O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 119
O Encontro das Nações Ninja


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, meus caros! Como vão? Eu espero que todos estejam muito bem!

Chegamos ao mês de julho! E o que isso significa? Simples! É o mês em que este homem aqui fica mais velho (lá pro final do mês, é verdade, mas em julho de qualquer forma).

Mas vamos ao que interessa, que é o capítulo.

Como puderam ver, são 14k de palavras e, acreditem, eu NÃO esgotei todos os assuntos do Encontro. Ainda assim, eu disse lá atrás que, quando necessário, eu dividiria capítulos enormes em partes menores a fim de não tornar a leitura cansativa. Mas quando isso não fosse possível, teríamos esses colossos quinzenais. Pois bem. Este é um deles.


Eu peço que tenham MUITA atenção (muita mesmo!) com este capítulo. Embora ele não mude tanto de cenário, considero ele um dos mais importantes da história -- e foi um dos mais trabalhosos que já escrevi. Sério, não me lembro de ter tido tanto trabalho com um único capítulo.

Se preciso for, peço que vocês o leiam em partes (o próximo só virá daqui a duas semanas), mas se atenham aos detalhes, absorvam o máximo que puderem dele.

"Ah, mas o que 14 mil palavras de prosa têm de tão importante, afinal?". Simples, esse capítulo tem o... [SPOILER CENSURADO].


Enfim, boa leitura a todos! Aproveitem o capítulo! Nos vemos nas notas finais o/



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Como Naruto bem avisara, o Raikage adiantou-se à todas as equipes de escolta e foi o primeiro a atacar. Hadame e Momo, mesmo cientes do que os esperaria tão logo Konan se revelasse, não puderam reagir a tempo. Tudo o que viram foi um flash de luz e, em um piscar de olhos, o corpo da líder da Chuva se espatifando em milhares de folhas de papel.

Entretanto, conforme Konan havia respondido a Naruto, ela estava preparada para o pior.

— Raikage-sama, por favor — a voz calma, porém firme, de Konan ecoou pelo Salão Nobre. Ay olhou para trás e viu a mulher de manto negro com nuvens vermelhas reestruturar o próprio corpo como se nada tivesse acontecido. — Eu não vim aqui para isso.

— Da próxima vez, não terá tempo para se transmutar — Ay fixou os olhos no alvo. Raios lampejavam furiosos sobre o corpo do Raikage, e o barulho da eletricidade reverberava faiscante pelo ar. — Um golpe e você estará morta.

Konan sabia que aquilo não era nenhum exagero. “Não adianta”, pensou, “ele não vai me escutar.” Por sorte, o Raikage era seu único atacante naquele momento. Não sabia exatamente como reagiria caso todos ali decidissem atacá-la de uma vez, e Konan não queria envolver Hadame e Momo numa luta contra os Cinco Kages, todos os seus respectivos subordinados e — ela desviou o olhar por um instante — contra Sasuke Uchiha também.

— Olhe para mim, mulher! — gritou o Raikage.

Aconteceu em uma fração de segundo: o golpe do Raikage a atingiu em cheio e, desta vez, o corpo de Konan não se dispersou em uma miríade de folhas de papel. O punho eletrificado de Ay penetrou-lhe o estômago, e Konan balançou para frente com uma careta de dor.

— Konan-sama! — Hadame gritou. Momo, ao lado do irmão mais velho, levou as mãos à boca e arregalou os olhos horrorizada.

Assistindo de longe, Karui esboçou um sorriso satisfeito.

— Parece que acabou — disse Karui. — O Raikage-sama deu um jeito na invasora.

Tsunade, em silêncio, estreitou os olhos para observar com mais atenção. Ao mesmo tempo, Ay resmungou um elogio contrariado ao ouvido de Konan:

— Impressionante, mulher! Eu esperava te partir ao meio com esse golpe, mas você conseguiu até mesmo evitar que o meu soco saísse pelas suas costas — admitiu o Raikage. — Mas agora não importa. Você já era, Akatsuki.

Foi quando tentou puxar o braço de volta que Ay percebeu que havia algo errado. “Mas o quê...?”, balbuciou o Raikage, incrédulo, “meu ataque a acertou; não dei a ela tempo de evitá-lo!” Outra vez, Ay tentou arrancar o próprio braço da barriga de Konan; e, por mais força que empregasse, sequer conseguia mover o punho lá dentro, ou mesmo sentir os próprios dedos da mão.

— Confuso? Eu imagino que sim — Ay escutava a voz calma da mulher falando-lhe ao seu lado e estremeceu. — Não seja tão displicente, Raikage-sama. Só lhe resta um braço agora, e não vai querer perder o outro aqui.

— Cretina... — puxou o ar com força — o que você fez?

Konan olhou para o próprio estômago perfurado.

— Tarjas adesivas — explicou. — A propriedade superaderente fez delas isolantes térmicos perfeitos, ao passo que elas absorviam o impacto ao mesmo tempo. Além disso, papel não conduz eletricidade; e com meu chakra acumulado no ponto de contato, consegui reduzir significativamente o risco de um golpe fatal.

Konan ergueu os olhos para o rosto embasbacado de Kira Ay.

— Mesmo assim, foi um ataque direto de um Raikage — prosseguiu ela. — Apesar da transmutação, doeu bastante.

— Impossível! Você não teria tempo para se...

—... não precisei ver seu ataque uma segunda vez para saber onde ele me acertaria — adiantou-se Konan. — Além disso, seria uma vergonha se algo assim funcionasse comigo novamente. Já fui empalada antes e não quero dar trabalho para a minha médica de novo.

Por cima do ombro de Ay, Konan olhou diretamente para Momo Tsukiaru e lhe deu um olhar tranquilizador. Entrementes, o rosto do Raikage queimava de raiva e vergonha. “Essa Akatsuki... não só parou o meu ataque, mas também imobilizou o meu braço como se não fosse nada!”, Ay engoliu em seco, se lembrando imediatamente do encontro que tivera com Juha Terumi. “Como fez aquele maldito Yuurei!”

Percebendo que o Raikage estava à mercê da invasora, Darui e Karui já estavam prontos para intervir em favor de Ay quando a voz advertida de Gaara os impediu de avançar. Sem entender o que estava acontecendo, os Jounin da Nuvem dirigiram olhares questionadores para o Kazekage, que, por sua vez, tinha os olhos fixos no Anjo.

— Konan, da Akatsuki — diferente de seus dois irmãos, Gaara parecia encarar aquele espetáculo com impassividade; mas apesar dos braços cruzados e de não possuir qualquer traço de tensão no rosto, a rolha da cabaça já havia sido removida e a areia de Gaara, bem mais rápida que os ninjas da Nuvem, estava pronta para agir se necessário —, conte-nos o que veio fazer aqui.

Konan assentiu e, desfazendo-se em uma explosão de folhas de papel, afastou-se do Raikage para reconstituir o corpo entre os dois companheiros de viagem: Hadame e Momo.

— Eu já disse, Kazekage-sama. Sou a líder do País da Chuva. Não sou sua inimiga — virou-se propositalmente para Ay —, ou de qualquer um de vocês.

Kurotsuchi deu-lhe um olhar desconfiado.

— Kira Toraiyama — perguntou a Tsuchikage —, o que houve com ele?

— Está morto.

Como ele morreu? — Mei exigiu saber.

— Eu o matei.

Tsunade, que se mantinha em silêncio até então, estreitou os olhos contra a atual líder da Chuva.

— Kira Toraiyama era um cidadão do País do Fogo — disse a Hokage com dureza — e um homem bem próximo de nosso Senhor Feudal.

— Ele era um assassino — corrigiu Konan, mantendo o tom firme —, um homem cruel que feriu pessoas como Momo apenas para se consolidar no poder. Toraiyama sustentava uma vida de luxo enquanto meu povo era deixado na miséria. Por isso, eu o matei; e não sinto nenhum remorso. Como ficamos agora, Hokage-sama?

Aquelas palavras eram, claramente, um desafio. Mas não estava restrito à Quinta Hokage. De forma simples e prática, Konan havia se proclamado a nova líder do País da Chuva e desejava obter o reconhecimento de seu governo por outros Estados Soberanos. Não havia maneira melhor de fazer isso do que se apresentar no primeiro Encontro das Nações Ninja, perante todos os Cinco Kages e os demais Chefes de Estado — incluindo dois Senhores Feudais — ali reunidos.

“Ora, sua maldita!”, Tsunade premiu os lábios, impaciente. A despeito de tudo aquilo, ela teria que explicar para o Senhor Feudal do País do Fogo que Kira Toraiyama havia sido assassinado por uma criminosa da Akatsuki que reclamara o direito de governar o País da Chuva. Já prevendo a dor de cabeça que aquilo lhe causaria, Tsunade praguejou em silêncio. Já tinha problemas demais para lidar e tudo o que não precisava era de mais um.

Por outro lado, se aquela mulher era mesmo quem dizia ser, então estavam diante da Kunoichi que, no passado, havia sido aluna de Jiraiya, a parceira de Nagato Uzumaki nos tempos de Akatsuki e, portanto, a sucessora de Pain na liderança da Vila Oculta da Chuva. E se já não bastasse, Konan também havia sido a professora de ninguém menos que Mira Uzumaki, a vice-líder dos Yuurei. Mas pelo que Tsunade soubera, Konan teria morrido há mais de dois anos.

— Algum problema, Hokage-sama? — perguntou Sai, percebendo a hesitação de Tsunade. Mas não obteve resposta. A mente de Tsunade estava distraída, recuperando uma lembrança remota de seus tempos como Jounin da Folha.

Foi no País da Chuva, durante o auge da Segunda Grande Guerra Ninja: Tsunade, Jiraiya e Orochimaru por pouco haviam sobrevivido à batalha contra Hanzou da Salamandra e, como recompensa, recebido a alcunha de os Três Sannins Lendários. Dias depois, descobriam estarem sendo seguidos por um trio de crianças órfãs nativas da Chuva. Tsunade se lembrou de Jiraiya ter-se voluntariado para ficar cuidando delas: um garoto de cabelo laranja espetado cujas feições lembravam as de Naruto, um outro menino magricela de cabelo ruivo e franja, e uma garotinha de cabelos azuis e olhar doce, que havia presentado Tsunade com uma flor de origami.

— Hokage, quais são as ordens? — perguntou Sasuke sem tirar os olhos de Konan nem a mão do cabo da espada.

“Como pode?”, Tsunade se perguntou estarrecida, “ela esteve viva durante todo esse tempo?” Virou-se para Shikamaru Nara, a fim de verificar uma hipótese. O conselheiro assentiu com firmeza e Tsunade não teve qualquer dúvida. Além da aparência e da técnica especial de papel, havia algo que também corroborava para que Tsunade confirmasse a identidade da invasora: Naruto, na mesma noite em que havia chegado à Vila da Chuva, compartilhara com Shikamaru informações que descobrira acerca de Mira Uzumaki e seu passado. Informações essas que tinham sido específicas demais para terem sido descobertas por Naruto Uzumaki sozinho — e logo no primeiro dia na Vila Oculta da Chuva. Para Shikamaru, ficou claro que Naruto havia recebido alguma ajuda de alguém de dentro da vila que conhecera de perto a vice-líder dos Yuurei. Mas quando questionado a respeito de sua fonte misteriosa, Naruto omitiu-se e não revelou maiores detalhes.

Agora tanto Shikamaru quanto Tsunade sabiam quem era a fonte e o porquê de Naruto tê-la mantido em segredo.

— Sasuke, Sai, Yuugao, recuem — ordenou Tsunade. — Está tudo bem.

Aquela ordem soou tão estranha quanto possível. Shibuki, da Cachoeira, e a rainha Koyuki, do País da Primavera, lançaram olhares receosos para Tsunade; e até mesmo Gaara não entendeu a atitude repentina da Quinta Hokage.

— Hokage-sama, a senhora tem certeza? — Yuugao desviou o rosto mascarado de Konan para Tsunade. — Sabe muito bem quem é essa mulher.

— Sim, eu sei. Não se preocupem — Tsunade respondeu. — Agora vão.

Dos três ninjas que compunham o time de guarda da Hokage, Sasuke foi o último a recuar para as galerias. Ainda se deteve por mais alguns instantes no primeiro piso, examinando Konan de cima a baixo com seus olhos e, só então, acatou à ordem.

— Bom — Tsunade disse à Konan —, parece que nós duas somos aliadas. Por mais estranho que isso me possa parecer — e erguendo a voz, falou a todos os presentes: — antes de iniciarmos o Encontro por definitivo, gostaria de propor uma votação: se aceitamos ou não a presença da líder do País da Chuva conosco.

Shimo Kunizaro levantou-se da cadeira estarrecido.

— Não pode estar falando sério!

Além disso — complementou Tsunade, dando um tom mais firme à própria voz —, caso esta assembleia entenda pela admissão de Konan à mesa, ficará reconhecida, perante todos os presentes e para todos os fins, a legitimidade do novo governo do País da Chuva. Agora, vamos começar.

Pouco a pouco, as equipes de escolta dispersavam-se de volta às galerias do segundo andar. Hadame e Momo também tiveram que deixar o primeiro piso e, seguindo a orientação de Tsunade, tomaram lugar nas galerias, embora se mantivessem afastados dos demais times.

Instintivamente, Momo Tsukiaru olhou para Konan. A líder da Chuva estava parada, em pé, e lhe fora dito que se posicionasse dentro do círculo central da mesa preparada para o Encontro das Nações Ninja — agora, uma tribuna na qual seus integrantes funcionariam como julgadores, e cercavam Konan por todas as direções.

“Ela vai ficar bem?”, Momo perguntou ao irmão.

“Não se preocupe”, Hadame gesticulou em resposta, “Konan-sama sabe o que está fazendo.”

Era verdade. Desde que se propôs a sair do anonimato e viajar até a Vila Oculta da Folha, Konan nunca demonstrou qualquer hesitação. Mesmo ciente de todos os riscos envolvidos naquela empreitada, a líder da Chuva permaneceu tão impávida e tranquila quanto Momo costumava se lembrar. Ainda assim, a jovem Chuunin e amiga de Konan não podia deixar de perguntar:

“Onii-san, o que nós vamos fazer caso eles não entendam que o governo da Konan-sama é legítimo?”, Momo Tsukiaru sinalizou para o irmão mais velho, enquanto mantinha os olhos atentos para tudo que ocorria no andar inferior.

Hadame suspirou tenso e, discretamente, desviou os olhos para as demais equipes de guarda-costas. Principalmente, o time da Folha. Hadame Tsukiaru até poderia oferecer resistência a alguns nomes ali presentes naquelas galerias, mas não havia qualquer esperança de derrotar Sasuke Uchiha, o Assassino de Yuurei.

Gentilmente, Hadame pôs a mão sobre a cabeça da irmã caçula.

— Se esse for o caso, cumprirei meu dever como guardião da Konan-sama, e como seu irmão mais velho também — disse Hadame. — Afinal, eu prometi ao Naruto que cuidaria de vocês duas.

 

 

 

 

— Senhores — Tsunade bebeu um pouco de água —, ainda que seja esta uma votação extraordinária e pretendamos torná-la o mais célere possível, é um procedimento oficial. Portanto, quero relembrá-los que seus votos feitos aqui representarão, inequivocamente, seus respectivos posicionamentos, enquanto Chefes de Governo, em relação ao País da Chuva.

A Hokage, imediatamente, se pôs a encarar Konan.

— Como autoproclamada líder sobre o País da Chuva, terá direito a alegar a favor da legitimidade de seu governo; e cada membro desta mesa, o direito de formular quaisquer perguntas que considerarem pertinentes. Ao final, serão apresentados as razões e os votos de cada integrante — esclareceu Tsunade —, entendendo pelo reconhecimento ou não do novo regime instalado na Chuva.

— Eu entendo — Konan assentiu.

— Como proponente desta votação, o primeiro voto será meu — prosseguiu Tsunade nas instruções —, e deverá ser seguido da minha direita à esquerda, em sentido anti-horário...

O Raikage estreitou os olhos na hora.

“Já entendi! Você, deliberadamente, escolheu o sentido anti-horário na tentativa de obter mais votos favoráveis a essa mulher logo no começo”, refletiu Kira Ay em silêncio. “Se tivesse optado pelo sentido horário, as chances de ela receber votos contrários já no início seriam maiores, e isso poderia influenciar os demais que ainda apresentariam suas razões e votos. Tsunade, sua jogadora miserável!”

— O quórum mínimo para o reconhecimento de uma liderança em assembleia é de dois terços — Tsunade continuou. — Já que esta mesa possui doze integrantes, e a Chuva está inapta a pronunciar voto por motivos óbvios, precisará de, pelo menos, oito votos favoráveis dentre os onze membros votantes para que seu governo seja declarado internacionalmente legítimo, Konan. Entendeu?

Konan fez que sim.

— Ótimo — a Hokage se recostou sobre a mesa, apoiando o queixo sobre as mãos. — Quando quiser, pode começar.

Antes de dar início às suas alegações, Konan passou os olhos atentamente pelos rostos de cada integrante daquela assembleia mais uma vez para se certificar de que suas primeiras impressões estavam mesmo corretas. E logo entendeu que sim.

Dúvida, desconfiança, raiva. Konan pôde observar tudo isso em uma simples troca de olhares com aqueles que, na teoria, deveriam julgar apenas a legitimidade de seu governo à frente do País da Chuva e, na prática, seriam os juízes da pessoa dela também. Era quase impossível separar as duas matérias e Konan não poderia esperar por menos. Afinal, tinha sido a cofundadora e vice-líder da maior organização criminosa já conhecida. E conquanto Konan estivesse vestida como os símbolos da Akatsuki na esperança de redimi-los junto ao mundo ninja, sabia muito bem que aquelas nuvens vermelhas já haviam trazido muita dor.

Tinha quase certeza de que os Cinco Kages, junto com os demais Chefes de Estado, não tratariam outra liderança autoproclamada com a mesma rigidez. Apesar de tudo, porém, Konan também soube diferenciar os demais olhares da frieza distante de Tsunade, da feição analítica de Gaara, e do olhar curioso de Tsukino — e foi o mais próximo que Konan pôde chamar de rostos amigáveis. “Acho que três votos já estão certos”, pensou, “nesse caso, ainda preciso de mais cinco.”

— Não há muito mais que eu precise falar que vocês já não saibam — disse Konan, olhando indistintamente para os componentes da mesa. — Então direi apenas minhas razões para estar aqui.

Como que por acaso ou por instinto, Konan ergueu o rosto na direção das galerias, procurando Momo até, finalmente, encontrá-la ao lado do irmão. A garota tinha o olhar apreensivo, mas tratou de sorrir ao perceber que a amiga a observava lá de baixo. Entrementes, a líder da Chuva esboçou um sorriso ligeiro e agradecido. Era tão somente graças à percepção e aos cuidados da jovem Kunoichi que Konan havia sobrevivido a seus ferimentos e estava de volta, após mais de dois anos em coma. Tudo por causa da fé inabalável de Momo Tsukiaru, que nunca duvidara do Anjo.

— Eu me submeto a este julgamento pelo meu povo — Konan prosseguiu —, por cada cidadão da Vila Oculta da Chuva e de todos os vilarejos ao redor que também compõem o meu amado país. Ao contrário do que pensam, não vim aqui requerer seu reconhecimento. Mas entendo que isto é necessário para que não estejamos mais isolados das outras nações. Ainda que tal política tenha garantido a subsistência de nossa vila ninja ao longo dos anos, o mesmo não pode ser dito do resto do País da Chuva — explicou.

O Senhor Feudal do País dos Vales, Hiroshi Shirokuzo, alisava os pelos da barba castanha cuidadosamente. Postos sobre Konan, os olhos pequenos e desconfiados pouco piscavam.

— Sua motivação é nobre, senhorita Konan — disse Hiroshi —, mas isso não anula o fato de que você aplicou um golpe de Estado, assassinou o governante legítimo do País da Chuva e se apropriou de seus bens. A meu ver, você não passa de uma criminosa que quer respaldar seu movimento revolucionário.

Koyuki Kazahana, a rainha do País da Primavera, encolheu os ombros.

— Golpes de Estado não são tão incomuns assim entre os Países Menores, Hiroshi-sama. Principalmente naqueles que não integram o Sistema Feudal — disse Koyuki. — Eu falo porque fui vítima de um. Meu próprio tio matou meu pai e assumiu o trono enquanto eu, apenas uma criança, tive que fugir e viver uma identidade falsa.

— Então sabe, melhor do que ninguém, que não existe nada de bom nisso, senhorita Koyuki — reiterou Hiroshi.

Koyuki avaliou a expressão de Konan meticulosamente.

— Não é algo que eu aprove — disse a jovem rainha. — Por outro lado, ela é muito diferente do meu tio Dotou. Por isso, não posso generalizar.

— Ora, mas isso é ridículo! — vociferou Shimo Kunizaro, o Senhor Feudal do País da Geada. — Você, por um acaso, é perita em expressões faciais, Koyuki-chan?

— Não, Shimo-sama — respondeu Koyuki. — Mas sou atriz. E, talvez, eu saiba analisar, melhor que todos aqui, se esta mulher está sendo sincera ou se está apenas interpretando uma personagem para nos enganar.

Kurotsuchi deu um sorriso irônico.

— Pelo visto, dar vida à Princesa Ventania no cinema te tornou mais hábil que alguns de nós, Koyuki-sama — disse a Tsuchikage, que logo se virou para Konan. — Você ainda tem mais a nos dizer?

— Apenas o meu segundo motivo para estar aqui — respondeu Konan, fitando os olhos castanhos de Tsunade. — Eu vim aqui porque sou uma aliada da Vila da Folha. Portanto, eu me coloco contra os Yuurei.

Tsunade arqueou a sobrancelha.

— Mira Uzumaki — a Hokage assumiu um tom cauteloso — foi sua aluna, tal como você foi do Jiraiya. Ela é nossa inimiga e, declarando-se nossa aliada, é sua inimiga também. O que pensa a respeito dela, Konan?

— Eu penso no que Mira se tornou e só vejo a mim mesma, a pessoa que eu fui um dia — respondeu a antiga vice-líder da Akatsuki. — Eu não pude salvá-la de Iori Kuroshini, e é por isso que confiei Mira a mãos mais competentes do que as minhas.

— Mãos mais competentes que as suas? De quem está falando? — perguntou Hiroshi.

Tsunade já sabia aquela resposta.

— De Naruto Uzumaki, Senhor Feudal — respondeu Konan. — Meu discípulo-irmão e o homem que herdou a vontade de Jiraiya-sensei, e aquele que trará paz a este mundo ninja.

Tsukino se inclinou para frente.

— Então, também está aqui pelo Naruto — e Konan percebeu que a moça não estava apenas deduzindo.

— Estou — Konan assentiu com a cabeça. — Eu confio que Naruto é a ponte para a paz. A ponte da qual eu quero ser um pilar.

A líder do País da Lua sorriu amigável.

— Uma ponte, é? Isso é bom.

— Não, isso é patético! — Shimo ralhou do outro lado. — Esta mulher é uma assassina — apontou o dedo acusadoramente contra Konan —, e uma das cabeças da Akatsuki! Foram esses canalhas que deflagaram a Quarta Grande Guerra Ninja!

— Eu já havia deixado a organização quando Obito...

—... e se não bastasse — Shimo levantou a voz com veemência —, esta mulher também se insurgiu contra o legítimo governante do País da Chuva, um homem honesto e possuidor de inúmeros negócios!

O Senhor Feudal do País da Geada dirigiu à Konan um olhar abarrotado do mais puro desprezo.

— Seria ultrajante me sentar com essa escória como se fôssemos iguais — completou Shimo. — Não concordam, senhores?

Tsunade olhou ao redor. A voz de Shimo Kunizaro pareceu ter angariado as opiniões concordantes do Raikage, do Senhor Feudal do País dos Vales e do líder do País da Cachoeira. “Isso não é bom”, concluiu a Hokage.

Entrementes, Konan olhou no fundo dos olhos de Shimo.

— Acha que eu destronei Kira Toraiyama por ganância, Senhor Feudal? Não — balançou a cabeça. — O que fiz foi aplicar o meu juízo contra ele. Matei Kira Toraiyama não para obter suas posses ou para retornar ao poder, mas por retribuição pelos crimes que aquele homem cometeu — disse Konan.

Shimo fez como quem fosse dizer algo, porém Konan o interrompeu.

— Kira Toraiyama foi morto porque entregou o País da Chuva à desgraça — disse Konan. — Como um parasita, ele sugou os recursos do meu país, deixando meu povo na miséria e humilhação. Toraiyama se aproveitou da instabilidade política ocasionada por minha suposta morte e, vendendo-se como uma solução, enganou os cidadãos da Chuva e os submeteu ao pior governo de nossa história — acrescentou ela.

Konan se virou para o Raikage.

— Quem tentou resistir, viu o castigo ser imposto sobre suas pessoas mais próximas. Foi o que aconteceu com minha amiga — explicou Konan, encarando Ay com severidade. — Momo não é uma palhaça, Raikage-sama. Ela é vítima do sadismo de Kira Toraiyama.

Constrangido, Ay desviou o rosto; e Konan aproveitou a deixa para pressionar os outros integrantes da mesa, encarando-os um de cada vez até parar, novamente, diante de Shimo Kunizaro.

— Aquele tirano estrangeiro nunca teve legitimidade sobre o País da Chuva; e se ainda o defendem, então não são melhores do que ele — pontuou Konan, fixando o olhar no Senhor Feudal do País da Geada —, ou melhores do que uma escória como eu. E isso é tudo que tenho a dizer.

A Hokage escondeu um sorriso nostálgico.

“Ela fala com convicção, exatamente como o Naruto...”, o rosto de Tsunade enrubesceu. “Você também está vendo isso, Jiraiya?”

Em seguida, falou em voz alta:

— Se não há mais nada...

—... pelo menos você se lembra dela? — interrompendo Tsunade, a voz fria de Shibuki atraiu todos os olhares para o jovem líder da Cachoeira. O rapaz de cabelo longo e castanho cruzou os braços e inspirou pesadamente, enquanto mantinha os olhos voltados contra Konan. — Você é da Akatsuki, não é? Então deve se lembrar. Afinal, vocês a mataram.

O silêncio de Konan era constrangedor, mas não havia muito que ela poderia fazer naquele instante além de esperar.

— Eu imaginei que reagiria assim — criticou Shibuki. — Pelo visto, a morte da Fuu não teve qualquer importância além de a Akatsuki pôr as mãos no Sete Caudas. No fim, ela só foi mais um número para vocês!

“Entendo. Aquela garota que Kakuzu e Hidan nos trouxeram”, lembrou-se Konan com pesar, “pertencia à Vila Oculta da Cachoeira, assim como este rapaz.”

A percepção que Konan estava tendo do líder da Vila da Cachoeira era de que Shibuki via o assassinato de Fuu como um assunto pessoal. Havia rancor por trás daqueles olhos negros, e o fato de Konan estar trajando as nuvens vermelhas apenas acentuava tal sentimento. Longe de ser uma mulher tola, Konan sabia que, a despeito de todos os seus esforços para devolver ao nome Akatsuki o propósito original pelo qual a organização fora criada, o caminho a ser trilhado era longo e tortuoso. E até lá, ela, a última dos membros fundadores, deveria estar pronta para lidar com as cicatrizes que sua desvirtuada Akatsuki havia deixado no mundo.

— Eu sinto muito pelo que nós fizemos... — interrompeu-se Konan — não, pelo que eu fiz à sua amiga — corrigiu-se. — Por favor, peço que me perdoe.

E com os olhos fechados, Konan se inclinou perante o jovem governante da Cachoeira. Não conseguiu encontrar palavras melhores do que aquelas. Ainda assim, era melhor do que permanecer em silêncio.

— Fuu era muito mais do que uma amiga para mim — Shibuki trincou os dentes, pesaroso. — Mas isso já não importa; suas palavras não vão trazê-la de volta.

Konan assentiu.

— Tem razão. Nada do que eu disser ou o que eu faça mudará os crimes que eu cometi no passado — a líder da Chuva confessou. — O que me resta é trabalhar no presente a fim de construir um futuro digno. Um que compense todos os meus erros.

Embora estivesse falando para todos os países e vilas ali representados, ao erguer o rosto novamente, Konan dedicou um olhar gentil para Shibuki.

— O nome Akatsuki significa “Amanhecer” — explicou ela — e quero que seja assim de agora de em diante, como sempre deveria ter sido. Estas nuvens vermelhas — indicou as estampas no manto — não serão mais um símbolo de terror para o mundo, mas servirão como um memorial por todo o sangue já derramado nas guerras, e em cada momento que fomos às armas uns contra os outros.

Konan fez uma breve pausa, pensativa.

— Que as chuvas de sangue sempre nos venham à memória — continuou — e nos constranjam a trilhar um caminho diferente, para que sejamos governantes melhores; pois este ofício não é sobre nós mesmos, mas sim sobre todos aqueles que estão debaixo dos nossos cuidados.

Todos perceberam que Konan havia terminado quando ela, com um tímido aceno de cabeça, agradeceu à Hokage pela oportunidade de se manifestar; e após a líder do País da Chuva dizer suas palavras, o Salão Nobre da Folha foi tomado pelo mais constrangedor dos silêncios. Tanto entre os membros da assembleia quanto nas galerias, nenhum som se fazia ouvir. Nem mesmo os mais aversos à admissão de Konan ousavam sussurrar alguma coisa.

Foi Mei Terumi quem quebrou o silêncio.

— Tsunade-sama — a Mizukage ainda tinha os olhos postos em Konan, e a observava com uma expressão de curiosidade e interesse no rosto —, por favor, prossiga. Creio que mais nada precisa ser dito.

Até mesmo para Tsunade foi difícil retomar a reunião.

— Bom — pigarreou —, passemos para as razões e os votos — anunciou Tsunade. — O primeiro voto será meu; e continuará com o do Kazekage, à minha direita, seguindo a ordem pré-estabelecida, até finalizarmos com o voto de Mujou-sama.

Ao lado esquerdo da Hokage, o líder do País da Grama se limitou a assentir com a cabeça em absoluto silêncio. Tsunade já sabia que Mujou do clã da Prisão Celestial era um homem pacato. Porém, da inesperada aparição de Konan no salão até agora, ele fora o único ali a não dizer nada nem esboçar qualquer reação. Tsunade suspeitava que, apesar de seu posicionamento favorável à reabilitação de criminosos, Mujou não visse o movimento de Konan em face de Kira Toraiyama como algo justificável.

Porém era difícil ter certeza, o que fazia daquele voto um verdadeiro mistério. Se a decisão fosse parar nas mãos do País da Grama, qualquer coisa poderia acontecer. Naquele instante, pouco importava que a Folha e a Grama fossem aliadas; o que valia era a convicção individual de cada integrante daquela mesa.

“Não tenho escolha”, preparando-se para pronunciar seu voto, Tsunade se recostou contra o acolchoado da cadeira. “Chegou a hora de apostar.”

 

 

                                                                            ***

 

 

— Nenhuma surpresa — Kankuro resmungou enquanto, com um pé posto sobre a mureta da balaustrada, observava e escutava atentamente à votação que se seguia no primeiro andar. — A Hokage já dava indícios de que votaria a favor daquela mulher Akatsuki.

Karui meneou a cabeça em um gesto de reprovação.

— A Hokage está, claramente, jogando com as probabilidades — disse a Kunoichi da Nuvem aos demais guarda-costas dos Cinco Kages que, pela afinidade e por já se conhecerem, decidiram sentar todos próximos uns dos outros. — Eu nunca imaginei que alguém como ela poderia ser tão imprudente.

— Imprudência ou não, a Hokage-sama deve ter seus motivos — comentou Choujurou, que logo sorriu amigável —, e saber que uma Akatsuki vai lutar do nosso lado me deixa mais tranquilo.

— Isso se ela realmente estiver do nosso lado — replicou Karui.

— Sai — chamou Kankuro, desviando o rosto —, você é o melhor para verificar isso. Aquela mulher lá embaixo está fingindo?

Sai respondeu de pronto:

— Eu não acho — disse Sai. — Tenho observado as expressões dela desde que ela chegou e não percebi nada de errado — deu de ombros. — Então, a menos que Konan-san seja melhor do que eu em mascarar as emoções, ela diz a verdade.

— Que ótimo — Karui revirou os olhos. — Não é só a Hokage; vocês, da Folha, são todos imprudentes.

Sai deu à Karui um sorriso indecifrável.

— É como dizem, Karui-san: o inimigo do meu inimigo é meu amigo.

— E o amigo de hoje é o inimigo de amanhã — rebateu Karui. — É como dizem.

— Já chega. Calem a boca, vocês dois — exigiu Kankuro, voltando toda a atenção para o andar inferior. — Quero ouvir o voto do Gaara.

E suspirou, murmurando apenas para si:

— Espero que ele não faça nenhuma tolice.

— Relaxe, Kankuro — disse Temari, que sentada de braços cruzados, fizera a leitura labial do irmão e percebia a incerteza em seu rosto pintado. — Gaara é um homem ajuizado e, como Kazekage, sabe o que é melhor para a Areia.

— Você fala assim, Temari — respondeu Kankuro, com um olhar cínico —, mas ultimamente vive agindo como uma típica irmã mais velha preocupada.

Ela não poderia negar. Por isso, apenas sorriu transigente.

— É verdade — Temari assentiu. — Mesmo assim, eu confio na sabedoria do Gaara.

— Você sabe que se aquela mulher da Akatsuki for aceita — Karui se dirigiu à Temari —, ela vai sentar bem do lado do seu irmão... — estreitou os olhos, atentando para a mesa da assembleia — e do seu namorado também. Ele é o conselheiro da Hokage e está bem ali.

Temari deu de ombros, indiferente.

— Shikamaru não é um homem fraco, e muito menos burro — respondeu Temari. — Quanto ao meu irmão, ele é quem menos precisa de proteção dentre todos que estão lá embaixo. Afinal de contas, com a morte do Terceiro Tsuchikage, Gaara passou a ser considerado o membro mais forte dos Cinco Kages atuais.

 

 

                                                                            ***

 

 

Quando Konan fixou os olhos para esperar o julgamento do Quinto Kazekage, veio-lhe uma estranha sensação de familiaridade; e logo ela se lembrou que, poucos anos atrás, haviam estado em posições invertidas. No caso, Gaara recebera uma sentença de morte da Akatsuki, e Konan, ainda que não estivesse presente em carne e osso naquela caverna, também havia participado do julgamento que resultou na extração da Besta de Uma Cauda.

Às vezes, o destino era bastante irônico.

Mesmo que Naruto tivesse lhe dito que Gaara era um de seus grandes amigos e a própria Konan tivesse tido uma impressão benevolente do jovem Kazekage à primeira vista, agora era bem diferente, e Konan não poderia esperar que o Quinto Kazekage a aceitasse como uma igual. Se alguém ali poderia ter o direito de nutrir rancor contra ela, este alguém era Gaara do Deserto.

Mas não foi assim. Quando olhou no fundo dos olhos do rapaz, Konan encontrou apenas graça.

— Como alguém que também cometeu diversas atrocidades no passado e matava pessoas apenas para se sentir vivo — disse-lhe Gaara —, eu entendo o que quis nos dizer. Naruto me salvou de mim mesmo e me mostrou que até um assassino desalmado como eu poderia encontrar redenção ao trilhar um caminho diferente do que me havia sido imposto; e desde então eu decidi me tornar alguém capaz de proteger as pessoas da minha vila e todos aqueles que são importantes para mim.

O Kazekage descruzou os braços e sorriu suavemente.

— Konan da Akatsuki, eu acredito que nós dois sejamos iguais — declarou Gaara. — A despeito de sua insurgência contra Kira Toraiyama, eu entendo que um estrangeiro cruel não teria qualquer direito sobre o povo do País da Chuva. Na minha visão, você sempre foi a verdadeira governante. A Vila Oculta da Areia assim a reconhece.

— Muito obrigada, Kazekage-sama — Konan se inclinou respeitosamente para Gaara.

A próxima a pronunciar seu voto foi Koyuki Kazahana, a rainha do País da Primavera.

— O verdadeiro governante não é aquele que está sentado no trono — disse Koyuki para Konan —, mas aquele que é reconhecido por seu povo. Esta foi uma importante lição que eu aprendi com meu tutor, Sandayuu-san; com meus súditos, que se sacrificaram na luta contra o meu tio; e também com Naruto Uzumaki, o ninja mais teimoso e valente que já conheci. Eu percebi como aquela garotinha olha para você — olhou de relance para Momo Tsukiaru —, e creio que o sentimento é o mesmo entre os demais cidadãos do seu país. Eles te reconhecem como a governante deles. Portanto, eu não poderia fazer diferente. Sendo assim, nada mais resta senão dizer que o País da Primavera vota a favor da sua aceitação à esta mesa, Konan-san.

Do outro lado, Ay estreitou os olhos para Tsunade.

“Três votos a favor logo de cara, como esperado”, resmungou em pensamentos.

— Muito obrigada, Koyuki-sama — Konan agradeceu com uma mesura.

E, então, virou-se para encarar seu próximo julgador.

Mei Terumi a avaliava em um silêncio cuidadoso, de modo que Konan não sabia presumir o se passava na cabeça daquela mulher. Os olhos verde-mar da Quinta Mizukage, tão enigmáticos quanto belos, poderiam significar qualquer coisa.

— Pelo visto — Mei quebrou o silêncio —, não sou a única aqui que busca ressignificar um nome manchado. Diferente de você, eu não fui chamada de assassina. E por quê? Por que não encabecei uma organização criminosa? — perguntou retoricamente. — Minhas mãos podem estar mais sujas de sangue do que as suas.

Mei suspirou pesarosa.

— Eu me formei na Academia da Névoa aos nove anos, junto com meu irmão mais velho. Para nos graduarmos, tivemos que atravessar o brutal ritual de formatura — Mei estremeceu. — Eu tive que matar meus colegas de classe, meus amigos, com quem estudei por anos, com quem criei laços... e no final, os poucos sobreviventes foram nomeados Genin. Eu me lembro muito bem: minhas mãos estavam vermelhas, pingando um sangue que não era meu, quando recebi meu protetor de testa do nosso sensei.

Com o ar aparentemente distraído, Mei dedilhava as pontas do próprio cabelo. Havia uma tristeza distante em seus olhos.

— Naquele mesmo dia, eu soube o que eu queria ser: uma Mizukage — prosseguiu Mei, erguendo o rosto novamente para Konan —, e consegui, com muito esforço, mudar a Vila da Névoa e sua graduação assassina. Também acabei com a perseguição às pessoas com Kekkei Genkai, sendo a primeira possuidora de duas habilidades genéticas a se tornar Mizukage. Portanto, eu valorizo as mudanças que vem fazendo na Vila Oculta da Chuva e no resto de seu país — Mei apontou para as nuvens vermelhas no manto de Konan —, e esta mudança também. A Vila Oculta da Névoa vota a seu favor.

Konan se inclinou agradecida. Ao mesmo tempo, Tsunade inspirou devagar. Konan já tinha metade dos votos necessários à sua admissão. Porém os dois próximos a votar seriam os Senhores Feudais.

Shimo Kunizaro, do País da Geada, pigarreou de uma forma típica de quem quer chamar a atenção para si.

— Como podem ser tão condescendentes com os crimes desta mulher? — perguntou Shimo aos que já haviam votado. — Não importa o que nos diga — virou-se para Konan —, uma criminosa sempre será uma criminosa. Este seu manto está tingido de sangue inocente e nada poderá mudar isso. Mesmo que a antiga Akatsuki tenha caído e você, mulher, considere-se outra pessoa, seus métodos violentos continuam tão delituosos e evidenciam sua ilegitimidade política à frente do País da Chuva. Eu seria um louco se a reconhecesse como uma igual. O País da Geada vota contra a sua admissão.

Respeitosamente, Konan se inclinou perante Shimo e se voltou para o Senhor Feudal do País dos Vales.

— Senhorita Konan, devo dizer que suas últimas palavras foram... tocantes — confessou Hiroshi —, dignas de uma liderança saudável e sensata. Conheço Senhores Feudais e príncipes que jamais falariam tão bem sobre governança quanto a senhorita, justamente porque nunca entenderam os princípios basilares por trás do ofício.

“Ele a está aceitando?”, Tsunade arqueou a sobrancelha.

— Estou convencido de que sua retomada do poder foi motivada por boas intenções — prosseguiu o soberano do País dos Vales. — Não fosse sua ligação com a Akatsuki, eu não teria qualquer razão plausível para não reconhecer a legitimidade de seu governo. Contudo, assim como a Akatsuki derrubou Kira Toraiyama e retomou o controle do País da Chuva, os Yuurei conquistaram o País dos Demônios após assassinarem sua legítima governante, a princesa Shion. Pelo que ouvi, a vice-líder dos Yuurei, Mira Uzumaki, é sua discípula. Os métodos utilizados por vocês duas são, diga-se de passagem, bastante parecidos.

“Droga!”, praguejou Tsunade, “Hiroshi foi esperto ao traçar um paralelo entre a Akatsuki e os Yuurei”, e olhou para quem votaria após Hiroshi Shirokuzo. “As chances de ela levar para o lado pessoal são altas, já que a perda do avô é recente.”

— Isto posto — concluiu Hiroshi —, seu passado criminoso ainda se mostra motivo suficiente para eu não a aceitar, senhorita Konan. Ao menos, não imediatamente; e o tempo revelará suas verdadeiras intenções. Portanto, o País dos Vales também vota contra a sua admissão.

Ao terminar o voto, Hiroshi bebericou sua xícara de chá, ao passo que todas as atenções se voltavam para a mais nova integrante da cúpula dos Cinco Kages.

O voto da Tsuchikage era crítico. Se Kurotsuchi entendesse pela legitimidade do governo de Konan, então a líder do País da Chuva já teria mais da metade dos votos necessários para sua admissão à mesa — e restariam outros três em quatro chances possíveis.

Além disso, com a Vila Oculta da Pedra também votando favorável à Konan, quatro das cinco vilas ninjas mais importantes do mundo reconheceriam a nova liderança da Chuva. Consequentemente, a Vila Oculta da Nuvem seria obrigada a reconsiderar seu entendimento, sob pena de estar numa posição isolada em relação às demais potências mundiais, o que quase nunca era algo bom.

Mas isso se a Vila da Pedra pronunciasse um voto favorável. Não sendo este o caso, o Raikage, apoiado pelo voto da Tsuchikage e dos dois Senhores Feudais, teria uma base segura para acompanhar a divergência sem o risco de maiores implicações. E com quatro votos contrários, Konan não atingiria o quórum necessário e estaria, definitivamente, proibida de se juntar àquela assembleia.

E a Quarta Tsuchikage já tinha avaliado tudo isso.

— Meu avô — começou Kurotsuchi, devagar — foi o homem mais sábio que já conheci. Mas não só isso, o Velhote era uma lenda viva; a única pessoa no mundo inteiro a ter lutado em todas as Quatro Grandes Guerras Ninja. Ele era forte, o mais forte dentre todos os Cinco Kages...

Kurotsuchi ensaiou um sorriso distante, e apesar de Konan notar o esforço que a garota fazia para se controlar, viu a dor do luto no rosto da Tsuchikage.

— Eu jurei a mim mesma que honraria o legado dele — continuou Kurotsuchi —, e uma das coisas nas quais meu avô acreditava era que um dia as Cinco Grandes Nações estariam unidas de fato. Não apenas pelas circunstâncias, mas unidas por uma aliança sólida e inabalável. Ele cria que a Aliança Shinobi foi apenas o começo de algo muito maior e importante: uma união sublime que nos faria, de uma vez, nos sentarmos para além de todas as diferenças. Mais do que qualquer pessoa, meu avô tinha fé no que os Cinco Kages representam.

E apontou para a Hokage.

Tsunade-hime, dizia ele, era sua favorita — revelou Kurotsuchi, e Tsunade não pôde conter o sorriso de saudade do velho Oonoki. — E você também, Kazekage — Kurotsuchi se virou para Gaara —, meu avô o tinha na mais alta estima. Para ele, foi uma honra para um idoso ter lutado, como um igual, ao lado de um jovem talento como você.

— A honra foi toda minha — respondeu Gaara solene.

— Quanto à Mizukage — Kurotsuchi olhou para Mei —, é graças a você que a Vila Oculta da Névoa é o que é hoje. Seu coração gentil e amável foi a cura que a Névoa Sangrenta precisava. O Velhote dizia que se ele fosse alguns anos mais jovem... bom, quem sabe.

Mei deu um sorrisinho.

— Eu ficaria lisonjeada.

— Por fim — Kurotsuchi olhou para Kira Ay —, o Quarto Raikage representa o ápice desta união que o Terceiro Tsuchikage, meu avô, defendia e sonhava. Você, que foi o líder supremo da Aliança Shinobi, sempre foi o guerreiro mais destemido dentre todos os Cinco Kages. Ainda que meu avô discordasse de alguns de seus métodos, ele o respeitava bastante.

Ay comprimiu os lábios e balançou a cabeça, agradecido.

— Por isso, eu, sua neta e sucessora, não poderia pensar diferente. Quanto a você — Kurotsuchi se dirigiu a Konan —, eu não posso condená-la pelo que fez àquele babaca do Toraiyama porque, no seu lugar, eu teria feito da mesma forma. Mas saiba que não tem a minha confiança pessoal. A Akatsuki e os Yuurei são similares em muitos aspectos. Por outro lado, você tem a confiança de outros três Kages e isso é muita coisa. Talvez, o sonho do meu avô esteja se tornando realidade, e aqueles a quem chamávamos de inimigos no passado agora são nossos aliados. Dessa forma, A Vila Oculta da Pedra reconhece a legitimidade da líder do País da Chuva.

Quando foi a vez do País da Lua pronunciar seu voto, Tsukino não teve qualquer dúvida:

— Faz anos que não vejo o Naruto, mas eu o conheço bem — disse Tsukino para Konan. — Eu sei como aquele imbecil consegue mudar os outros, assim como também sei o tipo de pessoas que ele quer por perto. Eu vejo tudo isso em você, Konan-neesan, e não tive problemas para ver que está falando a verdade. Nós duas estamos aqui porque acreditamos em Naruto Uzumaki e queremos ajudá-lo como pudermos. E já que nosso pensamento é um só — ela se ajeitou, ficando com a postura ereta —, o País da Lua vota a seu favor.

Enquanto Konan agradecia à Tsukino, um nó se formou na garganta de Tsunade. Até então, a Chuva tinha contabilizado seis votos a favor e dois contrários, o que significava que Konan precisaria de apenas mais dois votos favoráveis para ser oficialmente reconhecida.

 Dois votos a seu favor em três chances possíveis. E os três últimos membros da mesa seriam, na ordem, Shibuki, da Cachoeira; Kira Ay, da Nuvem; e Mujou, da Grama.

No instante em que o líder do País da Cachoeira olhou para Konan, seu rosto endureceu de desgosto e um sabor amargo lhe veio à boca.

— Você pediu o meu perdão, mas não estou pronto para dá-lo a você — confessou Shibuki — e não posso confiar em alguém que participou da morte da Fuu. Por outro lado, Naruto foi alguém que me ensinou a ser forte quando eu ainda não passava de um garoto covarde. Por causa dele, estou disposto a deixar nossas diferenças de lado. Além disso, por mais que eu a odeie, sei que a matéria a ser avaliada aqui é a legitimidade do seu governo, e não os seus crimes. Nesse sentido, eu acompanho o entendimento do Kazekage-sama: não vejo como válida a submissão de um país a um governante estrangeiro, o qual se levantou apenas porque você esteve debilitada. Assim, o País da Cachoeira reconhece que você, por direito, sempre foi a líder do País da Chuva.

“O que disse, garoto?”, o Raikage acusou uma careta surpreendida.

— Ay — chamou Tsunade —, é a sua vez.

O Quarto Raikage refletiu rapidamente. Konan já tinha sete votos e cinquenta por cento de chances de conseguir o oitavo. De repente, a inesperada aprovação por parte do líder da Cachoeira tinha mudado a dinâmica das coisas. Se antes, a líder da Chuva tinha pouquíssimas chances de atingir o quórum necessário, agora, sua admissão era quase certa.

Mas não era só isso. Quatro dos Cinco Kages haviam votado a favor de Konan, assim como todas as lideranças independentes. Mesmo que Kira Ay seguisse a divergência levantada pelos Senhores Feudais, ainda assim estaria se colocando numa posição isolada em relação às demais Grandes Nações Shinobi; e mesmo que isso não significasse muito naquele momento, para fins práticos, era um mau indicativo de que estava longe dos outros Kages.

E, claro, ainda havia o risco de Ay perder a parceria econômica que construíra com Tsunade. Além da Vila Oculta da Nuvem, somente a Vila Oculta da Chuva de Kira Toraiyama havia se provado em condições de oferecer créditos capazes de custear toda a reconstrução da Vila Oculta da Folha após o ataque dos Yuurei. Logo, afastar-se da Hokage implicaria em deixar o caminho livre para uma aproximação entre a Folha e o País da Chuva, o que poderia se mostrar prejudicial aos interesses da Nuvem a médio e a longo prazo. E se a tal Konan estava mesmo disposta a implementar mudanças no país, então, certamente, significaria a abertura de fronteiras para o desenvolvimento econômico; a entrada de indústrias, comércio e capital estrangeiro. Tudo isso era algo que Kira Toraiyama — que apesar de ter vindo do ramo empresarial — jamais se interessou por fazer enquanto líder da Chuva.

“Se esta mulher assumiu o controle do país”, o Raikage raciocinou, “então ela também controla todo o patrimônio daquele desgraçado.”

Manter-se como adversário econômico do País da Chuva e ser o único dos Cinco Kages a acompanhar a divergência; ou revisar seu posicionamento, seguir Tsunade e os demais Kages e criar uma ponte para, futuramente, uma parceria comercial com Konan. Apesar de Ay não gostar da ideia de se aliar a uma Akatsuki, a escolha parecia óbvia. O Raikage ainda ponderou por mais alguns instantes, procurando alguma via para barrar o ingresso de Konan àquela reunião e, ao mesmo tempo, fazer com que a Vila Oculta da Nuvem saísse ilesa.

Sem sucesso.

Com o canto do olho, Ay se virou para Tsunade. A Hokage estava consultando seu conselheiro, Shikamaru Nara; e quando o Raikage prestou atenção, viu o que pareceu ser a sombra de um breve e vitorioso sorriso despontando nos lábios de Tsunade.

Naquele segundo, Kira Ay soube que estava totalmente rendido.

“Maldita seja, Tsunade!”, o Raikage resmungou. “Eu não acredito que perdi para você!”

Com o gosto da derrota ainda fresco, Ay se voltou para Konan e murmurou o oitavo voto favorável:

— Acompanho o entendimento da relatora e dos demais Kages. Você me convenceu, líder da Chuva — mentiu. — A Vila Oculta da Nuvem reconhece a sua legitimidade — disse contrariado.

— Obrigada por sua confiança, Raikage-sama — Konan reverenciou o líder da Nuvem, que tinha o rosto vermelho de raiva e vergonha.

— Então, é isso! — exclamou Tsunade, fazendo o possível para moderar a própria satisfação. — Konan, para todos os fins, esta assembleia reconheceu seu governo como legítimo. Você é, oficialmente, uma integrante desta mesa. Por favor, assuma seu lugar — e se virou para Mujou — tão logo o País da Grama pronunciar o último voto.

Konan girou o pescoço um pouco mais para a direita. Mujou lhe dirigia um olhar receptivo.

— O que resta a ser feito senão lhe dar as boas-vindas, senhorita Konan? — perguntou ele. — Venha, junte-se a nós.

 

 

                                                                                       ***

 

 

Uma vez que todos os doze participantes do Encontro estavam devidamente acomodados, Tsunade ergueu a voz:

— Senhores, novamente eu quero agradecê-los por terem vindo — Tsunade não gritava, mas seu tom era forte o suficiente para atrair as atenções de todos, em ambos os andares, para si. — Sem mais delongas, a necessidade de estarmos reunidos presencialmente não poderia ser outra: nós temos um inimigo em comum.

E respirou profundamente antes de prosseguir:

— Os Yuurei não são apenas inimigos da Vila Oculta da Folha, do País do Fogo ou das Cinco Grandes Nações — continuou Tsunade —, mas de todo o mundo ninja. Ao contrário do que pregam, eles não fazem distinção entre países grandes e pequenos, e varrem tudo em seu caminho. Sem deixar corpos nem rastros. E como já sabemos, nosso inimigo tem por alvo principal Naruto Uzumaki, cujo chakra é a peça-chave que os Yuurei necessitam para lançar o Banbutsu Souzou no Jutsu.

— Perdão, Hokage-sama — Koyuki franziu a testa e olhou ao redor para se assegurar de que não era a única não combatente a não reconhecer aquele nome —, mas o que seria isso?

— A Técnica de Criação de Todas as Coisas — Gaara, que estava ao seu lado, respondeu gentilmente —, um jutsu do próprio Sábio dos Seis Caminhos...

—... e, provavelmente, o mais apelão já inventado — acrescentou Kurotsuchi, com a expressão fechada.

— Mas por quê? — Koyuki arregalou os olhos. — O que eles planejam criar?

— A história, Koyuki-sama — respondeu Kurotsuchi. — Toda ela. Do zero.

— Mas algo assim não pode ser possível — o velho Shimo Kunizaro se revirou incomodado no assento; mas quando procurou o mesmo ceticismo nos rostos dos Cinco Kages, encontrou apenas seriedade e preocupação —, pode?

Tsunade fitou o rosto do Senhor Feudal com dureza.

— Infelizmente, Shimo-sama, temos boas razões para crer que algo assim esteja ao alcance dos Yuurei — retrucou a Hokage.

— Por quê?

— Porque... — e quando Konan começou a falar, todos se voltaram para ela imediatamente — Iori Kuroshini não é humano; é um demônio que manipula o Meiton, um poder tão antigo quanto os próprios Ootsutsuki. E com o Rinnegan, Iori se aproximou ainda mais do que era o Sábio dos Seis Caminhos.

— Espere um momento! — interrompeu o Raikage, intrigado. — Rinnegan? O líder dos Yuurei possui o Rinnegan? Ei, Tsunade! Você já sabia disso?

— Sim — Tsunade respondeu secamente; aquela havia sido uma das últimas informações que Naruto descobrira na Vila da Chuva e enviara à Folha, portanto, Tsunade não teve tempo de compartilhá-la com os demais Kages —, eu já sabia.

— Sua... — Ay se conteve, comprimindo os lábios. — Por que não nos contou isso também?

— Agora não é hora para chiliques, Raikage-sama! — interveio Mei, sem se importar com o olhar carrancudo que o Raikage lhe dirigia. — Tenho certeza de que há uma boa explicação para tudo isso — e se virou para Konan. — Por favor, continue.

A líder do País da Chuva agradeceu à Mizukage com um aceno de cabeça.

— Iori Kuroshini possui o Meiton, uma cópia perfeita do Rinnegan de Nagato — enumerou Konan — e o Doujutsu da Predição, que pertencia à princesa Shion, do País dos Demônios. Se Iori também puser as mãos em todo o chakra Bijuu que há o Naruto...

—... então, Iori Kuroshini será uma ameaça pior do que Kaguya Ootsutsuki — concluiu o Raikage, infeliz — e certamente será capaz de realizar o Banbutsu Souzou no Jutsu.

Konan assentiu silenciosa.

— Para piorar nossa situação — disse Tsunade —, até o presente momento, não identificamos qualquer fraqueza no jutsu de Iori Kuroshini. Ao menos, nenhuma que saibamos interpretar.

— Como assim? — perguntou Hiroshi.

Tsunade olhou para Shikamaru, que assentiu com a cabeça.

— Antes de morrer, o Sexto Hokage nos deixou uma pista do que poderia ser uma falha no Meiton de Iori Kuroshini — informou Tsunade. — “Luz”, nos disse o Kakashi. Segundo nossa Inteligência, a principal teoria é a de que esta “luz” está relacionada ao próprio conceito físico da energia. Uma vez que o estilo Escuridão funciona como uma espécie de buraco negro, a energia luminosa seria aquela que Iori Kuroshini teria maiores dificuldades de absorver, considerando a velocidade em que as partículas de luz se movem.

— Mas, no fim das contas, o Meiton ainda seria capaz de devorar técnicas luminosas — pontuou Shibuki —, já que buracos negros têm uma aceleração de gravidade superior à velocidade da luz.

Tsunade assentiu com a cabeça.

— Por isso, nós especulamos que a limitação do Meiton seja o próprio Iori Kuroshini, que não seria capaz de suportar uma quantidade massiva de “luz” de uma só vez — disse a Hokage. — Embora ainda não possamos provar este ponto, acreditamos que o corpo de Iori Kuroshini absorva “luz” até determinado limite, e o excesso disso poderia feri-lo ou até matá-lo. Por isso, talvez, enfrentar o Modo Rikudou Sennin do Naruto seja um problema para Iori, já que Naruto, com sua força máxima, é uma fonte de chakra que beira o infinito. Além de possuir o Onmyouton (estilo Yin-Yang), que é o elemento que permitiu ao Sábio dos Seis Caminhos criar as nove Bijuus por meio do Banbutsu Souzou no Jutsu, o Naruto também pode utilizar diversas transformações de natureza, incluindo energia luminosa. Isso explicaria a preocupação dos Yuurei para selar os poderes Jinchuuriki dele.

— É uma boa teoria — observou Konan —, mas tem uma falha. Como eu já disse, Iori Kuroshini não é humano. Então, ainda que ele possua uma limitação física, e isso é só uma possibilidade, não deve ser a mesma que a de um ser humano.

— Em outras palavras — complementou Gaara —, devemos supor que Iori Kuroshini aguentaria tanta “luz” quanto fosse possível, e ficaríamos esgotados antes que pudéssemos descobrir os limites dele.

Os dedos de Kira Ay batiam, nervosos, na mesa de madeira.

— Esqueçam Ninjutsu. Ataques físicos funcionam contra esse cara?

Tsunade balançou a cabeça em negação.

— Gai Maito foi um dos Jounin que acompanhou Kakashi na luta contra Iori Kuroshini — a Quinta Hokage suspirou, triste. — Eu receio que Taijutsu seja inútil contra o estilo Escuridão...

“A menos que o ataque físico também use Meiton”, completou Tsunade mentalmente, lembrando-se da espada que Orochimaru havia feito para Sasuke Uchiha.

— Ninjutsu não funciona. Taijutsu também não — Kurotsuchi se dirigiu à Tsunade —, mas e Genjutsu? Funciona nele?

— Da mesma forma que funcionaria em um Jinchuuriki — respondeu Tsunade. — A menos que você prenda a Besta com Cauda e seu hospedeiro ao mesmo tempo, Genjutsu também não vai funcionar.

— Mas o líder dos Yuurei não pode ser um Jinchuuriki — estranhou Gaara. — Além do Naruto, os únicos que mantiveram chakra Bijuu selado dentro de si foram — olhou de relance para Kira Ay — Killer Bee, da Nuvem, e eu.

O Quarto Raikage fez uma careta.

— Poupe-me dessa sua cautela, Kazekage, e vá direto ao ponto — Ay se virou para Tsunade. — Aquele desgraçado está usando o chakra Yin do Oito Caudas que estava com o Bee, não é mesmo?

Foi Konan quem respondeu.

— Não está — disse ela. — Descobrimos que o poder de Iori se origina de uma outra Bijuu, que não descende do Dez Caudas. Chama-se Reibi, ou a Besta de Zero Caudas.

— Zero Caudas?

— Sim — confirmou Tsunade. — Essa criatura vinha sendo usada pelos Yuurei para suprimir as nove Bijuus que estão com o Naruto, e fizeram isso após extrair a parte do Oito Caudas que estava com o seu irmão, Ay.

O Raikage esmurrou a mesa com raiva.

— Desgraçados!

Entrementes, Tsukino ergueu a mão um tanto tímida.

— Nós poderíamos tentar selá-lo — sugeriu para Tsunade. — Fuuinjutsu é a minha especialidade e...

— Pode esquecer — respondeu Konan. — Não é qualquer selamento que funcionaria contra aquele demônio. Precisaríamos de uma fórmula muito avançada e, ao mesmo tempo, poderosa o bastante para segurar todo o chakra do Iori de uma vez. Com todo respeito, eu não acho que... — Konan hesitou por alguns segundos — que algo dessa grandeza possa ser achado em qualquer lugar; e na hipótese de termos algo assim — falou com cautela —, se saberíamos utilizá-lo.

— Além disso, os Yuurei têm Mira Uzumaki — acrescentou Mei —, a melhor mestra em Fuuinjutsu do mundo.

Tsukino cruzou os braços.

“A melhor, é?”, revirou os olhos, “Veremos.”

— M-mas isso é loucura! — Shimo ergueu uma voz esganiçada entre os dentes. — Então, o que está nos dizendo, Hokage... — ele parou de falar; estava visivelmente tenso e mais pálido do que o habitual —, é que vocês não têm chance nenhuma contra esses Yuurei? Tudo o que fez foi nos iludir com esperanças tolas naquele seu convite?! É isso?

Tsunade levantou os olhos para encarar o homem de frente. Não era só o rosto amedrontado, a voz do Senhor Feudal saiu mais fina do que de costume. Shimo Kunizaro era só um político velho, mas que nunca fora um Shinobi. Portanto, a covardia dele era compreensível.

— Nós ainda não sabemos como lidar diretamente com Iori Kuroshini — enfatizou Tsunade, em resposta —, mas temos um plano para derrotá-lo.

— Você tem um plano?! — perguntou o Raikage ansioso. — Explique!

Tsunade apenas se virou para o homem que a assistia naquela reunião, e que estava em pé à direita de seu assento.

— É com você, Shikamaru — disse a Hokage.

Shikamaru Nara encolheu os ombros e, com sua típica careta entediada, deu um passo para frente. O conselheiro da Hokage tinha nas mãos um tablet, uma caneta touch screen e um controle remoto, com o qual ligou uma televisão enorme, que havia sido instalada bem acima da porta de entrada do salão, entre as duas galerias. Ao acioná-la, todos viram a tela branca de uma apresentação em PowerPoint; e após um comando que Shikamaru executou no tablet, a palavra “líder” apareceu no topo do primeiro slide.

— Por favor, prestem bastante atenção agora — pediu o conselheiro da Quinta Hokage. — É um plano complicado.

 

 

                                                                            ***

 

 

— O estilo Escuridão de Iori Kuroshini não tem fraquezas aparentes — expôs Shikamaru. — Mas sabemos que ele não é invencível porque descobrimos que Iori Kuroshini estava com os poderes selados antes de obter seu Rinnegan.

— Viram?! — exclamou Tsukino. — Fuuinjutsu pode funcio... — mas quando notou o olhar frio que Konan lhe dirigia, a moça petrificou. — Desculpem-me — sussurrou, encolhendo-se envergonhada.

Tsunade acenou para que Shikamaru prosseguisse.

— Por isso, Iori Kuroshini precisou dela — Shikamaru executou outro comando. Um pouco abaixo da palavra “líder”, no canto esquerdo da tela, surgiu o retrato de uma mulher ruiva de olhos azuis. Um rosto que, àquela altura, já era conhecido entre as Cinco Grandes Nações.

— Mira Uzumaki — o semblante de Mei se fechou.

— O líder dos Yuurei precisou de Mira, que ainda era uma aprendiz de Konan na época, para recuperar os poderes — explicou Shikamaru. — Em outras palavras, Mira Uzumaki pode ser a única pessoa no mundo a conhecer o jutsu que restringiu Iori Kuroshini no passado.

Educadamente, Konan pediu permissão para falar.

— É um erro presumir que o Iori Kuroshini daquela época é o mesmo Iori Kuroshini da atualidade — contrapôs a líder da Chuva. — Ele está muito mais forte e experiente do que era no passado. O mesmo truque não funcionaria de novo.

Shikamaru fez que sim.

— É verdade — admitiu o ninja da Folha. — Mesmo assim, as respostas que procuramos a respeito de Iori Kuroshini estão com a pessoa mais próxima ao líder dos Yuurei, e este alguém é Mira Uzumaki — enfatizou Shikamaru. — Capturá-la é vital para que possamos descobrir não só a respeito deste Fuuinjutsu, como também um ponto fraco a ser explorado no Meiton de Iori.

— Se ela é tão importante, por que não enviamos mais gente atrás dela? — perguntou Shibuki. — Sabemos onde ela está. Podemos criar uma emboscada. É melhor do que deixar o Naruto lutar sozinho.

Tsukino concordou com a cabeça.

— Esse plano tem pouquíssimas chances de funcionar — respondeu Shikamaru. — Mira Uzumaki é uma ninja sensorial de alto nível e perceberia a presença de nossos homens antes que tivéssemos a mínima chance de capturá-la. Além disso, não sabemos se Mira está no País do Redemoinho; só sabemos que ela pode ir para lá instantaneamente, através de um jutsu de espaço-tempo. De qualquer forma, não podemos interferir na luta dela contra o Naruto.

— Por que não? — perguntou Tsukino.

— Por causa do pacto de não agressão — respondeu Tsunade. — Mira prometeu imunidade aos Países Menores em troca de deixarmos ela e Naruto lutarem sem qualquer interferência.

— Só em relação aos países menores, não é mesmo? — perguntou a Mizukage retoricamente.

Tsunade fez que sim.

— Ela não estendeu a garantia às Cinco Grandes Nações — reiterou a Hokage —, mas deu sua palavra de que os Yuurei não atacariam qualquer outro país se, e somente se, deixássemos o Naruto lutar sozinho.

O Senhor Feudal do País da Geada fungou, contrariado.

— A palavra de uma criminosa não vale de nada e vocês todos já deveriam saber — contestou Shimo Kunizaro. — A prova cabal de que essa Mira Uzumaki não passa de uma mentirosa foi o incidente no País do Ferro.

Um nó se formou na garganta de Tsunade.

— Que incidente?

— Oh, vejo que vocês não sabiam — Shimo olhou para os Cinco Kages e deu uma risada infeliz. — Como sabem, o País da Geada é vizinho do País do Ferro. Quando estávamos nos dirigindo à Folha, meus homens e eu vimos um espetáculo de terror — fixou os olhos em Tsunade. — A Cordilheira dos Três Lobos, toda ela, parecia uma fogueira gigante. Nunca vi nada parecido.

A rainha do País da Primavera balançou a cabeça, soturna.

— É verdade — disse Koyuki. — No meu país, também pudemos ver o brilho do fogo e a coluna de fumaça a quilômetros de distância. Foi simplesmente assustador.

— E pensar que o País do Ferro não existe mais...

— Já chega! — Ay bradou irado e se pôs de pé. — Eu digo o que devemos fazer: vamos retaliar! Atacar o País do Redemoinho e o País dos Demônios com tudo! Mira Uzumaki quebrou a palavra. Não há motivos para mantermos a nossa.

Ao lado de Tsunade, a líder do País da Chuva balançou a cabeça.

— Não, ela não quebrou — disse Konan baixinho, mas perto o suficiente para que Kira Ay escutasse. — Genocídio indiscriminado não faz o tipo da Mira.

Ouvir aquele sussurro fez o Raikage ter um acesso de raiva.

— Não faz o tipo dela? — berrou Ay. — Parece que você congelou no tempo, mulher! Sua querida aluna agora é uma psicopata genocida! Você não a conhece mais.

Mas Konan permaneceu tão calma quanto irredutível.

— Não, Raikage-sama. Eu a conheço muito bem. Mira é o tipo de pessoa que crê no princípio da retribuição — respondeu Konan a Kira Ay. — Ou seja, ela defende a punição apenas daqueles que ela considera como culpados. Ao contrário do que todos aqui estão pensando, Mira jamais ordenaria massacres impessoais exatamente porque ela tem traumas disso. Ela conhece a dor de já ter passado por duas carnificinas.

— Ela matou o meu irmão! — frisou o Raikage. — Bee era inocente!

— Mas ele era um ninja da Nuvem — retrucou Konan —, e foi a sua vila, Raikage-sama, a responsável por destruir o lar da Mira na infância. Aos olhos dela, vocês são culpados pelo massacre do clã Uzumaki. Princípio da retribuição.

Kira Ay cerrou o punho.

— O mesmo vale para a Vila da Folha — continuou Konan, voltando-se para Tsunade —, que era oficialmente aliada do clã Uzumaki desde a época em que Hashirama Senju se tornou o Primeiro Hokage. Mas quando o País do Redemoinho sofreu o ataque da Nuvem, a Folha não interviu para ajudar.

Tsunade se lembrava do ocorrido. Na época, quem governava a Folha era seu antigo professor, Hiruzen Sarutobi. O Terceiro Hokage sempre foi conhecido por adotar uma política diplomática, mas era criticado por ser demasiadamente pacifista em questões que exigiam força e rigidez. Algumas concessões e negligências do Terceiro ocasionaram problemas para a vila, como o crescimento político da ala mais radical, liderada por Danzou Shimura e, futuramente, a rebelião e o massacre do clã Uchiha.

— Então, se eu tivesse que palpitar — disse Konan —, eu diria que a ordem para atacar o País do Ferro não veio da Mira. Massacres assim combinam mais com o perfil de Iori Kuroshini. Ironicamente, é como a ação de um buraco negro; é a destruição de tudo que está no caminho. Sem qualquer distinção.

A líder do País da Chuva suspirou triste.

— Acho que ainda conheço minha aluna, Raikage-sama — disse para Ay. — Como eu já mencionei, quando penso no que Mira se tornou, só vejo a mim mesma. Por isso, sei que Iori ordenou esse massacre, não ela; e se enviarmos mais alguém para o País do Redemoinho, então poderemos esperar que os Yuurei logo baterão à nossa porta.

— Nós entendemos — disse Gaara respeitoso, e desviou o olhar. — Shikamaru, por favor continue.

— Muito bem. Como já devem ter percebido, a missão de capturar Mira Uzumaki está a cargo do Naruto — Shikamaru executou outro comando, e o retrato de Naruto apareceu ao lado do de Mira, no canto direito da tela. — Ele deverá derrotar a vice-líder dos Yuurei em um combate individual e trazê-la para a Vila da Folha, onde extrairemos cada gota de informação que ela possuir. Como essa luta é um desejo da própria Mira Uzumaki, e por nossos inimigos estarem tão confiantes do resultado, é muito improvável que haja uma armadilha para o Naruto, ou que outro Yuurei vá interferir.

— Eu entendo o que quer dizer — Kurotsuchi se ajeitou inquieta —, mas não estamos dando o Naruto de bandeja para os Yuurei?

Shikamaru balançou a cabeça.

— Sim — respondeu o estrategista —, é exatamente o que estamos fazendo.

Tsukino se pôs de pé, exasperada.

— Você ficou louco?! Quer dizer que o Naruto está por conta própria? Não pretendem dar nenhum suporte a ele?

— Naruto é o que, no Shougi, nós chamamos de “peça de sacrifício”, Tsukino-sama — Shikamaru explicou pacientemente. — Nós o estamos usando para desviar a atenção de Mira Uzumaki. Eu tenho mantido contato constante com o Naruto e ele sempre esteve a par dos nossos planos. Aliás, foi o próprio Naruto quem quis assim. Mas não se preocupe. Não temos a menor intenção de entregá-lo para os Yuurei.

Tsukino voltou a se sentar, notadamente constrangida.

— Bom, eu entendo... — a moça hesitou, preocupada. — Mas por que o deixaram partir sozinho nessa missão tão perigosa?

Shikamaru respondeu amigável:

—  Porque Naruto Uzumaki vai vencer.

Ouvir aquelas palavras do maior estrategista da Folha deu a Tsunade um pouco mais de tranquilidade quanto à segurança de Naruto. Silenciosa, a Quinta Hokage esboçou um sorriso fugaz.

Ao mesmo tempo, Gaara indagou a Shikamaru:

— Você disse que Naruto está sendo usado para prender a atenção de Mira. Mas com qual finalidade exatamente?

Antes de responder à pergunta, Shikamaru usou a caneta touch screen para desenhar uma seta indicativa entre os rostos de Naruto e de Mira. O símbolo tinha uma ponta em cada uma das extremidades, e interligava os dois retratos.

— Mira tem seu próprio interesse no Naruto — explicou Shikamaru —, um que quase se torna uma obsessão. A razão disso — ponderou com as palavras — ainda é incerta. Mas uma coisa está bastante clara: quando se trata de Naruto Uzumaki, Mira age completamente fora dos padrões dos Yuurei. Eu diria que ela é mais diligente em relação a esperar pelo Naruto do que seguindo Iori Kuroshini.

 — Está bem, está bem, mas como saber disso nos ajuda a derrotar o líder dos Yuurei? — o Raikage quis saber.

— Raikage-sama, eu analisei todos os dados que coletamos do inimigo após a invasão — disse Shikamaru. — Iori Kuroshini é virtualmente invencível, e essa aparente invulnerabilidade o torna excessivamente confiante. Mas, quando seu plano foi frustrado, Iori Kuroshini demonstrou uma falta de controle quase animalesca. Quero dizer, os Yuurei planejaram cuidadosamente seus movimentos para cultivar o Reibi como um parasita dentro do Naruto. Com a ajuda de Sasuke, conseguimos minimizar as ações do Zero Caudas, mas Mira Uzumaki usou uma combinação de selamentos complexa demais para nossos especialistas resolverem e, por isso, aquele Demônio Roxo, embora restrito, permaneceu com o Naruto. No entanto, durante a invasão dos Yuurei, Ino conseguiu entrar, por um segundo, na mente de Iori Kuroshini, e isso foi o suficiente para acordar o Reibi do Genjutsu de Sasuke, mas, ao mesmo tempo, obrigou a Bijuu a se manifestar em Iori, e não em Naruto. Isso atrasou significativamente os planos dos Yuurei, que foram forçados a recuar a fim de refazerem o ritual com a Besta de Zero Cauda, já que Naruto reapareceu na vila com os poderes recuperados.

Shikamaru marcou a palavra “líder” com a cor vermelha.

— Só tive um momento para observar, mas foi o suficiente para chegar à conclusão de que Iori Kuroshini é mais impulsivo do que sua parceira — e marcou o nome “Mira”, escrito logo abaixo do retrato da vice-líder, com a cor azul. — Pelo que nos mostrou, Mira Uzumaki é mais racional, calculista e uma mulher sangue-frio. Ela, dificilmente, mostra aberturas, a menos que isso envolva Naruto Uzumaki.

E marcou o nome “Naruto” com a cor laranja.

— E já que Mira é o ponto de equilíbrio de Iori Kuroshini — Shikamaru prosseguiu —, estamos usando o Naruto para mantê-la ocupada com a luta; e, portanto, distante do parceiro e isolada dos demais os Yuurei — explicou. — Se conseguirmos afastá-la definitivamente — Shikamaru desenhou uma linha entre o rosto de Mira e a palavra “líder”, e a riscou logo em seguida —, então, penso eu, não apenas descobriremos informações vitais sobre Iori Kuroshini, como também removeremos uma engrenagem importante para o funcionamento da organização.

Depois de falar, Shikamaru esquematizou tudo para que todos pudessem ver seu raciocínio na projeção.

— É claro — Shikamaru acrescentou —, para que Mira engolisse a isca, tivemos que dar garantias de que Naruto realmente está fora da vila. Foi por isso que informamos sobre a saída de Naruto nos convites para este Encontro, e os enviamos por meio de falcões mensageiros. Nós sabíamos que um membro dos Yuurei, Taka Kazekiri, tinha aptidão com esse tipo de ave.

A Mizukage arregalou os olhos.

— Então — Mei balbuciou, incrédula —, desde o começo...

— Sim, Mizukage-sama — Shikamaru assentiu. — Os Yuurei interceptarem um de nossos falcões sempre fez parte do meu plano.

— Mas isso significa que um de nossos aliados não foi avisado sobre o Encontro das Nações Ninja — observou Koyuki. — Shikamaru-kun, qual de seus falcões foi interceptado?

Ao lado de seu conselheiro, Tsunade encolheu os ombros e suspirou.

— O que enviamos ao País do Ferro — respondeu a Hokage.

— Seus cretinos! — Shimo Kunizaro vociferou. — Então, a destruição do País do Ferro também foi planejada?! — e se dirigiu a Shikamaru. — Ei, rapaz! Você matou todas aquelas pessoas de propósito?

Tsunade se levantou, furiosa, da cadeira.

— Não, Senhor Feudal — respondeu Shikamaru antes que Tsunade pudesse dizer qualquer coisa. Ao contrário da Hokage, o jovem conselheiro estava perfeitamente calmo —, eu nunca planejei qual de nossas aves seria interceptada pelo inimigo; apenas as enviei, sabendo que pelo menos uma delas cairia nas mãos dos Yuurei. E se eles capturaram o falcão que foi enviado a um lugar tão inóspito, então isso significa que os Yuurei já tinham seu próprio objetivo no País do Ferro; e encontrar aquele falcão mensageiro não passou de uma terrível coincidência.

— Um objetivo no País do Ferro? — estranhou Gaara. — Tem alguma ideia do que possa ser, Shikamaru?

Shikamaru Nara fez que sim.

— Ainda falaremos sobre este assunto — respondeu enquanto ainda encarava o Senhor Feudal do País da Geada —, mas, por hora, quero deixar claro que a Folha não provocou este último ataque Yuurei.

Hiroshi Shirokuzo pigarreou.

— Obrigado pelos esclarecimentos, meu jovem. E, por favor, perdoe o Shimo-sama pela... inconveniência — disse o Senhor Feudal do País dos Vales. — Por favor, prossiga.

— Bom... — Shikamaru avançou para a próxima tela, onde era retratado o rosto de Taka Kazekiri —, com os Yuurei já cientes de que Naruto havia deixado a Vila da Folha, precisávamos descobrir como eles reagiriam ao vazamento desta informação; e não somente isso, mas se nós poderíamos capturar um Yuurei sem que Naruto, necessariamente, precisasse ir até Mira Uzumaki.

Konan, olhando para Shikamaru, franziu a testa.

— Entendo — disse ela —, então isso também foi ideia sua.

— Nós já sabíamos que Naruto Uzumaki e o Yuurei Taka Kazekiri nutriam uma rivalidade entre si — continuou Shikamaru. — Algo que começou no País dos Demônios, após uma missão que Naruto fez na companhia de Hinata Hyuuga. Considerando que Taka era do tipo rastreador, tinha assuntos inacabados com Naruto e este, por sua vez, fora confirmado como ausente da vila e estava sem os poderes Jinchuuriki, então, seria o cenário perfeito para Taka Kazekiri obter sua vingança. Além disso, Naruto esteve ocultando o próprio chakra, o que o impossibilitou de ser rastreado por Mira Uzumaki. E sem sua maior ninja sensorial, os Yuurei não teriam escolha a não ser enviar Taka Kazekiri no encalço do Naruto.

— Shikamaru... — Gaara o olhava perturbado. — Você orquestrou para que os Yuurei enviassem esse homem atrás do Naruto; e fez tudo isso apenas para testar a possibilidade de capturar o inimigo? Isso foi imprudente.

E, para a surpresa de todos, Shikamaru fez que sim.

— Eu confesso que não poderia prever o resultado desta luta — confessou Shikamaru —, mas se eu confio em Naruto para derrotar Mira Uzumaki, então eu deveria acreditar que ele venceria esse cara também. Além disso, Naruto precisava sentir, por ele próprio, que era capaz; e que poderia derrotar um Yuurei sem precisar das Bijuus. Então, não foi apenas por minhas pretensões que planejei tudo isso, Gaara — Shikamaru olhou nos olhos do Kazekage. — Fiz isso pelo meu amigo também.

— Então, isso significa que Naruto já derrotou esse Taka Kazekiri! — exclamou Shibuki. — Mas o que houve com o inimigo?

— Bom — Shikamaru coçou a cabeça —, ele está...

— Morto — adiantou-se Konan. — Este homem foi derrotado pelo Naruto na fronteira entre os países da Grama e da Chuva. Eu mesma vi os sinais da batalha, mas quando cheguei ao local, Naruto já havia vencido.

— Então, você chegou a encontrá-lo pessoalmente, Konan-san! — observou Mujou, o líder do País da Grama. — Conseguiu extrair alguma informação que nos possa ser útil?

 Konan assentiu; e após pedir licença para interromper Shikamaru novamente, este deu espaço para que a governante da Chuva falasse.

— Interroguei este homem na Vila da Chuva e todas as informações que descobrimos já foram passadas à Inteligência da Folha por meio do Naruto — disse Konan. — Exceto esta, que preferi trazer pessoalmente para compartilhar durante esta reunião.

Com um selo na mão direita, Konan fez com que parte de seu corpo se desfizesse em folhas de papel, as quais se aglutinaram umas nas outras a poucos metros acima da mesa redonda.

O que Konan lhes mostrava era um mapa-múndi.

— O que são estas marcações? — perguntou Tsunade, notando dez lugares destacados com pontos pretos no mapa: uma no País do Fogo, outra na Vila Nadeshiko, dentro País da Água; a terceira, no País da Terra; a quarta, no País do Relâmpago; a quinta, no País do Vento; a sexta, no País do Silêncio; a sétima, no País do Céu; a oitava, no País dos Vales; a nona, no País das Chaves; e a décima, no País dos Demônios.

Então, Tsunade compreendeu.

— Estes são os locais em que os Yuurei instalaram esconderijos — respondeu Konan, reorganizando os papéis a fim de ampliar a imagem de cada um dos lugares marcados. — Eu tenho os endereços, as senhas de acesso e também sei como desarmar as armadilhas ao redor de cada uma das entradas. Taka Kazekiri me entregou tudo antes de morrer.

— Inacreditável... — Kira Ay trincou os dentes. — Os desgraçados têm uma instalação em cada uma das Cinco Grandes Nações. E vejam! O esconderijo do País do Relâmpago fica a poucos quilômetros do Palácio do Senhor Feudal!

— Eles também estão no meu país... — Hiroshi olhava tenso para a marcação no País dos Vales.

— Segundo Taka Kazekiri, o principal esconderijo é o que está situado no País do Silêncio — acrescentou Konan. — Mas os Yuurei costumam revezar sua estadia entre os demais, com exceção daquele no País dos Demônios, no qual eles mantêm presença constante.

— Sim — resmungou Tsunade —, e é algo tão escrachado que chega a ser uma vergonha para todos nós. O que os Yuurei têm no País dos Demônios nem pode ser chamado de esconderijo.

Com outro gesto, Konan desfez o mapa e recompôs o próprio corpo.

— Taka Kazekiri ainda mencionou a existência de um último lugar — disse, ajeitando-se sobre a cadeira —, mas não soube dizer onde era nem como encontrá-lo. De acordo com o que extraí dele, a localização é conhecida somente por Iori Kuroshini. Nem mesmo Mira tem acesso.

Shikamaru e Tsunade se entreolharam perplexos.

— Por que não nos mostrou essas informações antes? — perguntou Tsunade a Konan. — Nós quase a impedimos de se juntar a nós.

— Eu iria compartilhar tudo isso com a Folha de qualquer jeito — respondeu a líder da Chuva, encolhendo os ombros. — Mas não antes da votação. Eu não queria que essas informações os influenciassem a decidir a favor do meu governo. Preferi arriscar para que vocês chegassem à conclusão de que eu sou, realmente, uma aliada.

Hiroshi Shirokuzo balançou a cabeça em aprovação.

— Agora vejo que meu voto foi equivocado — disse o Senhor Feudal do País dos Vales. — Senhorita Konan, você já se provou uma aliada valiosíssima. Digna da confiança deste homem.

— E agora que sabemos onde o inimigo se esconde — complementou Gaara —, podemos montar uma estratégia de ataque — olhou diretamente para Shikamaru — e tomar a iniciativa nesta guerra.

— Guerra? É disso que se trata? — a rainha Koyuki Kazahana olhou ao redor da mesa, perturbada. — O País da Primavera é pequeno, sequer possui uma vila ninja. Não podemos declarar guerra!

— O mesmo vale para o meu país — disse o Senhor Feudal do País da Geada, Shimo Kunizaro —, e não quero que os Yuurei também nos destruam como fizeram ao País do Ferro. Se as forças de Mifune não puderam resistir, o que seria de nós, que não temos, nem de longe, aquele poder bélico?

Sentada próxima ao Senhor Feudal, Kurotsuchi abafou uma risada de puro escárnio.

— Ainda não entenderam, não é? — disse a Tsuchikage para Shimo, Koyuki e para qualquer outro que estivesse pensando da mesma forma. — Não existe neutralidade contra esses caras. Ou estão conosco, ou então estão a favor dos Yuurei.

— Não seja ridícula, garota! — rebateu Shimo. — Este é um argumento tolo para nos arrastar para mais uma maldita guerra! Há dezenas de países que simplesmente viraram as costas para o convite da Hokage. O que dirá? Que todos eles estão se aliando aos Yuurei? Tola emocionada! Talvez Oonoki já estivesse senil e não soube escolher adequadamente a nova Tsuchikage antes de morrer.

O rosto de Kurotsuchi endureceu no mesmo ato.

— O que você disse?

Por mais que tivesse herdado o ímpeto do avô, Kurotsuchi ainda era conhecida por ser uma mulher tranquila e pacata; e embora fosse bem jovem, tinha a sabedoria necessária para controlar os próprios impulsos. Mas não naquele momento. A Quarta Tsuchikage, simplesmente, deixou-se conduzir pela raiva súbita e, num salto, surgiu bem à frente de Shimo, com o punho erguido para lhe esmurrar o rosto.

A possibilidade de um Kage atacar um Senhor Feudal já era desastrosa por si só. Vários se levantaram para intervir — inclusive a guarda-pessoal de Shimo Kunizaro, mas foi Choujurou, da Vila Oculta da Névoa, que conseguiu se antecipar a todos. Inesperadamente, o espadachim da Névoa Oculta se interpôs entre a Tsuchikage e o Senhor Feudal; e conseguiu parar Kurotsuchi, segurando-a pelo pulso enquanto usava as costas da espada Hiramekarei para bloquear os dois guarda-costas de Shimo Kunizaro ao mesmo tempo.

— Choujurou! — exclamou Mei. — Quando foi que você...

Mas seu guarda-costas não a escutava. Choujurou tinha o olhar firme dirigido ao rosto da Tsuchikage naquele momento.

— Não faça isso, Kurotsuchi-san — disse ele com ar compreensivo. — Não vale a pena.

Kurotsuchi não respondeu a princípio. Tão somente desviou os olhos do rosto de Choujurou para o Senhor Feudal atrás dele e, novamente, para Choujurou. Ele ainda a prendia pelo pulso. O toque, embora fosse firme o suficiente para lhe imobilizar o braço, possuía, ao mesmo tempo, uma dose de gentileza.

A Tsuchikage olhou para o rosto do espadachim e suspirou, derrotada.

— Já pode me soltar, Boca-de-tubarão — disse Kurotsuchi, indicando o próprio pulso. — Eu estou bem.

Tão logo Choujurou a soltou, Kurotsuchi se virou para Tsunade, acenou com a cabeça, desculpando-se pelo ocorrido, e retornou ao assento. Propositalmente, porém, ela ignorou o Senhor Feudal do País da Geada, que até esbravejou algumas palavras contra a Tsuchikage, mas foi repreendido pelo Senhor Feudal do País dos Vales.

Somente quando os ânimos se acalmaram e todos já estavam em seus devidos lugares, Tsunade, a anfitriã, reconduziu a reunião de volta aos eixos.

— Nós entendemos a preocupação com seus países, Koyuki-sama e Shimo-sama — disse a Hokage de forma apaziguadora —, mas a Tsuchikage tem razão. Depois que Mira Uzumaki cair, é quase impossível que Iori mantenha o pacto de não agressão que a parceira dele formulou conosco; e todos os países do mundo, especialmente os que participam deste Encontro, serão alvos dos Yuurei.

— Sim, mas... — Shimo perguntou a Shikamaru Nara — não havia outra forma de obter as informações que precisamos sem envolver essa Mira Uzumaki? — e, imediatamente, virou-se para Konan. — Isso foi tudo o que conseguiu extrair do seu prisioneiro?

— Existem informações que não são passadas aos subordinados, Senhor Feudal, justamente porque podem cair em mãos erradas — respondeu Konan secamente. — É uma estratégia básica.

— Ela tem razão. Além disso, já provei a importância de capturarmos Mira Uzumaki — reafirmou Shikamaru. — Embora seja a vice-líder, Mira está no centro da organização. De acordo com nossa fonte — olhou de esguelha para Konan —, foi Mira Uzumaki a maior responsável por reorganizar e recrutar quase todos os membros principais dos Yuurei. Sem mencionar a influência dela nas decisões do próprio líder.

Shikamaru retornou à tela anterior.

— Mira é uma peça insubstituível para Iori Kuroshini e seus Yuurei — prosseguiu na explicação — e, sendo este o caso, uma vez que essa peça é separada do resto das engrenagens — usou a caneta touch screen para riscar o rosto da Yuurei — toda a máquina deixa de funcionar como deveria. Por mais que eles tentem preencher o vazio, improvisando uma peça substituta, a performance nunca mais será a mesma.

Em seguida, Shikamaru avançou os slides e mostrou a todos os presentes o rosto de mais um Yuurei identificado pela Vila da Folha. O retrato era de uma mulher. O cabelo castanho-escuro era preso num coque, com duas mechas pendendo pelas laterais do rosto. Aquela Yuurei tinha olhos profundos e sedutores; e um sorriso cruel despontava de seus lábios vermelhos e carnudos.

 

 

 

Ao reconhecer o rosto que estava projetado no telão, Temari sentiu como se o coração falhasse.

— Ei, Temari — Kankuro se virou para a irmã, duvidoso. — Aquela ali não parece a...?

Porém, parou de falar quando notou o olhar perturbado de Temari, ainda fixo na tela. Kankuro havia conhecido a professora particular que Rasa, o Quarto Kazekage e pai dos três Irmãos da Areia, contratou para desenvolver as habilidades da filha primogênita antes mesmo de colocá-la na Academia da Areia.

Não havia qualquer dúvida. Aquela Yuurei, de uma forma inexplicável, era a professora de Temari. Ela havia sido uma Jounin notória da Vila Oculta da Areia; e apenas Pakura do Estilo Calor podia disputar com ela o título de Kunoichi mais poderosa da Areia — e, possivelmente, de todo o País do Vento.

“Mas como?”, perguntou-se Temari, “ela morreu há muito tempo!”

 

 

 

— O nome desta mulher é Suki — no primeiro andar, Shikamaru fazia a apresentação —, e sabemos que ela foi a vice-líder dos Yuurei antes de Mira Uzumaki se juntar à organização. Hoje, Suki, também conhecida como Assassina de Kages, é a Quarta Oficial desde que os Yuurei reestruturam seu rol de membros; e temos fortes indícios de que ela não tem uma boa relação com Mira Uzumaki.

Gaara estreitou os olhos para a projeção.

— Tem certeza de que esta mulher é uma Yuurei? — perguntou o Kazekage. — Eu a conheci quando criança. Suki era uma Jounin de elite que morreu em missão. A Vila da Areia chegou a recuperar o corpo dela. Como ela pode ter sido a primeira vice-líder dos Yuurei? Cronologicamente, as informações não se encaixam.

Shikamaru confirmou com um aceno de cabeça.

— Ainda não consegui juntar todas as informações e desvendar a ordem dos fatos — reconheceu o ninja da Folha —, mas podemos confirmar que esta mulher esteve aqui, na Folha, pelo menos duas vezes. A primeira, com Taka Kazekiri, e veio aqui nos entregar a cabeça da princesa Shion como um presente de aniversário para o Naruto...

— Que horror! — Koyuki murmurou, baixinho.

—... e a segunda — continuou Shikamaru —, durante o ataque dos Yuurei. Ino Yamanaka nos ajudou a identificar os inimigos, captando as lembranças de cada sobrevivente que esteve face a face com um Yuurei. Depois, Ino compartilhou essas memórias com Sai, que retratou, nos mais ínfimos detalhes, os rostos de cada um dos invasores — Shikamaru indicou o retrato de Suki.

Respeitoso, Gaara assentiu em silêncio.

— Parte do meu plano envolvia explorar a rivalidade entre Suki e Mira — explicou Shikamaru —, e foi o que fizemos. Já que é muito difícil destruir os Yuurei via confronto direto, usei o pouco de informações que tínhamos para criar uma forma de fazê-los conflitarem entre si, deteriorando a organização de dentro para fora. E, assim como antes — retornou ao primeiro slide —, o interesse de Mira por Naruto Uzumaki foi o gatilho que eu precisava. Desde então, as divergências internas entre Mira Uzumaki, Suki e, também, a eliminação de Taka Kazekiri são consequências do meu plano para desgastar os Yuurei.

Mei ergueu a mão para perguntar.

— Deixe-me ver se entendi direito — disse a Mizukage —, você esteve manipulando os Yuurei para se autodestruírem, ao mesmo tempo que orquestrou o envio de Taka Kazekiri até Naruto, o isolamento e a captura de Mira Uzumaki e, ainda por cima, planeja usar tudo isso para descobrir a fraqueza do Meiton de Iori Kuroshini? Mas os Yuurei nunca perceberam seus movimentos?

Shikamaru fez que não.

— A busca de Mira por Naruto serviu, também, para que eu pudesse encobrir meus passos e trabalhar de maneira sutil, como se os Yuurei estivessem agindo por conta própria — deu de ombros. — Bom, em certo sentido, eles estão fazendo tudo sozinhos. O que fiz foi apenas organizar as peças. Ao se dedicar à luta contra Naruto, Mira Uzumaki deu o peteleco na última peça que posicionei. O resto delas cairá sem que façamos nada, uma após a outra, pelo Efeito Dominó.

— Então, Shikamaru-kun, isso significa que venceremos no final? — perguntou Tsukino, esperançosa.

— Infelizmente, Tsukino-sama, o meu plano ainda depende de algumas variáveis — respondeu Shikamaru —, e a principal delas...

—... é o resultado da Batalha dos Dois Uzumaki — deduziu Gaara acertadamente. — Seja lá o que acontecer no País do Redemoinho, determinará o destino do mundo que conhecemos. Se Naruto vencer, então desferiremos um golpe praticamente fatal nos Yuurei; mas se Mira vencer, então eles conseguirão realizar o Banbutsu Souzou no Jutsu e reescreverão a história.

Shikamaru concordou.

— É uma aposta — disse, trocando olhares com Tsunade. — O vencedor leva tudo.

Kurotsuchi soltou um pesado suspiro e escondeu o rosto entre as mãos.

— Até que esse seu plano seja concluído, ainda estaremos em desvantagem contra os Yuurei — murmurou a Tsuchikage. — E sabe-se lá quantos ainda vão morrer.

— Não é uma estratégia de curto prazo, Tsuchikage-sama — respondeu Shikamaru. — Mas foi o melhor que consegui arquitetar com o pouco de informação que temos. Por hora, a recomendação ainda é a mesma: precisamos unir nossas forças, se quisermos ter alguma chance de vitória imediata.

Ditas essas palavras, Shikamaru agradeceu a todos e devolveu a palavra à Tsunade para prosseguimento da reunião.


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Notas finais do capítulo

Eu confesso a vocês, explorar o contexto político do mundo de Naruto, e a vida de cada um dos Chefes de Estado, para elaborar este capítulo foi muito difícil! Caraca!

Mas o mais complicado mesmo foi bolar a parte do Shikamaru (embora já tivesse o esboço dela na minha cabeça). Digam-me: o que acharam da participação dele? Eu estava ansioso para revelar isso a vocês (principalmente, aos mais ansiosos pela queda dos Yuurei, cof cof) e espero, com isso, ter esclarecido algumas coisas que já aconteceram, bem como espero ter feito jus ao brilhante estrategista que Shikamaru Nara é. Sei que muitos o tem como personagem preferido.

Sim, você mesmo(a) que ama o Shikamaru e nunca deixou um comentário na fic. Diz aí, ficou convencido? Estraguei o personagem? Conte-me.

No próximo capítulo, teremos a conclusão do Encontro e outras coisas além. Aguardem. E nada de anteciparmos o título.

E por quê? Bom, basicamente, porque ainda não pensei em um. xD


Quem puder deixar um comentário, ou mesmo recomendar essa história (faz tempo que não ganho uma, chegamos em Julho e eu nunca pedi nada, hehe), eu agradeceria bastante! Opiniões, elogios, críticas, sugestões, observações... fiquem à vontade!

E como sempre, pessoal, muito obrigado por acompanharem até aqui!

Até o próximo capítulo o/