— O que está havendo? — Suki franziu a testa, estranhando, e rapidamente dirigindo um olhar questionador para Kioto Hyuuga. — Por que a aparência dele está tão diferente agora?

Kioto examinou Sasuke Uchiha cuidadosamente, procurando desvendar os segredos por trás daquela forma demonizada. Não tardou para o Byakugan encontrar a resposta.

— Há um chakra diferente circulando dentro dele — disse Kioto com os olhos em Sasuke. — Energia Natural, sendo mais específico.

Hana sobressaltou-se.

— Então ele também pode usar Senjutsu como o Naruto?!

Kioto meneou a cabeça negativamente.

— Aquela transformação de Sasuke Uchiha não é fruto de uma absorção controlada de Energia Natural, ao contrário do Modo Sennin de Naruto Uzumaki — explicou. — É algo similar ao...

— ... Selo Amaldiçoado do Orochimaru — completou Suki, murmurando, e Kioto olhou para ela de soslaio. Apenas um capricho, visto que já captara perfeitamente o semblante fechado da Assassina de Kages com o Byakugan.

— Sim.

— Oh! Então esse poder não foi perdido após a batalha de Sasuke Uchiha contra o irmão mais velho — ao contrário da conterrânea Suki, Shozu realmente parecia estar gostando do que via. — Apesar de Itachi Uchiha ter removido o Selo Amaldiçoado do irmão, Sasuke conhecia outra forma de reaver o chakra do Senjutsu do Orochimaru e, aparentemente, não precisou ser marcado novamente com o Selo Amaldiçoado para acessar esse poder — o titeriteiro coçava a ponta do queixo numa expressão pensativa; um sorriso cruel, aos poucos, despontou em seus lábios finos. — Fascinante!

Suki nem de longe partilhava daquela visão. O descontentamento era notório no rosto da Quarta Oficial dos Yuurei, que embora continuasse enxergando Iori Kuroshini como o único vencedor possível daquele combate, também passar a ver em Sasuke Uchiha uma inconveniência muito maior do que esperava.

— Primeiro uma espada de Meiton e agora isso... — deu a Sasuke um olhar suspeitoso e prolongado. — Não há dúvidas, Kioto. Sasuke Uchiha, e a Folha consequentemente, mantêm contato com Orochimaru — estreitou os olhos. — Parece que a víbora, enfim, escolheu um lado.

— Já deveríamos esperar que ele não manteria a neutralidade por muito tempo — disse Kan, entrando naquela conversa. — É do Orochimaru que estamos falando.

Kioto apenas balançou a cabeça.

— É possível, embora este não pareça ser o caso — falou calmamente enquanto mantinha os olhos sobre o ninja da Folha. — Há uma serpente escondida debaixo da camisa de Sasuke Uchiha.

— Disse escondida, Kioto-sama? — Hana franziu a testa.

Kioto fez que sim.

— Sem dúvida, é a responsável pela Energia Natural.

Uma ruga de desconfiança surgiu na testa de Suki. Assim como os demais Yuurei, ela sabia que Sasuke Uchiha não dominava Senjutsu como Naruto Uzumaki, o que excluía a possibilidade de ele estar absorvendo Energia Natural por meio de alguma técnica colaborativa com a serpente, tal como Naruto poderia fazer ao invocar os sapos Fukasaku e Shima.

Com base nisso, Suki logo chegou à conclusão de que a serpente fora invocada por Sasuke Uchiha apenas para replicar os efeitos do Selo Amaldiçoado de Orochimaru; e embora o animal tivesse ocasionado a transformação de Sasuke, não fazia absolutamente nada para mantê-lo nela.

Suki semicerrou os olhos, pensativa. Se a serpente que Kioto viu não está ali para juntar Energia Natural, por qual razão Sasuke Uchiha precisa dela consigo, e ainda por cima escondida?

— Como estão os níveis de chakra dele? — Suki perguntou a Kioto.

— Ridículos — apesar da aparente indiferença na voz, Suki sabia que Kioto Hyuuga estava impressionado. — É impensável que ele tenha produzido tanto chakra em tão pouco tempo.

— Pílulas de Soldado... — Hana começou a dizer, mas parou diante da expressão suspeitosa de Kioto. O Terceiro Oficial dos Yuurei pareceu hesitar por um momento, o que definitivamente era algo incomum aos olhos de Hana. Qual é o problema, Kioto-sama?

— Ei, Kioto, o que foi? — ao contrário de Hana, Suki perguntou de forma audível e impaciente.

Então esta é a sua intenção, Uchiha, pensou Kioto Hyuuga antes de virar-se para trás, onde encontrou tanto Hana Sakegari quanto Suki olhando-o sem piscar. E embora possuíssem expressões tão distintas entre si, ambas as Yuurei tinham o mesmo ar ansioso.

— Sasuke Uchiha pretende se destruir junto com o Líder-sama — disse Kioto friamente. — É chakra demais para ele próprio suportar; o corpo dele está à beira do colapso.

Então a serpente também não vai balancear o chakra dele, Suki comprimiu os lábios. Sendo assim, a única razão de ele mantê-la escondida é para tentar algum tipo de ataque-surpresa... mas contra um adversário que possui o Doujutsu da Premonição isso pode ser um erro fatal; se o Líder-sama enxergar os passos dele no futuro, acabou; e Sasuke Uchiha não poderá repetir nenhum dos movimentos da última interação que ambos tiveram, nada do que ele tentou antes funcionaria de novo.

A menos que possuísse uma técnica mirabolante e tivesse muita sorte jogando a seu favor, Sasuke Uchiha estava sem opções, concluíra Suki; embora ela própria não estivesse convencida disso. O único homem a ferir o Líder-sama... o que pretende fazer agora, Sasuke Uchiha?, perguntou-se Suki.

Iori não fez mais do que olhar nos olhos de seu oponente.

Em qualquer outro cenário, desafiar um usuário de Genjutsu tão habilidoso daquela forma seria mais do que apenas displicência; seria insensatez. Porém, considerando especificamente a situação na qual se encontravam, o líder dos Yuurei concluiu que não havia motivos para ser tão cuidadoso. Mesmo que, eventualmente, caísse em algum Genjutsu do Sharingan ou do Rinnegan, a consciência do Zero Caudas agiria sempre ligeira para despertá-lo das ilusões.

Por outro lado, seu oponente não teria as mesmas chances de se defender ou sequer de fugir. Sasuke Uchiha aparecera perto demais de onde Iori se posicionava, e por estarem muito próximos, uma vez ativada, a atração gravitacional gerada pelo líder dos Yuurei era simplesmente inescapável àquela distância.

Foi exatamente o que Iori Kuroshini fez. Um vórtice de escuridão estendeu-se rapidamente para fora de seu corpo, distorcendo as correntes de ar e puxando-as para si, assim como o próprio Sasuke Uchiha, que não teve o menor tempo de reação. Em instantes, o corpo do ninja da Folha já havia sido todo espaguetizado enquanto era atraído para o centro da gravidade.

Mas antes que a escuridão o digerisse, Sasuke Uchiha explodiu como uma verdadeira bomba de pura eletricidade. Raiton: Kage Bunshin no Jutsu (Estilo Raio: Técnica do Clone das Sombras), outro jutsu que ele deve ter copiado de Kakashi Hatake, pensou Iori, olhando ao redor. Muito bem, onde está o...

 Iori não precisou procurá-lo por muito tempo. O verdadeiro Sasuke Uchiha surgiu nos céus, muito acima de onde Iori Kuroshini estava planando; as asas do Susano’o perfeito criavam sombras tão grandes que quase escondiam o líder dos Yuurei.

Quase, não fosse o brilho bruxuleante dos relâmpagos.

— Raiton... — disse Sasuke, com o alvo bem na mira do Susano’o — Yasaka Magatama.

Oito projéteis de eletricidade foram disparados simultaneamente contra Iori Kuroshini; riscavam o ar tão rapidamente que mesmo um Doujutsu poderoso como o Rinnegan tinha dificuldade para acompanhá-los.

Mas o cálculo de Sasuke fora ainda mais longe. O Raiton: Kage Bunshin no Jutsu era uma técnica de Rank A que exigia uma quantidade significativa de chakra para sua utilização, inclusive, bem maior que aquela gasta por Iori Kuroshini na criação de um vórtice comum de Meiton; e embora o Estilo Escuridão tivesse conseguido devorar o clone de Sasuke, quando a explosão de eletricidade ocorreu, a quantidade de energia luminosa liberada havia sido tão grande que o próprio vórtice de escuridão acabou se desfazendo também.

Portanto, naquele exato momento não havia qualquer buraco negro ao redor de Iori Kuroshini. E não havendo buracos negros, as Yasaka Magatama de Sasuke não seriam interceptadas — e, principalmente, não teriam sua velocidade reduzida — por nenhum campo gravitacional. Mesmo que Iori tentasse criar outro vórtice de escuridão, não seria rápido o bastante; o ataque de Sasuke certamente chegaria primeiro, além de que Iori precisaria de um vórtice bem maior e mais denso que o anterior, capaz de suportar toda a energia luminosa que viria — do contrário, a técnica de Meiton iria se desfazer após engolir os primeiros projéteis explosivos de eletricidade.

Em outras palavras, você não tem escolha, Sasuke viu Iori estender os braços em direção às Yasaka Magatama; e sorriu, terá que repeli-las usando o Shinra Tensei.

— Shinra Tensei — Iori repeliu as Yasaka Magatama, que lançaram raios para todas as direções ao explodir.

Em exatamente dois segundos, o Susano’o de Sasuke já havia mergulhado no ar, brandindo sua espada de chakra revestida por eletricidade e pelo Estilo Yin contra o líder dos Yuurei. Iori, porém, já prevendo aquele ataque com seu Doujutsu, pôde manipular as sombras na hora certa e, assim, paralisar o Susano’o no ar antes que fosse atingido; e com isso, o terceiro segundo havia se passado.

No quarto segundo, um portal dimensional abriu-se inesperadamente bem às costas de Iori Kuroshini. O Susano’o estava vazio?!, surpreendeu-se Iori; e faltando décimos para completar-se o quinto e último segundo do intervalo do Shinra Tensei, Sasuke Uchiha, brandindo uma Kusanagi banhada em uma combinação de Raiton e Inton, passou voando como um raio por Iori Kuroshini.

De longe, os Yuurei viram apenas um brilho branco-arroxeado cruzando o céu; mas no campo de batalha a lâmina de Sasuke deslizara livre pelo pescoço de Iori. Um ataque certeiro; a cabeça de Iori Kuroshini pendeu para trás e desprendeu-se do resto do corpo.

Eu disse, demônio, Sasuke levantava voo enquanto o corpo decapitado de Iori ia despencando no ar; e no instante em que Iori Kuroshini estatelava-se no chão, Sasuke simplesmente sacudia Kusanagi à frente do próprio corpo. Da próxima, eu deceparia a sua cabeça.

Sasuke, então, olhou para baixo em outra direção, e um sorriso arrogante encheu-lhe os lábios na mesma hora. Todos os Yuurei ali presentes olhavam para ele, seus rostos estampando perplexidade. Apenas dois, no entanto, possuíam olhares diferentes em relação aos demais — um homem alto, com uma posição destacada, e a mulher que Sasuke confrontara logo no início.

Foi na direção desses dois Yuurei que Sasuke Uchiha estendeu a ponta de sua espada Kusanagi.

Suki viu aquilo e apertou os lábios na mesma hora.

— Ele está nos desafiando.

— Sim — ao contrário de Suki, Kioto Hyuuga não parecia estar incomodado. — É um tolo, este Uchiha — e completou: ainda assim, é impressionante que ele tenha chegado tão perto.

Então era apenas um clone feito de escuridão, pensou Sasuke vendo o corpo decapitado e a cabeça de Iori Kuroshini desaparecerem em um vapor negro; e não somente isso, os Yuurei que outrora se mostraram atônitos agora estavam todos tranquilos, sem demonstrarem qualquer intenção de que iriam enfrentá-lo... ou mesmo fazer alguma coisa.

Em outras palavras, Iori Kuroshini não apenas estava bem vivo como também voltaria para terminar o combate muito em breve.

Temendo ser surpreendido num contra-ataque, os sentidos de Sasuke Uchiha se estenderam todos para o ambiente ao redor. Nada, concluiu Sasuke. É como se ele tivesse mesmo des...

Seus instintos tilintaram na mesma hora. Sasuke mal teve tempo de virar-se para aparar o golpe, mas conseguiu erguer Kusanagi a tempo de defender-se do que seria um ataque fatal. Contudo, apenas a força do impacto foi suficiente para derrubá-lo do céu; e Sasuke Uchiha só não foi esmagado contra o chão por que as asas gigantes, estendidas, forneceram-lhe uma resistência contra o ar — funcionando como um tipo de paraquedas. O corpo de Sasuke chacoalhou com força para cima antes de voltar a cair, agora à uma velocidade incomparavelmente menor, dando-lhe tempo de restabelecer-se no ar.

Sasuke sacudiu a cabeça rapidamente. Sequer pôde ver direito o que o havia atingido.

— Você está bem, Mamba? — perguntou baixinho.

A serpente silvou furiosa debaixo da roupa de Sasuke. Sim, está, concluiu ele.

— Mas o que foi que aconteceu aqui? — apesar de profundamente irritado, Mamba manteve-se sussurrando. — Como não pôde percebê-lo atrás de você?

Sasuke levantou os olhos para o céu.

— Na verdade, eu o percebi — disse, firmando os dedos sobre a empunhadura da catana. — O problema é que ele ficou mais rápido.

A aparência de Iori Kuroshini estava muito diferente. Se antes o manto do líder dos Yuurei tinha um aspecto cintilante, como se Iori estivesse vestindo uma sombra viva, agora seu corpo parecia ser inteiramente constituído por escuridão. Mais do que uma simples vestimenta, o Meiton unira-se a Iori Kuroshini de maneira mais profunda; o chakra negro tornou-se a própria pele do líder dos Yuurei, e apenas seus olhos e sua boca distinguiam-se em meio às trevas.

Iori Kuroshini ainda possuía o aspecto de um ser humano, porém, na visão de Sasuke Uchiha, o líder dos Yuurei nunca esteve mais próximo de ser um verdadeiro demônio quanto naquele momento. Pela forma com que o chakra negro se manifestava em Iori, Sasuke rapidamente associou aquela transformação ao Manto de Chakra de uma Besta de Cauda. A aparência dele é igual à do Naruto quando era controlado pelo Nove Caudas, percebeu o ninja da Folha. Faz sentido. No fim das contas, ele também é um Jinchuuriki.

Uma aura escura e terrível, como um vapor causticante, começou a emanar por todo o corpo de Iori. Aí vem ele, pensou Sasuke enquanto fazia o Chidori na mão esquerda e enchia-o com seu chakra para Inton (Estilo Yin).

De fato, Iori Kuroshini atacou, só que não da maneira que Sasuke Uchiha esperava. Ainda na longa distância, o líder dos Yuurei abriu a boca e lançou um fino raio de escuridão, o qual propagou-se no ar a uma velocidade surpreendente e atravessou o limite da linha do horizonte; Sasuke só escapou por haver se antecipado à trajetória do raio usando o Sharingan.

Em seguida — quase instantaneamente ao ataque com o raio —, Iori investiu mais uma vez à curta distância, surgindo bem atrás de Sasuke, que, novamente, desviou-se por um triz de outro golpe fatal. Entretanto, quase meio segundo após desvencilhar-se de Iori, uma sensação cruciante estourou em suas costas e Sasuke Uchiha entendeu que não fora rápido o suficiente. As asas... ele...

Sasuke viu-se despencando rapidamente do céu, mas agiu ainda mais rápido para conjurar a armadura de seu Susano’o, revestir o próprio corpo e, após abrir as novas asas feitas de chakra, evitar o que seria uma morte certa.

— Bem pensado, rapaz. Mas por que usar esta forma? — perguntou Mamba, pressentindo que o chakra de Sasuke comportava-se de maneira peculiar e não se estendia para além dos limites normais de seu corpo, como quando Sasuke invocava a forma tradicional do Susano’o. Assim, ao invés de proteger-se dentro de um colosso humanoide, ele cobria-se todo com o chakra para formar uma armadura individual; Sasuke era basicamente um Susano’o em miniatura. — Poderia muito bem ter invocado seu Susano’o perfeito.

Sasuke compreendia a inquietação de Mamba. O Isou: Susano’o (Traje Majestoso: Susano’o) era uma habilidade suplementar, desenvolvida por Madara Uchiha, com o único propósito de cobrir outras coisas — ou outros seres, em geral, de tamanho próximo ao do próprio Susano’o — com uma armadura de chakra. Nesse sentido, revestir algo tão pequeno quanto o próprio corpo exigia de Sasuke uma concentração maior e um controle de chakra ainda mais preciso do que para invocar o Susano’o perfeito.

— Preciso dosar o meu chakra cuidadosamente a partir de agora, do contrário o plano não vai funcionar — respondeu Sasuke à Mamba.

— Você parece mais exposto desse jeito.

Sasuke franziu a testa. Era incomum ver alguém tão temperamental quanto Mamba demonstrar preocupação por alguém que odiava tanto. Talvez ele esteja pensando apenas em si mesmo, concluiu Sasuke. Afinal, se eu for morto Mamba também morre.

— Não fique tão assustado — disse Sasuke com uma dose de ironia. — Os atributos defensivos são os mesmos do Susano’o habitual; e se esta forma perde em força bruta, tamanho e alcance, ela nos dá outras vantagens em compensação — ela facilita meus movimentos e consome muito menos chakra, o que me permite manter a armadura por mais tempo também, completou mentalmente.

Dito isto, Sasuke alçou voo e só ali Mamba pôde ver o quão mais leve era a movimentação de Sasuke Uchiha no ar, comparada ao voo do Susano’o perfeito.

— Tenha cuidado ao se aproximar — sussurrou Mamba antes de Sasuke colocar-se frente a frente com o líder dos Yuurei, a alguns metros de distância. — Não pretendo morrer junto com você.

— Já entendi a velocidade dele — Sasuke sussurrou de volta; e então cravou os olhos nos do inimigo à frente.

Iori Kuroshini ainda segurava nas mãos o par de asas que havia arrancado de Sasuke Uchiha. Livrou-se delas como quem jogava lixo no chão e, olhando para Sasuke, assentiu com a cabeça.

— Você foi abençoado por essa sua linhagem, Sasuke Uchiha; e seu talento excepcional é um privilégio para poucos neste mundo — elogiou Iori Kuroshini; as vozes masculina e feminina da Besta de Zero Caudas intercalavam-se a dele próprio. — Eu me pergunto quem é superior em talento natural e domínio sobre técnicas de seu próprio clã: você ou a Mira?

Sasuke revestiu Kusanagi com o mesmo chakra usado na armadura do Susano’o. Ao mesmo tempo, combinou os estilos Fogo, Raio e Yin, fazendo-os fluir uniformemente pela espada. O aspecto de Kusanagi tornou-se terrível nas mãos de Sasuke Uchiha, e chamas relampejantes de cor branco-arroxeada cobriam toda a lâmina da catana. Até mesmo Mamba viu-se impressionado com aquela combinação.

— Terá sua resposta ao fim desta luta, Yuurei — disse Sasuke. — Mas não gostará dela.

Desta vez, quando Iori Kuroshini atacou, Sasuke estava pronto; seus olhos já haviam lido e interpretado os padrões de ataque do líder dos Yuurei. Mesmo quando Iori tentava mudá-los, Sasuke conseguia antecipar-se para não apenas se defender, como também para contra-atacar de forma mais efetiva e imediata. Em matéria de poder, energia e durabilidade, Iori Kuroshini ainda era uma aberração acima de todos os padrões humanos; mas em atributos técnicos, era Sasuke Uchiha quem se sobressaía. E aos poucos, com cuidado e inteligência, Sasuke ia conquistando pequenas vantagens diante do Yuurei mais forte e equilibrando o combate — algo até então inimaginável, especialmente para os subordinados de Iori, que assistiam à luta admirados.

Sasuke, porém, sabia que estava caminhando em uma linha muito tênue entre a vitória e a derrota. Conquanto estender a luta aumentasse sua autoconfiança e frustrasse seu oponente, o tempo jogava contra ele; Sasuke tinha cerca de vinte minutos — ou menos — para arrematar a batalha contra Iori, antes que o soro injetado nele por Mamba perdesse completamente sua eficácia e os efeitos colaterais das Pílulas de Soldado viessem avassaladores sobre seu corpo. Caso o organismo de Sasuke sobrevivesse à morte por overdose, os primeiros efeitos colaterais daquelas drogas seriam a paralisia total dos músculos, tontura, perda momentânea dos sentidos e, claro, uma dor horrenda — dezenas de vezes pior que aquela experimentada por Sasuke após a batalha contra Dairama Senju, na ilha Misuto.

Fora tudo isso, restariam ainda os Yuurei. Mas para Sasuke Uchiha, que àquela altura já se considerava um homem morto de qualquer jeito, como se daria o fim pouco importava, desde que destruísse Iori Kuroshini.

Vinte minutos, urgiu Sasuke.

Para sua sorte, o adversário ainda não havia percebido suas verdadeiras intenções, de modo que Sasuke ainda tinha algum nível de controle da situação. Iori Kuroshini adotava um estilo de luta intenso, dinâmico e superagressivo; a cada nova interação que fazia com Sasuke Uchiha, o líder dos Yuurei sempre levava perigo mortal ao ninja da Folha.

O que Iori não sabia era que sua postura favorecia a estratégia de longo prazo de Sasuke.

Não há dúvidas, Sasuke conseguiu manter-se afastado de todos os Horizontes de Eventos; evitando, assim, ter o corpo despedaçado pelo conjunto de pequenos buracos negros criados por Iori, que imediatamente atacou com uma sequência múltipla de socos lançados à distância em altíssima velocidade; os golpes eram tão rápidos e tão poderosos que a fricção dos socos queimava a atmosfera, lançando verdadeiras bolas de fogo negro na direção de Sasuke. Como ele é a fonte do Estilo Escuridão, Iori é o único Yuurei que não possui o Yami no Fuuin; as técnicas dele são naturalmente banhadas em Meiton, observou Sasuke atentamente. E não é só isso...

Sasuke desviou-se das bolas de fogo negro e imediatamente girou o corpo no ar. Valendo-se da energia cinética para dar força ao próprio movimento, Sasuke evitou ser lançado para longe quando a lâmina de sua Kusanagi colidiu com o punho endurecido de Iori Kuroshini. O impacto ocasionou um ruído ensurdecedor e liberou uma onda de choque que não só separou os dois combatentes, como também reverberou por entre as montanhas onde a luta se desenrolava.

— No começo achei que esse vapor saindo do seu corpo fosse algo próprio do Zero Caudas, mas não é. Seu padrão de ataque, e principalmente a última técnica, confirmam minha hipótese — disse Sasuke, estreitando os olhos. — Isso é Gouken, o estilo de Taijutsu que Gai Maito praticava.

— Sua perspicácia é mesmo impressionante, porém mais impressionante é o fato de ter conseguido equiparar sua movimentação à liberação do Sexto Portão — disse Iori, assentindo com a cabeça. — Está correto, Sasuke Uchiha.

— Você copiou a técnica de Gai Maito... provavelmente da mesma forma que fez para obter o Rinnegan e o Doujutsu da Premonição.

Iori deu uma risada.

— Quase correto — Sasuke arqueou a sobrancelha. — Eu não copiei essas técnicas, Sasuke Uchiha — disse Iori. — O Estilo Escuridão faz mais do que isso; com ele, posso copiar uma pessoa inteira.

Sasuke fez uma careta.

Como uma sombra de um objeto, relembrou as informações trazidas pela líder do País da Chuva, Konan.

Então, imediatamente, Sasuke Uchiha congelou tenso. Isso quer dizer que ele...

Ao ver a perplexidade no rosto de seu adversário, o líder dos Yuurei abriu um sorriso macabro. Iori sabia perfeitamente que Sasuke Uchiha chegara à conclusão correta de tudo.

— Isso mesmo — disse o Yuurei, pondo a mão direita sobre o próprio rosto. — Permita-me mostrar minha preciosa coleção a você.

O rosto da criatura se contorceu e seu pescoço esticou, dividindo-se por cima dos ombros em várias ramificações de uma substância roxo-escura e pegajosa a qual Sasuke sabia ser a própria pele do Reibi. Depois, Sasuke viu surgirem treze cabeças, todas usando a mesma máscara branca da Besta de Zero Cauda.

— Sinta-se honrado, Sasuke Uchiha — disse Iori —, pois será o primeiro ser humano a ter visto todas as minhas sombras. Algumas eu nunca mostrei nem para minha própria parceira.

Mãos de escuridão nasceram a partir da substância roxa e removeram as máscaras brancas. E Sasuke Uchiha descobriu que seu pesadelo era real.

Quatro dos treze rostos adquiridos por Iori Kuroshini eram desconhecidos para Sasuke. O primeiro deles era o de um jovem adulto com feições delicadas; seus cabelos e olhos eram incrivelmente negros, como o véu da noite, e a pele pálida. O segundo, em contrapartida, tinha duras linhas de expressão em seu rosto grande parcialmente envelhecido, a pele escura, os olhos verdes e pequenos que faziam contraste com seu nariz e boca largos, a barba cheia e os cabelos eram loiros desbotados. Já o terceiro e o quarto eram homens ruivos — e pelo tom vermelho-sangue em seus cabelos, Sasuke soube na mesma hora que ambos haviam pertencido ao clã Uzumaki. Um deles era um homem de meia-idade, com pele rosada e profundos olhos verdes-azulados. Já o outro era bem mais jovem e magro, com a pele clara e possuindo o Rinnegan em ambos os olhos. Nagato Uzumaki, deduziu Sasuke.

Quanto aos demais rostos, Sasuke Uchiha os conhecia muito bem. Além de Gai Maito, Iori assimilara a princesa Shion, do País dos Demônios; o ex-membro da ANBU e capitão do Time Sete, Yamato; e Kakashi Hatake, o antigo professor e líder do Time Sete original, que assumira o posto de Sexto Hokage. Sasuke também viu ali, para seu espanto e desgosto, os rostos de todos os quatro Yuurei que já haviam sido mortos: Juha Terumi, Ryuumaru, o Caçador de Dragões, Dairama Senju — os quais o próprio Sasuke havia matado — e Taka Kazekiri.

Por último, Sasuke viu a si mesmo.

                                                                            ***

Suki deu um sorriso de puro deleite.

— Você tinha razão, Kioto; eu estava me preocupando à toa — disse, virando os olhos para o colega. — O Líder-sama estava apenas brincando com Sasuke Uchiha todo esse tempo.

Kioto Hyuuga, porém, não respondeu. Sabia muito bem o que seus olhos tinham visto; e não vira o líder dos Yuurei divertindo-se em nenhum momento. Agora a luta está encerrada, concluiu Kioto. Mas não é como se Sasuke Uchiha não tivesse tido suas chances, apesar de bem poucas.

Suki deu um suspiro.

— No fim, já sabíamos que seria assim.

— Juha-senpai e os outros estão lá... — Kan estreitou os olhos. —  Mas como isso é possível? Todos tiveram seus corpos destruídos.

— Admira-me que você não entenda algo tão simples — criticou Suki. — Nós, os Yuurei, pegamos poder do Líder-sama. Em troca, passamos a pertencer a ele.

Kan pestanejou.

— O Yami no Fuuin é a causa disso?!

— Sim — disse Suki. — No momento em que fomos marcados, tornamo-nos parte do próprio Líder-sama; e se formos mortos, nosso poder se torna dele, como uma contraprestação por havermos recebido o Meiton; e assim estamos todos perpetuamente enxertados no Líder-sama... — sorriu exultante. — É simplesmente maravilhoso!

Kan olhou outra vez para os Yuurei mortos.

— Isso é sacrilégio. Eu pertenço apenas a Jashin-sama.

— Esse seu “deus” não é do tipo ciumento, não é? — ironizou Suki, dando uma risadinha. — Você tem o selo há anos e nunca foi punido por causa dele.

— É possível remover o Yami no Fuuin?

A pergunta de Kan fora bem direta e seu tom urgente não agradou a Assassina de Kages.

— É claro que não. Você sabe muito bem... ou pelo menos deveria — Suki o repreendeu, seca. — Devo considerar essa sua pergunta como algo além de uma simples curiosidade, Sexto Oficial?

Kan observou Suki repousar uma das mãos sobre a haste do leque de guerra; a Quarta Oficial dos Yuurei dirigia-lhe um olhar ameaçador. Kan engoliu em seco.

— Não, Suki-sama.

Suki abriu um novo sorriso.

— Muito bem — disse num tom assustadoramente amigável. — Deveria saber disso, Kan. Não há como ninguém deixar os Yuurei... nem pela morte.

Hana Sakegari ouviu aquelas palavras e suspirou bem baixinho para que Suki não percebesse. Pensando em si mesma, não existia outro lugar no mundo que fosse seguro para ela além dos Yuurei — nem outro onde Hana gostaria de estar. Ali, na organização, estava livre para ser ela mesma; e os braços fortes de Kioto Hyuuga — o seu Kioto-sama! — estariam sempre perto, prontos para protegê-la e amá-la. Também era junto dos Yuurei que Hana poderia sempre contar com o cuidado afetuoso e diligente de Mira Uzumaki — a Mira-sama, sua heroína, amiga e mentora; o maior exemplo de mulher que Hana possuía.

Mas ela não poderia pensar apenas em si mesma. Não mais.

Com ar hesitante e tímido, Hana pôs a mão sobre o ventre e virou-se de mansinho para Kioto. Este, por sua vez, assistia ao desenrolar da batalha entre o líder dos Yuurei e o ninja da Folha. Kioto Hyuuga estava tão concentrado que não se virou para olhá-la em nenhum momento sequer; porque, na prática, nem precisava fazê-lo.

Ainda assim, Hana não pôde evitar a estranha sensação de que Kioto Hyuuga parecia alguém tão distante, mesmo estando bem ao lado dela. Hana suspirou solitária e também ergueu os olhos para o céu.

Os olhos. Não o coração. Este último estava com outra pessoa, bem longe dali.

Hana Sakegari murmurou uma prece em seus pensamentos.

Mira-sama, você me disse que quando acabasse de fazer o que precisava, eu não teria mais nada com que me preocupar, rememorou o que Mira Uzumaki lhe havia dito em seu último encontro. Eu confio em você. Por favor, vença depressa.

                                                                            ***

— O que você disse, Hinata?! — Sakura Haruno virou-se abruptamente para trás. O rosto dela estava perplexo, muito mais do que os de seus companheiros de equipe, muito embora, ante àquele absurdo, as reações dos outros terem sido, em sua maioria, bem parecidas com as dela. — Tem certeza disso?

Hinata Hyuuga apertou os lábios, tensa, e confirmou com a cabeça.

— O líder dos Yuurei assimilou o Kakashi-sensei e os outros, e acabou de fazer o mesmo com o Sasuke-kun — confirmou Hinata, cujo semblante era uma mistura de surpresa, preocupação e raiva. Entre tantos rostos familiares, dois em particular produziam nela sentimentos profundos e distintos: o rosto de Shion, a amiga que havia falhado em proteger; e Taka Kazekiri, o Yuurei responsável por capturar Shion, e também por deixar a própria Hinata entre a vida e a morte. Se fechasse bem os olhos, Hinata Hyuuga ainda podia sentir a voz saliente e a língua áspera do Yuurei em seu ouvido; jamais esquecera tudo o que havia sofrido naquele dia. — Vejo outros também — disse ainda Hinata, forçando-se a se manter concentrada —, mas não sei dizer quem são aquelas pessoas.

— Iori Kuroshini está pisando na memória do Gai-sensei... — Rock Lee trincou os dentes, furioso. — Não vou perdoá-lo!

Sai olhou para Shikamaru Nara.

— Parece o Edo Tensei — comentou com o capitão.

— Concordo — respondeu Shikamaru, assentindo com a cabeça. — Ainda precisamos entender essa técnica de Iori Kuroshini; confirmar quais características, além das habilidades de cada indivíduo, essas “sombras” podem compartilhar com ele; se elas são independentes uma da outra ao ponto de poderem separar-se do corpo principal; e o mais importante, como poderemos derrotá-las — frisou Shikamaru. — Pelo que Hinata nos contou, os Yuurei que derrotamos estão de volta.

— Como fantasmas... — disse Sai.

— Como partes do próprio Iori — corrigiu Shikamaru —, o que significa que até mesmo a forma de enfrentarmos esses inimigos ficou afetada a partir de agora. Matar qualquer Yuurei só deixaria Iori Kuroshini ainda mais poderoso.

Ino soltou um suspiro.

— Estaríamos fazendo um favor a ele... droga, eu odeio esses caras.

— E para completar nossa falta de sorte — murmurou Tenten —, os Yuurei agora têm seu próprio Sasuke Uchiha, que apenas o Naruto consegue vencer sozinho.

— Mas isso com as Bijuu e o Senjutsu dos Seis Caminhos, você quis dizer — comentou Tsukishima. — Sem isso, ele seria pisoteado feito barata e...

Tsukamaki pigarreou alto de propósito; e quando Tsukishima virou-se para o lado, viu a companheira dirigir-lhe um olhar notadamente reprovador. O jovem Guardião da Lua Nova soube no mesmo instante que deveria calar a boca.

— Perdoe a inconveniência do meu parceiro — Tsukamaki falava diretamente com Shikamaru Nara em tom respeitoso —, mas receio que ele diga a verdade. Naruto Uzumaki só terá chance contra esse inimigo se recuperar os poderes.

Shikamaru assentiu em concordância.

— Tem certeza de que Tsukino-sama pode desfazer um selamento do clã Uzumaki?

— É difícil afirmar, e não saberemos até tentarmos — confessou Tsukamaki. — Em todo caso, Tsukino-sama é possivelmente a melhor chance do Naruto.

Shikamaru virou-se em direção a Hinata.

— Como vão as coisas no lado dele?

— Naruto-kun está indo muito bem — respondeu Hinata, também atenta ao que acontecia no País do Redemoinho. — No momento, ele está lutando com aqueles monstros mascarados; mas Mira Uzumaki ergueu um tipo especial de barreira e selou toda a ilha. É difícil explicar o que está realmente havendo lá... — hesitou Hinata. — O tempo... parece diferente do nosso.

— Diferente? Como? — perguntou Sakura.

— Já anoiteceu...

Enquanto outros reagiam com perplexidade, Shikamaru Nara e Sai trocavam olhares pensativos um com o outro.

— O que Mira Uzumaki está fazendo agora, Hinata-san? — perguntou Sai.

 — Está parada e... juntando uma quantidade enorme de chakra — observou Hinata. — Uma das criaturas mascaradas está com ela.

— Então a barreira ao redor da ilha é apenas uma técnica suplementar — disse Shikamaru, certeiro. — O que Mira está fazendo é acelerar o tempo de preparação para seu próximo jutsu.

Ino engoliu em seco.

— Uma técnica capaz de manipular o próprio tempo dentro de uma área selada... — balançou a cabeça. — Que poder insano!

— Já sabíamos que o líder e a vice-líder eram dois monstros bem acima dos demais — disse Chouji, dando uma olhadela para Tsukamaki. — Espero que a Tsukino-sama seja mesmo tão boa quanto pensamos... ou até melhor! Para o bem do Naruto.

Shikamaru pigarreou.

— Pensaremos no Naruto depois; nossa prioridade atual é resgatar o Sasuke — disse para todo o grupo. — Hinata, confirme quais são Yuurei presentes no País do Relâmpago.

Hinata estreitou os olhos.

— Kioto Hyuuga — respirou fundo —, Suki, a Assassina de Kages; Hana Sakegari, Kan, o jashinista; e os dois novos membros... ah!

— O que foi?

— Reconheço um deles — disse Hinata, resoluta. — É Shozu Ibuke, um ninja da Areia que dois anos atrás enfrentou o Naruto-kun no Exame Jounin.

Ino sobressaltou-se e imediatamente dirigiu um olhar urgente para Sai; e não foi surpresa nenhuma para ela ver que o namorado fizera a mesma coisa. A expressão de Sai era fria e controlada. Já a de Ino era tensa e agitada, com seus olhos azuis suprimindo um acesso súbito de raiva.

— É ele, Sai! Shozu Ibuke — disse Ino, enfática, para o namorado. — O homem que...

— Eu sei — e sabia mesmo. Além de Ino, Sai havia sido o único que estivera presente naquela luta; e após a batalha contra os Oukami, fora somente com Sai, a pedido dele próprio, que Ino havia compartilhado as memórias que vira dentro da mente de Beni Makagawa. Desde então, a história de Beni, bem como seus próprios planos em relação à garota, eram o segredo que Ino e Sai mantinham apenas para si; nem mesmo para Sakura Ino dissera alguma coisa. Em seu entendimento, Ino considerava ser aquele um laço delicado, e que graças ao encontro que tiveram com Beni, era um laço que unia apenas eles três... pelo menos por enquanto. — Eu sei, Ino — repetiu Sai, compreensivo.

— Aquele cara... — Ino cerrou os punhos.

Entrementes, Tsukamaki, percebendo a forma como Ino Yamanaka reagira ao nome de Shozu Ibuke, fez seu falcão acelerar o voo e se pôr ao lado do de Shikamaru Nara.

— Sua Hokage organizou esta equipe para uma missão de resgate, e temos ordens expressas de não entrarmos em confronto direto com o inimigo a menos que seja estritamente necessário para o sucesso da missão — a Kunoichi do País da Lua dirigiu um olhar suspeitoso para trás. — Mas se quer saber, não teremos escolha. Vamos acabar lutando independentemente do que acontecer com Sasuke Uchiha.

E virou os olhos para estudar o rosto do jovem capitão. Shikamaru, porém, olhou-a apenas de esguelha.

— Estou contando com isso — disse friamente.

Dando um meio sorriso, Tsukamaki assentiu com a cabeça e voltou ao seu lugar da formação. Shikamaru, por sua vez, ajustou a frequência de seu rádio auricular para a frequência de Hinata Hyuuga. Enquanto falaria com ela, também manteria os olhos à frente. Em poucos instantes entrariam no espaço aéreo do País da Geada, e depois do País da Geada, chegariam, enfim, ao País do Relâmpago.

— Está pronta? — perguntou Shikamaru à Hinata.

— Sim, Shikamaru-kun.

— Ele é considerado o terceiro Yuurei mais forte.

— Eu sei.

— Kioto Hyuuga... quão longe ele é capaz de enxergar?

— Meu pai uma vez me contou que o Byakugan de Kioto-san era o único que superava o dele em alcance. Kioto-san pode ver qualquer coisa em um raio de oitenta e sum quilômetros — respondeu.

 — Oitenta e um quilômetros... — Shikamaru pôs-se a calcular. — Praticamente depois que cruzarmos a fronteira do País do Relâmpago estaremos dentro do campo de visão dele — concluiu. — Precisaremos nos mover bem rápido se quisermos chegar até as montanhas.

— Sim — disse Hinata —, ou talvez só precisemos atrair o Kioto-san e mantê-lo ocupado enquanto o resto do grupo avança.

— Essa foi a primeira estratégia que descartei — enfatizou Shikamaru. — Nem pense em fazer isso.

— Não temos escolha, Shikamaru-kun — insistiu Hinata. — Nós seremos vistos de qualquer forma, mas este é o único plano que pode separá-lo dos demais Yuurei — argumentou. — Qualquer outra abordagem poderá atrair não apenas o Kioto-san, mas todos os outros Yuurei com ele.

Hinata olhou diretamente para Shikamaru, que voava nas primeiras posições na formação. Mesmo com ele não a olhando de volta, o corpo de Shikamaru dava sinais claros de sua discordância. Balançar a cabeça, por exemplo, era um desses sinais.

— Está ignorando duas coisas muito importantes, Hinata — retrucou Shikamaru via rádio. — A primeira delas é que não há qualquer garantia de que Kioto Hyuuga virá até você; isso é possível, mas ainda não passa de uma mera hipótese. E a segunda, se ele for até você, ainda existe a enorme chance de os outros Yuurei o seguirem — apontou Shikamaru, seguindo com um suspiro nervoso. — Detesto a ideia de deixá-la lutando sozinha contra alguém tão problemático; e detesto ainda mais a ideia de deixá-la sozinha contra mais de um Yuurei.

— Eu sei. Mas como capitão, você precisa tomar as decisões mais difíceis e não pode dividir o grupo tanto como gostaria, sob pena de falharmos — disse Hinata num tom doce e compreensivo. — Shikamaru-kun... essa é a nossa melhor chance. Sabe disso.

Mas não houve resposta. Shikamaru estava de olhos fechados e mãos coladas, pensando. De novo. Shikamaru já gastara tempo avaliando mais de trezentas formas possíveis de abordarem os Yuurei — incluindo aquela que seria sugerida mais tarde por Hinata Hyuuga —, e calculando todos os possíveis desdobramentos de cada uma dessas formas, totalizando mais de doze mil cenários possíveis; e tinha feito tudo isso enquanto viajavam naquela missão, com Hinata usando o alcance superaguçado de seu Byakugan para atualizá-lo em tempo real sobre as lutas de Sasuke e de Naruto.

Era tão problemático, mas Hinata Hyuuga tinha sim sua dose de razão. Considerando que seriam apenas eles contra os Yuurei, usarem Hinata como isca para atrair Kioto Hyuuga — que sabia-se ser um homem que detestava o próprio clã — seria a maneira ideal de conseguirem isolar o terceiro Yuurei mais poderoso, e o único inimigo capaz de antecipar a chegava do time enviado por Tsunade.

Mas para o bem ou para o mal, ainda restava outra variável a ser considerada naquela equação. O grande problema é que ele era um homem bastante temperamental, e sua impaciência prejudicava e muito o trabalho de equipe. De qualquer forma, precisamos arriscar, concluiu Shikamaru, abrindo os olhos e separando as mãos. Ele descobriria que a Nuvem está a ponto de sofrer um ataque de qualquer jeito, se é que já não descobriu.

— Hinata — chamou Shikamaru, resoluto —, pode me dizer onde exatamente está o grupo do Raikage?

Através do rádio, Shikamaru escutou a reação de Hinata Hyuuga — um som curto e abafado, aparentemente de surpresa — e soube na mesma hora que Hinata havia ignorado o trio da Nuvem que ainda retornava do Encontro das Nações Ninja. O motivo, entretanto, não era claro. Shikamaru sabia muito bem que, ao contrário de Naruto, Hinata possuía uma ótima memória e jamais deixaria passar um detalhe tão importante quanto aquele. Além disso, os olhos da Princesa do Byakugan haviam alcançado Sasuke Uchiha dentro do País do Relâmpago, logo não seria problema nenhum para Hinata localizar o Raikage no meio do caminho — se é que ela já não o havia feito e escondido a informação. Se for este o caso, então Hinata está tentando dar um jeito de enfrentar Kioto Hyuuga sozinha, Shikamaru encolheu os ombros. Que saco.

A voz de Hinata, entretanto, falou baixinho através do rádio.

— Eles estão a sessenta e oito quilômetros à nossa frente, viajando por terra — informou. — O Raikage-sama lidera o grupo correndo bem à frente do Darui-san e, principalmente, da Karui-san.

Como esperado que o Raikage fizesse, pensou Shikamaru enquanto ajustava novamente a frequência do rádio auricular de modo que todos pudessem ouvir as instruções.

— Ino, use seu Shindenshin no Jutsu (Técnica da Transmissão Mental) e entre em contato com o Raikage — disse Shikamaru objetivamente. — No momento, ele está atravessando o País da Geada, a sessenta e oito quilômetros da nossa posição atual.

Ino pensou não ter ouvido direito.

— Disse sessenta e oito quilômetros?

— Eu disse — Shikamaru assentiu com a cabeça antes de virar-se para olhar a companheira de time nos olhos. — Consegue fazer isso?

Ino Yamanaka respirou fundo.

— Consigo.

Rapidamente, ela buscou dentro da bolsa de ferramentas o frasco com as Pílulas de Soldado. Após ingerir um comprimido, Ino fez o sinal de mãos ao mesmo tempo em que fechava os olhos para se concentrar.

Enquanto Ino procurava pelo Quarto Raikage Kira Ay, Shikamaru desviou os olhos para o céu cinzento. O ar está ficando mais frio, reparou. Estamos entrando no País da Geada.

— Tsukamaki.

— Entendido.

A Guardiã da Lua Crescente puxou a catana para fora de seu guarda-chuva vermelho, pondo-se de pé sobre as costas do falcão-peregrino gigante. A mão direita, firme sobre a empunhadura da espada; a mão esquerda, com apenas os dedos indicador e médio erguidos para o Selo do Confronto.

Tsukamaki respirou devagar, concentrando-se.

— Shakuton: Kaenkiri (Estilo Calor: Corte Flamejante).

Em um movimento ligeiro, quase imperceptível, Tsukamaki brandira a espada ao mesmo tempo em que aplicara sua Kekkei Genkai à lâmina. Depois disso, parte do céu gelado acima deles foi cortado ao meio. As nuvens cinzentas vistas anteriormente por Shikamaru, evaporando-se instantaneamente, deram lugar a uma trilha que seguia em linha reta por aproximadamente trezentos metros, sendo toda ela com a temperatura regulada pela liberação do Estilo Calor.

Tsukishima assobiou orgulhoso.

— Não perde o jeito da coisa, hein? Está sempre em forma — disse o rapaz, sorrindo. — Como esperado de você, Tsukamaki-senpai.

Nada mau, pensou Shikamaru. Nada mau mesmo.

E enquanto os dois ninjas do País da Lua conversavam entre si, Shikamaru dirigia a eles olhos intrigados e pensativos, em especial para Tsukamaki. Ambos haviam se apresentado como Jounin — e talvez o fossem realmente. Não obstante, aquele golpe feito com o Estilo Calor, além de possuir um alcance considerado amplo, abrira-lhes um caminho com temperatura ambiente no meio de um céu gélido. Tal feito certamente teria exigido de Tsukamaki um controle de chakra milimetricamente preciso, o que, naquelas proporções, era algo difícil de executar, considerando que o Shakuton era uma Kekkei Genkai perigosa demais para ser utilizada em grupo; bastaria apenas uma imprecisão de Tsukamaki e todos ali teriam os líquidos em seus corpos evaporados.

Mas para Shikamaru o ponto principal era que Tsukamaki era uma notável espadachim. E pelo que já sabiam, os Yuurei também haviam recrutado um no País do Ferro.