O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 108
Honorável Tsuchikage


Notas iniciais do capítulo

Salve! Salve! Como vão vocês? Bem? Eu espero que sim. Lembro-me de, no capítulo passado, tê-los saudado com digníssimas saudações rubro-negras e ter sido COMPLETAMENTE IGNORADO.

Não é possível que eu seja o único flamenguista aqui.

Antes de mais nada, um breve esclarecimento. Este capítulo, assim como aconteceu com outros anteriores, precisou ser divido em duas partes por causa de seu tamanho (um pouco mais de 7 mil palavras). E como havia muitos detalhes que não poderiam passar desapercebidos, eu optei por deixar a leitura mais curta e, por que não dizer, mais agradável. Creio que, assim, vocês aproveitarão melhor.

De toda forma, quando não for MESMO possível fazer esse tipo de divisão, eu volto com os capítulos maiores. Tem a minha palavra.

Bom, no mais, segue, tempestivamente, o capítulo de hoje. Boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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A noite era fresca e estrelada, com uma brisa agradável chacoalhando as árvores e espalhando ar puro. O jantar era servido em uma sacada espaçosa; tão bem clareada pela lua cheia, que poucas lâmpadas se faziam necessárias. Dali de cima, podia-se ver toda a extensão dos jardins do Palácio Real. O verde nos muros do labirinto já dividia espaço com os matizes de camélias, margaridas e orquídeas. No centro, havia um chafariz belíssimo, em que ninfas de marfim jorravam água sobre um tanque de três camadas.

Para Suki, era engraçado um lugar tão belo receber o nome de País dos Demônios.

— Parabéns pela promoção, Hana querida. Você mereceu. — Aceitou outra taça de vinho tinto.

Do outro lado da mesa de jantar, sentada à direita da cabeceira, a jovem Yuurei esboçou um sorriso envergonhado.

— Obrigada, Suki-sama.

— Ora, o que é isso? — Suki cruzou as pernas, recostando-se para trás. — Você é uma Yuurei Sênior agora. Não precisa nos tratar com tanta formalidade. Não é mesmo, Kioto?

Sentado à cabeceira, ao lado de Hana, o regente do País dos Demônios ceava em silêncio, em solenidade digna de um nobre. Os olhos perolados de Kioto, quando em contato com o olhar inquiridor da Assassina de Kages, pouco esboçaram qualquer emoção. Suki deu um sorrisinho e bebericou um pouco mais do vinho. Com seu ar sempre sério, Kioto Hyuuga era um homem bastante charmoso, Suki não podia negar.

Percebendo certa malícia nos olhos de Suki, Hana Sakegari pigarreou.

— Ainda vou chamar o Kioto-sama usando o sufixo — disse. — Fomos parceiros por muito tempo. É difícil abandonar certos hábitos.

Suki riu. O ciúme de Hana por Kioto era de uma infantilidade, de fato, divertida. Embora fosse mais velha do que aparentava, Hana Sakegari, não poucas vezes, portava-se como uma verdadeira adolescente. Principalmente quando o assunto envolvia o antigo parceiro.

— Eu imagino que sim. — Suki terminou o cálice, estendendo-o à garota. — Hana, meu bem, pode me trazer um pouco mais de vinho? Enquanto isso, os adultos precisam conversar.

Hana fechou o semblante, incomodada.

— Eu sou maior de idade, Suki-sama — respondeu. — Além disso, temos criados...

— Hana — falou Kioto. — Traga-me mais vinho também.

A indignação pendeu na face da jovem Yuurei. Ao passo que Kioto sequer lhe dava atenção, Suki dirigia-lhe um sorriso cínico. “Como assim ela quer ficar a sós com o Kioto-sama? Ele é meu, só meu!” Com ar visivelmente contrariado, Hana os deixou a sós.

Suki esperou a outra sair para comentar.

— Ela é tão talentosa quanto é infantil.

— Não a provoque, Suki. — Kioto fitou o rosto da outra Yuurei. — Você é minha convidada; Hana mora aqui comigo.

Suki abafou uma risada provocativa.

— Kioto! Eu não sabia que você gostava desse tipo de mulher! Ela é... sabe, tão jovem.

O Terceiro Oficial não esboçou qualquer ar de mudança. Raramente fazia. Seus olhos e a feição rígida como rocha eram, praticamente, inabaláveis. Mesmo diante da dor, Kioto não perdia a calma. Demonstrar sentimentos era uma habilidade que perdera há muito, muito tempo.

Por isso, Suki não sabia dizer ao certo o que havia por trás daquele olhar penetrante. Sentia uma ponta de curiosidade misturada com incômodo, como se estivesse sendo estudada ali mesmo. Mais do que simplesmente observá-la, Kioto parecia estar vendo através dela, causando nela uma ligeira sensação vulnerabilidade. Suki suspirou, sentindo um arrepio percorrer em sua pele.

Os olhos de Kioto Hyuuga eram perturbadores e assombrosamente belos.

Por fim, Kioto piscou os olhos com ar casual.

— Está segura de deixar seu parceiro lutar contra o Tsuchikage? — perguntou ele, mudando de assunto.

O rosto de Suki enrijeceu no ato. Lembrar de Taka e seu último fracasso na Vila da Folha era, minimamente, vergonhoso para a Assassina de Kages.

— Tanto faz. — Deu de ombros. — Se Taka vencer, então provará o seu valor. Se perder...

Neste ínterim, Hana voltou com a garrafa de vinho. Serviu, primeiramente, a Kioto, depois a Suki e, finalmente, assentou-se do lado do companheiro. Suki acompanhou-a com o olhar até que Hana se sentasse. Embora agisse feito uma moleca, suas habilidades com Genjutsu eram dignas de um Membro Sênior e faziam de Hana uma das Yuurei mais formidáveis. Suas ilusões eram problemáticas para qualquer um.

Em certo sentido, Suki sentia inveja de Kioto. Hana Sakegari possuía um talento natural, diferentemente de Taka Kazekiri, seu parceiro.

— Se ele perder... — Suki provou do vinho novo. — Acho que vou precisar encontrar um substituto.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Vila Oculta da Pedra.

Quando sua comandante, Mira Uzumaki, o havia oferecido o Terceiro Tsuchikage Oonoki como alvo, ele prontamente aceitou. Derrotar o mais forte dos Cinco Kages o faria, inquestionavelmente, digno de galgar o posto de Yuurei Sênior — ainda que fosse o Sexto Oficial, abaixo de Hana Sakegari na hierarquia.

Taka a detestava. Para ele, Hana era uma covarde que se escondia atrás de truques ilusórios e do prestígio dos superiores. Embora não pudesse negar que, em se tratando de Genjutsu, Hana Sakegari fosse uma aberração, Taka se via como um ninja bem mais completo que ela. Tinha mais armas à disposição, ao passo que a nova Quinta Oficial dependia exclusivamente de suas ilusões. Ser preterido no lugar de uma pirralha barulhenta e apaixonada era tão humilhante. Ele era o grande Taka Kazekiri, o primeiro homem a dominar o Kinjutsu (Técnica Proibida) das asas de rapina. Podia usar as cinco transformações básicas de natureza e muito mais. Com seus atributos físicos sobre-humanos e sentidos apurados, era um caçador por excelência.

“Então, por quê?”, pensou, aflito. “Por que estou sendo dominado desse jeito? Ele é só um velho de merda!”

Ser derrotado ali era inadmissível. Precisava provar seu valor como Yuurei, como ninja e como um homem. Iria mostrar a Suki que era melhor do que Juha Terumi jamais seria e era, portanto, digno de estar ao lado dela. E de tê-la para si.

Suki valorizava a força, o que ele tinha de sobra.

Também havia Naruto Uzumaki. Taka cultivara uma rivalidade com o Herói do Mundo Ninja ao espancar Hinata Hyuuga e ser o responsável direto pela captura da princesa Shion. Ademais, durante a invasão à Vila da Folha, Naruto o acertara de surpresa com um golpe no rosto, desfigurando-o e o obrigando a vestir uma máscara desde então. Não foi uma luta, foi sorte. Tinha contas a acertar com o Jinchuuriki e, portanto, não poderia morrer ali.

Penas eletrizadas explodiam blocos de pedras, abrindo caminho para os ataques de fogo, vento e veneno. Quando acuado, Taka recorria às penas de metal para defesa e contra-ataque rápido. Com isso, ganhava tempo contra um Tsuchikage envelhecido.

O problema era que Oonoki não cedia.

Ele bloqueou as penas inflamadas de Taka, erguendo uma parede à sua frente. As explosões e a poeira deram tempo bastante para o experiente Tsuchikage criar um túnel, fechar a passagem atrás de si e desaparecer debaixo da terra — livrando-se dos sentidos aguçados do adversário.

Quando a fumaça abaixou, não havia qualquer sinal do Tsuchikage para Taka rastrear.

— Onde ele...?

Oonoki ascendeu rápido, do ponto exato bem abaixo de onde Taka planava no ar. As mãos do Tsuchikage estavam revestidas em rocha com o peso amplificado. O velho Oonoki gritava de fúria e emoção — o fogo do combate fazia-o sentir-se jovem outra vez.

O primeiro soco atingiu o Yuurei no queixo. O segundo, um cruzado de esquerda, encontrou a têmpora de Taka. O terceiro e o quarto, bem no rosto. Oonoki terminou a sequência com um golpe de cima para baixo, suficiente para derrubar o falcão do ar.

— Seu jutsu é bastante versátil, garoto. — Planando bem acima do Yuurei, Oonoki carregava rápido a Kekkei Touta nas mãos. — Mas versatilidade não é sinônimo de talento.

Taka espumou de raiva.

— Seu velho...

Oonoki não esperou o Yuurei terminar e lançou o cubo, que se expandiu automaticamente ao redor de Taka. E, depois da explosão luminosa dentro da estrutura cúbica, não havia mais nada. O Tsuchikage deu uma risada satisfeita.

— Bom... — Virou-se para trás. — Parece que usou o jutsu de espaço-tempo para escapar, não é?

Taka puxava o ar pela boca. Por muito pouco não tinha sido reduzido a moléculas pela Kekkei Touta do Terceiro Tsuchikage. No entanto, tivera tempo suficiente para rasgar o ar e escapar pela escuridão antes que pudesse ser obliterado.

Mas ainda estava de pé.

Limpou o sangue do nariz e sorriu com gosto para Oonoki.

— Teve a chance de me matar e a desperdiçou, velho. Agora, acabou. — Ergueu a mão direita à altura do rosto, formando um selo. — Yami no Fuuin (Selo da Escuridão): liberar.

Ali estava o momento tão aguardado. Oonoki não pôde conter a sensação de gratidão a Taka Kazekiri por lhe proporcionar aquele combate. Como um legítimo cidadão da Vila Oculta da Pedra, vira seu orgulho prevalecer. Pois levava um dos famigerados Yuurei às últimas consequências — e, diga-se de passagem, no um contra um. Ele, que não era Naruto Uzumaki nem Sasuke Uchiha; só um velho que há muito havia passado de seu auge.

“Yami no Fuuin... o poder máximo de um Yuurei..”, Oonoki avaliava com frieza. “Agora vamos ver qual é a distância entre nós, da Aliança Shinobi, e vocês.”

Uma coluna de chakra negro irradiava de Taka Kazekiri. Era um poder tão denso, que até o ar ao redor parecia tremeluzir. Somente um Jinchuuriki poderoso seria capaz de liberar tanto poder assim de uma vez. Os instintos de Oonoki, imediatamente, o puseram em alerta máximo.

Após o chakra do Yuurei estabilizar, sua aparência era completamente outra. As asas, bem maiores do que antes, eram como o véu da noite. Um par de listras negras lhe rasgava o rosto do meio da testa e descendo pela face; as íris dos olhos eram brancas e as escleróticas negras. Quando Taka bateu as asas, toda a estrutura do domo estremeceu. O Yuurei ganhou altura e planou no ar, olhando diretamente para o Tsuchikage.

— Agora, velho, essa é a parte em que você se desespera. — Taka sibilava em arrogância e fúria.

Em resposta, Oonoki respirou fundo e, com os pés, armou uma base firme no terreno pedregoso.

— Venha, garoto.

 

 

 

Mesmo depois de quase quarenta minutos de combate intenso, era difícil apontar quem estava ganhando. Oonoki tinha plena ciência de que suas reservas de chakra, sua mobilidade e seu fôlego não eram a sombra do que foram um dia. Por outro lado, era um ninja bem mais experiente — o único Shinobi vivo a ter lutado em todas as Quatro Grandes Guerras. Compensava o desgaste físico com sua astúcia e talento superiores.

Do outro lado, Taka era puro poder massivo. Além dos sentidos aguçadíssimos, todas as técnicas do Yuurei, agora banhadas pelo estilo Escuridão, estavam muito mais poderosas do que antes. Taka Kazekiri não tinha a destreza de um mestre da guerra, mas estava no auge da forma física — era mais forte, rápido e preciso nos golpes do que o Tsuchikage.

Desde o momento em que liberara o Selo da Escuridão, Taka ditava o ritmo da luta, forçando Oonoki a depender do contra-ataque. O Tsuchikage fazia uso de uma versão defensiva de seu Doton: Gouremu no Jutsu (Estilo Terra: Técnica do Golem), revestindo o próprio corpo com uma armadura na forma de uma criatura humanoide feita de rocha.

A carapaça do monstro ia suportando todo o bombardeio lançado pelo Yuurei — fogo, raios, aço negro e rajadas de vento cortante — refazendo-se, a partir do solo, tão rápido quanto os ataques de Taka conseguiam causar algum dano significativo à armadura. Para Oonoki, embora estivesse mais lento, sabia que aquela era a melhor estratégia a ser adotada. Ainda que não estivesse usando sua defesa absoluta, jamais superaria Taka Kazekiri em velocidade. Em contrapartida, havia equiparado os níveis de força bruta. E, contra um adversário tão prepotente como Taka, a frustração de não conseguir ferir o corpo de um simples velho dentro de uma camada rochosa, logo o levaria ao erro.

Oonoki contava com isso.

“Ele não se aguenta”, analisou o Tsuchikage. “Precisa provar que é mais forte do eu. O ego de um homem pode ser sua maior fraqueza.”

Não demorou muito para Taka Kazekiri abandonar todos os cuidados e partir para uma luta de curta distância. Confiando em sua velocidade superior, o Yuurei combinava o Ninjutsu de suas asas com Taijutsu. Era forte o bastante para quebrar rocha sólida com as próprias mãos; e tão resistente, que continuava na ofensiva, mesmo recebendo todos os ataques lançados pelo Golem.

O volume de golpes de Taka era muito maior, na proporção de quase dez para um. Ao escolher lutar no raio de ação do Tsuchikage, Taka pretendia criar brechas no Golem, podendo, assim, acertar o corpo desprotegido de Oonoki antes da armadura autorreparar.

Quando o Yuurei finalmente conseguiu uma abertura, Oonoki, enfim, liberou a técnica que havia preparado às escondidas no Golem. Um ataque direcionado; e Taka estava exatamente na mira.

— Jinton: Genkai Hakuri no Jutsu (Estilo Partícula: Técnica do Desmantelamento Atômico).

A versão cônica do estilo Partícula permitia ao Tsuchikage criar uma estrutura expansiva de alcance maior do que a versão tradicional — em formato cúbico — e mais rápida também, pois explodiria quase tão logo fosse disparada. Uma vez que o Yuurei estivesse tão perto, mesmo com sua velocidade absurda, não poderia evitar ser atingido.

Após o ataque, a armadura de Golem se despedaçou e Oonoki caiu sobre os joelhos, exausto. Aquele último jutsu exigira muito de seu chakra. O Terceiro Tsuchikage havia chegado ao seu limite.

Erguendo os olhos para cima, suspirou satisfeito.

— Então... é isso.

Planando no ar à frente do combalido Tsuchikage, a cerca de cinco metros do chão, Taka Kazekiri espumava de puro ódio. Tinha o rosto vermelho com veias saltando pela testa. Outra vez, conseguira escapar da morte, mas não tão rápido ao ponto de evitar ser atingido. Quando o estilo Partícula explodiu, o braço direito do Yuurei ainda estava dentro do raio de alcance.

E, diante da face risonha de Oonoki, a expressão de Taka se acentuou.

— Seu velho desgraçado... — vociferou Taka, sombrio. — Você vai pagar por isso!

O Yuurei mergulhou no ar, dando um bote certeiro em Oonoki, lançando-o longe. Com o adversário no chão, já sem poder continuar lutando, Taka descontou toda a raiva que sentia naquele instante. Com a mão esquerda e os pés, desferia golpes pesados contra o corpo enfraquecido do Tsuchikage. Uma sequência furiosa e cruel. Não havia mais luta; era massacre.

— Você não cansa de apanhar, velho lunático? — O Yuurei não podia esconder o contentamento com aquilo. Porém, era algo insatisfatório; sentia mais raiva do que prazer. Tudo por causa de que, mesmo diante da superioridade do inimigo, o velho Oonoki insistia em se levantar.

E sorria, convidando o Yuurei para mais.

— Então... essa é sua força máxima, garoto? — zombou Oonoki. — Não consegue... dar conta de um idoso.

A ira de Taka se acendeu. Agora, mais do que nunca, queria fazer o velho pagar pelo que fizera ao seu braço direito e por todo sarcasmo de Oonoki. Fez questão de não tornar aquilo rápido demais. Poderia finalizar o Tsuchikage a qualquer instante com uma de suas técnicas, mas preferiu prolongar-lhe o sofrimento. Antes de destruir o corpo, o Yuurei queria destruir o espírito de Oonoki.

Após arremessá-lo para trás com outra sequência de socos e chutes, Taka voltou-se para o rival com ar de repugnância. Era o predador ali dentro e Oonoki, a presa.

— Não parece tão confiante agora, velho. — Limpou o sangue do Tsuchikage da mão. — O que foi? Eu quebrei o seu orgulho?

O Tsuchikage estava estirado no chão. Suas costas doíam, as articulações dos joelhos rangiam e o nariz estava quebrado. Com dificuldade, pôs-se em pé outra vez. A visão estava embaçada pela idade e pelas pancadas na cabeça — e o único olho que ainda lhe restava demorou a focalizar no inimigo. Taka estava fora de alcance, planando no ar.

— Impossível... garoto... — Oonoki falava pausadamente, recobrando fôlego. — Assim como os ninjas da Folha... nós, da Pedra, também temos uma vontade... e a vontade da Pedra é sólida como uma rocha... é algo inquebrável.

Taka fez uma careta de desprezo.

— Nesse caso, eu vou quebrar seu coração — disse. — Eu soube que você perdeu seu filho na ilha Misuto, não é?

Oonoki estremeceu ao lembrar de Kitsuchi.

— Bom, isso não importa — continuou o Yuurei. — Só para você saber, velho, depois de te matar, vou visitar a sua neta. Eu soube que ela ficou bem sentida com a morte do pai.

Com ar exultante, Taka viu o ancião retrair a cabeça. O semblante de Oonoki era vago e triste. Naquela hora, não se sentia um veterano de guerra lendário nem mesmo o grande Terceiro Tsuchikage; era apenas um avô. O “velhote” com problemas de coluna.

Sentiria falta das piadinhas da neta e de todo o resto. Esperava que, um dia, fosse aquele a passar o título para ela. No entanto, Oonoki havia acumulado tantos erros ao longo de sua vida e aquele seria mais um. Deixaria a neta sozinha. Seu alento, porém, era que Kurotsuchi há muito havia se tornado uma mulher forte, além de uma excelente Kunoichi. A vila estaria segura nas mãos dela.

Assim, Oonoki ergueu o rosto firme para Taka Kazekiri.

— Minha neta é forte, garoto estúpido — disse, convicto. — Ela herda a minha vontade inabalável e será a Quarta Tsuchikage... Quanto a mim, o tempo deste velho já passou.

Sem demora, Oonoki cravou as duas mãos no solo. Frente ao olhar cético do Yuurei, o Tsuchikage mantinha-se resoluto.

— O que pensa que está fazendo, velho? — perguntou Taka. — Eu sei que você não pode mais lutar. Pare de blefar!

Oonoki negou com a cabeça.

— Você não percebeu enquanto me batia — respondeu. — Mas a prisão onde lutamos se movia no ar. Agora, estamos bem longe da Vila da Pedra, a mil metros bem acima do Mar Dourado.

A expressão triunfante de Oonoki não o fazia mentir. Taka sentiu um aperto no estômago, como se só naquele instante percebesse o ar rarefeito afetando seu corpo. A fadiga, as dores musculares, a ânsia de vômito, a tontura; tudo veio de uma vez.

“Esse velho... o tempo todo...”, Taka estremeceu. “Ele estava suportando os efeitos da altitude enquanto lutava comigo e guiava essa estrutura pelo ar!”

Então, Taka compreendeu. Com os olhos arregalados, percebeu que, desde o começo, sempre estivera à mercê do Tsuchikage. A prisão em que estavam só se mantinha no ar enquanto Oonoki estivesse vivo. No momento em que o velho desse o último suspiro, todo aquele lugar despencaria do céu.

— Você quase se matou várias vezes, garoto... — comentou o Tsuchikage. — Seu ego o traiu. Este é o fim.

Ignorando as palavras de Oonoki, Taka alçou voo até o topo da prisão flutuante e bombardeou a barreira de chakra que formava a cúpula. Sem sucesso, atacou os muros de rocha, na parte inferior da prisão, mas não conseguiu desferir qualquer dano à estrutura. Mesmo após lançar ataques de raios negros, as rochas permaneciam intactas.

— O quê...?

— Todo este lugar é revestido com o meu chakra — explicou Oonoki. — E eu tenho afinidade com quatro transformações básicas da natureza: Fogo, Raio, Terra e Vento. Em outras palavras, seus golpes não podem romper essa barreira, principalmente os muros, onde meu chakra está mais concentrado.

Taka ainda tentou outra vezes, mas, como antes, nenhum dos paredões de pedra cedeu. Sem escolha, rasgou o ar e abriu um portal de trevas. Porém, ao tentar atravessá-lo, viu-se impedido. Era como se a escuridão fosse mais um muro e não uma passagem.

Oonoki riu.

— Você está se perguntando por que seu jutsu de espaço-tempo funcionou daquela vez e agora não. — Olhou bem para o rosto confuso do Yuurei. — Acontece que, diferente de quando escapou do meu Jinton, agora você está tentando ir para outro lugar, longe daqui. Acontece que isso é impossível, garoto.

Taka, trêmulo, balançava nervosamente a cabeça.

— Isso não está certo — balbuciou. — Não, não, não pode...

— Este lugar é, literalmente, uma arena — expôs Oonoki, orgulhoso. — É possível a todos entrarem. Mas, uma vez aqui dentro, só é possível sair ao final do combate.

Uma luz de esperança brilhou na mente de Taka.

— Então, eu só preciso te matar e escapar daqui antes que tudo despenque! — exclamou.

Oonoki assentiu.

— É verdade, garoto — respondeu. — Mas seu descuido não te dará essa chance. A propósito, obrigado estar com os pés no chão desta vez.

Valendo-se de todo o chakra que havia conseguido concentrar enquanto falava com o Yuurei, Oonoki atacou antes que Taka pudesse perceber o Kamarimi no Jutsu (Técnica de Substituição). Seu verdadeiro corpo, agora posicionado atrás do inimigo, arremeteu contra as costas do Yuurei. Oonoki segurou firme as asas negras e sussurrou:

— Doton: Choukajuugan no Jutsu (Estilo Terra: Técnica do Super Aumento de Peso na Rocha).

O aumento repentino do peso fez Taka tombar violentamente para trás. Oonoki pulou para o lado direito, evitando ser esmagado pelas quase dez toneladas que havia acrescentado às asas do Yuurei.

— Com isso... — Oonoki suspirou. — Você não vai se mover tão cedo, garoto.

— Ora, seu... velho maldito! Merda! Merda!

Totalmente imobilizado, Taka Kazekiri viu Oonoki juntar as palmas das mãos à frente do rosto. Puxava o ar com dificuldade. O pouco chakra restante não lhe permitia fazer quase nada e, assim que o usasse, seria o fim. O Terceiro Tsuchikage, com seus oitenta e dois anos de idade, não poderia esperar um fim mais digno do que aquele.

“Kurotsuchi...”, imaginando o rosto risonho da neta, os lábios dele ostentaram um breve sorriso. “Confio o futuro a você.”

Após aumentar em milhares de vezes o peso da prisão de terra, Oonoki, finalmente, expirou.


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Notas finais do capítulo

Olha, eu não ia falar nada, mas, no momento desta publicação, são 1h00min e o Victor aqui acorda cedo daqui a pouco (risos de nervoso). Foi uma corrida contra o tempo para cumprir nosso cronograma e publicar o capítulo no dia certo, sem nenhum atraso. Tudo porque meu antigo HD pifou e eu perdi quase tudo, salvo alguns arquivos.

Em nome da nossa relação autor/leitor,alicerçada por quase OITO anos (sim, eu parei para consultar a data de lançamento desta história; estou surpreso), considere deixar um comentário dizendo o que achou, o que espera daqui pra frente, o que sente falta de ver na fic, o que poderia ser melhorado, se o Flamengo vai voltar a ganhar tudo esse ano... esse tipo de coisa.

E não, não vou zoar o seu time, seja ele qual for. Quer dizer, depende.


Data provável da próxima postagem: 04/03/2022

Próximo capítulo: Noite-sem-fim



Isso é tudo, pessoal!

Até o próximo capítulo! o/



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