O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 109
Noite-sem-fim


Notas iniciais do capítulo

Surpresa!

Mais cedo do que o combinado, não? Segue a segunda parte do capítulo passado, que, embora não tenha ação (leitores de shonen, não fujam!), possui detalhes importantes. Portanto, leiam com calma.

Cumpre ressaltar que, em virtude de ocorridos recentes, comentários futebolísticos, principalmente em relação à final da Supercopa, são terminantemente proibidos (sqn). Favor, não insista.

Boa leitura para todos! Nos vemos nas notas finais o/



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Vila Oculta da Folha.

 

Era manhã e Tsunade terminava de atar o envelope à perna do último falcão-mensageiro. O animal acompanhava, pacientemente, os movimentos da Quinta Hokage; e, quando ela terminou, o animal deu um breve grasnado.

— Aves mensageiras? — Yuugao perguntou, relutante. — Não havia outro método?

Shikamaru Nara, o outro que estava com a Hokage naquele momento, fez que não.

— Para o que a Hokage-sama pretende fazer, um convite à moda antiga é mais efetivo — explicou Shikamaru.

Yuugao estreitou os olhos.

— É perigoso e você sabe.

Shikamaru encolheu os ombros.

— Sim. — Virou-se para a capitã ANBU. — Mas como eu disse, Yuugao-san, é o método mais efetivo.

Yuugao Uzuki estava prestes a treplicar o argumento vago de Shikamaru quando a porta da sala se abriu com brusquidão. A urgência no rosto de Shizune rapidamente foi interpretada pela Hokage como má notícia.

— Tsunade-sama, recebemos uma mensagem codificada da Vila da Pedra! — relatou a assistente. — O Terceiro Tsuchikage Oonoki, nesta madrugada, morreu em combate contra os Yuurei!

Por alguns segundos, que mais pareceram horas, somente se ouvia as aves grasnando nos poleiros. Tsunade curvou a cabeça, pensativa. Estava certa de que os Yuurei atacariam os Kages outra vez, porém tinha sido mais rápido do que ela previra. E, dentre todos, justamente Oonoki, tido como o mais forte dos Cinco. Pensar que não o veria mais era, de certa forma, desolador. Haviam lutado lado a lado na Quarta Grande Guerra Ninja contra Madara Uchiha.

Por dentro, Tsunade queimava de raiva.

— E o inimigo? — perguntou à assistente.

Shizune balançou com a cabeça.

— Não há muitos detalhes, mas, aparentemente, foi o mesmo Yuurei que o Naruto-kun e a Hinata-san encontraram no País dos Demônios.

Tsunade imediatamente direcionou o olhar para Shikamaru. O líder dos Nara também parecia intrigado. Se o Tsuchikage havia combatido Taka Kazekiri...

— O inimigo escapou? — perguntou Shikamaru.

— Provavelmente — lamentou Shizune. — Vestígios do corpo do Tsuchikage-sama foram encontrados no litoral do Mar Dourado. Em contrapartida, nenhum sinal do corpo do atacante. Os ninjas da Pedra ainda estão vasculhando.

Tsunade cerrou as mãos.

— Shikamaru, termine aqui e faça o que tem que fazer. Preciso enviar minhas condolências à nova Tsuchikage.

E, sem esperar uma resposta, Tsunade atravessou a sala e saiu.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

À tarde, os Onze da Folha se reuniram no Distrito Nara, a pedido de Shikamaru. Estavam todos na sala de estar da casa que, embora não fosse tão luxuosa quanto à da Mansão Hyuuga, era espaçosa e confortável o bastante para comportar todos assentados.

Após Shikamaru participar a todos sobre o ocorrido na Vila Oculta da Pedra, um ar pesado se instalou no ambiente. Era de se esperar, dadas as circunstâncias.

— Isso é ruim! — Kiba exclamou. — Merda, isso é muito ruim.

— A Tsunade-sama conversou com a neta do Tsuchikage. Pelo que ela contou, a técnica que o Tsuchikage pretendia usar era inescapável. Ao menos, se usada corretamente. E, de acordo com o que a Tsunade-sama contou, Kurotsuchi foi enfática ao dizer que o avô sabia o que estava fazendo — explicou Shikamaru.

Chouji fungou, receoso.

— Espera, Shikamaru. Está dizendo que...

— Isso — antecipou-se Shikamaru. — Aquele Yuurei não teria como escapar do Tsuchikage. Se ele saiu com vida, foi por interferência externa. E, considerando a natureza do jutsu usado pelo Tsuchikage para prender o inimigo, eu só consigo pensar em uma pessoa capaz de romper uma técnica de barreira complicada como aquela.

A expressão incômoda no rosto de Sasuke falava por si só.

— Mira Uzumaki — pontuou Sasuke, acertadamente. Shikamaru assentiu.

— Aparentemente, Mira está enviando os Yuurei Juniores contra os Kages a fim de avaliá-los — continuou Shikamaru. — Primeiro, Hana contra a Mizukage. Agora, Taka contra o Tsuchikage. Ainda resta um. Kan, o adorador de Jashin.

Sakura suspirou fundo ao se lembrar do último encontro que tivera com Kan. Teria morrido, não fosse seu Byakugou no Jutsu e, depois, Lee a salvá-la. Desde aquele dia, ela aguardava ansiosamente por uma revanche.

— Onde acha que ele vai atacar agora? — perguntou Sakura.

Shikamaru deu de ombros.

— É difícil dizer. E, sendo honesto, não vejo como o estilo de luta de Kan se encaixa contra a velocidade do Raikage ou contra a defesa absoluta do Gaara. Talvez contra a Tsunade-sama, que não é tão rápida e é uma combatente de curta distância. Mesmo assim, graças à sua luta contra ele, Sakura, o Byakugou no Jutsu mostrou ser eficaz contra a maldição jashiniana. Kan seria azarão contra qualquer um dos três Kages restantes, embora suas melhores chances de sucesso sejam mesmo contra a Tsunade-sama — concluiu Shikamaru. — Vale lembrar que ela usa parte do chakra do selo para manter a aparência jovem. Você, Sakura, não precisa dividir seu poder.

Sai endireitou-se sobre o sofá.

— A Yuugao-taichou está sempre próxima à Hokage-sama, e a Shizune-san também. Eu lutei contra Kan quando fomos atrás do Bee-sama e posso afirmar que, no Kenjutsu (Técnica da Espada), a Yuugao-taichou pode ser um problema para aquele Yuurei. Os jutsu dela são de longo alcance — disse o ANBU.

— O Sai está certo — concordou Ino. — Fora que é improvável um único Yuurei vir nos atacar de novo. Estamos em alerta máximo desde a invasão. Além do mais, Sasuke está na vila.

— Isso não quer dizer muita coisa — Kiba resmungou. — Se a vice-líder estiver interferindo nas lutas, pouco importa o Sasuke estar aqui ou não. Nada impede que eles venham.

Sentada ao lado dele, Sakura Haruno escutou a respiração do namorado ficar mais pesada. Conhecia bem aquela reação, pois a vira outras vezes. Mesmo com a expressão indiferente, por trás daqueles olhos escuros, Sakura podia ver claramente toda a expectativa borbulhando dentro dele. Sasuke Uchiha queria encontrar os Yuurei tão breve quanto fosse possível.

— Kiba tem razão, Shikamaru. — Tenten encolheu os ombros. — E é provável que os Yuurei saibam que o Sasuke não está em condições de...

— Eu estou — Sasuke falou com rispidez para Tenten. — Se quer falar de alguém sem condições de lutar, fale por você.

Rock Lee pôs-se em pé de pronto e, com os punhos cerrados, dirigiu um olhar duro para o Uchiha.

— Devagar, Sasuke-kun. Não fale com ela desse jeito.

Ainda sentado, Sasuke não desviou os olhos de Lee, que o encarava de volta com severidade.

— Lee, está tudo bem. Isso não foi nada. — Ela tocou o braço do namorado. — Senta, vai.

Sakura pôs a mão sobre a de Sasuke.

— Sasuke-kun, estamos todos preocupados. Se acalme.

Sem piscarem, Lee e Sasuke ainda olhavam firmes um para o outro. Por fim, Sasuke desviou o rosto, assentindo ligeiramente com a cabeça. O gesto era um pedido de desculpas quase imperceptível.

Quando Lee retomou seu assento, Tenten reclinou a cabeça sobre o ombro dele. Mesmo que não admitisse, uma parte dentro dela adorou ter sido defendida diante de todos. Sentia-se orgulhosa de ter Lee ao seu lado.

— Você falava de outro possível ataque, Shikamaru-kun. — Hinata falou baixinho, retomando a conversa. — Mas também acho que o Kiba-kun tem razão. E se a Mira estiver mesmo acompanhando os ataques, então talvez seja melhor trazer o Naruto-kun de volta. As chances de conseguirmos capturá-la são maiores se estivermos juntos dele.

Shikamaru negou.

— Ainda que Mira Uzumaki tenha ido à Vila da Névoa, não há comprovação de que ela tenha realmente estado na Vila da Pedra também. Lembrando que é só um palpite que tenha sido ela a resgatar o atacante do Tsuchikage da morte. De toda forma, Mira fica nas sombras e não parece se envolver nas batalhas dos membros Juniores até o combate estar, finalmente, decidido.

Fez uma pausa antes de prosseguir.

— Logo, se as lutas em si são indiferentes para ela, temo que Mira não se importe em perder subordinados. O que importa mesmo é descobrir se eles prontos a serem promovidos ou não — analisou Shikamaru. — Por isso, receio que ela não se exporá ao risco de ser pega. Afinal, Mira Uzumaki ainda quer lutar com o Naruto.

— Por que isso agora, afinal? — perguntou Ino, intrigada. — Por que eles estão fazendo essas avaliações? Isso é ridículo!

Os olhos de Shikamaru encontraram os de Sasuke Uchiha. Os dois chegaram a mesma conclusão.

— Porque, depois que os atuais Juniores forem promovidos ao grau Sênior, os Yuurei pretendem recrutar novos membros — respondeu Sasuke com frieza.

Imediatamente, o Uchiha se virou para Sai.

— Antes de se tornar ANBU, você caçava Nukenins. O que pode dizer?

Sai tinha o semblante incerto, ainda avaliando alguns pontos.

— Eu eliminei todos os ninjas foragidos de Rank A e S elencados no Bingo Book. Depois da última atualização, os únicos Nukenins de Rank S catalogados são os próprios Yuurei que já identificamos: Mira Uzumaki, Kioto Hyuuga, Hana Sakegari, Taka Kazekiri e Kan. Quanto ao líder, Iori Kuroshini, e a outra integrante dos Yuurei, a mulher chamada Suki, não estão no Bingo Book porque há pouca informação a respeito deles — revelou Sai. — Embora, com relação à Suki, haja um cruzamento de informações com uma Kunoichi da Vila da Areia de mesmo nome, que foi dada como morta anos atrás.

E virou o rosto para Shikamaru Nara, que assentiu incomodado.

— É, já ouvi falar.

— De qualquer forma — Sai continuou —, eu não vejo potenciais Yuurei nos nomes ainda ativos no Bingo Book. Não creio que eles irão recrutar Nukenins de Rank B ou abaixo disso.

Sasuke concordou, porém ainda havia muito a ser considerado.

— As outras vilas têm suas próprias listas de criminosos, até onde eu sei — observou Sasuke. — E, se bem me lembro, ainda há alguns nomes problemáticos dentro da Prisão do Fogo.

Sakura cruzou os braços, pensativa.

— Para os Yuurei, ter criminosos de Rank S aprisionados por aí e ressentidos com as Cinco Grandes Nações é um prato cheio.

— Então... — Ino vacilou, temendo as repercussões do que aquilo poderia acarretar. — O que temos que fazer é...

O olhar frio de Sasuke Uchiha encontrou o rosto de Shikamaru Nara, que suspirou cansado. Novamente, haviam pensado a mesma coisa.

— Isso mesmo. — disse Shikamaru. — Todos os criminosos de Rank A e S, em todas as prisões do mundo, precisam ser executados. Do contrário, poderemos ver alguns novos Yuurei muito em breve, o que seria bem problemático.

 

 

 

Aquele dia havia passado rápido demais. Já era noite quando a reunião dos Onze terminara. Como vinha sendo de praxe, Shikamaru e os outros membros do Conselho, junto com Sasuke Uchiha, ainda encontrariam a Hokage para discutirem estratégias relacionadas à ameaça dos Yuurei. Lee levaria Tenten até em casa. Quanto aos demais amigos, todos tinham responsabilidades em seus respectivos clãs.

Com Hinata Hyuuga não era muito diferente. Embora houvesse concluído as tarefas do dia antes de ir até a casa de Shikamaru, não ficaria surpresa se algo novo tivesse surgido em sua ausência. E, conquanto desejasse chegar à casa logo, era obrigada a andar cautelosa. Uma coisa era treinar em um ambiente fechado; outra bem diferente era caminhar pelas movimentadas ruas da Vila da Folha.

Estava feliz por ter a melhor amiga a acompanhando no trajeto. Enquanto caminhavam, Sakura compartilhava os planos de, em alguns meses, deixar o emprego no Hospital da Folha a fim de inaugurar, em sociedade com Ino Yamanaka, a própria clínica médica.

— Isso é ótimo, Sakura-san! Tenho certeza de que vai dar certo. — Hinata sorriu gentilmente.

— Obrigada, Hinata — Sakura agradeceu. — Ino e eu temos conversado bastante a respeito disso e penso que vai ser melhor para nós duas, principalmente para ela. Você sabe, além de médica, Ino trabalha na Unidade Sensorial, na Divisão de Inteligência e, agora faz parte do Conselho.

— Fora a liderança do clã Yamanaka e o serviço na floricultura — completou Hinata. — Eu não sei como a Ino-san consegue dar conta de tudo isso e continuar tão disposta.

Sakura deu com os ombros.

— Não sei como será daqui a alguns anos para ela e o Sai — comentou. — Ino também sonha em um dia ser mãe. Logo ela. Quem diria, não?

Hinata esboçou um sorriso discreto ao imaginar Ino Yamanaka, a mulher mais exuberante que conhecia na Vila da Folha, constituindo família ao lado de um homem tão reservado como Sai. Apesar das personalidades distintas, os dois formavam um belíssimo casal — e o que estava junto há mais tempo.

— A Ino-san vai ser uma ótima esposa e uma excelente mãe.

Sakura olhou para Hinata de esguelha.

— E você, Hinata? — perguntou Sakura, com um sorriso provocativo. — Já pensa nessas coisas?

Mas Hinata não reagiu como Sakura estava esperando. A Hyuuga reclinou ligeiramente a cabeça e suspirou timidamente. Em outros tempos, Hinata Hyuuga coraria e se atrapalharia no falar. No entanto, a mulher que caminhava ao seu lado era mais serena e, Sakura observou, mais triste também.

— Não posso pensar nessas coisas agora, Sakura-san — disse Hinata, por fim. — Não tenho esse direito.

Sakura revirou os olhos.

— Ora, vamos! — Elevou o tom de voz sem, no entanto, soar mal-educada. — O Naruto não desistiu de você. E, até onde eu sei, faz tempo que aquele idiota é o dono do seu coração. Não me diga que seus sentimentos mudaram?

Hinata fez que não.

— Não é nada disso. É só que ainda penso no meu pai, na Hanabi... e no que eu tenho que fazer — respondeu Hinata.

Sakura refletiu sobre aquelas palavras. Sabia exatamente o que elas significavam. Como esperado, Hinata estava pondo o dever à frente da própria felicidade, o que, por si só era admirável. Hinata Hyuuga sempre fora uma pessoa altruísta; sempre pensando nos outros antes de si mesma. Porém, a preocupação de Sakura era em vê-la se autodestruindo enquanto Hinata carregava o fardo de liderar o clã Hyuuga — e isso incluía lidar com certo Yuurei.

Sakura parou de caminhar e, pondo-se à frente de Hinata, pôs as mãos sobre os ombros da amiga.

— Você é forte, Hinata — encorajou-a. — E quando encontrar aquele homem de novo, com certeza, estará enxergando de novo e irá vencê-lo. Você é Hinata Hyuuga, a Princesa do Byakugan! Aquele tal de Kioto não vai ter a menor chance.

Hinata corou de vergonha.

— Obrigada por todo apoio, Sakura-san. De verdade.

Sakura deu à amiga seu melhor sorriso.

— Temos que apoiar uma à outra, não é? Afinal de contas, além de sua amiga, eu divido o posto de Kunoichi mais forte da Folha com você — disse. — Lembra de quando nos tornamos Jounin?

Hinata assentiu.

— Nossa luta terminou empatada. Mas, com certeza, se tivéssemos continuado, você venceria, Sakura-san. Você é uma Kunoichi incrível!

— E você também é — rebateu Sakura. — Mas acho que subestima demais sua própria força, Hinata. Eu lutei a sério com você naquele dia. Se nós duas empatamos, é porque você é realmente forte.

— A Tsunade-sama comentou uma vez com o meu pai sobre nós duas lutando lado a lado — lembrou-se Hinata.

Os olhos de Sakura Haruno brilharam de satisfação.

— Você e eu, as duas mulheres mais fortes da Vila da Folha, lutando juntas... — Sakura aprovou a ideia. — Justo! Quem precisa daqueles dois, afinal?

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Ele acordou com a visão embaçada.

Ainda se sentindo meio zonzo e com o corpo dolorido, custou até finalmente se sentar sobre a cama. Sua mente estava uma bagunça. Não se lembrava de muita coisa depois da incursão à Vila Oculta da Pedra. Alguns flashes do confronto com o Tsuchikage, pouco a pouco, vinham à sua cabeça para, logo em seguida, tudo escurecer outra vez. Não fazia ideia de como sobrevivera ao ataque suicida do velho Oonoki, muito menos de como havia voltado aos próprios aposentos são e salvo.

Taka Kazekiri tinha certeza que teria morrido naquela luta.

Olhou para o lado direito e uma mistura de desgosto, vergonha e raiva o encheu de súbito. Era tão humilhante estar daquele jeito. Primeiro o rosto, agora o braço.

— Velho maldito — murmurou.

Inesperadamente, os sentidos de Taka o alarmaram e ele se virou rapidamente para o sofá junto à porta. Não estava sozinho.

— Vejo que finalmente acordou.

Ela estava tão bela como ele costumava se lembrar. Com as pernas cruzadas e as mãos juntas sobre a coxa, a parceira o analisava meticulosamente. “Há quanto tempo ela está aqui?”, perguntou-se Taka.

Tinha uma expressão nada amigável. Os olhos castanhos e severos pouco piscavam. Os lábios dela, vermelhos e grossos, comprimiam-se em uma feição insatisfeita. Ao lado de onde a Yuurei se sentava, o habitual leque de guerra e a arma do Rikudou Sennin, Bashousen, repousavam no sofá. Não que ela precisasse de qualquer um dos artefatos; a presença da Assassina de Kages era intimidadora por si só.

— Suki-senpai... — Taka falou mais baixo do que gostaria, e amaldiçoou-se por parecer tão covarde.

A Quarta Oficial dos Yuurei balançou suavemente a cabeça.

— Não me chame mais de “senpai”, Taka — disse ela. — Afinal, não somos mais parceiros.

“O quê?!”, Taka se espantou ao ouvir aquilo. Suki, indiferente à surpresa escancarada no rosto do companheiro, limitou-se a descruzar as pernas e, devagar, pôs-se de pé.

— É um Yuurei Sênior agora. Vim parabenizá-lo pela sua... vitória. Tenho certeza de que o Terceiro Tsuchikage foi um oponente duríssimo para alguém como você.

Ele não pôde deixar de perceber certo ar de sarcasmo na voz da antiga parceira. Lembrou-se da perda do braço e fechou o semblante, envergonhado. Era horrível apresentar fraqueza, principalmente diante de Suki.

— Como eu consegui escapar? — perguntou Taka, desgostoso. — Eu não me lembro.

— Escapar? — Suki desdenhou. — Você não conseguiu. Foi ela quem te tirou de lá.

Aquelas palavras fizeram-no se sentir ainda menor, um verme repugnante aos olhos da Quarta Oficial. Havia sido salvo, não escapara pelos próprios méritos. E, por ironia do destino ou por uma trágica coincidência, sua salvadora chama-se Mira Uzumaki, exatamente a rival de Suki dentro da organização, e a pessoa que a Assassina de Kages mais detestava.

— Não mereço ser promovido. Pelo menos, não desse jeito. Continuarei a servi-la, Suki-senpai, e vou lhe dar orgulho. — Taka curvou a cabeça com solenidade.

Ele sentiu a aproximação dela e engoliu em seco. Suki parou bem a frente dele, olhando-o de cima para baixo em silêncio. Ela tinha o mesmo olhar implacável de antes, por isso Taka se surpreendeu quando ela o pegou pela ponta do queixo e o fez encará-la.

Estavam mais próximos do que nunca estiveram. Podia sentir o cheiro do cabelo lavado da mulher à sua frente, o calor que emanava de seu corpo bem desenhado. A avidez queimava no peito de Taka Kazekiri, fazendo seu coração palpitar acelerado. Queria agarrá-la e possuí-la ali mesmo.

Mas, diante daqueles olhos castanhos, via refletida a própria insignificância.

— Você não é nem um pouco parecido com ele. — A voz de Suki era áspera e cruel. — Juha foi muito melhor do que você.

Taka trincou os dentes, o rosto ficando vermelho. Odiava tudo aquilo, todo o vexame que já havia experimentado. E, se não bastasse, ser tomado como inferior diante de outro homem — justamente o falecido Sexto Oficial Juha Terumi — era insuportável. Taka sempre soube da parceria que Suki tivera com Juha antes de este se tornar, também, um Yuurei Sênior. Ela o havia recrutado.

Agora, que tivessem tido uma relação mais íntima? Imaginá-la nos braços de Juha, e não nos seus, fazia-o queimar por dentro.

Suki lhe deu três tapinhas na cicatriz em seu rosto.

— Faça o que quiser — continuou ela. — Estar ao meu lado ou assumir seu lugar como novo Sexto Oficial, eu não dou a mínima. Mas não ouse falhar de novo. Se envergonhar o nome dos Yuurei novamente, eu mato você.

— Sim... entendido... Suki-senpai. — Ele assentiu de forma mecânica. O pescoço tremia, ao passo que Taka fazia o possível para esconder a raiva e a frustração.

— Ótimo. Agora descanse mais um pouco — ordenou ela. — Terá um longo dia amanhã.

Suki se voltou para o sofá e, cuidadosamente, atou as duas armas às costas. Antes que saísse do quarto, porém, virou o rosto para o subordinado, fitando-o bem nos olhos.

— Outra coisa — pontuou ela. — Nunca mais olhe para mim daquele jeito, como se eu fosse sua vadia ou sua propriedade. Não sou esse tipo de mulher, domesticável e estúpida. Não estou desesperada por você, Taka Kazekiri. Você é meu subordinado, não meu amante. Quando olhar para mim outra vez, lembre-se bem disso e se ponha no seu devido lugar.

Assim, ela o deixou a sós.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

No sonho, Hinata Hyuuga se via flutuando no meio do vazio. Ela olhava ao redor e nada via além da densa escuridão. Não estava cega, pelo menos não ali; apenas não havia qualquer coisa a ser enxergada. Todo o lugar era uma imensidão de trevas.

“(...) Mesmo em denso e longo negror

Sempre a princesa irá enxergar.”

Os versos finais de A canção da Byakugan no Hime, cantados na voz de sua mãe, Himori Hyuuga, ecoavam vívidos em sua memória. Em seu íntimo, algo ali lhe era estranhamente familiar. De um jeito inexplicável, até mesmo para si, Hinata conhecia aquele lugar.

— A Noite-sem-fim — concluiu ela, referindo-se ao conto.

Embora continuasse a ver nada além da escuridão infinita, Hinata decidiu explorar o ambiente. Seus pés deslizavam no ar com graciosidade à medida que avançava pelo espaço. Era como estar voando. Achou graça por conseguir realizar um sonho bobo de criança, mesmo já sendo uma jovem adulta.

De repente, uma sensação de liberdade, como nunca sentira antes — e, portanto, não sabia como descrevê-la — tomou-a. Seu coração parecia acompanhar o ritmo de seus pés no espaço, os quais, por sua vez, harmonizavam-se com a leveza de seus pensamentos, e também com sua respiração.

Todo o seu ser, em perfeita sincronia.

O vazio do vácuo era frio, porém Hinata sentia o calor emanar de seu corpo. Era forte e estável, como se ela mesma fosse uma fonte de energia viva e luminosa em meio à escuridão.

“Luz roxa! A mesma daquele dia. Não... isso é chakra?! Isso... sou eu?”

Então, sem precisar se virar, ela o viu.

A figura brilhante, a mesma que aparecera subitamente dias atrás, estava ali, com ela. Hinata se virou a fim de ficar frente a frente com quem quer que fosse aquela pessoa.

Ela pôde vê-lo melhor. Era um homem alto, de pele branca e enrugada. Tinha vestes brancas como as de um sacerdote, com seis magatama pretos divididos em uma gola alta, e vestia calças escuras. Seus cabelos eram longos e prateados como a lua. Pequenos chifres despontavam de sua testa.

E os olhos dele, Hinata notou, eram idênticos aos dela.

 Hinata estremeceu.

— Você é...

O homem ativou o Jutsu Ocular, e logo Hinata percebeu a diferença. Aquele Byakugan era totalmente outro. Tão branco e puro, ele exalava poder pelo simples fato de despertar. A pressão do chakra fez Hinata tombar para trás.

“Chakra puro?”, Hinata se assustou. “Ele me lançou para trás com chakra puro... e só olhou para mim!”

Estava trêmula de pavor, e sentiu toda a força esvair dela. Todo o chakra estava, agora. condensado no homem à sua frente. Um brilho roxo feroz e contínuo. Hinata não se lembrava de ter visto tanto poder acumulado em uma pessoa só desde que vira Naruto em seu modo Rikudou Sennin.

Mesmo assim, ela se levantou e olhou a figura nos olhos. Não em desrespeito ou para desafiá-lo, mas porque sentia que era o certo a se fazer. Ela temia, mas ao mesmo tempo confiava que estaria segura ali.

Com os olhos fixos nela, o homem a avaliava cuidadosamente. Hinata sentiu-se totalmente descoberta. Aquele par de Byakugan parecia enxergar cada parte de seu ser — sua mente, seu coração e sua alma. Nada nela parecia escapar daqueles olhos.

Então, a figura assentiu levemente com a cabeça. Estava satisfeito com o que seus olhos lhe mostraram. Era ela.

— Princesa do Byakugan, você precisa acordar — disse ele.

Mal o homem acabara de falar, os olhos de Hinata queimaram de dor. Uma pulsação horrenda, tão forte que a fez dobrar os joelhos e gritar.

Quando as dores, finalmente, foram embora, tudo estava escuro outra vez. O som da chuva fina lá fora denunciava que Hinata havia despertado do sonho. Ainda sentia a cabeça latejar.

“O que foi isso?”, perguntou a si mesma.

Escutou a porta de seu quarto abrir com violência e passos apressados correrem em sua direção. A respiração ofegante de sua irmã caçula dizia tudo.

— Hinata-neesama, o que foi? — Hanabi ainda se recuperava do susto. — Aconteceu alguma coisa? Eu te ouvi gritando.

Hinata estendeu a mão e tateou no escuro na direção de onde a irmã estava recostada, afagando-lhe a bochecha. Desde que Hinata havia perdido a visão, a caçula se desdobrava em cuidar da irmã mais velha. Porém, por mais que negasse, Hanabi Hyuuga andava exausta. Hinata lamentou. Queria dizer à irmãzinha que estava bem; e tudo não havia passado de um sonho.

No entanto, Hinata tinha certeza, não seria verdade.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo em ritmo mais lento, eu sei, mas foi melhor assim. Achei por bem isolar a luta do Tsuchikage contra o Taka do restante do capítulo, de modo a tornar tudo mais proveitoso. Espero ter conseguido.

Obs.: se você ainda não leu o capítulo e só pulou aqui para pegar spoiler, volte uma casa.




E, sim, Taka sobreviveu. Para infelicidade geral da nação.

Enquanto isso, Tsunade faz um movimento, os Onze têm uma conversa interessante sobre a motivação por trás dos ataques dos Yuurei aos Kages, com repercurssões que vão muito além da Vila da Folha, Sakura e Hinata conversam, descobrimos que a Ino é o Julius de Naruto e tem não dois, mas SEIS empregos, Taka tomou um pé na bunda e, claro, não poderia deixar de falar da cena final, que dá nome ao capítulo. Algo está acontecendo com Hinata. O que vem a seguir? O que esperam?


Data provável da próxima postagem: 04/03/22 (cronograma normal)

Próximo capítulo: Convite


Um abraço a todos!

Até o próximo capítulo o/



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