O Segredo dos Bennech escrita por bianinha


Capítulo 21
Mansão




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Depois de subir as escadas correndo e de tropeçar várias vezes, chegamos a sala que agora cheirava mal, devido a combinação do mofo e do suor. Dava para perceber que o Mestiço já havia sido atacado várias vezes, já que seu rosto estava machucado e sangrando em vários lugares. Ainda assim, ele continuava em pé, seus olhos estavam avermelhados e de suas mãos saiam um espécie de fogo - numa cor diferente, quase um verde - que ele parecia controlar muito bem e havia deixado pelo menos uns três feridos, incluindo o Sr. Bennech.

Anne Marie se atirou no meio da briga para ir ver o pai, que dizia estar bem. Os Kingans estavam fracos de mais para ajudar, e todos os outros já estavam cansados.  Eu não aguentava mais assistir aquilo e tive que interferir.

- Parem! - gritei.

E só então o Mestiço se tocou da nossa presença ali. Ao ver todos que havíamos libertado, seus olhos se encheram de ira, apesar disso, ele apagou o fogo que brilhava em suas mãos e começou a vir em minha direção.

Eu arregalei os olhos com medo e antes que eu pudesse fazer alguma coisa ele agarrou a manga da minha blusa me puxando pra perto dele violentamente. Colocou seu braço por cima do meu pescoço quase me sufocando.

- Querem saber? Vão embora! - ele disse cuspindo no chão. - Mas ela vai comigo. Não procurem por ela, ela não vai durar muito. - e riu.

Estranhamente, eles somente se olharam e permitiram que ele me levasse por uma portinha. Depois de longos corredores e escadas com degraus irregulares chegamos ao lado de fora. Já devia ser quase de manhã, o sol ameaçava nascer no horizonte e apesar do céu na Índia estar lindo, isso era a última coisa com que eu me preocupava no momento. 

O homem me colocou no banco de trás do seuUno e fechou a porta com força sem dizer nada. Chorar já não adiantava mais, naquela fase já estava tentando bancar a durona. 

- Para onde você está me levando? - perguntei brava e ele me ignorou - Para onde estamos indo? - repeti.

- Cale a boca, menina. – ele estava diferente agora. Quero dizer, ele já era nervoso e doentio, mas agora estava mais sombrio e eu, cada vez com mais medo.

- Você vai me matar? – mais que raio de pergunta foi essa. Pensei, tarde demais.

- Planejo. – ai.

- Por favor, me deixa. – comecei a chorar. Droga! – Quer dinheiro? Eu consigo. Eu juro que ...

- Não preciso de dinheiro, garota. – interrompeu irritado. – E que parte de ficar calada você não entendeu?

Decidi parar de falar antes que eu acabasse adiantando minha morte. Por algum motivo o rádio estava ligado, num volume bem baixo, ainda assim podia escutar uma música agitada cantada por uma indiana, que não combinava nada com o momento e isso meio que  me irritava. Tudo naquele lugar me irritava.

Olhei para a estrada feia e seca que íamos deixando para trás, me perguntando por que nenhum deles tinha me impedido de ir. Será que eu não fazia mesmo parte da família? Tinha voltado a chorar de novo. Não sei de onde vinha tanta lágrima. Nunca tinha chorado tanto quanto nesses últimos dois dias e provavelmente não teria a chance de fazê-lo no futuro. De repente reparei num movimento na estrada que até então, com exceção de nós, estava deserta. Mais uma vez, movimento. Apertei os olhos na intenção de ver melhor. Tudo o que eu enxergava era uma mancha que rapidamente desaparecia, reaparecia e desaparecia. Sempre.

Quando me toquei, o carro tinha parado. Olhei em volta e não acreditei no que vi, uma casa gigante, digna da realeza. Abri a boca com espanto enquanto ele me mandava sair do carro e voltava a me puxar pela manga.

- É a sua casa? – perguntei.

- Você não consegue ficar quieta, não é? – ele reclamou. – É minha casa.

- Se você tem uma casa imensa dessa e anda com um carro daquele? – apontei para o Uno velho, sujo e fedido, ignorando seu pedido de silêncio.

Ele revirou os olhos.

- Eu não gosto de chamar atenção quando estou na cidade. – explicou. – Agora, ande mais rápido.

É, porque esse parece um ótimo esconderijo, pensei. A paisagem era melhor que a da estrada e a da cidade, mas ainda assim, faltava vegetação em todos os lugares. Havia apenas uma única árvore quase seca perto da entrada da casa. A mansão definitivamente não combinava com o lugar. Parecia ter sido retirada de uma coleção de casas da realeza e colocada ali, não se encachava.

Quando entramos não pude deixar de sentir falta da última mansão que estive. Muito mais aconchegante e de decoração mais simples. Enquanto aqui, a poeira estava em todo lugar, as luzes eram muito fracas, tinha tapetes de mais e móveis de menos, deixando muitos espaços vazios.

Depois de me arrastar por alguns cômodos ele me colocou numa salinha menor, sem nada, nada mesmo.

- Quer saber por que você sabia a combinação do cadeado? – ele perguntou.

- É só nisso que penso. – eu respondi. – Eu a reconheci do meu colar.

- Meu colar. – ele corrigiu.

- Como assim? – fiquei confusa. – Eu te dei a poção em troca, ele voltou a ser meu.

- Antes disso, menina. – ele ficava impaciente. – Eu fiz questão de que chegasse a você. Não temos muitos mestiços por aí. Mesmo quando se tratam de humanos, não são muitos. Achei que fosse igual a mim, mas você é só mais uma medrosa. Garota irritante.

Franzi o nariz para o insulto.

- E por causa disso vai me matar? – ai, já estava farta daquilo. Drama, drama, drama. Isso nunca acaba, caramba? Eu só quero ir pra casa.

- Acho que sim. – respondeu com descaso. – Pessoas como você só me atrasam. A não ser, que mude de idéia e junte-se a mim.

- Prefiro morrer.

- Imaginei.

Falsos corajosos. Ouvi seu pensamento pela primeira vez, mas decidi não deixar isso claro com a minha cara.

- Meus amigos virão. Minha família virá. – corrigi.

- Eles podem tentar. – ainda com descaso. – Eu fiz o mesmo com a jaula. Esse lugar não permite o uso de suas habilidades.

Então por que só agora eu conseguia ler a mente dele?

- Como você faz isso? – perguntei.

- Deixe de ser tola. Não saio por aí contando meus truques.

Podia ter tentado vasculhar aquilo na mente dele, mas não achei que isso importava no momento.

- Vou te dar a chance de reconsiderar. – ele disse olhando bem nos meus olhos. – Um dia, está certo? Sem comida, água, banheiro. Talvez isso mude a sua opinião.

Podia ter respondido que não na hora, não precisava pensar, mas talvez um tempo fosse o que eu necessitava, nunca se sabe. Ele sorriu perversamente e bateu a porta. Ainda tive a chance de ler sua mente mais uma vez antes que desaparecesse, ele parecia querer muito que eu mudasse de idéia e que me matar seria um desperdício. Tinha sido a coisa mais gentil que eu tinha ouvido hoje.

Logo estava sozinha de novo.


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Notas finais do capítulo

E então, tá ficando bom?



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