Molly nunca deveria derramar uma lágrima.

Por longos minutos nós ficamos só abraçados tentando buscar consolo um no outro, até que a afastei só o suficiente para olhar em seus olhos e enxugar algumas lágrimas que ainda escorriam.

– Era um homem, Sherlock. Ele usava um tipo de gorro, não pude ver seu rosto. - Ela respira fundo. Sua voz está danificada e fraca, um reflexo de como ela está internamente. Isso me quebra ainda mais e meus olhos voltam a queimar. Não posso cair agora. Ainda não. - Ele me segurou, mas disse algo sobre "rainha" e eu não entendi. Não conseguia entender...

– Não se preocupe, Molls. Não pense nisso agora. Eu o farei pagar, seja quem for. – Minha voz sai fria e dura. Observo ela assentir, confiante no que eu digo. Aproximo-me devagar e a beijo na bochecha.

– Tente ficar bem, por favor. Faça isso por mim. - Eu saio. Não posso mais ficar ali. Não quero que ela me veja quebrando e meus pedaços caindo.

Encontro Mycroft e Lestrade me esperando em uma sala.

– Como ela está? - É Lestrade quem pergunta e eu apenas o encaro. Como ele acha que ela está? Irrito-me com a pergunta retórica. Vejo ele desviar os olhos e Mycroft interrompe o clima que se formou:

– Nós precisamos conversar, mas em outro lugar.

Vamos para Baker Street. As lembranças dão pontadas em meu peito, mas eu resisto mais uma vez. Tenho quer ser forte... Por John, por Mary... Principalmente por Molly.

– Encontramos isso na casa... - Lestrade me entrega algo dentro de um saco de evidências.

O que eu vejo não faz sentido por alguns segundos. Mas só por alguns segundos. São duas peças de um jogo de xadrez. Dois peões. Estão quebrados e ainda com sangue. Dois peões quebrados.

Começo a pensar. Entro em meu palácio mental, fechando-me para o mundo exterior. Não sei quanto tempo passo lá, o bastante para que Lestrade vá embora, levando com ele as pequenas peças. Xadrez, um jogo, peões, peças, John e Mary, duas peças, dois peões, torre, bispo, torre...

Sou interrompido pela Sra. Hudson quando estou quase chegando as últimas peças, para que tudo possa se encaixar.

– Sherlock, chegou uma carta para você.

E ela me entrega a prova de que eu estava indo pelo caminho certo.

Papel elegante, letra rebuscada.

É um jogo. Um jogo de xadrez. Deus.

– Mycroft. – O chamo com urgência e ele se vira para mim parecendo ansioso - Nós precisamos proteger a todos. Isso inclui você. - Eu me levanto e começo a me desesperar. Contando os nomes nos dedos, que se misturam aos nomes das peças. - Sra. Hudson, Lestrade, nossos pais... Molly. Mycroft, as letras da assinatura. Você sabe tão bem quanto eu de quem se trata. Sebastian Moran, Mycroft. Ele está em busca de vingança por Moriarty. Vai atrás de cada pessoa que importa para mim.

Então eu me lembro das palavras de Molly “(...) mas disse algo sobre "rainha" e eu não entendi.”. Céus, Molly era a rainha do meu jogo de xadrez. A peça mais importante. A peça que podia me destruir ao morrer.

– Mycroft, você precisa protegê-la! - Seguro-o pelo braço, o meu desespero está evidente agora. - Eu preciso dela, Mycroft. Não deixe que nada aconteça a ela, eu imploro. – E não peço isso pelo jogo, e sim porque quem planejou isso está certo. Se eu perdê-la, não irei suportar. É mais do que posso aguentar.

Jogo-me de volta para a poltrona e percebo que estou tremendo. Mycroft está assustado com minha incomum falta de controle. Ele já havia percebido que eu estava interessado em Molly, me recriminando, como sempre. Mas agora ele parecia se dar conta do quão profundo isso era.

– Você tem certeza do que está pedindo? Você sabe que eu poderia protegê-la completamente, mas isso significa...

– Sim, eu sei. E é isso que estou pedindo.

– Sherlock...

– Será melhor assim, Mycroft.

Ele não diz mais nada e sai. Sei o que Mycroft irá fazer e sei que isso irá me derrubar um pouco mais, mas eu saberei que ela está segura.

Mycroft tirará Molly de minha vida.


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Notas finais do capítulo

Espero que não tenha ficado tão confuso... hahahahaha



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