Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 37
Amor


Notas iniciais do capítulo

Um dos capítulos mais difíceis que eu escrevi até agora. Vamos continuar com o killing spree, e vamos fazer nosso pequeno Dylan despertar o poder dentro dele. Vamos fazer alguém, inútil (como muitos dizem), até então, se tornar útil. Vamos entrar nos capítulos finais.



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Muitos campistas viraram para olhar o que tinha acontecido. Agora que não tinha mais monstros para matar, eles ficaram sem ter o que fazer.

— O quê? — disse um filho de Ares, que não vira Talassa morrer e que era demasiado parecido com Louise. — Pra onde eles foram? A gente veio aqui só pra isso?!

Com essa deixa, os outros campistas começaram a protestar em desânimo, e o chalé de Ares, que viera completo, gritou em fúria. Pelo visto eles buscavam algo emocionante, não monstros que sumiam no melhor momento. Não os culpava. Eles precisavam saber o que tinha acontecido, e então acabar com aquele alvoroço todo.

— Colin — chamei. — Fale pra todos o que acabou de acontecer. Louise, vá chamar a Julieta e Annabeth, pegue Percy e espere aqui. Eu sei um jeito de levar todo mundo de volta.

— E pra onde você vai? — quis saber Louise, meio interessada, meio preocupada, o que não era nem um pouco normal.

— Eu vou procurar Luna.

— Dylan, a mestra ainda...

Antes que ela pudesse sequer protestar, eu saí em disparada pelo caminho em que Luna saiu sorrateiramente logo depois do ato. Eu sabia que tinha uma boa chance de ela ter usado a mágica e desaparecido, mas eu precisava falar com ela.

Era a segunda vez que eu via alguém morrer na minha frente, e, mesmo que eu não gostasse tanto assim de Talassa como gostava de Mirina, era uma sensação estranha, e me dava arrepios saber que uma pessoa se fora para sempre. Por algum motivo que brotava do âmago do meu ser, eu odiava a morte. Não a Morte, Tânatos em si, mas o fato de ele ter que levar as pessoas um dia. Era egoísmo meu, mas todos queremos que as pessoas que amamos vivessem para sempre conosco. Eu sabia, tinha certeza que alguém nesse mundo amava Talassa, ou pelo menos já amou. E o modo como Luna falou com ela e a olhou antes de matá-la esclareceu tudo… Elas foram escolhidas por Hécate para serem bruxas. Cresceram juntas, viveram juntas, aprenderam coisas juntas, mas chegou um dia que elas tomaram caminhos diferentes. Era por isso que eu precisava falar com ela.

Estava tão imerso nessas hipóteses que não percebi de imediato a capa preta voando pra cima de minha cara, me derrubando no chão.

— O que você quer? — perguntou Luna, apontando seu cajado para meu corpo caído. — Saia daqui, vá embora, eu já fiz o que deveria fazer.

O fogo que saía da tocha dos semideuses alguns metros atrás da gente emitia luz o suficiente para eu ver seus olhos, que estavam marejados de lágrimas. Apesar de tudo, sua voz continuava firme.

— Você a amava, não era? — perguntei.

— Não sei do que você está falando.

— Talassa, é disso que estou falando. Eu vi como você olhou pra ela. Você a amava. Por que fez isso?

Ela levantou um dedo, e eu fiquei de pé num salto involuntário.

— Não há motivos para você vir aqui, filho de Poseidon. O que aconteceu é passado, tinha que ser feito.

— Então é só isso o amor? De todas coisas que dizem sobre, de todas as fantasias, histórias, é só isso? Algo sem fundamento, que acaba do nada?

— Não devemos nos dobrar perante o amor, Dylan — era a primeira vez que ela me chamava de Dylan. Percebi ternura na sua voz, que, com a frase subsequente, voltou a ficar firme. — Nesse mundo, amar é como baixar a guarda, e você pode ser esfaqueado a qualquer momento. Olhe só o que acontece com quem ama, Dylan. Ficamos fracos e vulneráveis. O amor é o melhor e o pior sentimento, ao mesmo tempo, e você vai descobrir isso cedo o bastante. Guie-se por ele, mas não deixe nem por um instante ele te dominar.

— Mas por quê…?

— Você vai ter explicações no tempo certo.

— Ah, sério?! Cansei disso já! Odeio quando escondem as coisas de mim! Por que você não pode falar de uma vez?!

— Porque você não entenderia. Vão acontecer coisas que vão lhe obrigar a amadurecer. E, quando o fizer, lhe explicarei. Até lá, cuide-se.

— Você só veio aqui para fazer isso? Por que não fez antes, quando ela estava sozinha?

— Eu tinha que fazer isso perto de você. Do jeito que é previsível, sabia que iria vir correndo até mim, perguntando exatamente o que perguntou. A verdade é que eu também tenho que lhe falar algo.

— E o que é? — indaguei, agora curioso.

— Você acha que tem sorte?

— Nunca tive muita.

— Tem o bastante. A chave dessa batalha está ali, escutando o pequeno discurso que o filho de Atena está fazendo. Engraçado como é ele quem está contando tudo, já que você deveria tomar as honras.

— Eu não ligo pra isso. Não estou aqui pra ser honrado, eu só quero pegar o Percy e ir embora daqui.

— Esqueceu da sua mãe, não é?

— O que você sabe sobre ela? Ela é um monstro agora.

— Não, não é sua mãe.

— O que você quer dizer com isso?

— Quando ela fizer, e tenho quase certeza que irá fazer, não hesite, ataque. Libere toda a sua raiva. Deixe, apenas dessa vez, o poder lhe dominar. Isso irá ser útil.

— Do que você está falando?

— Da cura e do charme.

— Eu definitivamente não estou entendendo nada.

Ela sorriu, e depois virou as costas e começou a andar. Eu a segui.

— Espere! Quando ela fizer o quê? Que poder? Cura e charme? Ei, espere!

Mas, quando pisquei, ela já tinha sumido, e só restou a noite, e um estrondo ensurdecedor, que eu reconheci. Tinha que voltar lá, já tinha perdido tempo demais.

Corri o mais rápido que pude, e, quando cheguei, vi todos os campistas congelados de terror, a ciclope reaparecera, e segurava Colin, Louise e Julieta. Pelo visto não ligava mais pra Percy, já que seu plano todo fora por água abaixo.

— Está vendo, Dylan, o que acontece quando entra em meu caminho? Mostre-se agora, e seus amigos não sofrerão danos, caso contrário… — ela fez pressão nos três, que gritaram de dor. Não aguentei ouvir aquele som.

— Eu estou aqui! — gritei, afastando todos do meu caminho e chegando na frente. — Solte eles, você quer a mim!

Ela soltou Colin e Julieta, que caíram no chão, tossindo, mas não soltou Louise, que se debatia incansavelmente.

— Solte ela! — berrei, me aproximando mais.

— Dylan, seu estúpido! — gritou Louise de volta.

— Estúpida é você se acha que vou deixá-la!

— Como você é tolo, Dylan… Amor é para os trouxas. Mas, se usado corretamente, pode acarretar um grande poder. Eu preciso do seu poder, Dylan!

— Então use a mim! Deixe-a ir.

Ela tremeluziu e voltou à forma “humana” novamente, segurando Louise com uma mão, e a lança dela na outra.

Olhei para Louise. Ela tinha um olhar de derrota no rosto, e olhava pra mim expressivamente. Moveu os lábios, formando uma frase sem sentido pra mim no momento. “Eu vou esperar você, idiota”. Depois, o tempo pareceu ficar em câmera lenta. Lembro do som do grito de dor de Louise quando a lança perfurou sua barriga, bem no centro. Lembro de correr até ela, sem ligar para o que iria acontecer. Eu só ligava pra ela. E eu lembro de chegar tarde demais. Seu corpo caiu, mole, no chão, e, quando peguei em seu rosto gelado, pálido e sem vida, seus olhos estavam parados, fitando o horizonte.

— Louise, não! — eu gritava, balançando sua cabeça. — Por favor, você também não! Acorde Louise, acorde! Eu preciso de você… Eu amo você!

As lágrimas começaram a cair de repente, sem eu nem sentir. Depois, vieram os gritos de agonia. Julieta se abraçara em Colin, e os dois começaram a chorar. Os campistas tinham olhares atônitos, estupefatos. E eu continuava a balançar o corpo de Louise, buscando uma maneira, tentando acordá-la, tirar vida de algum lugar escondido, mas não dava certo. Ela continuava parada, imóvel, gelada.

Olhei para cima. Vi o rosto maligno de minha mãe, me observando com atenção. Ela tinha feito isso. Ela tinha matado Louise, e ela ia pagar por isso. Ela tinha que pagar por isso. Senti algo brotando de dentro de mim, um ódio tão grande que eu tinha que gritar para liberá-lo, ou se não sentia que iria explodir. Ele foi crescendo mais e mais. Minhas mãos tremiam de raiva. Fechei os punhos. Eu não ligava se era minha mãe. Eu só sabia que tinha que matar a pessoa que fez isso à Louise, porque, acima de tudo, eu a amava. Uma força enorme me dominava. Segui o conselho de Luna, não hesitei, deixei-a me dominar. Peguei minha espada e levantei.

Eu amei Louise, e, portanto, deixei minha guarda baixa. Fui esfaqueado, mas eu estava vivo, e iria esfaquear de volta. Gritei de ódio puro e avancei em direção à minha mãe, e não para defender alguém, para tentar salvá-la do monstro que ela havia se tornado.

Avancei para matá-la.


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