O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 106
Mei Terumi vs. Hana Sakegari


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, senhoras e senhores! Como vão?


Segue, tempestivamente, o capítulo programado para o dia de hoje. Eu o dividi em duas partes porque o arquivo final tinha mais de 11 mil palavras (!!!). Para não tornar a leitura extensa demais, foi melhor cortá-lo em dois. Assim, penso, vocês podem aproveitar melhor cada capítulo.

Adianto que este capítulo terá algumas informações bem importantes, então prestem bastante atenção. Ao final, quero saber a opinião de vocês.

Sem mais delongas, aproveitem o capítulo o/



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“Preciso impressionar a Mira-sama”, dissera a garota.

O instinto rápido e urgente de Mei Terumi vasculhou o ambiente ao redor. Não havia indícios de mais ninguém por perto, ressaltavas as pessoas dentro do prédio abaixo de seus pés. Estava ciente, no entanto, que a já identificada Mira Uzumaki era uma ninja do tipo sensorial, logo, seria altamente provável que ela também estivesse ali, ocultando a própria assinatura de chakra.

“Duas Yuurei”, Mei avaliou. “Isso é ruim.”

A Mizukage também considerava o ambiente em que encontrara Hana Sakegari. Estavam no terraço de um prédio residencial, bem no centro da Vila da Névoa. A menos que isolasse rápido aquela Yuurei, Mei estaria limitada em seu repertório de técnicas. Não poderia enfrentar o inimigo ali com todo seu potencial sem envolver os cidadãos.  Para piorar, a menina a sua frente era uma usuária de Genjutsu. Ou seja, não sofreria com nenhuma restrição no combate.

E Hana também sabia disso.

— Olha só para você — Hana escarneia. — Cheia de preocupações. Fique tranquila, Mei-neesan. Eu serei rápida.

Mei fuzilou-a com o olhar.

— Acha que está falando com quem, pirralha?

Certa de que não estava em uma ilusão, a Mizukage pensou rápido e tomou a iniciativa. Erguendo o braço direito acima da cabeça enquanto mantinha um selo com a mão esquerda, anunciou a primeira técnica:

— Kirigakure no Jutsu (Técnica da Ocultação na Névoa).

O ar noturno ao redor ficou mais frio e denso. Concentrada em todo o terraço, a cortina de névoa surgiu de repente. Era tão espessa que Hana Sakegari sequer podia ver as próprias mãos. Estava totalmente às cegas. Além disso, a umidade do ar também lhe dificultava os demais sentidos.

Hana sorriu, satisfeita. Aquilo estava ficando cada vez melhor.

 “Entendo”, refletia a Yuurei, tomando cuidado para não dizer nada. “Uma boa saída, essa sua.”

Apesar de seus poderes ilusórios a tornarem uma das Yuurei mais difíceis de lidar, Hana Sakegari reconhecia um adversário de alto nível, ainda que ele não fosse proeminente em Genjutsu. A Quinta Mizukage se mostrava um desafio à altura.

Hana sabia que, como ninja da Névoa, Mei Terumi era uma especialista em assassinato silencioso. Se não pudessem enxergar uma à outra, Genjutsu do tipo visual não funcionaria. Além disso, por estarem lutando em um espaço pequeno, se Hana tentasse alguma técnica sonora, só iria relevar sua posição para a Mizukage bem antes de pegá-la em uma ilusão.

Em poucos segundos, Mei havia retomado para si toda a vantagem territorial.

Lutar contra a Mizukage dentro do nevoeiro seria impossível, então Hana fez o lógico: abriu um portal de trevas a fim de sair daquele terraço. Uma vez se deslocando para um ponto mais afastado, poderia recomeçar o combate, contra-atacando com Genjutsu a distância.

Porém, antes que pudesse atravessá-lo, a Yuurei sentiu algo frio escorrendo até seus pés.

“Isso é... água?”

Foi em um piscar de olhos. Bastou um filete de água tocar suas sandálias para, no instante seguinte, a Mizukage surgir exatamente ali, ao lado dela. Hana sentiu a presença inimiga e saltou no último segundo, antes que Mei pudesse decapitá-la com uma lâmina de água.

E, quando aterrissou, surpreendeu-se ao sentir os pés afundarem em água até a altura dos tornozelos. O som rápido, porém inconfundível, da imersão ecoou através da cortina escura de névoa. Foi suficiente para Mei encontrar o alvo.

“Já entendi!”, Hana saltou na hora certa, evitando outra investida fatal e, antes que seus pés pudessem tocar na água outra vez, concentrou chakra nas solas das sandálias e flutuou. “Ela aproveitou o nevoeiro e encheu esse lugar de água.”

— Não importa o que faça, garota Yuurei, não vai escapar daqui. — A voz da Mizukage ressoou pelo ambiente. — Não vou deixá-la sair deste terraço.

Hana se concentrou, mas era impossível detectar a posição da Mizukage. Com visibilidade zero, o domínio do som tornava-se uma vantagem decisiva. Contudo, a voz de Mei Terumi parecia se misturar à névoa. Dentro daquele espaço, ela poderia estar em qualquer lugar. Era como se a Mizukage fosse uma assombração.

“Ela alagou o terraço não só para localizar minha posição”, Hana analisava. “A água propaga o som melhor do que o ar. Como estamos envoltas em névoa, e com água embaixo dos pés, a Mei-neesan consegue disfarçar perfeitamente a localização dela.”

— Você já entendeu, não é? — falou a Mizukage, satisfeita. — Agora, garota, vou te mostrar por que atacar minha vila foi um erro.

Hana Sakegari, por sua vez, sorria. Rapidamente, uniu as mãos em um selo.

“Se ela pode usar a água para disfarçar de onde vem a voz dela”, pensou. “Então eu também pos-”

— Acha mesmo que eu seria tão descuidada, pirralha, deixando você usar Genjutsu aqui? — A voz de Mei reverberava pela superfície da água. Já previra o movimento da Yuurei. — Além disso, acha que eu não sei exatamente onde você está agora?

Desta vez, não houve tempo para reação. A água emergiu, formando tentáculos que, rapidamente, imobilizaram as pernas de Hana, prendendo-a até a cintura.

— Droga! — exclamou. — Como ela...?

Sentiu o toque da Mizukage sobre seu ombro e estremeceu.

— Não parece tão confiante agora — disse Mei. — Não se preocupe. Não vou te matar ainda. Primeiro, você vai me dar algumas informações sobre o seu grupo.

A resposta foi um gargalhar zombeteiro. Um que fez Mei Terumi gelar, pois a Hana Sakegari que tinha à mercê permanecia imóvel e calada.

— A risada dela... — Mei se virou. — Está vindo de fora do nevoeiro?

Quando a névoa foi desfeita, Mei encontrou a jovem Yuurei sentada sobre a borda do terraço, acenando para ela. A Mizukage desviou o olhar dela para a pessoa que havia capturado instantes atrás.

Não era Hana, era seu assistente. E estava morto.

 — O quê...? — Mei sobressaltou-se. — Genjutsu o tempo todo?

Hana negava com a cabeça, fazendo muxoxo.

— Shouten no Jutsu (Técnica da Translocação) — corrigiu. — Os caras da Akatsuki costumavam usar isso quando não queriam ir pessoalmente em uma missão. Tudo o que você precisa é de uma fração do seu próprio chakra, um sacrifício humano vivo e, prontinho!, eis uma cópia de “você”.

A Yuurei ficou de pé e continuou:

— Ela pode usar seus jutsus normalmente, limitando-se à porcentagem de chakra que você deu para criar a cópia. Quando o chakra acabar, ou quando você não quiser mais... — apontou para o corpo morto. — É só descartar. Prático!

Mei trincou os dentes, furiosa.

— Vai pagar por isso, maldita.

Com um selo rápido, Mei conjurou uma lança de água contra Hana, atravessando-a em segundo. No entanto, não houve qualquer dano. Hana olhou para o abdômen, onde a água traspassava inofensiva seu corpo holográfico. Bocejou.

— Minha vez — sequenciou selos manuais. — Ninpou: Mugen Kairou (Arte Ninja: Torre do Mar Infinito).

Outras cópias de Hana surgiam sem parar ao redor da Mizukage. Por todas as direções, Mei se viu cercada pelos espectros da garota Yuurei. Centenas, depois milhares de clones, em um processo ininterrupto de multiplicação. Mei não se deixava impressionar. Sabia que, apesar de tudo. estava diante de uma ilusão; havia somente uma Hana Sakegari verdadeira, não importasse o quê.

Porém, antes que Mei tomasse qualquer atitude, Hana foi categórica. Suas muitas vozes, falando em uníssono.

— Eu não fiz isso para me esconder, Mei-neesan — Um sorriso assassino enchia os lábios da Yuurei de satisfação. — Esse Genjutsu, em particular, me afeta também. É uma técnica que eu uso para ampliar o poder das minhas ilusões.

Independentemente de ser um blefe ou não, Mei precisava se livrar daquele Genjutsu se quisesse encontrar a Hana verdadeira. Concentrando-se em seu fluxo de chakra, paralisou-o e, imediatamente, fê-lo fluir em sentido reverso.

Quando abriu os olhos, porém, nada havia mudado. O coro incontável de Hana Sakegari ria debochado.

— Pobre, Mei-neesan. Ainda não entendeu a própria situação. Deixe-me mostrar a você — disseram todas elas. — Congele!

Um terror repentino caiu sobre a Mizukage. “O que é isso?”, pensou. A voz da Yuurei era uma ordem inquestionável. Seu corpo já não lhe obedecia. O chakra dentro dela fluía descontrolado.

“Droga! Como pude ser tão descuidada?”

Enquanto reunia todas as forças para se libertar da ilusão, via, com urgência, as múltiplas de Hana Sakegari empunhando facas kunai. Aquilo era péssimo. A Yuurei não precisava infligir-lhe qualquer ferimento real; apenas convencê-la, por meio do Genjutsu, de que estava morrendo seria o suficiente.

“Concentre-se, sua idiota”, Mei Terumi pensava consigo mesma, enquanto mordia o próprio lábio com toda a força possível. Ainda que fosse por meio da dor, quebraria o Genjutsu de qualquer jeito. “Anda logo!”

Com esforço, pôde recuperar o controle dos próprios braços. Pouco a pouco, a mente de Mei voltava a si.

— Poxa, Mei-neesan... — caçoou Hana. — Você é muito lenta.

Todos os clones dispararam de uma vez. Uma chuva de lâminas kunai irrompeu, de todas as direções contra a Mizukage, que se manteve firme em um selo manual. Mesmo quando atingida, não retrocedeu. A dor de mil facas afundando em sua carne, o gosto e o cheiro de sangue afogando-a, a visão distorcida — era uma experiência excruciante.

“Não é real...”, repetia mentalmente. “Não é real... não é real...”

E, puxando todo o ar que seus pulmões lhe permitiam, bradou de uma vez:

— Nada disso é real!

O ambiente girou em 360º e Mei caiu sobre um dos joelhos, ofegante. Quando ergueu a cabeça, estava somente diante de uma única Hana Sakegari, que a aplaudia sarcasticamente.

— Bravo! — Deu-lhe um sorrisinho. — Eu não poderia esperar menos da irmã do Juha-sama.

Embora ainda se sentisse ligeiramente tonta devido à última ilusão, Mei se pôs em pé em um salto. Sabia que não estava mais sob efeito de nenhum Genjutsu. A menos que não fosse o Shouten no Jutsu outra vez, aquela era a verdadeira Hana Sakegari.

A Mizukage avaliou rápido: ainda estavam sobre um prédio residencial no centro da vila. A Yuurei à sua frente, embora fosse jovem, mostrava-se uma adversária perigosíssima; não poderia correr o risco de subestimá-la outra vez. Sob hipótese nenhuma ela deveria escapar daquele terraço.

Assim, valendo-se de toda água que já havia conjurado, Mei pisou firme sobre ela, provocando uma ondulação. Imediatamente, executou a sequência de dezesseis selos manuais e anunciou a técnica:

— Suiton: Hachikakukeirou no Jutsu (Estilo Água: Técnica da Prisão Octogonal).

Oito paredes de água se ergueram ao redor das duas combatentes, fechando-se acima delas em uma cúpula abobadada. Com o ambiente fechado e totalmente selado por dentro, a Mizukage estaria menos restringida. Afinal, suas duas Kekkei Genkai eram bem violentas e não poderiam ser usadas em qualquer lugar.

Com o selo do Cavalo formado nas mãos, Mei inspirou tanto ar quanto podia.

— Futton: Kumou no Jutsu (Estilo Ebulição: Técnica da Névoa Qualificada).

Pela boca, Mei expeliu uma névoa altamente corrosiva, capaz de derreter até mesmo os ossos do Susanoo de Sasuke Uchiha (quando ele invadira a Reunião dos Cinco Kages, anos atrás). Em um ambiente fechado como aquele, somente ela, por ser a usuária da técnica, estava imune aos efeitos devastadores da névoa ácida.

Algo ali estava muito errado.

“A névoa está se aproximando dela.”, Mei estreitou os olhos, desconfiada. “Por que essa garota continua aí, parada?”

Em menos de um minuto, Hana Sakegari seria engolida pela névoa ácida. Não obstante, a Yuurei sequer esboçava fugir do ataque da Mizukage. Em um gesto altamente teatral, Hana fez uma concha ao redor da boca, ao passo que seus olhos travessos não se desviavam de Mei Terumi.

— Pessoal... — deu um gritinho, fingindo-se de assustada. — Socorro!

Aquilo não fazia o menor sentido para Mei. Hana Sakegari estava presa em uma barreira de água poderosa, fechada internamente pela própria Mizukage. Ninguém poderia livrá-la ou sequer aparecer ali dentro para ajudá-la. Nenhum jutsu de espaço-tempo, por mais complexo que fosse, funcionaria. A menos que a Yuurei tivesse à disposição um imenso poder bruto atacando por fora, a Prisão Octogonal jamais cederia.

“Eu não fiz isso para me esconder, Mei-neesan”, lembrou-se das palavras ditas pela Yuurei em seu último movimento. “É uma técnica que eu uso para ampliar o poder das minhas ilusões.”

 Havia finalmente entendido.

Em toda a Vila Oculta da Névoa, só uma arma poderia destruir aquela barreira. Mei olhou para o lado para confirmar os próprios temores.

Só teve dois segundos para executar a manobra evasiva. A gigantesca lâmina de chakra zuniu acima de seus olhos, rasgando tudo ao redor. Água, ar, névoa; tudo foi dissipado em um instante pelo poder maciço da espada Hiramekarei.

Quando Mei Terumi se levantou, viu-se novamente cercada. Mas, desta vez, a Yuurei não estava usando clones de si mesma. Agora, a Mizukage era sitiada pelos próprios subordinados. Eram como gárgulas empoleiradas sobre os prédios ao redor. Chunnins, Jounins e ninjas-caçadores Oinin, tantos deles imóveis, em perfeito estado hipnótico. Mei contou, pelo menos, quatro batalhões inteiros espalhados ao seu redor. Além deles, protegendo Hana Sakegari, estava seu amigo e guarda-costas, com Hiramekarei já desembainhada.

— Choujurou... — Mei lamentou. O rosto dele parecia petrificado, o olhar vazio.

A Mizukage não sabia exatamente o que sentir naquele momento. Uma fúria violenta borbulhava dentro dela, ao passo que também estava com medo. Não da morte, mas do que aconteceria à vila se ela falhasse ali. Também estava frustrada consigo mesma. A situação fugira completamente de seu controle, se é que um dia estivera.

Cercada por mais de cinquenta ninjas de elite, um espadachim da Névoa e uma Yuurei, a Mizukage não poderia manter mais o combate restrito àquela área. E mesmo sendo a mais poderosa da Vila da Névoa, se não lutasse com força máxima, jamais sairia dali com vida.

Por outro lado, não poderia envolver os civis; seria um banho de sangue. E qualquer ninja que chegasse perto demais cairia no Genjutsu de Hana Sakegari — e, consequentemente, seria mais uma adição ao poder da invasora.

Mei estava sozinha. Uma contra dezenas, fora a Yuurei.

Hana punha-se atrás de Choujurou. Com os braços, ela o enlaçava pelo pescoço, recostando a cabeça por sobre o ombro dele. Fazia-se de donzela indefesa e Choujurou de seu cavaleiro galante. A garota dirigia um olhar perverso para a Mizukage, enquanto os lábios sussurravam ao espadachim.

— Seu nome é Choujurou, não é?

— Sim, Hana-sama. — Não havia qualquer emoção na voz dele. Era uma marionete humana.

— Choujurou-kun... você me ama?

Aquilo era insuportável para Mei Terumi. Gritou: “deixe-o em paz, sua louca!”. Hana a ignorou.

— Eu amo a Hana-sama.

A Yuurei deu um risinho.

— E vocês, pessoal? — gritou, empolgada.

A resposta foi uniforme. Todos os ninjas da Névoa ao redor da Mizukage juraram amor à Hana Sakegari. O semblante de Mei ficou ainda mais severo. Ver seus companheiros feitos de fantoche daquele jeito era demais para ela.

— Bruxa maldita...

Hana fez uma careta tristonha.

— Ah, Mei-neesan, não fira meus sentimentos — provocou. — Você resistiu bem aos meus Genjutsus, então eu tive que improvisar. Agora, me mostra do que a Mizukage é feita.

Sob o comando de Hana, todos os batalhões se puseram de pé de uma vez. Armas empunhadas, mãos a postos, rostos cobertos por máscaras pintadas. O alvo era um só: a Quinta Mizukage.

Mei não tinha escolha: teria que enfrentar seus próprios camaradas e uma usuária de Genjutsu poderosa, além de defender a vila e seu povo ao mesmo tempo. Respirando profundamente, assumiu postura de ataque. A partir daquele instante, precisaria dosar o chakra com inteligência; desperdício significava morte.

— Vamos acabar logo com isso, bruxa — desafiou a Mizukage.

Hana sorriu.

— Choujurou-kun — sussurrou ao ouvido do espadachim. — Me traga a coluna vertebral dela, está bem?

— Sim, Hana-sama. — Ele deu um passo à frente, brandindo Hiramekarei.

Por fim, a Yuurei juntou as duas mãos no selo da Serpente e, atrelando chakra à própria voz, olhou diretamente para a Mizukage.

— Vamos ver por quanto tempo você aguenta, Meei-neesan — ronronou.

Todos os pelotões da Névoa caíram, de uma vez só, sobre Mei Terumi. Enquanto isso, Hana Sakegari abriu a boca e, suavemente, voltava a cantar.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

Tsunade consultou o relógio na barra de tarefas. Cerca de quinze minutos haviam se passado desde a queda do sinal da Mizukage. E como nenhum outro meio de contatar a Vila da Névoa estava funcionando, ela temia o pior.

Assim como ela, os outros Kages decidiram permanecer logados. Estavam todos, cada um de sua vila, tentando retomar o contato com a Névoa. Em caso de sucesso, reportariam aos demais imediatamente.

— Nada até agora — disse o Kazekage. — A Mizukage não atende às ligações.

Oonoki respirou fundo.

— Tsunade-hime — virou-se para a tela da Hokage, — eu presumo que não autorizará Sasuke Uchiha a investigar o ocorrido.

 A Hokage fez que não com a cabeça.

— Odeio agir assim, Tsuchikage-sama. Mas penso que, se deixarmos Sasuke ir até a Névoa, dançaremos conforme a música do inimigo — disse. — Sem o Naruto aqui, Sasuke é a minha principal defesa contra um ataque-surpresa dos Yuurei.

— Ora, vamos! — Ay vociferou. — A ilha Misuto foi um erro, mas não pode se deixar traumatizar, Tsunade! Além disso, nem sabemos se algo sério realmente aconteceu.

Tsunade também conhecia Kira Ay bem o suficiente. O Quarto Raikage era um homem forte, grosseiro e autoconfiante. Portanto, ela sabia discernir quando ele estava sendo sincero e quando tentava disfarçar o próprio nervosismo.

— Não posso cometer o erro de subestimar os Yuurei outra vez — respondeu ela. — E, mesmo enviando Sasuke, não é garantido que ele saia vitorioso sozinho. Precisamos ter muito cuidado.

Gaara aproximou-se mais da tela.

— Se a Névoa estiver mesmo sob ataque Yuurei, a Mizukage estará totalmente sozinha — falou, sério. — O País da Água é o mais distante de nós. Nenhuma ajuda chegará a tempo.

— Exceto o Rinnegan de Sasuke Uchiha — observou o Tsuchikage. — Ou Naruto Uzumaki, onde quer que ele esteja.

Tsunade praguejou mentalmente.

— Tsuchikage-sama, nem por um instante, — tentava conter a irritação na voz. — nunca vou dar as costas para a Mei! Ou para qualquer aliado! Mas não posso sacrificar o Sasuke, enviando-o para uma missão às escuras.

Em meio à tensão e à desconfiança, um toque conhecido atraiu a atenção de todos para um ponto em comum na tela. Um participante estava pedindo permissão para reingressar na reunião dos Cinco Kages. Ver o ícone da Mizukage piscando trouxe uma onda de alívio a todos.

— Viram? — Ay gargalhou. — Eu disse que não havia motivo para alarde. A Mizukage deve ter se esquecido de pagar a conta de luz Só isso!

Tsunade não pôde descrever o quão melhor estava se sentindo. Sem demora, autorizou o ingresso de Mei Terumi à reunião. Uma quarta janela se abriu no canto inferior da tela da Hokage.

A mulher que falava do escritório da Mizukage não se assemelhava em nada com Mei Terumi. Era mais jovem, ruiva — de cabelos vermelho-sangue — e olhos azul-safira, como os de Naruto.

— Saudações, grandes Kages. É uma honra estar diante de vocês. — A mulher ruiva inclinou a cabeça de forma tão cortês quanto era seu tom de voz. — Eu sou Mira Uzumaki, segunda comandante dos Yuurei e porta-voz do Líder-sama.

Para Tsunade, foi como ver um fantasma do passado. Havia conhecido pessoalmente a bela Kushina Uzumaki. O rosto de Mira era, praticamente, idêntico ao da esposa de Minato Namikaze. Até o penteado da Yuurei era o mesmo. Tsunade soubera que, quando Naruto e Mira se encontraram na Folha, no fim da invasão, ele havia confessado ter visto o rosto da mãe no da Yuurei. Agora, vendo-a ali, Tsunade não poderia afirmar que se tratara de um exagero.

Talvez a única coisa que as distinguisse era o fato de que, diferentemente de Kushina, a qual sempre fora uma mulher vivaz e espontânea, Mira Uzumaki se mostrava ser o oposto disso. E, pela forma como a Yuurei havia se apresentado, aparentava ser alguém que recebera boa educação.

— Você, maldita! — Ay trincou os dentes, tão surpreso quanto furioso. — Cadê ela? O que fez com a Mizukage?

— Está lá fora — respondeu Mira, serena. — Neste exato momento, uma de minhas subordinadas está sendo avaliada. A Quinta Mizukage é o objeto que escolhi para o teste.

— Objeto?! — explodiu Ay. — Nós somos os Cinco Kages, merda! Quem diabos você pensa que é?

Mira não respondeu a princípio. Ela observava fria, sem piscar, o rosto do Raikage. Tsunade tinha a impressão de haver encontrado uma espécie de rancor nos olhos da Yuurei.

Embora fosse a única a aparecer na tela, não estava sozinha em seu escritório. Junto de Tsunade, Shizune, Shikamaru e os dois ANBU Sai e Yuugao Uzuki também assistiam à reunião dos Cinco Kages. Antes de continuar, a Hokage, discretamente, fez sinal aos demais que estavam com ela.

— Qual o objetivo dos Yuurei, Mira? — perguntou Tsunade.

Mira desviou os olhos por todos os Kages, avaliando-os um por um, antes de responder.

— O objetivo último do Líder-sama é a paz.

— Isso é uma piada, não é? — resmungou o Raikage. — Que porcaria de paz é essa que você está dizendo? Nós trouxemos a paz na Quarta Guerra Ninja, não vocês! Todas as Cinco Nações estavam em verdadeira paz até os Yuurei aparecerem! Vocês invadiram minha vila, sequestraram e mataram meu irmão! Que merda de paz é essa?

O olhar severo de Mira Uzumaki se fixou em Kira Ay.

— As Cinco Grandes Nações se orgulham da paz estabelecida ao fim da última guerra. — Ela havia endurecido a entonação, embora ainda falasse de maneira comedida. — Mas paz para quem?

E, desafiadoramente, encarou cada um dos Kages antes de prosseguir.

— Nada mudou para os países menores — continuou. — A violência e a barbárie continuam tão reais para o restante do mundo ninja quando o eram antes das Cinco Grandes Nações forjarem uma frágil aliança. Na verdade, vocês apenas pararam de guerrear entre si porque encontraram inimigos em comum.

Nenhum Kage respondeu. Mira continuou:

— A Akatsuki, Madara Uchiha e Kaguya Ootsutsuki. Sem esses nomes, vocês continuariam enganando e destruindo uns aos outros, e arrastando o resto do mundo com vocês. Dizem: “nós trouxemos a paz”. Porém, apenas para si mesmos. Enquanto as Cinco Grandes Nações lutavam como aliadas na Quarta Guerra Ninja, os países pequenos serviam como campo de batalha.

Oonoki cruzou os braços.

— Não me venha com esse falso moralismo, Mira Uzumaki — resmungou. — Os ataques à Nuvem, à Folha e à Névoa, a tomada do País dos Demônios e o massacre à Vila das Fontes Termais; tudo isso só denota a hipocrisia do seu discurso.

Mira negou com a cabeça.

— Você só está vendo uma árvore e não a floresta inteira, Tsuchikage — respondeu-o. — Para construir um mundo pacífico, é preciso quebrá-lo primeiro. Destruí-lo para, só então, reconstruí-lo com novos alicerces.

— Novos alicerces, é? — desdenhou o Raikage. — Vá para o inferno com seus novos alicerces.

Por um instante, Mira ignorou os demais participantes e voltou os olhos para o Raikage. Tsunade considerou que, não fosse um encontro virtual, a Yuurei, provavelmente, já teria atacado Ay ali, no ato.

— Eu já estou no inferno desde a infância, Raikage.

Os demais Kages se entreolharam. Todos sabiam da história por trás do massacre do clã Uzumaki, pouco tempo após o fim da Segunda Grande Guerra Ninja.

Gaara aproximou-se da tela.

— Sobre o seu plano, o que Naruto Uzumaki tem a ver ele?

A atenção da Yuurei se desviou do Raikage para o Kazekage, e o semblante de Mira Uzumaki, aos poucos, suavizou. Ao menos, ela já não possuía o olhar assassino, embora sua postura continuasse rígida.

— O Naruto é a peça-chave para o novo mundo que o Líder-sama planeja.

Tsunade suspirou impaciente.

— Sem rodeios, Mira. Vocês precisam do poder Bijuu que está no Naruto. Isso é óbvio! A questão é: para quê?

Observando cuidadosamente o rosto duro que a Hokage lhe dirigia, a vice-líder dos Yuurei respondeu:

— Naruto é Jinchuuriki de todas as nove Bijuu. Com todo esse poder armazenado dentro de si, Naruto, sob o domínio do Líder-sama, será o instrumento que usaremos para destruir o mundo e recriá-lo — explicou.

— Recriar o mundo? — questionou Gaara.

Mira assentiu, solene.

— Um mundo ideal. Perfeito. Sem a presença do chakra, sem guerras nem mortes — disse a Yuurei. — Um mundo pacífico para todos, de todos os lugares.

Ay ridicularizou.

— Já entendi! Vocês querem refazer o Tsukuyomi Infinito.

Mira Uzumaki fez que não.

— Não estou interessada em uma mera ilusão, Raikage — retrucou ela. — Planejamos refazer o mundo real. Imaginem: suas famílias, seus amigos, todos aqueles com quem um dia se importaram e amaram, todos de volta! Imaginem o que seria viver com eles em um mundo de paz. Nada de mortes, guerras e doenças. Todas as pessoas cooperando juntas e vivendo em harmonia.

As reações foram distintas. Para o Raikage, as palavras de Mira eram loucura, fruto de uma mente traumatizada pelo passado. O Tsuchikage, embora não fosse tão cético quanto Ay, também duvidada. Gaara, por sua vez, considerava com cautela o plano dos Yuurei, afinal, como seria possível fazer tal coisa sem ser por meio do Tsukuyomi Infinito?. Já Tsunade pensava em Naruto e o que aconteceria com ele.

Foi ela quem se adiantou:

— Como fariam isso?

— Banbutsu Souzou no Jutsu (Técnica da Criação de Todas as Coisas) — explicou a Yuurei. — Hagoromo Ootsutsuki, o Rikudou Sennin, a utilizou para repartir o chakra do Juubi e criar as Nove Bijuu: monstros com personalidades, tamanhos e poderes bem distintos. Com as reservas quase inesgotáveis de chakra de Naruto Uzumaki somadas ao poder do Líder-sama, usaremos o mesmo jutsu para dar nova forma ao mundo e recriá-lo a partir do zero, nos mais belos detalhes.

— Isso é impossível! — retrucou Oonoki. — Nem mesmo Kaguya Ootsutsuki tinha esse nível de poder. Como o líder de vocês poderia reescrever o mundo só com o chakra Bijuu do Naruto?

A Yuurei sorriu para o velho Tsuchikage.

— Vocês não têm a menor ideia do poder do Líder-sama, o poder para destruir todas as coisas — disse. — Assim como não têm ideia do poder real de Kaguya Ootsutsuki, cuja maior parte está, agora, selada no Naruto.

Tsunade desviou o rosto para a direita, procurando Shikamaru. Pensativo, o Jounin escutava cada palavra em silêncio. Ele exibia a típica expressão de enfado. Tsunade não via aquilo como bom sinal.

Voltando-se para a tela, foi direto ao ponto:

— O líder de vocês é, na verdade, um Ootsutsuki, não é mesmo? — perguntou. — Por que vocês dois precisaram da Akatsuki anos atrás? E qual é a verdadeira origem do Meiton?

A reação de Mira Uzumaki deixou claro que ela não estava esperando por aquelas perguntas. Surpresa, porém satisfeita, a vice-líder dos Yuurei assentiu para a Hokage.

— Entendo. Vocês perceberiam cedo ou tarde — disse Mira. — De fato, o estilo Escuridão não procede da Árvore Shinjuu. No entanto, o poder do Líder-sama é tão antigo quanto a Deusa Coelho. Sobre a filiação do Líder-sama, ele não é do clã Ootsutsuki, lamento desapontá-la. Quanto ao fato de termos sido treinados por Nagato-sama e Konan-sensei, o Líder-sama e eu tínhamos propósitos diferentes à época.

Tsunade olhou de esguelha para Shikamaru antes de continuar.

— Então Iori Kuroshini é o nome verdadeiro dele?

Mira confirmou.

— Acredite, Hokage. O fato de eu estar aqui, contando isso a vocês, não faz diferença. Não faz a menor diferença. — Levantou-se da cadeira da Mizukage. — Agora, se me permitem...

— Aonde está indo? — perguntou Gaara.

— O teste da minha subordinada está chegando ao fim — respondeu. — Enquanto isso, decidam o que vão fazer a respeito da Névoa. Afinal, já sabem onde estou.

Com um simples gesto, Mira Uzumaki rasgou o ar e, diante dos quatro Kages, desapareceu na escuridão.

 

 

                                                                            ***

 

 

Com pouco chakra sobrando, estava ficando sem muitas opções.

Mei Terumi resistia bravamente. Mesmo em enorme desvantagem numérica, a Quinta Mizukage lutava como uma fera selvagem enquanto, paralelamente, defendia-se do Genjutsu sonoro de Hana Sakegari. Estava exausta, mas se recusava a cair.

Já não eram apenas quatro batalhões. Embora Mei tivesse nocauteado mais de trinta oponentes, Hana Sakegari havia enfeitiçado todos na Vila Oculta da Névoa e lançado militares e civis contra a Mizukage. Homens, mulheres e crianças — ninjas ou não — estavam todos ali, trazidos pela voz da Yuurei.

Hana Sakegari precisava ser derrubada a qualquer custo. Desde o começo, Mei procurava uma abertura para chegar até a Yuurei. Apenas uma bastaria.

— Você está perdendo o ritmo, Mei-neesan — disse Hana, usando o Gennin próximo de Mei para falar a Mizukage.

— Mas eu confesso... — agora falando por uma mulher à esquerda de Mei, Hana continuou. — Você conquistou o meu respeito. Sabe, eu admiro mulheres fortes! A Mira-sama, a Suki-sama, a Kurenai Sarutobi e, agora, você.

Uma idosa caminhou até estar a dois metros de onde a Mizukage lutava. Carregava uma kunai em uma das mãos ossudas.

— O Juha-sama foi injusto — prosseguiu Hana, por meio da senhora. — Tenho certeza de que o Quarto Mizukage reconheceu a sua força ao escolhê-la como sucessora. Além disso, você tem coração.

A anciã ergueu a ponta da faca contra a própria garganta. Em um movimento rápido, Mei brandiu o chicote de água com o qual estava lutando e a desarmou.

— Cale a boca — vociferou Mei, irritada. — Você fala demais.

Aquela não tinha sido a primeira vez que um civil tentava cometer suicídio, sob influência de Hana. E Mei, além de lutar contra um número quase infindável de oponentes, desdobrava-se para proteger seu povo da Yuurei. Dadas as circunstâncias, a Mizukage fora forçada a abandonar o terraço; Hana conseguiu levar a luta para as ruas da Vila da Névoa.

Mei Terumi racionava seu chakra para se manter ativa por mais tempo. Contra civis e Gennin, valia-se tão somente de Taijutsu e Ninjutsu básico. Contra oponentes mais ranqueados — como Chunnin —, usava seu Suiton: Ryuusuiben (Estilo Água: Chicote do Fluxo de Água), com o qual defendia-se e contra-atacava imediatamente, sem desperdiçar chakra. Era uma técnica bem versátil para combates da média para a curta distância.

Embora os números fossem um problema, o desafio maior era os ninjas de elite — os Jounin e os caçadores Oinin. Mesmo em menor quantidade, eram muito mais poderosos que a maioria menos ranqueada. Também havia Choujurou e, por fim, Hana Sakegari.

A Yuurei estava a um pouco mais de quinhentos metros de distância, no alto de um prédio. A voz melodiosa de Hana era um Genjutsu poderoso ao qual Mei, até aquele instante, estava resistindo bem. No entanto, não poderia continuar daquele jeito. Era só uma questão de tempo até que, cansada, sua mente finalmente cedesse ao som encantador.

“Um ataque direto não vai funcionar”, Mei considerava. “Ela vai se teletransportar para outro ponto antes que eu chegue per-”

Desviou da Fuuma Shuriken e saltou para a parede do prédio mais próxima. Quatro Jounin a cercaram. Tomando impulso, Mei saltou contra o primeiro e, desviando de uma baforada de fogo, brandiu o Chicote de Água e afastou o atacante, forçando-o a saltar para trás. Outros dois a flanquearam. Mei escolheu rápido o próximo alvo e avançou, atraindo o outro para suas costas. Trocando rápidos golpes contra o primeiro oponente, girou e atacou o segundo, usando a água e um Taijutsu bem apurado.

Olhou rapidamente para cima. O quarto Jounin — o único que ainda atacado —, após um salto, fazia selos manuais. O primeiro do grupo, que lançara o jutsu de fogo, também estava avançando.

— Fuuton: Reppuushou (Estilo Vento: Palma Vendaval) — aquele que fazia o ataque aéreo estendeu as mãos na direção da Mizukage, lançando uma onda de vento.

— Katon: Goukakyuu no Jutsu (Estilo Fogo: Técnica da Grande Bola de Fogo) — Pelas costas, o outro lançava fogo novamente.

“Um ataque combinado!” Mei saltou para longe, fugindo do primeiro jutsu, e, ágil com as mãos, executou selos e mirou no segundo.

— Suiton: Suidan no Jutsu (Estilo Água: Técnica do Projétil de Água) — Disparou uma torrente de água pela boca, engolindo completamente a bola de fogo e arremessando seu usuário para longe.

Os outros três Jounin avançaram. Mei girou e, valendo-se da água espalhada pelo chão, conjurou um chicote d’água mais uma vez. Seguiu-se um intenso combate de Taijutsu à curta distância, em que Mei levava certa vantagem por dispor do Suiton: Ryuusuiben. Ainda assim, era uma troca de golpes violenta de três contra um.

— Suiton: Yari Shibuki (Estilo Água: Lança de Gotículas). — Entre uma investida e outra, Mei encontrou uma breve abertura e, rapidamente, subdividiu o Chicote de Água em três. Sacudindo-os com destreza, usava-os para manter os adversários na curta distância, onde sua vantagem crescera exponencialmente.

Um, depois outro e, finalmente, o terceiro. Mei havia vencido, porém não sem levar seu corpo ao limite do desgaste. Era impressionante como ainda se mantinha de pé. Enquanto arfava, recuperando o fôlego, a voz doce de Hana Sakegari convidava-a à rendição.

“Ainda não”, Mei pressionou a ferida aberta no lado direito, concentrando-se por meio da dor.

Ergueu os olhos. Aquele breve combate a afastara ainda mais do prédio onde Hana estava cantando. Por outro lado, os oponentes mais próximos eram Gennin. Estavam em doze. Mais distante, uma multidão de civis caminhava em sua direção. Mei teria cerca de quatro a cinco minutos até que o bando maior a alcançasse.

“É isso!”, pensou. “Uma abertura.”

Não teve dificuldade com os Gennin, mesmo em seu estado enfraquecido. Sua preocupação maior era em não os matar, apenas removê-los do combate. Quando a última deles — uma jovem Kunoichi — finalmente tombou desacordada, a multidão de civis estava a menos de trinta metros; corriam ferozes em sua direção. Mei esperou o tempo exato. Vinte, dez, cinco metros.

E quando estava prestes a ser engolida pela multidão, ergueu o braço direito acima da cabeça enquanto o esquerdo mantinha um selo à altura do peito.

— Kirigakure no Jutsu (Técnica da Ocultação pela Névoa).

O denso nevoeiro se espalhou pelas ruas da vila, ofuscando tudo em um raio de trezentos metros. Por estar cobrindo uma área bem mais extensa, Mei precisou dispensar uma quantidade maior de chakra. E, apesar disso, sabia que sua janela de oportunidade era pequena. Assim que a névoa fosse estabelecida, a Yuurei faria seu movimento para dissipá-la — e Mei Terumi sabia exatamente qual seria.

Como ela havia previsto, Choujurou, de longe, expandiu a lâmina de Hiramekarei e, com um único golpe, dispersou o nevoeiro.

— Hã? — Afastada e segura, Hana observava. — Ela sumiu?

Os olhos de Yuurei vasculharam as ruas abaixo, mas não havia qualquer sinal visível da Mizukage. Mei desaparecera completamente após invocar a cortina de névoa. Desapontada, Hana estalou os dedos. Um grupo de caçadores Oinin surgiu instantaneamente atrás dela.

— Encontrem-na — ordenou a Yuurei. — A Mei-neesan não deve ter ido muito longe.

Após os ninjas mascarados desaparecerem como vultos, Hana Sakegari voltou, outra vez, os olhos para a multidão. Sabia que Mei Terumi não era uma ninja do tipo sensorial, logo, seria incapaz de ocultar sua frequência de chakra. Era uma questão de tempo até que os assassinos Oinin a encontrassem.

Não demorou mais do que dois minutos. De longe, Hana viu um jovem Gennin, quando atacado por um dos Oinin, explodir em fumaça e se transformar na Mizukage logo em seguida.

— Henge no Jutsu? (Técnica de Transformação) — A Yuurei gargalhou. — Sério que ela tentou algo desse nível?

Hana, no entanto, parou de rir quando outros Oinin atacaram outra Mei Terumi que surgira no meio da multidão; depois, uma terceira, uma quarta mais distante, e ainda uma quinta. Hana trincou os dentes.

— Clones?! — Hana balbuciou. — Ela disfarçou os clones para atrair minha atenção. Sabia que eu iria rastrear pelo chakra!

— Isso mesmo.

Assustada, Hana se virou. A verdadeira Mizukage já estava ali, saltando sobre ela. As mãos, rápidas na sequência dos selos manuais: Cão, Javali, Tigre, Boi, Rato, Pássaro.

— Youton: Youkai no Jutsu! (Estilo Lava: Técnica do Monstro de Lava).

Após moldar chakra e encher os pulmões de ar, Mei disparou uma torrente de lava fumegante sobre a Yuurei. Um ataque de cima para baixo em alta velocidade com enorme poder destrutivo. Mesmo que Hana escapasse da rajada vulcânica disparada pela boca de Mei, a lava acumulada ao redor formaria um grande poço incandescente sobre o terraço, antes que tudo fosse destruído pelo calor e a estrutura inteira desabasse.

Não havia escapatória. Ainda que a Yuurei tentasse usar o Meiton para fugir, jamais teria tempo para abrir um portal de escuridão e saltar sobre ele. A vitória da Mizukage era certa — e o rosto aterrorizado de Hana Sakegari só confirmava isso.

“Morra, bruxa desgraçada!”

No entanto, o contragolpe a pegara de surpresa.

Veio de baixo para cima, atravessando toda a cobertura do prédio, afastando a lava e destruindo tudo no caminho. O monstruoso martelo feito de chakra atingiu Mei frontalmente, arremessando-a com violência para longe.

Hana correu e cobriu de beijos a bochecha de seu salvador. Por muito pouco, mas estava a salvo.

— Choujurou-kun! — suspirou, aliviada. — Você é meu herói!

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Caíra sobre um monturo de pedras. Não sabia onde estava exatamente nem como havia sobrevivido ao impacto. Sua visão estava escurecida, coberta pelo sangue que escorria da cabeça.

Mei Terumi rastejou por entre os escombros. A sensação era de ter sido posta em uma máquina de triturar. Todos os seus músculos queimavam. Quando tentou se levantar, as pernas falharam quase imediatamente. Ela segurou um urro de dor.

“Droga!”, praguejou. “Droga...”

Estava acabada e sabia disso. Era uma questão de tempo até que a localizassem ali — seus próprios companheiros — e a entregassem para a garota Yuurei. Diante da derrota inevitável, Mei Terumi só temia pelo futuro de sua vila. Como Mizukage, havia feito tudo que pudera e, mesmo assim, havia fracassado.

Chegara tão perto. Se tivesse sido, talvez, um segundo mais rápida, poderia ter destruído Hana Sakegari antes de ser atingida, inesperadamente, por Choujurou. Um segundo fez toda a diferença entre a vitória e a derrota completa.

Lá fora, ao longe, podia ouvir a canção. Era um som suave e convidativo. Mei fechou os olhos, respirando com dificuldade. Seu corpo já não aguentava mais lutar.

— Olha só para você — disse-lhe uma voz masculina. — Tão pequena e frágil, como sempre.

Abriu os olhos, assustada. De pé, diante dela, viu seu falecido irmão mais velho, Juha Terumi. Estava com o mesmo sorriso jovial que ela se lembrava ter visto pela última vez — antes da morte do Mizukage Yagura, de sua deserção e de se tornar um criminoso procurado. Havia quantos anos? Mei não recordava. Mas Juha estava ali, como antes. Ali com ela.

— Onii-san...

Juha a olhou com ternura. Seus olhos verde-mar, idênticos aos dela, transmitiam-lhe segurança.

— Mei, a Hana está vindo — disse ele.

— Eu sei.

Sentiu o toque quente da mão dele coçar-lhe os cabelos. Mei enrubesceu, sentindo-se uma garotinha novamente. Como era bom estar com seu irmão outra vez. Ele agachou-se, ficando à altura dos olhos dela. Sorrindo, estendeu para a irmã uma faca kunai que trazia na mão.

— Mei... — sussurrou para ela. — Por que você não se mata? Assim podemos ficar juntos de novo, você e eu.

A Mizukage tomou a faca e observou cuidadosamente o objeto cortante. A morte parecia uma saída tão agradável naquela hora. Não precisaria de muito; um simples golpe no lugar certo e tudo estaria acabado. Por que prolongar o sofrimento? Por que continuar lutando?

Com os dedos ao redor do cabo, Mei segurou a faca com força. Era seu bem mais precioso naquele momento.

E, sem hesitar, golpeou a própria mão, girando a lâmina contra a carne. A dor pujante percorreu-a de cima a baixo, removendo-a do transe. Juha não estava mais lá. Nunca estivera. Mei puxou a ponta da kunai e grunhiu de dor.

— Vai precisar mais do que isso... se quiser me matar... — Sentada, olhou para o lado direito. — Bruxa.

Hana Sakegari assentiu com um sorrisinho. Estava acompanhada por Choujurou e um esquadrão com dez caçadores Oinin, bloqueando a única saída do beco em que haviam encontrado a Mizukage. Mei olhou para cima e viu vultos saltando entre os prédios acima. “Ninjas...”

Era o fim.

“Não...”, as pernas de Mei latejavam. “Não assim...”

Reunindo todos os resquícios de força que ainda lhe sobravam, e ignorando os protestos de dor que seu corpo lhe fazia, Mei Terumi se pôs de pé outra vez. Não tinha mais condições de continuar lutando, mas se recusava a morrer ali sentada, de um jeito tão patético. Enquanto ainda estivesse respirando, não iria se entregar.

— Eu tenho que admitir — Hana coçou a cabeça, encabulada. — Você está um bagaço. Mas continua durona, mesmo estando toda ferrada.

A Yuurei fez um sinal com a mão, ordenando que Choujurou avançasse. O espadachim não titubeou. Caminhava até a Mizukage, o chakra em Hiramekarei sibilava como chamas azuis.

Mei o olhou nos olhos. Não havia nada de humano no rosto de Choujurou. Nada que a lembrasse do pequeno espadachim com problemas de autoconfiança, ao qual, mesmo assim, Mei Terumi confiara sua vida — pois sabia o quão forte ele era. Ser morta por ele, seu guarda-costas, era, no mínimo, irônico.

O espadachim ergueu Hiramekarei acima da cabeça, pronto para o golpe terminal.

— Cuide da vila, Choujurou — ela sussurrou, sem remorso. — Proteja a todos.

Em resposta, o espadachim da Névoa disse:

— Sem deixar corpos. Assim agem os Yuurei.

E arremeteu a lâmina contra a Mizukage.


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Notas finais do capítulo

Fim da primeira parte.


O que esperavam? Foi bom? Ruim? Mais ou menos? Me digam o que acharam.

Pelas estatísticas, eu vejo que tem muita gente lendo, mas que não diz nada depois. Então, pessoal, se possível, deixe um comentário ao final pra dar aquela força. Aceito elogios e críticas. Suas opiniões são importantes e muito bem-vindas! Alias, quem me conhece de longa data, sabe que eu gosto de conversar com os leitores! :)

Data provável de lançamento: 04/02/2022 (Já está pronto, então pode sair antes; prometo nada).

Próximo capítulo: Palavra

Obrigado e até mais, pessoal!

Até o próximo capítulo o/



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