Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 34
Anjo


Notas iniciais do capítulo

Assim como o Dylan, eu nunca pensei que esse capítulo iria chegar, finalmente revelar a verdade pra vocês :C, mas ainda não acabou, ainda tem todas as explicações e o final por aí!



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— Tem como andar rápido aí? — Gabriel, que tinha prendido as mãos Talassa com uma corda, como uma rédea, fazendo ela parecer um cachorrinho bem feio, a empurrava para frente.

Estávamos andando a meia hora, e meus pés já começavam a doer. Assim que Edward, Anastasius e Colin chegaram com Louise e Julieta, alguém — Louise — me acordou abruptamente, e saímos imediatamente. Lembro de ter dormido quando a caverna ainda estava iluminada pela luz do sol, mas, quando acordei, uma fogueira tinha que dar luz à caverna e, ao sair, vi que a lua já havia percorrido um quarto de seu caminho, o que, na época do ano em que estávamos, significava que já era mais ou menos dez horas da noite. Como eu podia dormir tanto?

Minha ficha só tinha caído agora. Gastamos tanto tempo viajando por todo os Estados Unidos, vendo coisas novas, conhecendo novas pessoas e quase morrendo que eu realmente tinha esquecido qual era o sentido de estarmos fazendo aquilo: salvar Percy Jackson. Eu nunca pensei que esse momento realmente chegaria. Todo mundo estava bem quieto, sentido a tensão. Estávamos caminhando direto para o esconderijo do — segundo a profecia — “ciclope mais forte”, e eu realmente gostaria que ele fosse igual àquele que Louise transformou em pó tão facilmente no aquário. Ah, o aquário. Difícil acreditar que faz apenas pouco mais de duas semanas que eu saí de Albuquerque em um táxi que viajava na velocidade do som com três garotas, e que uma delas estava morta agora.

Minha cabeça andara tão cheia que preocupações que eu não tivera tempo de pensar muito em Mirina. A morte dela já não me afetava tanto assim, mas ainda era difícil conviver sem o seu sarcasmo. Pensei o que ela diria se estivesse lendo meus pensamentos agora. “Para de viadagem, Dylan!”. Bom, é melhor eu parar mesmo.

Então você me pergunta agora: quem é o ruivo?

Bem, eu lhe responderia, mas tenho que seguir o rumo da história.

Ele simplesmente se recusara a falar. Acordou assustado, como se fôssemos machucá-lo a qualquer momento. Nem o charme de Julieta foi capaz de fazê-lo falar conosco. Foi preciso mostrar a ele a horda de monstros esperando na outra ponta da caverna para que ele, de má vontade, seguisse a gente. Todo mundo se revesou em tentar falar com ele. Menos eu, e agora era a minha vez.

— Hum… Linda noite, não? — comecei. Ele não moveu um músculo, continuou andando pra frente, olhando pro horizonte. Pessoas podem ser bem complicadas às vezes. — Olha só, nós já dissemos que não vamos machucar você, por que não fala com a gente? Afinal, se não fosse o Colin, você não estaria aqui!

— Na verdade foi você que…

Fiz um sinal para Colin ficar calado, e ele obedeceu. Continuei a falar com o garoto.

— Fale com a gente, nós só queremos te ajudar!

— Eu não lembro de você.

Quando ele falou, todo mundo, até Talassa, virou a cabeça para prestar atenção. Bufei de alívio por ele ter finalmente falado, apesar de eu não ter entendido o que ele queria dizer.

— O que isso quer dizer exatamente?

— Quer dizer que eu não lembro de você. Eu não lembro de nada.

Todo mundo se olhou. Agora tínhamos alguém com amnésia no nosso grupo, se é que ele estava no nosso grupo.

— Nada mesmo? — insisti.

— Só poucas coisas… Meu nome, algumas cenas do passado, mas só borrões… e que eu também sou um semideus.

— Qual seu nome?

— Mason Bowen, pelo que eu lembro.

— Você é filho de quem?

— Eu não sei…

— De onde você veio?

— Eu não sei. Eu não sei! — agora ele tinha gritado. Parecia perturbado. Pôs as mãos nas orelhas como se estivesse escutando um zumbido muito alto.

— Dylan! — reprimiu Julieta.

— Mas…

— Já chega — ela se aproximou e abraçou o garoto, como uma mãe. Vai ver ela tinha jeito pra isso mesmo.

Olhei pra Louise, que deu de ombros e continuou a andar, interessada nas árvores como se um monstro fosse sair dali a qualquer momento.

— Já chegamos — disse Talassa, uma hora depois, parando abruptamente no meio de uma clareira, que ficava na margem do rio. — Meu cajado, por favor. E tire essa corda de mim!

Parecia mesmo um bom lugar para se esconder junto com um semideus perdido. Uns trezentos metros à nossa frente, uma caverna enorme desembocava, e eu podia ver que havia luz lá.

— Cale a boca — rosnou Gabriel. — Como pode provar que é aqui?

— Esqueceu que eu jurei pelo Rio Estige? Se não fosse eu estaria morta agora, acha não? — ela revirou os olhos.

Gabriel a soltou lentamente e entregou o cajado à ela. Bom, todos sabíamos o que estaria por vir agora, então todos já estavam preparados. Talassa, no momento que tocou no cajado, o ergueu, recitando algumas palavras desconhecidas, e todos nós paralisamos imediatamente. Segundos depois, escutamos uma segunda risada, além da de Talassa, que ecoava pela noite. Era ela, a mestra. Eu sentia isso. Uma onda de medo me dominou irracionalmente, como se não houvesse mais esperança.

— Chegaram atrasados, semideuses — um vulto preto passou pela nossa frente e parou perto de Talassa. Estava tão escuro que só conseguimos distinguir que era uma mulher pela voz, fria como aço. — Ah, Talassa, achei que não traria eles aqui a tempo. Já estava com a mão coçando para matar Percy Jackson. Mas agora ele não tem nenhuma importância para mim, e, depois que eu matar vocês, vou matá-lo de uma vez por todas, e acabar com seu sofrimento. Mas agora eu tenho o que eu quero… Dylan Fletcher… Você não faz ideia do que carrega dentro de você… um poder inimaginável, que pode fazer eu ser importante mais uma vez. Fazer os deuses me notarem mais uma vez! E com, esse poder, eu vou poder acabar de uma vez por todas com os deuses! Eu vou tomá-lo de você, Dylan.

Não entendia uma palavra só do que ela estava dizendo. Um poder inimaginável? Dentro de mim? Eu não tinha talento pra nada. Simplesmente não era possível.

— Anastasius Ashcroft, Gabriel Chance, Edward Mills. Talassa, pensei que você tinha cuidado deles para mim.

— Desculpe, mestra, tive um pequeno imprevisto. O filho de Atena é mais inteligente do que eu pensei.

— Não tolero erros, Talassa. E o garoto, de onde veio?

— Não faço a mínima ideia, mestra — ela parecia assustada, como se a mestra pudesse matá-la a qualquer momento.

— Minha informante desinformada? Como assim, não sabe? Ele não estava nos meus planos! Você é podre!

Ouvi um estampido surdo e ressonante, e percebi que Talassa levara outro tapão na cara, mas esse parecia ter sido dez vezes mais forte que o de Anastasius.

— Deixe-os falar! Quero ouvir o que têm a dizer.

Talassa, timidamente, levantou o cajado e pronunciou as palavras de novo. Não podia errar, tinha que ter um timing perfeito para que tudo desse certo. Um segundo depois, Louise cuspiu no chão e rosnou como um cão. Colin, Anastasius, Edward e Gabriel permaneceram quietos, tão calmos que chegava a ser suspeito.

Soltei o que queria falar desde que ela chegou ali.

— Se mostre de uma vez! Mostre-nos quem você realmente é e pare de se esconder na carcaça dos outros! — gritei.

O silêncio reinou, e eu percebi que a mestra sorria. Ela começou a andar calmamente, pra lá e para cá, como se estivesse se preparando para algo, e depois recitou a profecia que eu escutara, assim como me parecia, há décadas atrás.

— “O ciclope mais forte enfim se mostrou… O filho do deus do mar como prova sequestrou… Quatro semideuses devem aceitar essa missão… O Sol, a Guerra, o Mar e a Morte irão…”

— Não precisa nos recitar essa profecia, nós já a escutamos! Só quero que você…

Ela parou de andar para os lados, e veio em nossa direção. Quando apareceu no nosso campo de visão, eu entendi o quinto verso da profecia. Foi como se tudo tivesse desmoronado, e eu, de repente, senti vontade de ficar lá, deitar, até a terra me engolir por completo, e ficar assim pra sempre.

— “O anjo no fim deverá se apresentar”. — ela falou calmamente.

Anjo. Angel. Angelina Fletcher.

A mestra era minha mãe.


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Notas finais do capítulo

Bem, não creio que vocês estejam de boca aberta e tal, mas ninguém esperava por isso, diz aí



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